sexta-feira, 31 de maio de 2013
quinta-feira, 30 de maio de 2013
quarta-feira, 29 de maio de 2013
terça-feira, 28 de maio de 2013
segunda-feira, 27 de maio de 2013
domingo, 26 de maio de 2013
sábado, 25 de maio de 2013
sexta-feira, 24 de maio de 2013
O Emprego da Apologética
"Santificai a Cristo, como Senhor, em vossos
corações, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir
razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e
temor..." (1 Pedro 3:15).
A palavra traduzida acima por "responder"
é, no grego, apologia (isto é, "defesa"). Essa palavra sugere a idéia
de "defesa da conduta ou procedimento". Wilbur Sinith expressa-o da
seguinte maneira: "... uma defesa verbal, uma palavra de defesa daquilo
que alguém fez ou da verdade que alguém crê...".
Apologia (palavra da qual surgiu em português a
palavra apologia, que significa "discurso para justificar, defender ou
louvar") foi uma palavra usada predominantemente no passado, "mas não
para dar a idéia de pedido de desculpa, de tentativa de atenuar um erro ou de
corrigir um prejuízo causado" , nem para elogiar.
O substantivo apologia (traduzido em português pelo
verbo "responder" em 1 Pedro 3:15, acima citado) é empregado mais
sete vezes no Novo Testamento:
Atos 22:1 "Irmãos
e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós."
Atos 25:16 "A
eles respondi que não é costume dos romanos condenar quem quer que seja, sem
que o acusado tenha presentes os seus acusados e possa defender-se da
acusação."
1 Coríntios 9:3 "A
minha defesa perante os que me interpelam é..."
2 Coríntios 7:11 "Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que segundo
Deus fostes contristados! que defesa, que indignação, que temor, que saudades,
que zelo, que vindita! em tudo destes prova de estardes inocentes neste
assunto."
Filipenses 1:7 "...
porque vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e
confirmação do evangelho, pois todos sois participantes da graça comigo."
Filipenses 1:16 "...
estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho."
2 Timóteo 4:16 "Na
minha primeira defesa ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que
isto não lhes sej a posto em conta."
A maneira como a palavra "responder"
(isto é, "defender") é empregada em 1 Pedro 3:15 indica o tipo de
defesa que alguém apresentaria perante um inquérito policial: "Por que
você é cristão?" Um crente é responsável por dar uma resposta adequada a
essa pergunta.
Paul Little cita John Stott como tendo dito:
"Não podemos fomentar a arrogância intelectual de uma pessoa, mas devemos
alimentar sua integridade intelectual" (E eu acrescentaria que devemos
responder a perguntas feitas com sinceridade).
Beattie conclui que: "Ou o cristianismo é TUDO
para a humanidade, ou então não é NADA. Ou é a maior das certezas ou a maior
das desilusões. .. Mas se o cristianismo for TUDO para a humanidade, é
importante que cada pessoa seja capaz de apresentar uma boa razão para a
esperança que possui em relação às verdades eternas da fé cristã. Aceitar tais
verdades sem ponderar a respeito, ou aceitá-las simplesmente por causa da
autoridade que têm, não é suficiente para uma fé inteligente e estável."
A tese "apologética" fundamental destas
anotações é: "Existe um Deus infinito, de sabedoria, poder e amor
absolutos, que se revelou, por meios naturais e sobrenaturais, na criação, na
natureza do homem, na história de Israel e da Igreja, nas páginas das Santas
Escrituras, na sua encarnação em Cristo, e, através do evangelho, no coração
daquele que crê."
Fonte:
Josh McDowell; "Evidências
que exigem um veredito, vol. I"; ed. Candeia, pg.1-2.
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Livro: "A Caixa Preta de Darwin" de Michael Behe
Há exatamente dez anos atrás Michael J. Behe, até
então um desconhecido professor de Bioquímica da Universidade Lehigh, na
Pensilvânia, Estados Unidos, escreveu o livro “A Caixa Preta de Darwin: O
Desafio da Bioquímica à Teoria da Evolução”. A tese polêmica e controversa de
Behe: a ‘complexidade irredutível’ de sistemas biológicos não pode ser obtida
via processo gradual darwiniano.
O flagelo bacteriano se tornou o mascote do
movimento do Design Inteligente e a grande dor de cabeça e um sério desafio
epistêmico para a Nomenklatura científica desde então. Nem os maiores
cientistas, nem todas as universidades, departamentos e institutos de biologia
do mundo conseguiram refutar a tese de Behe.
NOTA BENE: NEM OS MAIORES CIENTISTAS, NEM TODAS AS
UNIVERSIDADES, DEPARTAMENTOS E INSTITUTOS DE BIOLOGIA DO MUNDO CONSEGUIRAM
REFUTAR A TESE DE BEHE.
O pior embaraço nisso tudo é que o flagelo é de uma
‘simples’ bactéria, mas a teoria é noticiada exagerada e acriticamente na
Grande Mídia internacional e tupiniquim como sendo ‘a mais apoiada de todas as
teorias científicas pelas evidências assim como a lei da gravidade’, mas aqui
se mostra extremamente impotente e muda...
Nada como celebrar uma vitória contra a arrogância
epistêmica dos atuais mandarins da Nomenklatura científica. Behe acabou de
lançar a edição comemorativa dos dez anos da solidez de sua tese: “Darwin’s
Black Box, 10th Anniversary Edition”. Vale a pena comprar o livro só para ler
um epílogo de 18 páginas!
Alô Jorge Zahar Editor – já está na hora de lançar
aqui no Brasil esta edição comemorativa. Mercado existe.
Behe afirma – “Hoje, com as denúncias frescas sendo
feitas quase que semanalmente por sociedades científicas bem como das salas de
editorias de jornais” do establishment da mídia científica, “uma década após a
publicação do A Caixa Preta de Darwin, o argumento científico a favor do design
é mais forte do que nunca... o argumento do livro a favor do design permanece”.
Apesar do enorme progresso da bioquímica nos anos
que se seguiram, apesar de centenas de comentários inquiridores em periódicos
tão diversos como The New York Time, Nature, Christianity Today, Philosophy of
Science e Chronicle of Higher Education, apesar da implacável oposição de
alguns cientistas nos mais altos níveis, o argumento do livro a favor do design
permanece.
Fora atualizar a lista de nomes dos meus filhos na
seção de reconhecimento (adicionados Dominic, Helen, e Gerard), há pouco do
texto original que eu mudaria se o escrevesse hoje”. BEHE, M. J.,
"Darwin's Black Box: The Biochemical Challenge to Evolution," [1996],
New York, Free Press, 2006, p.255.
O mais impressionante de tudo isso, conforme Behe
bem salientou é que “para a ciência moderna, dez anos é uma era”, e a década
dos anos 1990s não foi nenhuma exceção, especialmente com o progresso rápido do
“progresso no entendimento de como a maquinaria da vida funciona” incluindo “o
cílio e o flagelo” usados por Behe como exemplos de complexidade irredutível.
Além disso, “os mecanismos que as células usam para construir” são hoje “conhecidos
como sendo sistemas moleculares surpreendentemente sofisticados, como fábricas
automatizadas que produzem motores de popa”.
QED – “o caso a favor do design inteligente da vida
se torna exponencialmente mais forte”.
A bioquímica avançou muito, e um pouco mais de uma
década a primeira seqüência genômica de um ser vivo foi publicada – uma
minúscula bactéria chamada Haemophilus influenzae. Hoje nós temos centenas de
genomas seqüenciados, e o progresso na elucidação genômica tem sido acompanhado
do entendimento de como a maquinaria da vida funciona. Os mecanismos que as
células usam para construir o cílio e o flagelo descritos no capítulo 4 eram
quase que totalmente desconhecidos quando o livro foi escrito.
Hoje eles são conhecidos como sendo impressionantemente
sofisticados sistemas moleculares em si mesmos. Resumindo, como a ciência
avança implacavelmente, o fundamento molecular da vida não está ficando um
pouco menos complexo do que há uma década atrás; está ficando exponencialmente
mais complexo. À “medida que fica, o caso a favor do design inteligente da vida
fica exponencialmente mais forte”, Behe, 2006, p. 256.
Quase no final do seu epílogo Behe destaca:
“As probabilidades futuras de êxito do design são
excelentes, porque elas se apóiam não em preferências de nenhuma pessoa ou de
nenhum grupo, mas em dados. A ascensão da hipótese do design inteligente não é
devido a nada que eu ou qualquer outro indivíduo tenha escrito ou dito, mas ao
grande avanço da ciência em entender a vida. Mesmo apenas cinqüenta anos atrás
era bem mais fácil acreditar que a evolução darwiniana pudesse explicar a base
da vida, porque tão pouco era conhecido.
Mas assim que a ciência avançou rapidamente e a
complexidade impressionante da célula se tornou nítida, a idéia de design
inteligente se tornou mais e mais convincente. A conclusão do design
inteligente é fortalecida por cada novo exemplo de maquinaria molecular
elegante e complexa ou sistema que a ciência descobre na base da vida. Em 1966,
aquela elegância podia ser claramente vista, e nos últimos dez anos tem
aumentado consideravelmente. Não há razão de esperar que isso venha diminuir
brevemente”. (Behe, 2006, p. 270).
Pobre Darwin… a sua teoria geral da evolução é hoje
meramente um mito de criação do naturalismo filosófico travestido de ciência...
