Marina Garner
Bacharel em Teologia pelo Unasp
Centro Universitário Adventista de São Paulo,
Campus Engenheiro Coelho
marina.garner@gmail.com
Resumo: O presente artigo analisa a proposta básica
do vídeo Zeitgeist de que Jesus não passa de um plágio das mitologias de povos
pagãos antigos. Para tanto, são analisados os paralelismos propostos no vídeo,
a história da teoria que fundamenta a filmagem e por fim, são realizadas
comparações conclusivas em relação a essas questões e aos aspectos bíblicos que
as contariam.
Palavras-chave : Jesus; plágio; Zeitgeist.
Introdução
Em junho de 2007 foi lançado um vídeo de 122
minutos chamado Zeitgeist e até novembro de 2007, 8 milhões de acessos haviam
sido feitas. Esse filme foi ganhador do prêmio de melhor filme no festival de
filmes Artivist na Califórnia em 2007 e 2008.1 Na primeira parte de Zeitgeist ,
que é dividido em três partes principais, é proposto que o Jesus histórico não
passa de um plágio das mitologias de povos pagãos antigos. Os apóstolos
utilizaram-se de histórias já conhecidas na época e criaram um personagem muito
parecido, escrevendo assim quatro evangelhos a respeito deste “outro deus
mitológico”.
Em seu site, a equipe do Zeitgeist, liderado
principalmente por Peter Joseph e Acharya S., os produtores do filme, colocam o
objetivo do movimento:
Pretendemos restaurar as necessidades fundamentais
e a consciência ambiental da espécie revogando a maioria das idéias que temos
de quem e o que realmente somos, juntamente com a ciência, a natureza e a
tecnologia ( em vez de religião , política e dinheiro) são a chave para nosso
crescimento pessoal, não só como seres humanos individuais, mas como
civilização, estrutural e espiritualmente... Logo, a verdadeira mudança nascerá
não só do ajuste de nossas decisões e compreensões pessoais, mas também da
mudança das estruturas sociais que influenciam essas decisões e compreensões.
Além disso, quando percebermos que são a ciência, a tecnologia e, portanto, a
criatividade humana que trazem progresso para nossas vidas, seremos capazes de
reconhecer nossas verdadeiras prioridades para crescimento pessoal e social e
para o progresso. Posto isso, podemos ver que a Religião, a Política e o
sistema de Trabalho baseado em Dinheiro/Competição são modos desatualizados de
operação social, e que agora precisam ser abordados e transcendidos. Nossa meta
é um sistema social que funciona sem dinheiro ou política, ao mesmo tempo em
que permite que as superstições percam terreno à medida que a educação avança.
Ninguém tem o direito de dizer ao outro em que acreditar, pois nenhum ser
humano tem a compreensão completa de nenhum assunto.2
Este filme entre muitos outros materiais como
livros, revistas e sites da internet recentemente tem abordado a crítica como
novidade entre o mundo acadêmico chamando a atenção de multidões e criando
discípulos. Porém, como será verificado, a acusação é antiga e refutável.
Neste estudo abordaremos brevemente o paralelismo
encontrado entre o Jesus dos evangelhos e alguns deuses da mitologia, a
história da teoria do plágio e a verificação das evidências. Faremos uma exposição
sucinta de argumentos utilizados pelos críticos e somente alguns dos
contra-argumentos encontrados. Por ocasião da falta de tempo analisaremos
apenas as acusações principais contra a existência do Jesus histórico, a saber,
nascimento virginal e ressurreição.
Paralelismo
Veremos a seguir então do que se trata esse intenso
debate, apenas mencionaremos alguns dos deuses mitológicos seguidos de suas
aparentes semelhanças com Jesus Cristo.
