No campo da Cosmologia, esse tipo de raciocínio
levou a duas diferentes hipóteses evolucionistas relativas à natureza do
Universo - a hipótese do “Regime Permanente” de Hoyle (também chamada de
hipótese da “criação contínua”, embora envolva uma evolução contínua, e não
criação, de matéria a partir do nada), e a hipótese de Gamow, da “Oscilação
Eterna” (também chamada de hipótese do “big-bang”, isto é, da explosão
inicial).A hipótese de Hoyle pode ser expressa mediante uma de suas próprias
frases:
“Essa idéia requer que os átomos permaneçam
continuamente no Universo, ao invés de serem criados explosivamente em algum
instante definido no passado” (6).
A teoria de Gamow, por outro lado, expressa-se na
conclusão de que
“... nosso Universo existiu desde a eternidade, e
que até cerca de cinco bilhões de anos atrás ele estava contraindo-se
uniformemente a partir de um estado de rarefação infinita; que há cinco bilhões
de anos ele atingiu um estado de máxima compressão, no qual a densidade de toda
a sua matéria pode ter sido tão grande quanto a das partículas armazenadas no
núcleo atômico (isto é, cem bilhões de vezes a densidade da água), e que o
Universo atualmente está em expansão, tendendo irreversivelmente a um estado de
rarefação infinita” (7).
Ambas as teorias são evolucionistas e uniformistas
em seu contexto, e ambas envolvem a hipótese de que o Universo não teve um
princípio e não terá um fim. A diferença entre elas pode ser resumida da
seguinte maneira:
“A teoria do regime permanente sugere que o
Universo seja mais ou menos o mesmo em qualquer posição ou instante, no
passado, no presente, ou no futuro, enquanto que, de acordo com a cosmologia da
explosão inicial, o Universo (que divisamos atualmente) teve seu início num
estado altamente comprimido, como um átomo primordial, que explodiu e
desenvolveu-se no sistema de galáxias atualmente observáveis” (8).
Como os defensores de ambas essas teorias supõem
que as leis que regem as Ciências e as propriedades físicas e químicas da
matéria têm permanecido as mesmas no decorrer do tempo, conclui-se que o estudo
das transformações que ocorrem atualmente no Universo, bem como as observações
de estrelas e galáxias remotas, é a chave da compreensão de como evoluiu o
Universo, isto é, o presente é a chave para o passado. E essa é a definição da
Hipótese do Uniformismo!
Evolução
Química
Evidentemente, é essa hipótese a filosofia que
norteia o estudo da Evolução Química - um termo que “passou a indicar os
acontecimentos químicos que tiveram lugar na primitiva Terra prebiótica (cerca
de 4,5 a 3,5 bilhões de anos atrás), levando ao aparecimento da primeira célula
viva” (9).
Novamente usando o seu princípio de fé, de que “o
presente é a chave para o passado”, os cientistas reproduziram nos seus
laboratórios condições atmosféricas semelhantes às que supuseram ter existido
na primitiva Terra prebiótica, e impuseram descargas elétricas e radiações
eletromagnéticas nessa atmosfera inorgânica, tentando produzir compostos
orgânicos.
Exemplificando, Miller em 1953 (10) produziu
glicina, alanina a e b, ácido aspártico e ácido butírico a-amino, a partir de
uma mistura de metana, amônia, vapor d’água e Hidrogênio, utilizando radiação
de alta energia (Figura 1). Lemmon resume o resultado de todas as experiências
sobre evolução química realizadas até março de 1969, da seguinte maneira:
“As moléculas orgânicas mais importantes
(biomonômeros) dos sistemas vivos foram enumeradas como os vinte aminoácidos
das proteínas naturais, as cinco bases do ácido nucleico, a glucose, a ribose e
a desoxirribose. As experiências de laboratório efetuadas sob condições
claramente condizentes com as condições prováveis existentes na Terra primitiva
resultaram no aparecimento de pelo menos 15 dos 20 aminoácidos, 4 das 5 bases
de ácido nucleico, e 2 dos 3 açúcares. Adicionalmente, foram observados
representantes de nucleosídeos, nucleotídeos, ácidos graxos e porfirinas
biologicamente importantes. Essa pesquisa tornou claro que esses compostos
ter-se-iam acumulado na Terra primitiva (prebiótica), e que a sua formação é o
resultado inevitável da ação das altas energias disponíveis na primitiva
atmosfera terrestre.” (Referência 9).
Com os resultados de tais experiências em mente, os
cientistas afirmam que no decorrer do tempo tais moléculas orgânicas sem vida
tornaram-se associadas num organismo vivo, por obra do acaso (11).
Referências:
(6) Hoyle, Fred. 1955. Frontiers of astronomy.
Harper's, New York, p. 317.
(7) Gamow, George. 1955. Modern cosmology. (in) The
new astronomy. Editors of The Scientific American. Simon and Schuster, New
York, p. 23.
(8) Nature Science Report on 1968. Macmillan,
London, p. 2.
(9) Lemmon, Richard M. 1970. Chemical evolution,
Chemical Reviews, 70:95-109.
(10) Miller, S.L. 1953. A production of aminoacids
under possible primitive earth conditions. Science, 117:528-529.
(11) Barghoorn, Elso S. 1971. The oldest fossils,
Scientific American, 224 (5):30-42.
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