Pobre ciência, no cativeiro do naturalismo
filosófico...
quarta-feira, 22 de maio de 2013
terça-feira, 21 de maio de 2013
O desespero incessante da vida sem Deus
Por Wagner Kaba
Muitos ateus se comprazem em afirmar que os crentes
são pessoas iludidas pela idéia da existência de Deus. Muitos discordarão desta
alegação, inclusive o autor deste artigo. Mas este texto não tem como foco
analisar a suposta ilusão daqueles que crêem e sim, analisar uma ilusão
freqüente compartilhada por muitos daqueles que não crêem: a idéia de que Deus
é irrelevante para a questão do sentido da vida. Será que se pode declarar a
morte de Deus e, mesmo assim, alegremente afirmar que a vida possui sentido?
Os cientistas afirmam que o universo está fadado a
morrer. Como ele está em expansão desde o Big Bang, tudo que nele existe está
se tornando cada vez mais distante. Com o passar do tempo, as estrelas perderão
seu calor e irão morrer. Deste modo, o universo se tornará cada vez mais frio,
e sua energia irá se esgotar. O espaço ficará repleto de cadáveres estelares
que serão tragados por buracos negros. E até mesmo os buracos negros serão
consumidos e irão se evaporar. Assim, todas as coisas estão condenadas a
desaparecer sob os escombros de um mundo agonizante. Tudo o que foi construído
pelo homem desaparecerá sem deixar nenhum vestígio. Não haverá nenhum ser vivo
para contar alguma história e nenhum outro para ouvi-la. “Tudo aquilo que já
formou você, as montanhas, as estrelas e tudo o mais será uma coisa só: um mar
escuro de energia. Um mar cada vez mais frio, inerte. Sem nada nem ninguém para
acender a luz.” [1]
Neste cenário, faz alguma diferença fundamental o
fato de o universo algum dia ter existido? Quer o universo tenha surgido ou
não, no final das contas o resultado é o mesmo: um vazio negro, frio e inerte.
Assim, como tudo acaba em nada, não faz diferença nenhuma se algo existiu ou
não. Portanto, o universo não tem um sentido fundamental[2].
Este mesmo raciocínio pode ser aplicado ao ser
humano. Se Deus não existe, o homem está condenado a desaparecer como se nunca
houvesse existido. Deste modo, no final das contas, não fará diferença nenhuma
o fato de algum homem ter surgido sobre a face da terra. A humanidade,
portanto, não tem mais importância do que um enxame de mosquitos ou uma vara de
porcos, pois seu fim é o mesmo. O mesmo processo cósmico cego e mecânico que a
vomitou no início um dia acabará por engoli-la[3].
No final, todos os esforços humanos terão sido em
vão. A contribuição dos cientistas para o avanço da ciência, os esforços dos
pacifistas para promover a paz, as pesquisas médicas para descobrir a cura de
doenças, o trabalho dos humanitaristas para erradicar a pobreza – no final,
tudo o que custou tanto para ser conquistado, muitas vezes à custa de inúmeras
vidas, desaparecerá como se nenhum esforço houvesse sido realizado. Desta
forma, tudo acaba em nada e, portanto, o homem é nada.
O filósofo William Lane Craig apresenta o quadro em
que estamos inseridos:
“Se cada pessoa deixa de existir quando morre, que
sentido fundamental pode ser dado à sua vida? Realmente faz diferença se ela
existiu? Pode ser dito que sua vida foi importante porque influenciou outros ou
afetou o curso da história. Mas isso mostra apenas um significado relativo da
sua vida, não um sentido fundamental. Sua vida pode ter importância relativa a
certos acontecimentos, mas qual é o sentido fundamental desses acontecimentos?
Se todos os acontecimentos não têm sentido, então que sentido fundamental pode
haver em influenciá-los? No final das contas, não faz diferença.”[4]
Mesmo assim, muitos ateus insistem em dizer que a
vida possui propósito. “A vida não vem com um manual de instruções indicando
seu sentido”, dizem eles. “Somos nós que o criamos. E é isto o que faz a vida
tão maravilhosa. Podemos escolher o que queremos, que sentido e que rumo
queremos dar a ela.”
Inventar um sentido para a vida pode até ajudar uma
pessoa a se sentir bem. Mas esta invenção não passa de um auto-engano para
ajudar a suportar a dura realidade da existência, visto que a vida continua sem
sentido em termos objetivos do mesmo jeito.
Se Deus não existe, o que é o homem? Ele é apenas
um subproduto acidental da natureza que evoluiu recentemente em um ponto de
poeira infinitesimal perdido em algum lugar de um universo hostil e sem sentido
e que está condenado a perecer individualmente e coletivamente em um espaço
relativamente curto de tempo[5]. Nesta ordem de idéias, homem é mero produto do
acaso e não há propósito nenhum em sua existência. E nenhuma tentativa de se
inventar um sentido para a existência poderá mudar estes fatos. Portanto,
inventar um sentido para sua vida não passa de um exercício de auto-engano.
Além de tudo, o universo não adquire sentido apenas
porque alguém lhe atribui algum. Suponha que duas pessoas dêem sentidos
diferentes ao universo. Quem tem razão? A resposta, é claro, nenhuma das duas.
O mundo sem Deus permanece sem sentido em termos objetivos, não importa o que
as pessoas pensem. Assim, atribuir um sentido ao universo não passa de um
exercício de auto-engano[6].
Mas por que esta discussão sobre o sentido da vida
é tão importante? A resposta é que, para ser feliz, o homem necessita de um
sentido para sua existência. Por quê? Porque o homem se alimenta de
auto-estima. Uma auto-estima baixa pode levar facilmente à depressão e ao
suicídio. E dificilmente alguém pode manter elevada sua auto-estima se
descobrir que sua vida não tem nenhum propósito.
Assim sendo, se Deus não existe, a vida não tem
sentido. E se a vida não tem sentido, o homem que possui consciência desta
verdade terá uma séria dificuldade para ser feliz. Portanto, a existência de um
Deus amoroso é uma peça importante para a construção da felicidade.
A única solução que um ateu pode oferecer diante do
absurdo da vida sem Deus é enfrentar este absurdo e procurar viver com coragem.
O filósofo ateu Bertrand Russell, por exemplo, sugeriu que devemos construir
nossas vidas “sob o firme fundamento do desespero incessante”:
“Que o homem é o produto de causas que não possuíam
conhecimento do fim que estavam alcançando; que sua origem, seu crescimento,
suas esperanças e crenças, seus amores e temores, não passam do resultado de
colisões acidentais de átomos; que nenhum fogo, nenhum heroísmo e nenhuma
intensidade de pensamentos e emoções podem preservar uma vida além do túmulo;
que todo labor de todas as eras, todas as devoções, toda inspiração, todo
brilhantismo do gênio humano estão fadados à destruição na grande morte do
sistema solar e que todo o templo das conquistas humanas deve ser
inevitavelmente soterrado debaixo dos escombros de um universo em ruínas –
todas estas coisas, se não estão além das controvérsias, são quase tão certas
que nenhuma filosofia que as rejeite pode ter esperanças de se sustentar.
Somente sobre a base destas verdades, somente sobre o firme fundamento do
desespero incessante, pode-se construir seguramente, de agora em diante, a
habitação da alma.”[7]
Na hipótese de que o ateísmo seja verdadeiro,
estamos diante deste quadro terrível sobre a condição humana. Mas se o
Cristianismo é verdadeiro, então existe um poder de amor por trás do universo.
Um poder pessoal de amor tão grande que todos os homens e mulheres, velhos e
crianças são especiais para ele. Ele ama tanto o ser humano que há um
significado em cada vida. Ele realmente sabe sobre a queda de todos os pardais
e, até mesmo, os cabelos de cada pessoa estão contados.
Por derradeiro, este texto não realizou nenhum
esforço para demonstrar a existência de um Criador Divino. Também não houve
nenhuma tentativa para se refutar a idéia de que a crença no sobrenatural é uma
ilusão. Para se atingir estes objetivos seria necessário um espaço muito maior.
Por isso, o propósito deste artigo foi simplesmente o de enunciar as
alternativas de forma clara. Se Deus não existe, a vida é um absurdo e o homem
deve construir sua existência sobre o “firme fundamento do desespero
incessante”, conforme palavras do filósofo ateu Bertrand Russell. Se o Deus
cristão existe, todas as pessoas são especiais para ele e possuem valor e
significado.
É possível demonstrar racionalmente que o
cristianismo é uma cosmovisão mais plausível do que o ateísmo[8]. No entanto,
mesmo que as evidências para o ateísmo e para o cristianismo fossem
equivalentes, uma pessoa racional deveria escolher o último. Todo ser humano
deve buscar a verdade e evitar o erro. Mas, se as evidências que suportam as
duas cosmovisões são ambíguas, não parece sensato preferir o desespero e a
ausência de sentido do que uma vida com propósitos.
Referências:
[1] NOGUEIRA, Salvador. Para onde vamos? Disponível
em < http://super.abril.com.br/…/2…/materia_revista_261312.shtml…>.
Acesso em 03 de Agosto de 2008.
[2]CRAIG, William Lane. A veracidade da fé cristã:
uma apologética contemporânea. Tradução Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova,
2004. P. 59.
[3] Ibidem, p. 59.
[4] Ibidem, p. 58.
[5] Idem, A imprescindibilidade de bases
meta-éticas teológicas para a moralidade. Disponível em
<http://www.apologia.com.br/?p=9>. Acesso em 03 de Agosto de 2008.
[6] Idem, op. cit., p. 64,65.
[7]RUSSELL, Bertrand. A free man´s worship.
Disponível em <
http://awayward.com/…/Russell,%20Bertrand%20-%20A%20Free%20…>. Acesso em
02de Agosto de 2008.