Horus, deus
egípcio :
• Nascimento
acompanhado de uma estrela no leste
• Adorado
por três reis
• Era um
mestre aos 12 anos
• Foi
batizado com 30 anos
• Tinha 12
discípulos
• Fazia
milagres
• Foi
traído, crucificado e morto
• Depois de
três dias ressuscitou
• Considerado
filho de Deus
• Caminhou
sobre as águas
• Foi
transfigurado numa montanha
Attis, deus frígio :
• Considerado filho de Deus
• Nascido de
uma virgem no dia 25 de dezembro
•
Considerado um salvador que foi morto pela salvação da humanidade
• Seu
“corpo” como pão era comido pelos adoradores
• Ele era
tanto o divino Filho como o Pai
• Numa
sexta-feira ele foi crucificado numa árvore
•
Levantou-se depois de três dias como “Deus todo-poderoso”
Krishna, deus hindu :
• Nascido de
uma virgem no dia 25 de dezembro
• Seu pai
terreno era carpinteiro
• Seu
nascimento foi assinalado por uma estrela ao leste
• Visitado
por pastores que o presentearam
• Foi
perseguido por um tirano que ordenou o assassínio de infantes
• Operava
milagres e maravilhas
• Usava
parábolas para ensinar as pessoas sobre caridade e amor
• Foi
transfigurado diante dos discípulos
• Foi
crucificado aos 30 anos
•
Ressuscitou dos mortos e ascendeu aos céus
• Era a
segunda pessoa da trindade
• Deverá
retornar para o dia do juízo em um cavalo branco
Dionysus, deus grego:
• Nascido de
uma virgem no dia 25 de dezembro
• Era um
mestre viajante que operava milagres
• Andou em
um burro durante uma procissão
•
Transformava a água em vinho
• Era
chamado “Rei dos Reis”e “Deus dos deuses”
•
Considerado “filho de Deus”, “único filho”, “salvador”, “redimidor”,
“ungido”, e o “Alfa e o ômega”
• Foi
identificado como um cordeiro
• Pendurado
num madeiro
Mitra, deus persa:
• Nascido de uma virgem no dia 25 de dezembro
• Era um
mestre viajante
• Tinha 12
discípulos
• Prometia
imortalidade aos seus seguidores
•
Sacrificou-se pela paz mundial
• Realizava
milagres
• Foi
enterrado em uma tumba e ressuscitou 3 dias depois
• Instituiu
uma ceia santa
• Foi
considerado o Logos, redimidor, Messias e “o caminho, a verdade e a vida”
O detalhe primordial para a compreensão dessa
teoria é que há evidências históricas de que todos esses deuses eram amplamente
conhecidos pelo menos um século antes de Cristo. Diante dos paralelos
encontramos acusações como as de Timothy Freke e Peter Gandy, dois dos maiores
defensores da teoria do Jesus-Mito pagão:
Por que nós
consideramos as histórias de salvadores como Osíris, Dionísio, Adônis, Attis,
Mitra e outros deuses pagãos fábulas, porém ao encontrarmos essencialmente a
mesma história contada em um contexto judeu, acreditamos ser a biografia de um
carpinteiro de Belém?3
Quando
percebemos tantas semelhanças entre a mitologia pagã e o Jesus do cristianismo
parece difícil, à primeira vista, não chegar à conclusão que “Jesus foi um deus
pagão...e o cristianismo foi produto herético do paganismo!”.4 Não somente é um mito, mas uma versão
judaica de um mito pagão!
A idéia central é basicamente que o deus principal
era Osiris-Dionísio e foi consistentemente assimilado por outras culturas
locais, dando origem, portanto, ao deus Dionísio na Grécia, que depois formou
Attis na Ásia Menor, Adônis na Síria, Bacco na Itália, Mitra na Pérsia e assim
por diante. Suas formas eram muitas, mas essencialmente eles eram apenas
diferentes versões do mesmo deus, Osiris-Dionísio.
Para verificar a plausibilidade dos argumentos
veremos a seguir a história do surgimento e desenvolvimento da teoria, seguido
de uma análise dos fatos.
História da
teoria
Ao lermos os livros e artigos a respeito da teoria
do “Jesus Mito” percebemos um tom de novidade e de descoberta. Porém, estudando
a posição acadêmica deísta do século XVIII e XIX vemos que essa percepção
implícita está longe de ser verdadeira. Os antecedentes dessa teoria podem
retroceder até aos pensadores da Revolução Francesa, como Constatin-François
Volney e Charles François Dupuis, na década de 1790. Em artigos publicados
nessa década ambos discutiram os numerosos mitos antigos, incluindo a vida de
Jesus, que segundo eles eram baseados no movimento do sol através do zodíaco.
Dupuis especialmente identificou rituais
pré-Cristãos na Síria, Egito e Pérsia representando o nascimento de um deus por
uma virgem. Os trabalhos de Volney e Dupuis rapidamente se espalharam e
produziram diversas edições. Porém, sua influência até mesmo na França não
passou da primeira metade do século XIX com o desenvolvimento do conhecimento a
respeito da mitologia e com as informações corretas sobre o início do
cristianismo e seu desenvolvimento. Dupuis destruiu a maior parte de seu
material por causa da reação violenta que provocou. De acordo com ele “um
grande erro é mais fácil de ser propagado do que uma grande verdade, por que é
mais fácil crer do que racionalizar, e por que pessoas preferem as maravilhas
dos romances à simplicidade da história”.5
O primeiro defensor acadêmico da teoria do Cristo
na mitologia foi o historiador e teólogo do século XIX, Bruno Bauer. Thomas
William Doane, em 1882, publicaria “Bible
Myths and their Parallels in Other Religions” e Samuel Adrianus Naber, em
1886, escreveria “Verisimilia. Laceram
conditionem Novi Testamenti exemplis illustrarunt et ab origine repetierunt”,
analisando os mitos gregos “escondidos” na Bíblia. A raiz, porém, do
paralelismo de Jesus com deuses pagãos encontra sua origem na escola “História
das Religiões”, que se desenvolveu na segunda metade no século XIX. Mais ou
menos na metade do século XX, esse ponto de vista havia sido largamente
respondido e deixado de lado, até mesmo por acadêmicos que viam o cristianismo
como simplesmente uma religião natural.
A teoria que havia uma ampla adoração da morte e
ressurreição do deus da fertilidade Tammuz, na Mesopotamia, Adonis, na Síria,
Attis, na Ásia Menor, e Osíris, no Egito foi proposto porque colecionou uma
grande quantidade de paralelos na quarta parte de seu trabalho monumental The
Golden Bough ( 1906, reimpresso em 1961).
Na década de 1930, três acadêmicos franceses, M.
Goguel, C. Guignebert, e A. Loisy, interpretaram o cristianismo como uma
religião sincretista formada sob a influência das religiões de mistério
helenísticas.
Acreditamos que uma série de fatores contribuíram
para o retorno desta teoria: o interesse pós-moderno em espiritualismo, a
crescente falta de embasamento histórico e o acesso pronto à informação
não-filtrada através da internet. Analisando a reação de épocas posteriores com
respeito à teoria considerada neste trabalho, Edwin Yamauchi provavelmente tem
razão em sua afirmação de que “esta visão
tem sido adotada por muitos que pouco se dão conta de suas frágeis fundações”.6
A resposta
Finalmente, depois de analisarmos a acusação que
sofre a religião Cristã e verificarmos como esta acusação começou e com quem,
vamos agora para o exame da mesma e a confirmação de sua confiabilidade.
Por motivo da falta de espaço, iremos analisar
detalhadamente apenas os dois aspectos mais importantes dos paralelismos: o
nascimento virginal e a ressurreição dos mortos.
Nascimento
Virginal
O centro de todo o desentendimento quanto aos
paralelos do nascimento virginal dos deuses pagãos com os de Jesus começa já na
sua definição. De acordo com o relato de Mateus e Lucas, a definição que
encontramos do nascimento de Jesus é de Maria sendo virgem e Jesus sendo
fecundado pela operação do Espírito Santo. Porém, não há qualquer relato entre
as Religiões de Mistérios que relembre esta situação. A definição dos críticos
de nascimento virginal é uma fecundação resultante de um casamento sagrado
(entre um casal de deuses) ou fruto do ato sexual entre um deus disfarçado de
ser humano e uma mulher mortal (hieros gamos).
Tecnicamente, o que está em questão é a perda ou a
preservação da virgindade no processo da concepção. Maria simplesmente
“achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mateus 1:18) antes de casar-se e antes
de “conhecer” um homem. Portanto, aconteceu sem a interferência de homem ou
qualquer forma de conjunção carnal. Se os autores bíblicos tinham qualquer
referência anterior, essa seria a citação feita por Mateus de Isaías 7:14.
Em uma das histórias de Dionísio, Zeus foi a
Perséfone em forma de serpente e a engravidou, portanto sua virgindade foi
tecnicamente perdida. Na versão mais conhecida, Zeus se apaixonou por Semele,
princesa da casa de Times. Zeus veio a ela disfarçado de homem mortal e logo
Semele estava grávida. Hera, rainha de Zeus, inflamada de ciúmes, se disfarçou como
uma mulher idosa e foi até a casa de Semele. Quando Semele revelou seu caso com
Zeus, Hera sugeriu que a história de que Zeus era o rei dos deuses poderia ser
uma mentira e que talvez ele fosse um mero mortal que inventou a história para
que ela dormisse com ele. Quando Zeus foi visitá-la novamente, ela pediu por
apenas uma coisa. Zeus jurou que daria a ela o que quisesse. “Apareça a mim
como você aparece a Hera”. Relutantemente, mas verdadeiro à sua palavra, Zeus
apareceu em toda sua glória, queimando Semele às cinzas. Hermes salvou o feto e
levou até Zeus que o costurou a sua coxa e três meses depois deu a luz a
Dionísio.7 A história claramente não é comparável ao relato bíblico e, além
disso, só existem relatos pós-cristãos. Os deuses e deusas antigos eram típica
e muito explicitamente sexuais e ativos, até por que, para o mundo antigo,
grandeza era comumente associada com a geração física de um deus. Esse elemento
está completamente ausente do relato da concepção virginal de Jesus.