[8] A pessoa que desejar analisar as evidências em
favor da verdade do Cristianismo pode estudar os seguintes livros: CRAIG,
William Lane. A veracidade da fé cristã: uma apologética contemporânea. São
Paulo: Vida Nova, 2004; GEISLER, Norman; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente
para ser ateu. São Paulo: Editora Vida, 2006; STROBEL, Lee. Em defesa de
Cristo. São Paulo: Editora Vida, 2001; Idem, Em defesa da fé. São Paulo:
Editora Vida, 2002. Pode-se estudar também os artigos disponíveis no blog
Apologia <http://www.apologia.com.br>.
Fonte:
segunda-feira, 20 de maio de 2013
domingo, 19 de maio de 2013
sábado, 18 de maio de 2013
sexta-feira, 17 de maio de 2013
quinta-feira, 16 de maio de 2013
quarta-feira, 15 de maio de 2013
terça-feira, 14 de maio de 2013
Francis Schaeffer: A Fé dos Humanistas
Duas Colunas
Duas colunas distinguiam a Igreja cristã primitiva
de qualquer outro sistema religioso. A primeira dizia respeito ao fundamental problema
da autoridade. Em tal Igreja só existia uma autoridade final: a Bíblia, a
Sagrada Escritura. Isto se depreende claramente dos ensinamentos de Jesus, de
Paulo e da totalidade do Novo Testamento. Entre os leitores do presente
tratado, muitos crerão que a Igreja primitiva estava certa em sustentar este
conceito da Escritura; porém, até mesmo aqueles que não o aceitam, deveriam
compreender que tal foi o conceito da Igreja, para assim entender
intelectualmente a mesma.
Os primeiros cristãos criam que a Sagrada Escritura
lhes dava uma autoridade externa ao âmbito do relativista, mutável e limitado
pensamento humano. Assim, com esta visão da Palavra, tinham o que consideravam
uma autoridade não humanista.
A outra coluna da Igreja primitiva que a diferenciava
de todos os demais sistemas religiosos era sua resposta à pergunta: Como se
achegar a Deus? Se Deus existe e é santo, perfeitamente santo, vivemos num
universo moral. Se Deus não existe ou se é amoral ou imperfeito, vivemos, consequentemente,
num universo relativo com relação à moral. Por outro lado, se Deus é perfeito,
e mantém sua total perfeição, então, como é óbvio que nenhum homem é moralmente
perfeito, todos eles estarão condenados. A única coisa que poderia resolver
este dilema, verdadeiramente básico, acerca de se o universo é moral ou amoral,
seria o ensinamento da Bíblia e da Igreja primitiva. Tal ensinamento foi que
Deus nunca diminuiu o nível de Suas normas, que Ele exige perfeição e que,
portanto, Ele é completamente moral; e que, porém, por causa do amor de Deus,
veio Jesus Cristo como Salvador, e realizou uma obra infinita e definitiva na
cruz, de maneira que o homem já pode se achegar ao Deus totalmente santo e
perfeito, apoiado nesta obra perfeita e consumada, pela fé e sem obras humanas
relativas. Estamos tão acostumados a falar disto dentro de um contexto
religioso, que esquecemos das implicações intelectuais. Diremos de novo que,
tanto se se crê no que a Igreja primitiva e a Bíblia ensinaram, como se não se
crê, deve-se entender este ponto que estamos tratando, ou não se poderá
compreender a tal Igreja, nem seu caráter distintivo.
Uma vez que se ensina a exigência por parte de Deus
de perfeição total, se mantém a existência de um universo moral; e ao se
ensinar a obra perfeita do Salvador, segue-se que não necessariamente todos os
homens sejam condenados. Assim, qualquer elemento humanista e egoísta é
destruído. Até mesmo se o cristianismo não fosse verdade, e nós cremos que ele
o seja, esta seria uma resposta titânica; jamais nenhum outro sistema — seja
religioso, seja filosófico — deu semelhante resposta.
Assim, pois, as duas colunas distintivas da Igreja
primitiva eram um golpe combinado e completo contra o humanismo. A autoridade
ficava fora da mutável jurisdição humana e assim, o acesso pessoal de cada
indivíduo ao Deus eternamente santo se baseava, não nos atos morais ou
religiosos relativos do homem, mas na absoluta e definitiva obra (e por ser Ele
Deus, infinita) de Jesus Cristo. Tudo isto fazia que o homem fosse arrancado do
centro do universo, donde havia intentado situar a si mesmo, quando se rebelou
contra Deus na histórica queda no Éden, e destruía o humanismo, atacando-lhe no
seu próprio coração.
Uma mudança
Uma mudança apareceu nos tempo do imperador
Constantino. Este fez paz com a Igreja, porém, começou a se intrometer nela.
Esta mudança de direção progrediu lentamente no princípio, e logo com crescente
velocidade. Tendo começado com Constantino, foi orientada em sua direção
definitiva na época de Gregório o Grande; e não com respeito a questões
incidentais, mas ao conceito básico. Tal mudança de direção destruiu as duas
únicas colunas, as quais referimos mais acima. A Igreja viria a ser o centro da
autoridade, no lugar da Palavra de Deus. Aqui é re-introduzido o elemento humanista.
Com relação à segunda coluna, é agora afirmado que a salvação, em vez de
descansar somente sobre a completa obra de Cristo — isto é, sua obra consumada
no espaço e no tempo, na história — se sustenta também nas obras humanas. No
sistema católico-romano, estas obras se acham em três importantes âmbitos. O
primeiro é o da missa. Não se considera já, na missa católico-romana, que Jesus
Cristo consumou Sua obra no espaço de tempo histórico em que morreu na cruz,
mas que Jesus Cristo está sofrendo constantemente. Ele sofre de novo, no
sacrifício não sangrento, cada vez que se celebra uma missa. Porém há mais
ainda: considera-se que aqueles que participam da missa estão oferecendo a
Cristo em sentido ativo. Basta ler o missal católico-romano para dar-se conta
da força disto. Cristo é oferecido pelo oficiante, porém quem participa da
missa participa em seu oferecimento ativo de Cristo.
Achamos o segundo elemento humanista no âmbito da
penitência. Esta é o sofrimento na vida atual, seja religioso, seja de uma maneira
geral, para compensar a ausência de boas obras positivas. Assim, o sofrimento
tem valor prático.
O terceiro elemento humanista diz respeito ao
âmbito do purgatório, no qual o valor do sofrimento se projeta para o futuro.
Sofre-se até merecer o mérito de Cristo.
Claro está, que desta maneira se destroem
totalmente as duas colunas básicas da Igreja primitiva, e assim encontramos no
sistema católico-romano um retorno ao que está especificamente relacionado com
os demais sistemas humanistas.
Os críticos
da arte
Os críticos da arte, literatura, etc., entendem
estas coisas e as expõem com notável clareza. Numa publicação de Skira sobre
Botticelli, Giulio Carlo Argan, italiano, crítico de arte, escreve: “O fato é
que, certamente, nos planos políticos e religiosos havia um grande futuro para
este sincretismo da arte e da cultura, uma vez que aquele havia sido
incorporado ao programa humanista progressivamente estabelecido pela Igreja
depois do sério Cisma do Ocidente (1378-1417), já que esse programa facilitava,
no final das contas, numa justificação histórica da fé cristã, admitindo a
Antiguidade clássica como sua e mostrando-a arrogantemente como a filosofia
natural do homem, o prelúdio providencial à revelação da verdade absoluta por
Jesus Cristo. Porém esta grandiosa, sistemática síntese de história, natureza e
fé, que iria constituir a base ideológica do classicismo de Rafael...” No
exposto, Argon resume e explica o humanismo básico da Igreja Católica Romana.
Notem-se três coisas:
I. — Ele diz que se trata de um programa humanista.
II.— Diz que a justificação histórica da fé cristã
— justificação ante aqueles que representam a cultura humanista em volta, ante
os homens que estão fora da Igreja —, foi proporcionada por uma síntese
sistemática.
III.— Destaca que com esta síntese, traça-se uma
linha ininterrupta entre a Antiguidade e a verdade revelada em Jesus Cristo.
Tudo está escrito, certamente, numa História de
Arte, e desde o ponto de vista da arte; porém, o que disse o autor é verdade de
modo geral. O catolicismo romano constitui um intento de síntese entre as
noções humanistas em volta e as não humanistas da Escritura.
A pintura do Renascentismo deixa isto sumamente
claro. Rafael planejava pintar quatro habitações no Vaticano. Pintou duas, e
seus discípulos as outras duas. Um das habitações pintadas pelo próprio Rafael,
nos proporciona uma claríssima prova do que descreve Argan como “a base
ideológica do classicismo de Rafael”. Numa parede desta habitação pintou a
Igreja, tal como a via em sua forma católico-romana, e na oposta, “A Escola de
Atenas”. Isto não foi por casualidade, já que o fez assim de propósito.
Trata-se de uma expressão artística do intento católico-romano de síntese entre
a filosofia humanista, e a não humanista da Palavra de Deus.
No tempo em que Rafael trabalhava no Vaticano,
Miguel Ângelo pintava a Capela Sixtina. Devem-se considerar os aspectos de sua
obra na mesma. Primeiro, as pinturas do teto; logo, as da parede do fundo.
No abobadado teto pintou uma séria de figuras
colocadas de uma forma que dava a impressão de sustentar a seção central do
mesmo. Estas figuras correspondem alternativamente a um homem e uma mulher.
Colocou o nome correspondente debaixo de todas elas, de modo que não pode haver
equívoco com relação ao que estava dizendo. Os homens representam os profetas
do Antigo Testamento. As mulheres, as antigas sibilas. Colocou a todos
alternativamente como iguais. Eis aqui sua maneira de dizer o que dizia Rafael
com suas pinturas do Vaticano. Na abóbada assim sustentada, achamos a
representação pictórica do cristianismo.