No mito de Horus, o engano continua. De acordo com
The Encyclopedia of Mythica , depois de Osíris (pai de Horus) ser assassinado e
mutilado em catorze pedaços por seu irmão Set, a esposa de Osíris, a deusa Iris
,a reaveu e remontou o corpo, e em conexão pegou o papel da deusa da morte e
dos direitos funerais. Isis engravidou-se pelo corpo de Osíris e deu a luz a
Horus nos rios de Khemnis, no Delta do Nilo.8
O relato está muito distante da realidade bíblica,
apesar de uma concepção necrofílica ser miraculosa. Mesmo na imagem encontrada
em Luxor com Thoth anunciando a Isis que ela conceberia a Horus, a ordem é a
concepção e depois o anúncio, enquanto que os evangelhos declaram o anúncio e
depois a concepção.
Na pesquisa de Raymond Brown a respeito das
narrativas a respeito do nascimento de Jesus ele avalia os exemplos de
“nascimentos virginais” não-cristãos e sua conclusão é: Em suma, não há nenhum
exemplo claro de concepção virginal no mundo ou nas religiões pagãs que
plausivelmente poderia ter dado aos judeus cristãos do primeiro século a idéia
da concepção virginal de Jesus.9
Ressurreição
Segundo Paulo, o maior fundamento da fé cristã é a
crença na morte e ressurreição de Jesus (I Cor. 15:13, 14). Ainda no início do
capítulo de 1 Coríntios 15, os exegetas do Novo Testamento encontram fortes
evidências para defender a realidade do fato da ressurreição. E foi justamente
nesta pedra fundamental que os críticos aproveitam para divulgar os
paralelismos com personagens das religiões de mistério e das deidades que
experimentaram morte e ressurreição.
A idéia do paralelo entre os deuses que morrem e
ressuscitam e o conceito cristão da morte e ressurreição de Jesus foi
popularizada pelo livro de James Frazer, The Golden Bough , primeiro publicado
em 1906. Segundo ele e muitos outros críticos da modernidade, não há qualquer
diferença entre a ressurreição de Jesus e daquelas deidades que eram conhecidas
pela mitologia.
Não é senão a partir do III século A.D. que
encontramos suficiente material a respeito das religiões de mistério que
permitam uma relativa reconstrução de seu conteúdo. Muitos escritores
utilizam-se deste material (depois de 200 A.D) para formular reconstruções das
religiões de mistério dos séculos anteriores. Essa prática, porém, é
extremamente anti-acadêmica e não pode permanecer sem desafios.10
Na realidade, segundo Pierre Lambrechts, os textos
que referem-se à ressurreição são muito tardios, do segundo ao quarto século
A.D.11 A aparente ressurreição de Adonis, por exemplo, não tem sequer uma
evidência, nem nos textos antigos nem nas representações pictográficas. Quanto
à ressurreição de Attis, não há qualquer sugestão que ele foi um deus
ressurreto senão até depois de 150 A.D.12
Há ainda o famoso caso da ressurreição do deus
Osíris. Nossa versão mais completa do mito de sua morte e ressurgimento é
encontrada em Plutarco, que escreveu no segundo século A.D. De acordo com a
versão mais comum do mito, Osíris foi assassinado por seu irmão que então o
afundou em um caixão no rio Nilo. Ísis descobriu o corpo e o levou de volta ao
Egito. Mas seu cunhado mais uma vez ganhou acesso ao corpo, dessa vez o
desmembrando em catorze pedaços, os quais ele jogou longe. Depois de muita
procura, Ísis recuperou cada pedaço do corpo. É nesse ponto que a linguagem
utilizada para descrever o que se seguiu é crucial. Algumas vezes aqueles que
contam a história se contentam em dizer que Osíris voltou à vida, mesmo que
isso passe longe daquilo que o mito permite dizer. Alguns escritores ainda vão
mais longe ao falar sobre a “ressurreição” de Osíris. Ísis restaura o corpo de
Osíris e ele é colocado como um deus do mundo dos mortos. Roland de Vaux
complementa dizendo:
O que significa Osíris ter “levantado para a vida”?
Simplesmente que, graças à ministração de Ísis, ele pode levar uma vida além da
tumba que é quase uma perfeita réplica da existência terrestre. Mas ele nunca
mais voltará a habitar entre os viventes e reinará apenas sobre os mortos...
Este deus revivido é, na realidade, um deus “múmia”.13
Em outras palavras, Osíris é uma deidade que morre,
mas não um que ressuscita. Ele é sempre retratado em forma mumificada. Além
disso, de acordo com Wilbur Smith, uma das maiores autoridades em religiões
antigas, “não há nada nos textos que justifiquem a presunção que Osíris sabia
que iria levantar dos mortos, e que se tornaria rei e juiz dos mortos, ou que os
Egípcios acreditavam que Osíris morreu em seu favor e que retornou a vida para
que eles pudessem levantar da morte também”.14
Vale à pena lembrar também que durante o estágio
posterior da religião de mistérios, a deidade masculina do culto a Ísis não era
mais Osíris, mas Serapis. Serapis é freqüentemente figurado como um deus do
Sol, e fica muito claro que ele não era um deus morto e, conseqüentemente, não
ressuscitou. Essa foi a versão em circulação a partir de 300 a.C. até os
séculos do início do cristianismo. Portanto, não tinha absolutamente nada
parecido com um deus-salvador que morre e ressuscita na era cristã.15 Portanto,
como escreveram os autores do livro “Reinventing Jesus”, Komoszewski, Sawyer e
Wallace , a “ressurreição” de Osíris está mais parecido com a história de
Frankenstein do que a de Jesus.
Mudando de deidade, outro muito mencionado por sua
suposta história de reaparição dos mortos é o de Cybele e Áttis. Cybele era uma
figura muito adorada no mundo helenístico; o rito para ela antigamente incluía
um frenesi nos adoradores homens que os levava a se castrarem.
Encontramos especialmente três mitos diferentes com
respeito à vida de Áttis. De acordo com um dos mitos, Cybele amava um pastor de
ovelhas chamado Áttis. Por Áttis ter sido infiel, ela o levou a loucura. Tomado
de loucura, Áttis castrou-se e morreu. Isso encaminhou Cybele a um luto muito
forte e introduziu a morte ao mundo natural. Mas então Cybele restaura Áttis à
vida, um evento que também trouxe o mundo da natureza à vida. As pressuposições
do intérprete tendem a determinar a linguagem usada para descrever o que se
segue à morte de Áttis. Referem-se a ela descuidadamente como “ressurreição de
Áttis.” Não há nada que se pareça uma ressurreição corpórea no mito, que sugira
que Cybele só podia preservar o corpo morto de Áttis, ou seja, ele volta a vida
de forma praticamente vegetativa, pois o mito menciona que os pêlos do seu
corpo continuaram a crescer e que ele movimentava um de seus dedos. Em algumas
versões do mito, Áttis volta à vida na forma de uma árvore. Nem nesse e nem nas
outras três histórias, encontramos morte e ressurreição ou qualquer coisa
semelhante ao que vemos nos evangelhos.
Foi somente em celebrações posteriores pelos
romanos (depois de 300 A.D.) que algo remotamente semelhante ocorre. A árvore
que simbolizava Áttis foi cortada e enterrada dentro de um santuário. Na outra
noite, a “tumba” da árvore estava aberta e a “ressurreição de Áttis” foi
celebrada. A linguagem, porém é ambígua e os detalhes sobre o culto são remotos;
todo o material é muito tardio.
Nas comparações com Krishna, as respostas se tornam
ainda mais fáceis de dar. Segundo especialistas em hinduísmo, Krishna foi morto
por um caçador que acidentalmente atirou em seu calcanhar. Ele morreu e
ascendeu. Não houve qualquer ressurreição e ninguém o viu ascender. Mesmo que o
mito da ascensão de Krishna traga algum desconforto, ele pode ser rapidamente
resolvido com as declarações de Benjamin Walker em seu livro “ The Hindu World:
An Encyclopedia Survey of Hinduism ”: “não pode haver qualquer dúvida que os
hindus pegaram emprestado os contos [do cristianismo], mas não o nome”.16 Por
estes paralelos virem do Bhagavata Purana e o Harivamsa, Bryant acredita que o
Bhagavata Purana seja “anterior ao sétimo século A.D. (apesar de alguns
acadêmicos considerarem do século 11 A.D.)” e que o Harivamsa tenha sido
composto entre o quarto e o sexto século.