Assim, Miguel Ângelo entende e expõe claramente
como em seu tempo a Igreja Católica Romana se esforçava para realizar a síntese
entre o antigo humanismo e o cristianismo bíblico.
A pintura da parede do fundo da Sixtina nos diz a
mesma coisa. Representa o Juízo Final, e quando se contempla pela primeira vez,
pensa-se que, exceto pelo lugar central de Maria, é uma cena bíblica. Porém,
logo se observa a existência de um pequeno barco na parte inferior direita, e
se adverte que nos achamos diante do barco no qual os mortos eram conduzidos
através da lagoa Estigia, segundo a mitologia pagã. A pessoa então, se dá conta
que a cena não procede da Bíblia, mas de Dante, que já trabalho sobre a base da
mencionada síntese.
O teólogo
mais importante
O teólogo mais importante da Igreja Católica Romana
é Tomás de Aquino. A leitura de sua Summa manifesta claramente a ênfase na
mencionada síntese. Assim, o que vimos dizendo não é desconhecido na
apresentação da própria Igreja Católica Romana. Tanto em sua arte, como em sua
teologia, o catolicismo romano está edificado específica e centralmente sobre o
intento de síntese entre os pensamentos humanista e bíblico.
Este elemento humanista do catolicismo romano
explica o desenvolvimento da mariologia. Maria representa o mesmo. Tu, homem,
individualmente não alcanças a vitória porém, Maria, sim, Maria, venceu. E,
deste modo, temos um triunfo vicário do homem. Do mesmo modo, os santos
católico-romanos representam também uma humanidade vicária, vitoriosa. O homem
triunfou.
Seguindo a atual ênfase comum, que intenta apagar
as diferenças entre as diversas religiões, se diz frequentemente, inclusive por
evangélicos, porém afetados por esta tendência, que o catolicismo romano adora
ao menos, com toda segurança, ao mesmo Deus que a Igreja primitiva e a Reforma.
Desgraçadamente, a resposta é: não. O catolicismo romano não adora ao mesmo
Deus. A entrada do elemento humanista no sistema católico fez com que Deus seja
considerado como um Deus distinto do apresentado na Bíblia. O Deus bíblico é
inteiramente santo. Ele não pode aceitar nem a menor imperfeição moral. Se o
Deus totalmente santo quiser tratar com algum homem, depois da rebelião deste,
sobre qualquer elemento da obra moral humana, só poderia condená-lo. Por isso,
no sistema bíblico, Deus permanece inteiramente santo, e nós vivemos num
universo absolutamente moral. No sistema católico-romano, Deus não é totalmente
santo, já que aceita a imperfeição. Tal sistema afirma que somos salvos pelo mérito
de Jesus Cristo, porém introduzindo o elemento humanista, porque o homem deve
merecer o mérito de Jesus Cristo. A saída definitiva do purgatório se baseia no
merecimento. Este se obtém: 1) Pelas boas obras nesta vida, tanto religiosas
como morais; 2) pelo valor dos sofrimentos experimentados na vida presente, que
compensam o que faltou com relação às boas obras; 3) pelo valor do sofrimento
que se experimenta no purgatório, o qual compensa o que faltou nos sofrimentos
da vida na terra. Quando se tem alcançado isto, o mérito de Cristo é merecido.
Tudo isso significa que o homem triunfou. Porém, quer dizer também que se adora
a um Deus que não é completamente santo. Desde o ponto de vista bíblico tudo
isso é, naturalmente, trágico; porém, para alcançar uma compreensão intelectual
disso, deve-se entender também que significa que o cristianismo bíblico conduz
finalmente, na realidade, a um Deus humanista, não absoluto. Com pesar, porém
com uma finalidade definida, deve-se entender e afirmar que o Deus do sistema
católico-romano não é o da Sagrada Escritura. Esse Deus é imperfeito; e o
universo não é, portanto, absolutamente moral.
Nada novo
A Reforma não reconheceu nem ensinou nada novo.
Isto é, nada novo em referência ao ensinamento da Igreja primitiva. A Reforma
voltou simplesmente às duas colunas básicas a que nos referimos mais acima. A
Palavra de Deus era a única autoridade, e a salvação tinha como base única a
obra definitiva do Senhor Jesus Cristo, consumada na cruz. Tudo isso
significava a remoção dos elementos humanistas. A Reforma foi revolucionária
porque se apartou tanto do humanismo católico-romano, como do secular.
Para entender o que sucedeu depois, deve-se ter em
conta que, há uns 250 anos atrás, o humanismo tinha se introduzido na Alemanha,
e desta vez nas igrejas que haviam surgido da própria Reforma. Isto foi o
nascimento do que na atualidade se chama usualmente liberalismo ou modernismo
protestante. A alta crítica alemã e tudo quanto brotou dela até nossa geração,
é simplesmente a entrada do pensamento humanista na Igreja protestante depois
da Reforma, exatamente como, desde a época de Constantino em diante, o
humanismo entrou na corrente da Igreja primitiva. Nunca se enfatizará
suficientemente que a alta crítica não sobreveio porque certos fatos a fizeram
necessária, mas porque a filosofia humanista sobreveio primeiro. Aceitou-se em
primeiro lugar a filosofia humanista, e logo foram adicionados “fatos” que
pareciam poder prover uma base conforme a perspectiva humanista. A alta crítica
não foi a causa, mas o resultado. Os teólogos protestantes de tal época
permitiram a entrada do conceito humanista na Igreja protestante. As duas
colunas básicas não humanistas da Igreja foram destruídas de novo. O que
devemos entender agora é que, na nossa própria geração, tanto o humanismo do
sistema católico-romano como o do protestantismo liberal não diminui, mas que é
cada vez mais forte em ambos.
Talvez a
maior revolução
Talvez a maior revolução de nossa geração seja a
mudança acontecida no catolicismo romano. Alguns podem dizer que na realidade
não houve mudança, e que tudo isso é somente um estratagema; porém, seria
difícil estar completamente seguro de se efetivamente é esse o caso. O aumento
do humanismo na Igreja Católica Romana, em nossa geração, se mostra nos dois
âmbitos.
Em primeiro lugar, é um fato que até mui poucos
anos atrás Roma havia insistido que os três primeiros capítulos de Gênesis
deveriam ser interpretados literalmente. Hoje em dia, quando os científicos
católico-romanos se reúnem com os seculares, isto é deixado de lado. Estes
homens da ciência romano-católicos não são seculares, mas membros das diversas
ordens religiosas. Afirmam-se, nos círculos católico-romanos liberais atuais,
que tudo o que devemos aprender do três capítulos do Gênesis é que, no processo
evolutivo de animal a homem, a única coisa que se necessitou é que Deus
introduzisse em certo momento uma alma racional. Isto é totalmente
revolucionário em relação ao que Roma havia ensinado ainda em nossa própria
geração, e significa um fortalecimento definido do humanismo.
Em segundo lugar, Roma mudou radicalmente na
questão de quem se salva. No passado, o catolicismo romano ensinava, como
todavia o faz na Espanha ou no Sul da Itália, por exemplo, que não havia
salvação possível fora da Igreja Católica Romana. Hoje em dia, a ênfase recai
em que todos os homens sinceros, e de boa vontade, são salvos. Na Igreja
primitiva e na Reforma se enfatizou o ensinamento bíblico de que quem não
estivesse na Igreja de Cristo (quem não tivesse tomado a Jesus Cristo como
Salvador) estaria condenado. Segundo o antigo sistema católico-romano, aqueles
que permaneciam fora da organização da Igreja Católica Romana estavam perdidos.
Em ambos os casos, nos encontramos com o fato de que havia alguém que estaria
perdido. No novo ensinamento católico-romano, com seu acrescentado humanismo, é
muito difícil saber quem está perdido; e com respeito aos círculos
católico-romanos mais pronunciadamente liberais, não se pode estar seguro se
alguém se perde.
Assim, nos achamos ante o velho humanismo, que
começou na época de Constantino, da Igreja Católica Romana, porém aumentado
agora com o humanismo do moderno catolicismo-romano. Deve-se notar, por
conseguinte, que o novo conceito liberal católico-romano não constitui um rompimento
absoluto com o antigo catolicismo romano, já que este mesmo tem sido sempre
humanista. Constitui simplesmente uma confluência das diversas correntes de um
mesmo canal. Deve-se notar, também, que um homem como Teilhard de Chardin, tão
popular na Europa e América, corresponde exatamente a esta circunstância.
Ao mesmo
tempo
Ao mesmo tempo, o protestantismo humanista, que se
iniciou com a erupção da alta crítica alemã, está se movendo, por sua parte,
cada vez mais na mesma direção. Existe um notável paralelo entre o que sucede
no campo liberal católico-romano, e o que se passa no protestantismo. Assim
como o antigo catolicismo romano humanista está se transformando no humanismo
ainda mais aberto do catolicismo romano liberal, também o antigo protestantismo
liberal está desenvolvendo um novo liberalismo. Desde a aparição da teologia
kierkegaardiana, isto é, a chamada neo-ortodoxia, se utiliza mais a palavra
“Deus”, assim como outros termos religiosos, porém significa menos. No velho
protestantismo liberal, as coisas eram, ao menos, certas ou falsas — no espaço,
tempo e história —, de um modo que qualquer um poderia entender. No novo
protestantismo liberal, a imprecisão que se pode notar nas obras de Teilhard de
Charlin, é igualmente aparente. As afirmações do bispo Pike, da Califórnia,
devem ser entendidas neste contexto teológico. Ele tem levado simplesmente o
novo liberalismo de Kierkegaard, Barth, Brunner e Niebuhr a suas conclusões
lógicas, porém falando numa linguagem clara, isenta de termos técnicos, de
maneira que a força completa do lendário novo mundo religioso do liberalismo
pode ser percebida pelo não especialista. Bultmann e Tillich têm feito o mesmo,
conduzindo o pensamento de Kierkegaard a suas conclusões lógicas; e no caso de
Tillich, parece provável que ele tenha ido mais longe do que Pike, porém suas
obras estão escritas com uma terminologia tão elevada, que somente os que
entendem podem dar-se conta da força do que foi escrito. Em todos os casos, a
palavra “Deus” veio significando cada vez menos, até ao extremo de que uma
pessoa deve se perguntar assombrada se nessa teologia há algum Deus. Esta é
exatamente a direção que segue o catolicismo romano humanista em sua nova forma
liberal, mostrada por Tielhard de Chardin. Devemos afirmar novamente, desta vez
referindo-nos ao protestantismo liberal, que seu Deus não é o bíblico.