O mesmo caso de datação tardia acontece com o mito
de Mitra (a partir do primeiro século A.D.) e o caso de histórias completamente
diversas à morte e ressurreição de Cristo acontece com Dionísio e Horus.
Apesar de ser chocante às mentes religiosas
ocidentais, é senso comum dentro da história das religiões que imortalidade não
é uma característica básica da divindade. Deuses morrem. Alguns deuses
simplesmente desaparecem, alguns somente para retornar novamente depois e
alguns para reaparecer freqüentemente. Todas as deidades que foram
identificadas como fazendo parte da classe de deidades que morrem e ressuscitam
podem ser colocados sob duas classes maiores: deuses que desaparecem e deuses
que morrem. No primeiro caso, as deidades retornam, mas não haviam morrido, e
no segundo caso, os deuses que morrem, mas não retornam. Nenhum desses
paralelos, para a concepção judaica, ressuscitou dos mortos, e para alguns
acadêmicos hoje paira a dúvida se literalmente existe algum deus que
experimentou a morte e a ressurreição. Uma citação muito interessante explica a
realidade da teoria:
Desde a década de 1930...um consenso tem se desenvolvido
que os ‘deuses que morrem e ressuscitam' morreram mas não retornaram ou
levantaram-se para viver novamente...Aqueles que pensam diferente são vistos
como membros residuais de espécies quase extintas.17
Outras Diferenças substanciais
Analisamos brevemente as semelhanças e as
diferenças dos deuses da morte-levantamento e das Religiões de Mistério com
Jesus nos seus aspectos principais. A seguir colocaremos algumas outras
diferenças marcantes que não poderiam passar despercebidos.
• Em todos
os casos de deuses que morrem, eles morrem por compulsão e não por escolha, às
vezes por orgulho ou desespero, mas nunca por amor sacrifical.18
• Não há
qualquer evidência de religiões de mistério inseridos na Palestina das três
primeiras décadas do primeiro século. Não haveria tempo suficiente para que os
discípulos fossem influenciados pelos mistérios se eles estivessem dispostos a
ser, que não era o caso. Quando a influência dos mistérios atingiu a Palestina,
principalmente através do gnosticismo, a igreja primitiva não aceitou, mas
renunciou vigorosamente os mitos pagãos. A falta de sincretismo dificulta a
concepção.
• Os deuses
que morrem e ressuscitam segundo os mitos, nunca morreram por outra pessoa
(vicariamente), e nunca anunciaram morrer pelo pecado. A idéia de uma aliança
substitutiva pelo homem é totalmente única ao cristianismo. Além disso, Jesus
morreu uma vez por todos os pecados, enquanto os deuses pagãos eram
freqüentemente deuses de vegetação que imitavam os ciclos anuais da natureza
aparecendo e morrendo diversas vezes.
• Jesus
morreu voluntariamente e sua morte foi uma vitória e não uma derrota, ambos os
aspectos são contrários aos conceitos pagãos.19
•
Similaridade não prova dependência. Movimentos sociais e religiosos
freqüentemente compartilham formas de expressão ou práticas similares. Não é de
se surpreender que encontrássemos paralelos em qualquer religião a respeito de
vida após a morte, identificação com uma deidade, ritos de iniciação ou um
código de conduta. Se uma religião deseja atrair conversos, precisa apelar para
as necessidades e desejos universais dos seres humanos. Mas isso não indica
dependência! Em qual cultura, por exemplo, que a imagem de lavar-se em água não
significa purificação? O que importa, entretanto, não é a semelhança das
palavras e práticas, mas os significados anexados a eles. A fim de provar um
caso de dependência é necessário demonstrar uma semelhança na essência e não só
na forma. Os escritores normalmente exageram similaridades formais, enquanto
ignoram diferenças essenciais entre a história de Jesus e os variados mitos
pagãos.