No pensamento oriental, a “justificação da vida” é
a meditação. Isto não significa que meditando se encontre algo necessariamente,
mas que a meditação como tal, dá à vida humana um aparente propósito e
significado. No novo liberalismo se encontra a fé, desde Kierkegaard, como um
passo nas trevas, como a justificação da vida. Isto está mais em consonância
com a mente ocidental que a meditação, porque o passo nas trevas incumbe à ação
e, portanto, à vontade de sofrer pela própria ação. Porém, basicamente é o
mesmo: o passo nas trevas traz a justificação da vida, e a terminologia
religiosa vem sempre sendo usada cada vez mais para que pareça dar um propósito
à vida. Porém, nunca se está seguro se nela há realmente algum significado, e a
própria palavra “Deus” se torna mais e mais vaga, até desaparecer até mesmo a
distinção entre um Deus pessoal ou impessoal. Neste ponto, o catolicismo romano
e o protestantismo liberal humanista, ambos em sua nova forma, estão perto de
se unirem; e em termos de humanismo, ambos estão relacionados com o conceito
clássico grego de ideias e ideais, assim como com os conceitos orientais.
É
significativo
É significativo que “O fenômeno do homem”, obra de
Teilhard de Chardin, publicada depois de sua morte, mostre a marca desta união.
Teilhard de Chardin era jesuíta. Julian Huxley, ateu, escreveu a introdução do
livro. E tanto na Europa como na América, são os protestantes liberais que o
recomendam. Tudo isso não é senão o desenvolvimento do antigo catolicismo
romano humanista transformando-se no novo catolicismo romano liberal; e o velho
liberalismo humanista protestante movendo-se progressivamente na mesma direção,
no novo liberalismo da neo-ortodoxia. Assim, em nossos dias, a diferença entre
a Rocha humanista e o novo protestantismo liberal, o neo-ortodoxo, é de
detalhe, e não básica.
Conclusões
Isto nos leva a perceber, como primeira conclusão,
de que não existe uma verdadeira razão para que não haja um movimento em
direção à união entre o catolicismo romano e o protestantismo liberal. Quando o
arcebispo de Canterbury visitou o Papa, disse: “Já não há necessidade de nos
estorvarmos um ao outro. Pois, se já não estamos um contra o outro, estamos um
pelo outro, e assim podemos ser gloriosamente livres para estar juntos por
Jesus Cristo e pela verdadeira unidade de Sua Igreja. Eu digo expressamente
«unidade» e não «união», porque a união ou re-união se baseia numa
reconciliação de jurisdições e autoridades. Porém, a unidade é só de espírito,
e nesse espírito...podem entrar nas igrejas facilmente, e inclusive já estão
entrando na atualidade“.
Isto é simplesmente um exemplo do que temos estado
dizendo. O catolicismo romano e o novo protestantismo liberal descansam sobre a
mesma base, e não existe nenhuma razão em absoluto, exceto com respeito a
detalhes, para que não se unam. Qualquer conceito de verdade absoluta foi
expulso em ambos campos.
Os escritos de um homem como o jesuíta
norte-americano John Courtney Murray devem ser entendidos nessa estrutura. Ele
e seus colegas estão instando para que os EE.UU., e também os países do Norte
da Europa de tradição reformada, comecem a se desenvolverem sobre a base do
conceito católico-romano de “lei natural”. Os católico-romanos instam nisto
porque afirmam, com bastante razão, que os EE.UU. (como toda a cultura
norte-européia) não têm ainda uma base, ou consenso, sobre o que fazer nos
domínios da moral social, do direito, do governo, etc. Nisto tem razão quem
pensa como Murray; porém o motivo pelo qual os EE.UU. e demais países
mencionados não têm ainda uma base ou consenso para atuar, é que, tendo
renunciado ao que a Reforma ensinou, tornaram-se abruptamente humanistas, e não
têm absolutamente ao que se referir, ou sobre o que fundamentar suas ações.
Porém, o conceito católico-romano de lei natural é
igualmente humanista e sem um absoluto em relação ao qual atuar. Temos visto
que o humanismo entrou no sistema católico-romano a partir de Constantino, e
especialmente que o catolicismo romano liberal moderno é devastadoramente
humanista. O mesmo J.C. Murray reconhece tudo isso quando diz que a noção de
lei natural é pré-cristã, anterior até mesmo aos antigos gregos, e que foi
Tomás de Aquino que modelou e poliu este conceito. Isto está especificamente
relacionado com as pinturas de Rafael e Miguel Ângelo no Vaticano. Faz parte do
intento católico-romano para alcançar a síntese entre o pensamento humanista e
o bíblico; e no âmbito do governo, o direito e a moral social, deve finalmente
dar como resultado sempre conclusões humanistas e, portanto, relativas. Assim,
por exemplo, a revista “Time”, de 12 de dezembro de 1960, tratando sobre o
conceito de lei natural que sustenta John C. Murray, disse: “O critério de bom
e mal deve ser achado na natureza do homem; o homem é — de maneira natural — um
ser social; e por isso, o bem da sociedade é o do homem. O robô, por exemplo, é
mal porque subverte a base da vida social, já que faz alguma mal, no terreno
privado, a outro. Quando há conflito entre a satisfação das necessidades
naturais, o racional (e por isso, legal) é subordinar a mais baixa à mais alta.
Assim, a auto-conversação é algo bom; porém, a oposição arriscando a própria
vida quando a exige o bem da sociedade, é algo mal”.
Do ponto de vista bíblico, o pecado é tal porque é
contra Deus, não porque seja contra a sociedade. Quando prejudicamos a um ou
vários homens é pecado, não porque tenhamos lhes prejudicados, mas porque lhes
ocasionar danos contradiz a existência, o caráter e a lei de Deus. Assim, pois,
o sistema bíblico é não-humanista , e absoluto. Porém, o sistema
católico-romano é humanista e relativo, primeiro em sua teologia — inclusive em
sua visão de Deus —, e logo em sua aplicação prática da lei natural. O conceito
católico-romano de lei natural é parte da “sistemática síntese” de que fala
Argan quando trata da arte de Rafael.
Na teologia católica-romana achamos uma linha
ininterrupta entre o homem tal como foi criado, o homem pecador, e o homem
redimido. No pensamento católico-romano a queda do homem não foi realmente
total; e a salvação consiste unicamente na adição de uma justiça infundida no
indivíduo. Esta linha ininterrupta é a base de seu conceito de lei natural. O
ensinamento bíblico é radicalmente diferente: existe um rompimento total na
queda de homem, e outra vez o mesmo na justificação. Por causa de tal queda, o
homem permaneceu verdadeiramente morto. Na justificação, este passa do estado
de verdadeira morte para o de vida real. Segundo a Sagrada Escritura, o homem,
depois de sua queda, ainda é verdadeiramente “imagem” de Deus, no sentido de
que permanece como criatura moral e racional. Ser uma criatura moral e racional
depois da queda quer dizer, segundo a Bíblia, três coisas:
I. — O homem não redimido, todavia, pode desejar
significância porque se acha ainda no universo para o qual foi criado; ela
ainda é moral e racional. O pintor não redimido ainda pode pintar, o que ama
ainda pode amar, etc.
II. — Como diz Romanos 1:19-20, o fato de que o
homem permanece como um ser moral e racional o condena, porque dentro de si, em
sua consciência, e na criação que o rodeia, tem testemunhas que lhe dizem que
vivemos num universo moral-pessoal e que há um Criador. O fato de que o homem
não redimido tenha uma consciência que o condena, está relacionado com o de que
continua sendo um ser moral. O fato de que deveria ser capaz de pensar e saber,
por causa da criação que o rodeia, que há um Deus, está relacionado com o de
que continua sendo um ser racional. Que tenha ainda uma consciência, que
continue amando, que continue anelando e buscando a beleza, o condena, porque
estas coisas lhe indicam e deveriam levar-lhe numa direção exatamente oposta à
que constitui a conclusão lógica de toda crença não cristã. A conclusão lógica
de todas elas é que o universo é impessoal e amoral.
III. — Que o homem seja ainda um ser moral e
racional e, portanto, não uma máquina, estabelece uma situação em que pode
ouvir o Evangelho, e começar a refletir.
Porém na queda, o homem morreu. A força do
existencialismo secular consiste em que reconhece e afirma que o homem está
morto. Os existencialistas estão de acordo com a Bíblia neste ponto básico.
Contudo, esta nos diz o porque o homem se acha nesta condição, e nos dá o
remédio para a mesma. O homem foi criado com o propósito de que amasse a Deus
com todo o seu coração, com toda sua alma e com toda sua mente, e havendo-se
rebelado, é culpado, e está morto e sem propósito. Depois da queda histórica no
Éden, a culpabilidade do homem lhe separa totalmente de Deus, e todas as
relações secundárias estão pervertidas — as relações do homem consigo mesmo,
com os demais, e com a criação —. A noção bíblica é absolutamente diferente da
opinião de que existe uma linha ininterrupta, através da queda, desde a criação
até a salvação. O homem, em sua rebelião contra Deus, destruiu o propósito
primário para o qual foi criado e, portanto, todas as coisas estão pervertidas.
De acordo com a noção bíblica, o homem se torna, na salvação, sobre a base da
obra consumada de Cristo, uma nova criatura nEle, e, ainda que não de modo
perfeito nesta vida, porém todavia real, todas as relações secundárias ocupam
assim seu lugar devido. Em outras palavras: segundo a mente da Escritura, um
humanismo não-regenerado não chega a ser humano e conduzirá ao infra-humano em
todos os aspectos da vida, incluindo um consenso para a moral, o direito ou o
ponto de vista social. Assim, pois, edificar sobre o conceito católico-romano
de lei natural, ou sobre qualquer outro conceito humanista não-regenerado, é construir
sobre o que conduzirá a algo que está por baixo da verdadeira humanidade, e que
reduz progressivamente o homem à condição de máquina ou animal.
Ou, para dizer de outro modo: sendo a Igreja
Católica Romana basicamente humanista, deve tratar sempre com o relativo, isto
é, é o posto ao guardião do Absoluto, seja no entendimento, seja na moral. Na
noção bíblica, todos os elementos humanistas estão eliminados. Na do
catolicismo romano, todos os elementos humanistas básicos estão presentes.
O homem vive hoje num vazio total, busca
desesperadamente uma base, e o catolicismo romanos lhe está recomendando que
aceita como tal seu conceito de lei natural. Este possui um atrativo especial
para os intelectuais, porém quando é examinado, se vê que não é uma base
absoluta de maneira alguma, e que na realidade está relacionado com todas as
demais formas de humanismo que nos assediam. Existem o humanismo protestante
liberal, o comum norte-americano, e o mais recente, o socialismo, elaborado
pelo polaco Adam Schaff. Este último é a nova variedade comunista de humanismo.
O humanismo católico-romano é só uma parte deste quadro, e não provê solução
alguma — todas estas vozes juntas se acham no âmbito de um retorno do mundo
humanista gentio ao que existia antes de Jesus Cristo, porém tanto mais grave
visto que seus componentes são universais. Existe pouca possibilidade de
revolução, e não lugar para onde ir.
A segunda
conclusão
A segunda conclusão é, por conseguinte, que o
catolicismo romano não difere basicamente, em relação ao consenso de lei
natural que está oferecendo ao homem em seu dilema, das outras formas
humanistas — como sua teologia, tão pouco difere no básico das demais
concepções humanistas, sendo a base de tudo isso o fato de que o catolicismo romano
adora a um Deus imperfeito — Aceitar o conceito católico-romano de lei natural
é viver sem base absoluta, e isso pode acarretar tão somente como resultado que
a arbitrária voz da igreja venha a ser a norma, como ocorreu antes da Reforma.
Transladar-se do vazio do pensamento geral de nosso século ao pensamento
católico-romano, com relação ao governo, o direito, a sociedade, etc., é, no
final da contas, passar só do vazio para outro vazio, sendo a norma a
arbitrária e totalitária voz da igreja.
A Igreja primitiva e a Reforma, como temos visto,
descansavam sobre duas colunas não humanistas, e na Reforma — quando um número
suficiente de homens criam nestas coisas —, elas proviam uma base absoluta para
a sociedade, o governo, o direito, etc. Porém agora que o mundo ocidental
pós-cristianismo não crê ainda nestas coisas, não existe uma base, e o caminho
que se segue conduz ao caos, ou ao totalitarismo em qualquer de suas
manifestações. Isto é, segue-se esse caminho, a menos que Jesus Cristo volte,
ou que de novo haja um número suficiente de homens que creiam e atuem nas e
sobre as duas colunas não-humanistas tantas vezes mencionadas, e detenham essa
marcha.
A terceira
conclusão
A terceira conclusão é que os verdadeiros
evangélicos devem permanecer sobre a base das duas colunas não-humanistas sem
vacilar, ainda que isso signifique permanecer sozinhos. De outro modo, não
constituiremos uma ajuda real na salvação de almas, e não seremos úteis na
escuridão moral do século XX, quando o homem se torna progressivamente menos
humano, tanto na vida privada como na pública, em ambos lados da Tela de Ferro.
O cristianismo tem algo para dizer no século XX no que diz respeito ao direito,
ao governo, à vida social, às artes, etc.; porém, não pode dizê-lo se
compromete as duas colunas não-humanistas. Tudo isso significa permanecer tão
claramente apartado do chamado católico-romano para com a lei natural, ou do
chamado das conclusões sociológicas neo-ortodoxas nas pessoas de Brunner,
Niebuhr, etc., como do humanismo popular norte-americano. Isto não pode se
fazer na carne, senão que deve ser feito no poder do Espírito Santo, tomando
acrescentada força no Senhor, conforme nosso complexo religioso-cultural se
torna cada vez menos cristão. Em breves palavras, conforme vem a ser cada vez
mais como o que circundava à Igreja primitiva. Porém, qualquer coisa que seja
menos que o indicado, será finalmente a negação de nossa herança das duas
colunas exclusivas não-humanistas, e nos fará ineficazes para ajudar tanto às
pessoas individualmente, como à sociedade.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Livro: "O Jesus dos Evangelhos: mito ou realidade?"
Um debate entre William Lane Craig e John Dominic
Crossan
O VERDADEIRO JESUS QUEIRA, POR FAVOR, FICAR DE PÉ!
O Jesus que andou pelas ruas de Nazaré é o mesmo
Jesus a quem os Evangelhos atribuem milagres e divindade? Os cristãos podem
legitimamente afirmar que se trata realmente da mesma pessoa? Em suma, quem é o
“verdadeiro Jesus”?
Este livro é a primeira tentativa de diálogo entre
conservadores e liberais em torno do Jesus histórico, tomando por base um
debate recente entre John Dominic Crossan, ex-codiretor do Jesus Seminar
[Seminário Jesus], e o evangélico conservador William Lane Craig. Na busca por
se manter imparcial em sua apresentação do debate habilmente moderado por
William F. Buckley Jr., a obra apresenta ainda a reflexão de quatro
especialistas no assunto: Robert Miller e Marcus Borg, que representam o
Seminário Jesus, e Craig Blomberg e Ben Witherington III, que oferecem as
respostas conservadoras.
domingo, 12 de maio de 2013
Os casos de Estupro e Acefalia justificam a legalização do aborto no Brasil?
"Segundo dados não oficiais, ocorrem 4,5 milhões de aborto por ano no Brasil. Isso é um bom argumento para se usar diante do apelo ao aborto tendo o estupro e a acefalia como validade. Pelo visto esses caras querem nos propor que 4,5 milhões de mulheres foram estupradas e tragicamente ficaram grávidas. Ou então, que o Brasileiro tem um problema genético seríssimo, pois tá todo mundo nascendo sem cérebro neste país".
Pipe
sábado, 11 de maio de 2013
Livro: "A Inquisição na Espanha" de Henry Kamen
Editora Civilização Brasileira
Clássica obra de Henry Kamen que conta a história da Inquisição Espanhola e os números reais de pessoas perseguidas e mortas.
O interessante nesta obra é que ela desmente os números exorbitantes citados pelos ateus como números em milhões.
Clássica obra de Henry Kamen que conta a história da Inquisição Espanhola e os números reais de pessoas perseguidas e mortas.
O interessante nesta obra é que ela desmente os números exorbitantes citados pelos ateus como números em milhões.
sexta-feira, 10 de maio de 2013
quinta-feira, 9 de maio de 2013
O Deus "desordenado" da ciência: repensando John Polkinghorne
Uma recente conferência em Oxford reuniu
cientistas-teólogos para discutir a obra de John Polkinghorne (foto).
A análise é do escritor e jornalista inglês Mark
Vernon, autor de "After Atheism: Science, Religion and the Meaning of
Life" [Depois do ateísmo: Ciência, religião e o sentido da vida] (Palgrave
Macmillan, 2008). O artigo foi publicado no sítio Religion Dispatches,
29-07-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto:
O Departamento de Física da Universidade de Oxford
é uma mistura de edifícios novos e antigos. Em um labirinto de salas, seus
cientistas vão atrás de interesses desde a computação quântica até a cosmologia
teórica. A diversidade diz muito. Como uma árvore de conhecimento, a física
moderna tem galhos que vão para todas as direções.
Exatamente do outro lado do departamento, está um
edifício muito diferente: oKeble College. Sua estrutura unificada e gótica é
inesquecível – construída em tijolos policromados, às vezes referido como
estilo "santa zebra". O "santa" refere-se ao fundador do
colégio vitoriano, John Keble, famoso por liderar o renascimento católico na
Igreja da Inglaterra.
Hoje, o Keble College parece olhar para o seu
vizinho do outro lado da rua como se estivesse refletindo sobre o que a ciência
fez com a religião. Assim, os auditórios de aula do departamento de física
foram um excelente lugar para acolher uma conferência justamente sobre esse
assunto, celebrando e criticando o trabalho de John Polkinghorne, um dos
cientistas-teólogos mais conhecidos do nosso tempo.
Na primeira parte de sua carreira, Polkinghorne foi
um físico matemático, chegando à posição de professor da Universidade de
Cambridge. Então, em 1979, renunciou à sua cátedra e estudou para se tornar
sacerdote anglicano. No quarto de século seguinte, ele escreveu cerca de duas
dezenas de livros sobre a relação entre ciência e religião. Um homem encantador
para se conhecer, entre papéis e apresentações, ele fala tão comodamente com
humildes jornalistas quanto com seus ilustres colegas.