• Os pagãos
nesse período não estavam confusos quanto à exclusividade da Igreja, e chamavam
os cristãos de ‘ateus' por causa de sua indisponibilidade fundamental de ceder
ou sincretizar. Como J. Machen explica, os cultos de mistério eram
não-exclusivistas: “Um homem poderia ser iniciado nos mistérios de Ísis ou
Mitras sem ter que abrir mão de suas crenças anteriores; mas se ele quisesse
ser recebido na Igreja, de acordo com a pregação de Paulo, deveria abrir mão de
todos os outros salvadores para o Senhor Jesus Cristo... Dentre o sincretismo
predominante do mundo greco-romano, a religião de Paulo, assim como a religião
de Israel, permanece absolutamente distinta”.20
• A
cronologia está toda errada. As crenças básicas do cristianismo existiam no
primeiro século, enquanto que o total desenvolvimento das religiões de mistério
não aconteceu até o segundo século. Historicamente, é muito improvável que
qualquer encontro teve lugar entre o cristianismo e as religiões de mistério
pagãs até o terceiro século. Até hoje não há evidência arqueológica de
religiões de mistério na Palestina do início do primeiro século.21 A história
das influências pode ser dividida em três períodos: Primeiro período (1-200 A.
D), as religiões de mistério eram restritas e não exerciam influências nas
outras religiões. Se há qualquer influência, ela é na direção contrária:
cristianismo influenciou os cultos. Segundo período (201-300 A. D), depois de o
cristianismo ter se espalhado pelo mundo romano, as religiões de mistério se
tornaram mais ecléticas, suavizando doutrinas severas e conscientemente
oferecendo uma alternativa ao cristianismo (aparece o culto a Cybele oferecendo
a eficácia do banho de sangue, que antes era de vinte anos, para um período que
ia de vinte anos à eternidade), competição com o cristianismo. Terceiro período
(301-500 A.D), Cristianismo passou a adotar a terminologia e ritos dos cultos
de mistério (e.g., 25 de dezembro).22
• Como um
judeu devoto, o apóstolo Paulo nunca teria considerado pegar emprestados seus
ensinamentos de religiões pagãs (Atos 17:16; 19:24–41; Rom 1:18–23; 1 Cor.
10:14), assim como João (1 João 5:21). Não há a mínima evidência de crenças
pagãs em seus escritos.
• Como uma
religião monoteísta com um corpo de doutrinas coerente, o cristianismo
dificilmente poderia ter pegado emprestado de um paganismo politeísta e
doutrinariamente contraditório.
• Os
críticos parecem ignorar completamente o pano-de-fundo hebraico do
cristianismo. Quase nenhuma atenção é dada ao rico pano de fundo hebraico no
Novo Testamento e o cristianismo primitivo. Termos como “mistério”, “ovelha
sacrificada” e “ressurreição” em vez de vir dos mitos pagãos como os escritores
sugerem, são baseados nas crenças judaicas encontradas no Antigo Testamento.
Além disso, os manuscritos do mar Morto têm vertido muita luz em práticas
judaicas que se escondem atrás do Novo Testamento como o batismo, comunhão e
bispos.
• O
cristianismo está baseado em eventos da história, não mitos. A morte dos deuses
de mistério aparece em dramas místicos sem nenhuma conexão histórica.
• Se houve
qualquer empréstimo, foi na outra direção. À medida que o cristianismo crescia
em influência e se expandia, os sistemas pagãos, reconhecendo a ameaça,
provavelmente pegariam alguns elementos do cristianismo. Por exemplo, o rito
pagão do banho em sangue de touro (taurobolium) inicialmente tinha sua eficácia
espiritual de vinte anos. Mas assim que a competição com o cristianismo
começou, o culto a Cybele, aumentou sua eficácia de seu rito “de 20 anos a
eternidade”23 quase equivalendo assim, à eternidade prometida aos cristãos.
• O conteúdo
moral de amor e compaixão, bondade e ações de caridade eram completamente
diferentes. A forma cristã de humildade, permitindo que o próximo bata nas duas
faces e o próprio exemplo de Jesus utilizando Seu poder apenas para o bem
diferencia seriamente daquilo que vemos na mitologia pagã.
Conclusão
Depois de revisar muitos artigos e livros a
respeito da teoria do Cristo na mitologia pagã, tanto dos críticos quanto dos
defensores, é difícil não se questionar como esta teoria pode ter se
desenvolvido e se propagado da forma como foi e tem sido:
1- O conceito de nascimento virginal encontrado nos
mitos pagãos em contraste com o relato bíblico diferem em muito.
2- Ressurreição de acordo com o conceito judaico e
cristão não é percebido nos mitos pagãos, mas sim deuses que desaparecem mas
não morrem e deuses que morrem mas não reaparecem.