Polkinghorne se descreve como um teólogo "de
baixo" [bottom-up]. Ele está preocupado em mostrar não só que a ciência
moderna é compatível com a crença cristã ortodoxa, mas também que o crente em
Deus pode ter uma base tão racional para o seu compromisso quanto o cientista
tem para o seu. Ele toma emprestada uma noção apresentada pelo filósofo Michael
Polanyi, de crença bem motivada, que procura: "um estado de espírito em
que eu possa manter com firmeza o que eu acredito ser verdade, embora saiba que
possa ser concebivelmente falso".
Isso torna a versão de Polkinghorne acerca da
teologia natural – aquela parte da teologia que olha para a razão e a natureza
ao invés da revelação – mais atraente do que a de seus contemporâneos Alister
McGrath e Richard Swinburne. Assim argumentou um colaborador, Rodney Holder.
Por exemplo, McGrath insiste que a teologia natural
deve ser incorporada à revelação de Deus: ela fala aos cristãos acerca do Deus
que eles já conhecem como Trindade. Mas McGrath também diz que a teologia
natural pode levar os não crentes a Deus. Por isso, ele emprega a razão e a
natureza contra seus oponentes ateus, não apenas em seu livro "The Dawkins
Delusion" [A ilusão de Dawkins]. Coloque as duas afirmações junto, porém,
e parece haver uma inconsistência, ressaltou Holder.
Por outro lado, a teologia natural de Richard
Swinburne utiliza a teoria da probabilidade para argumentar que Deus é a
explicação mais provável para os fenômenos naturais, da experiência religiosa à
afinação cósmica. Mas essa abordagem é problemática, continua Holder, em parte
porque as probabilidades sempre podem ser questionadas, e em parte porque ela
só leva a um Deus racionalista, e portanto sereno, dos filósofos.
Polkinghorne é diferente. Ele acredita que a
teologia natural nos mostra coisas sobre Deus que não podem ser apreendidas por
meio da revelação apenas. Ela não oferece provas de Deus, mas oferece sim
insights. Por exemplo, a ciência sugere não só que Deus criou o tempo a partir
da eternidade, a doutrina tradicional, mas também que Deus realmente
experimenta a temporalidade e não sabe o futuro. A teologia natural de
Polkinghorne pode ser resumida no comentário do teólogo Bernard Lonergan:
"Deus é a explicação totalmente suficiente, o êxtase eterno, vislumbrado
em cada grito de `Eureka` arquimediano". Isso é, concluiu Holder,
profundamente gratificante.
Fraser Watts, o cátedra Starbridge em ciências e
teologia naturais na Universidade de Cambridge, não foi tão otimista. Ele fez
críticas a Polkinghorne, embora em um espírito de respeito. Tomemos a aparente
sintonia fina do universo, disse ele. Os crentes em Deus precisam ser
cautelosos para não fazer uma confusão teológica com aquilo que também é
conhecido como o "princípio antrópico", que basicamente afirma que o
universo é como é porque, de outra forma, os seres humanos não estariam aqui
para observá-lo. Por um lado, os físicos poderão um dia ser capazes de explicar
isso dentro do domínio da ciência. Por outro, reivindicar isso como evidência
de desígnio de Deus requer uma habilidade epistemológica – um movimento da
ciência, que concebe o cosmos como falta de ação, à religião, que concebe o
cosmos como repleto de propósito e intenção.
Enquanto isso acontece, os físicos podem estar no
meio do caminho rumo à explicação da sintonia fina, por intermédio da chamada
teoria do multiverso. Esta apresenta o nosso universo como apenas um dentre
muitos, e assim mostra que não é nenhuma surpresa que o nosso seja
"finamente sintonizado", pois não estaríamos aqui para perceber isso
se não existíssemos. Assim, é melhor, argumenta Watts, não fazer sua teologia
afirmando vantagens em relação à ciência. Os cristãos podem chegar a um acordo
com os multiversos também, concluiu.
Talvez o artigo mais impressionante da conferência
foi dado pela filósofa da ciência e não-crente, Nancy Cartwright. Ela é bem
conhecida por sua ideia de que a ciência não é tão unificada como disciplina
quanto os cientistas tendem a pensar que seja. Observando cuidadosamente como a
ciência realmente procede, ela concluiu que ela faz uso de uma variada gama de
princípios e teorias para descrever os fenômenos que descreve, e que estes não
podem ser reduzidos a algumas poucas e simples leis que poderiam ser fundidas
em uma "teoria de tudo".
O que isso pode significar para os crentes em Deus,
sugeriu ela (meio em tom de gozação) é que Deus não é um legislador, mas sim um
engenheiro. Uma divindade compatível com a ciência moderna seria aquela que
pega o material bruto da natureza e o molda nisto, e depois naquilo. Uma
semente seria um exemplo dessa engenharia divina, porque, mantidas inalteradas
todas as outras condições, ela produz uma planta. Em geral, se o livro da ciência
parece estar escrito em várias linguagens, isso talvez seja porque o livro da
natureza também o é.
Para o pensamento de Cartwright, isso na verdade
levaria a uma noção mais atraente da divindade do que a tradicional com a qual
ela foi criada, já que é um Deus que ama a bagunça! "Glória a Deus pelas
coisas malhadas" [Glory be to God for dappled things], escreveu Gerard
Manly Hopkins. Exatamente, ela concordou.
Sua plateia de teólogos-cientistas escutava
nervosamente, talvez como o Keble College faz com os laboratórios de física.
Alguns temiam que ela pudesse ser interpretada como defensora do Design
Inteligente. E o próprio Polkinghorne não engolia isso. E as leis de
conservação da física, perguntava ele, de energia, momentum e carga? Elas são
claramente universais.
E elas apontam para a unidade da verdade e da
beleza da ordem cósmica, que leva esse notável pensador para o Deus no qual ele
acredita estar embaixo, em cima e por todas as partes.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
terça-feira, 7 de maio de 2013
O Mito da Terra Plana
Introdução
“Terra rotunda est” – Adam de Wodeham (1357) – Discípulo de Guilherme de Ockham
No livro “Aristóteles em 90 minutos”, parte de uma coleção da Jorge Zahar Editora que traz a cada volume a biografia de um grande filósofo da história, pode-se ler o seguinte trecho:
“Ao declarar que as obras de Aristóteles eram como a Sagrada Escritura, a Igreja se viu numa encruzilhada (e no caso, nos confins de uma Terra plana). O conflito que se avizinhava entre a Igreja e a descoberta científica era inevitável”. (pag. 48-49)
O autor, Paul Strathern, professor universitário e autor de romances, biografias e livros de viagens, mas não historiador nem filósofo, é apenas mais um a propagar o mito de que na Idade Média, sob a influência dogmática da Igreja Católica, acreditava-se que a Terra era plana. A ele somam-se filmes (“1492 – A Conquista do Paraíso”), músicas (“Flat Earth Society” – Bad Religion), desenhos animados (tantos que não seria possível citá-los todos), e o pior: livros escolares. Todos mostram Cristovão Colombo como um visionário – o único a acreditar que a Terra fosse redonda – lutando contra religiosos ortodoxos que, citando suas escrituras sagradas, acreditavam que o navio de Colombo cairia da borda da Terra ao atingir o horizonte.
Os gregos já sabiam!
A despeito do que você possa ter aprendido na escola nas suas aulas de História (talvez como o autor deste artigo), os gregos já sabiam mais de 2000 anos antes de Colombo que a Terra era redonda. O grego Erastótenes (276-194 a.C.) chegou mesmo a calcular geometricamente o diâmetro da Terra com uma precisão muito boa, medindo em passos a distância entre as cidades de Alexandria e Siene e conhecendo o tamanho das sombras projetadas por uma estaca nas duas cidades.
Mas você poderia perguntar: “E daí que os gregos já sabiam?” Afinal, diversas outras civilizações da mesma época, como a chinesa, realmente pensavam que a Terra era plana e continuaram pensando assim por muito tempo (os chineses só começaram a discutir a hipótese da Terra redonda no início do século XVII). Outro povo, os hebreus, usaram nos seus textos sagrados, que hoje fazem parte da Bíblia, diversas figuras de linguagem que levam estudiosos a crer que também acreditavam que a Terra fosse plana, como menções aos “quatro cantos da Terra”, por exemplo (embora também haja passagens que são usadas para provar o contrário). A diferença do pensamento grego para os outros povos é que ele influenciou enormemente a forma de pensar do ocidente e em praticamente todas as áreas do conhecimento: política, ética, ciência, lógica, filosofia, arte e muito mais, incluindo aí a toda poderosa religião Cristã.
Mas nenhum filósofo grego influenciou mais o pensamento medieval do que Aristóteles (384-322 a.C.). Aristóteles acreditava que todas as coisas eram formadas por combinações de quatro elementos: terra, água, fogo e ar, e que cada um deles possuía no universo um “lugar natural”. O lugar natural do elemento “terra”, sendo mais pesado do que todos os outros, seria o centro do universo. Uma vez que todas as coisas sólidas eram formadas por este elemento e como todas tinham igual tendência em estar o mais próximo possível do seu lugar natural, Aristóteles concluiu que a forma da Terra deveria ser esférica (note-se que esse raciocínio também exigia que a Terra estivesse no centro do Universo). Em seu livro “Sobre os Céus”, depois de longa argumentação, Aristóteles encerra a questão assim:
“Sobre a posição da Terra e da maneira de seu repouso ou movimento nossa discussão pode aqui terminar. Sua forma deve necessariamente ser esférica.”