3- A datação dos materiais que podemos usar para
ter uma idéia de como eram esses deuses é bastante posterior ao início do
cristianismo, não podendo, portanto, ter tido influências no seu
desenvolvimento. Se houve influências, foi do cristianismo para o paganismo.
4- Todo o relato do nascimento, vida e morte de
Jesus é completamente único ao cristianismo e contém uma originalidade não
encontrada nos mitos pagãos.
A conclusão da completa falta de argumentos confiáveis
e verossímeis é clara e óbvia e, nas palavras de Ronald Nash:
Esforços liberais de desacreditar a revelação
singular cristã através dos argumentos da influência das religiões pagãs
destroem-se rapidamente a partir da verificação completa das informações
disponíveis. É claro que os argumentos liberais exibem academicismo
incrivelmente ruim e com certeza, essa conclusão está sendo muito generosa.24
Fica claro que a melhor conclusão a ser feita é
aquela do livro em que encontramos a verdadeira revelação da verdade e da fonte
do mistério da vida, morte e ressurreição de Jesus: a Bíblia. Por que “ não há
salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome,
dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”.25
Referências:
1 Informação retirada do site
http://www.zeitgeistmovie.com/, dia 11/05/2009http://www.zeitgeist
2
http://www.thezeitgeistmovement.com/joomla/index.php?Itemid=50 , acessado dia
11/05/2009. (Grifo acrescentado)
3 Timothy Freke e Peter Gandy , The Jesus
Mysteries, Three Rivers Press (Setembro, 2001). p. 9
4 Ibid.
5 Charles François Dupuis, The origin of all
religious worship (1798). Kessinger Publishing, 2007, p. 293.
6 Edwin M. Yamauchi, Easter: Myth, Hallucination or
History? Christianity Today, march, 1974, pt. 1.
7 Barry Powell, Classical Myth (3a. ed.).
PrenticeHall. New Jersey, 2001, p. 250.
8 Mich F. Lindemans, Encyclopedia of Mythica .
Artigo publicado dia 21 de maio, 1997 no website:
http://www.pantheon.org/articles/i/isis.html. Acessado dia 23/08/09 .
9 Raymond E. Brown, The Birth of the Messiah .
Anchor Bible, 1999, p. 523.
10 A summary critique the mythological Jesus
mysteries a book review of “The Jesus Mysteries: Was the “Original Jesus” a
Pagan God?” by Timothy Freke and Peter Gandy. Christian Research Journal, Vol.
26, No. 1, 2003.
11 P. Lambrechts, "La' Resurrection de
Adonis," em Melanges Isadore Levy , 1955, p. 207-240 como citado em Edwin
Yamauchi, "The Passover Plot or Easter Triumph?" em J. W. Montgomery,
(ed), Christianity for the Tough-Minded . Minneapolis: Bethany, 1971.
12 Ibid
13 Roland de Vaux, The Bible and the Ancient Near
East. Doubleday, 1971. p. 236
14 Wilbur M. Smith, Therefore Stand. New Canaan,
CT: Keats, 1981, p. 583.
15 Ronald Nash, Was the New Testament Influenced by
Pagan Religions? Christian Research Journal (Inverno, 1994), p. 8.
16 Benjamin Walker, The Hindu World: An
Encyclopedic Survey of Hinduism , Vol. 1. New York: Praeger, 1983, p. 240-241.
17 Tryggve N. D. Mettinger, The Riddle of
Resurrection: "Dying and Rising Gods" in the Ancient Near East .
Stockholm, Sweden: Almquist & Wiksell International, 2001, p. 4, 7.
18 J. N. D. Anderson, Christianity and Comparative
Religion. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1977, p. 38.
19 Ronald H. Nash, Christianity & the
Hellenistic World . Grand Rapids, MI: Zondervan/Probe, 1984, p.
171-172.
20 J. Gresham Machen, The Origin of Paul's Religion
. New York: Macmillan, 1925, p. 9.
21 J. Ed Komoszewski, M. James Sawyer, Daniel B.
Wallace , Reinventing Jesus . Kregel Publications, 2006, p. 231.
22 Idem, p. 232-233.
23 Nash, Ronald H. Christianity & the
Hellenistic World.1984. p. 192-199; citando Bruce Metzger sobre o culto de
Cybele.
24 Ronald Nash, Was the New Testament Influenced by
Pagan Religions? Christian Research Journal, Inverno 1994, p. 8.
25 Atos 4:12
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