A prova da esfericidade da Terra, segundo Aristóteles, publicado em uma edição do livro De sphaere do século XVI.
Platão, mestre de Aristóteles, também acreditava na forma esférica da Terra; ele diz em seu diálogo“Fédon”: “Minha convicção é de que a Terra é um corpo circular no centro dos céus”. Embora Platão não tenha sido tão importante quanto seu pupilo para o pensamento científico medieval, uma versão um pouco modificada de sua filosofia, conhecida por neoplatonismo, influenciou fortemente os primeiros filósofos religiosos, especialmente aquele que foi um dos maiores teólogos cristãos: Santo Agostinho (354-430). Quanto à forma da Terra, Agostinho não parecia duvidar de que ela fosse esférica, embora se mostrasse um tanto pertubado com a idéia de pessoas de ponta cabeça habitando terras do outro lado do mundo. No seu livro “A Cidade de Deus” (De Civitate Dei) ele escreveu:
“Apesar de estar supostamente ou cientificamente provado que a Terra tem a forma esférica, disto não decorre que o outro lado do mundo seja desprovido de mares, nem decorre imediatamente que, sendo desprovido de mares, seja habitado.”
Ilustração do livro Almagestum novum, de 1651, posterior a Colombo, mas que descreve o céu conforme o modelo platônico.
Mas alguém realmente acreditava que a Terra era plana?
Enquanto a filosofia de Platão (sob a forma levemente adulterada do neoplatonismo) continuou, durante os primeiros séculos da Idade Média, a ser cultivada pelos cristãos desejosos em dar um estofo filósofico a sua nova religião, os livros de Aristóteles e boa parte do restante do conhecimento grego se perderam depois do esfacelamento do Império Romano no século VII. Durante este período, conhecido por “Idade das Trevas” (período medieval que costuma ser definido como indo do ano 600 ao ano 1000 D.C), alguns membros da Igreja publicaram de fato trabalhos que defendiam a idéia de uma Terra plana. Um deles foi o monge Cosmas Indicopleustes. Cosmas, um ex-mercador que trocou o comércio pelo hábito, escreveu no ano de 547 o livro chamado “Topografia Cristã” no qual expunha sua visão geográfica do mundo baseada em interpretações literais da Bíblia. Cosmas imaginava a Terra como um grande baú, sendo o firmamento a “tampa” deste baú, e ridicularizava a crença pagã numa Terra redonda com os velhos argumentos de pessoas de ponta cabeça, chuva caindo para cima, etc. Outro defensor da Terra plana foi o padre Lactâncio (265-345) e seus argumentos eram igualmente baseados em interpretações literais de metáforas bíblicas. Além destes sabe-se que, Severian de Gabala (380), e possivelmente Theodoro de Mopsuestia (350-430) e Deodoro de Tarsus (394) defenderam ideais de uma Terra plana.
Sobre estes autores no entanto, a maioria dos historiadores modernos concorda que foram praticamente ignorados em suas épocas ou no mínimo encarados com pouca seriedade nos círculos intelectuais; Cosmas por exemplo foi considerado um tolo ignorante pelo filósofo grego cristão John Philoponus.
Porque a Igreja adotou a Teoria da Terra Redonda?
No século XIII a Europa começou a reerguer-se do obscurantismo em que havia mergulhado e as obras gregas começaram finalmente a ser redescobertas, trazidas pelos árabes. Assim que tiveram contato com as obras de Aristóteles, os intelectuais cristãos imediatamente se encantaram com a complexidade e sofisticação filosófica do corpus aristotélico. Aristóteles não escrevia somente sobre o mundo natural, mas sobre ética, teatro, política, matemática, e muito mais com uma profundidade e um rigor lógico sem par na era medieval (a reverência por Aristóteles era tamanha que ele era chamado simplesmente por “O Filósofo”). Mas foi São Tomás de Aquino (1225-1274), um dos expoentes da teologia cristã, o grande responsável por embutir a ciência, a filosofia e a cosmologia de Aristóteles no cristianismo. Tomás transformou Aristóteles no suporte filosófico de toda a doutrina cristã. A partir daí, questioná-lo era o mesmo que questionar a própria existência de Deus.
Podemos agora voltar ao trecho do livro da Jorge Zahar Editor que abriu este artigo:
“Ao declarar que as obras de Aristóteles eram como a Sagrada Escritura, a Igreja se viu numa encruzilhada (e no caso, nos confins de uma Terra plana). O conflito que se avizinhava entre a Igreja e a descoberta científica era inevitável”.
Podemos entender que autor confundiu algumas coisas. Confundiu “Terra Plana” com “Geocentrismo”. Como se viu, o mesmo raciocínio Aristotélico que concluía pela redondeza da Terra também exigia que ela fosse o centro do universo, e isto sim causou o conflito entre ciência e a religião, mencionado pelo autor, que se viu com Giordano Bruno, Copérnico e Galileu.
Outras evidências pré-Colombianas
John Holywood (isso mesmo), monge inglês que também atendia pelo nome latinizado de Joanes de Sacrobosco era contemporâneo de Tomás de Aquino. Professor de Astronomia na Universidade de Paris, Sacrobosco foi o autor do livro astronômico com o maior número de edições até hoje, o “Tractatus de Sphaera Mundi”, publicado pela primeira vez em 1473. O “Sphaera” era um manual de astronomia e geografia muito utilizado pelos portugueses durante a era das grandes explorações e não deixa dúvidas aos historiadores modernos (a começar pelo nome), de que a esfericidade da Terra fosse um fato bem reconhecido na época.
Um dos mais fascinantes livros medievais é o “Liber Chronicarum” (“Crônicas de Nuremberg”). Com mais de 1800 ilustrações e 600 páginas, este volumoso livro contava a história ilustrada do mundo desde o Genêsis até aquela data e foi publicado originalmente em maio de 1493 antes que a descoberta da América fosse conhecida. A reprodução do “Universo Ptolomaico” (abaixo), representando o universo com suas esferas concêntricas ocupadas pelos planetas conhecidos (incluindo a Lua e o Sol) é bastante clara: a esfericidade da Terra era um fato tão bem estabelecido quanto o geocentrismo.
Encontrando os culpados pelo mito
Se a esfericidade da Terra não era questionada nos círculos eruditos da Idade Média então quem inventou o mito da Terra plana? (ou mais apropriadamente: o mito de que as pessoas acreditavam que a Terra fosse plana). O historiador J. B. Russel, no livro “Inventing the Flat Earth” (“Inventando a Terra Plana” – 1991), procurou os responsáveis pela propagação do mito e descobriu dois culpados: o francês Antoine-Jean Letronne (1787-1848) e o americano Washington Irving (1783-1859). Letrone, um historiador muito respeitado mas com um grande preconceito religioso, foi responsável por atribuir ao “Topografia Cristã” de Cosmas Indicopleustes uma importância histórica que ele nunca teve, concluindo que todos na Idade Média acreditavam que a Terra era plana. Seria como se daqui a mil anos alguém encontrasse um obscuro trabalho científico questionando a evolução e afirmasse que os cientistas do século XXI não acreditavam na evolução. Segundo Russel, devido ao enorme prestígio e reputação de Letrone, esta interpretação particular dos fatos não foi questionada pelos historiadores posteriores e passou a circular como verdade nos meios intelectuais.
Washington Irving, por outro lado, era antes de nada mais um romancista. Você na certa o conhece como o autor do conto que já virou desenho e filme: “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”. Como historiador entretanto, costumava levar sua habilidade de escrever ficção para suas biografias, romanceando fatos que nunca aconteceram. Segundo o pesquisador Owen Gingerich, em seu artigo “Astronomy in the Age of Columbus” (“Astronomia no Tempo de Colombo”; Scientific American, novembro de 1992) logo após a revolução americana Irving estava procurando por um herói não inglês para contrapor ao famoso explorador inglês Sebastian Calbot, o primeiro homem a chegar ao Polo Norte, e enxergou em Colombo a pessoa certa.
Na biografia de Cristovão Colombo, “Columbus”, publicada em 1828, Irving descreve um episódio real – o Conselho de Salamanca em que Colombo apresenta seu projeto a um grupo de religiosos e leigos – porém “enriquece” a narrativa afirmando que Colombo foi acusado de heresia por sustentar que a Terra fosse redonda, o que supostamente seria contrário às Escrituras. É verdade que Colombo sofreu sérias objeções das autoridades presentes, mas a questão nunca foi se a Terra era redonda ou não, e sim o tamanho desta. Colombo supunha que a Terra fosse muito menor do que é na realidade (considerava-a com apenas 20% de seu tamanho real) enquanto seus opositores diziam ser impossível chegar às Índias percorrendo uma distância que consideravam muito maior (os opositores de Colombo estavam certos; se a América não estivesse no meio do caminho de Colombo ele e sua tripulação teriam morrido à míngua de recursos). A narrativa conforme floreada por Irving transformou o debate de Salamanca em um símbolo da luta entre o campeão da liberdade científica e o dogmatismo teólogico, e caiu no gosto popular.
Letrone deu ao mito da Terra plana sua base história, Irving sua carga emocional. Mas o mito realmente ganhou a força que tem até hoje quando John Draper (1811-1882), um físico violentamente anti-católico, publicou em 1873 o livro “A História do conflito entre a Ciência e a Religião” utilizando o mito da Terra plana como exemplo de como as crenças religiosas eram estúpidas e atrasadas e necessariamente se opunham ao progresso da ciência. Através de Draper o mito da Terra plana chegou como verdade absoluta até o início do século XX, e só nos anos 20 começou a ser questionado.