Como o bioquímico Michael Behe usa uma ratoeira
para desafiar a teoria da evolução.
por Tom Woodward
A Caixa Preta de Darwin: O Desafio da Bioquímica à
Teoria da Evolução
por Michael J. Behe
"Se se pudesse demonstrar a existência de
algum órgão complexo que não pudesse de maneira alguma ser formado através de
modificações ligeiras, sucessivas e numerosas, minha teoria ruiria inteiramente
por terra." Charles Darwin, Origem das Espécies, Belo Horizonte: Villa
Rica, 1994, p. 161.
"Para Darwin, a célula era uma 'caixa preta'--
suas operações internas eram completamente misteriosas para ele. Agora, a caixa
preta foi aberta e nós sabemos como ela funciona. Aplicando-se o teste de
Darwin ao mundo ultracomplexo da maquinaria molecular e dos sistemas celulares
que têm sido descobertos nos últimos 40 anos, nós podemos afirmar que a teoria
de Darwin 'ruiu inteiramente por terra'."
Michael Behe, bioquímico e autor de A Caixa Preta
de Darwin.
Durante o inverno de 1996, uma série de terremotos
culturais sacudiram o mundo secular com a publicação do novo e revolucionário
livro por Michael Behe -- A Caixa Preta de Darwin: O Desafio da Bioquímica à
Teoria da Evolução. Um crítico no New York Times Book Review elogiou as hábeis
analogias e o estilo aprazível e caprichoso, tomou conhecimento sóbrio do
desafio radical do livro ao darwinismo. Os jornais e as revistas de Vancouver a
Londres, incluindo a revista Newsweek, o jornal The Wall Street Journal e
diversas outras das principais publicações científicas especializadas do mundo,
relataram estranhos tremores no mundo da biologia evolutiva. O The Chronicle of
Higher Education, um jornal semanal lido em primeiro lugar por professores e
administradores universitários, trouxe um artigo especial sobre o autor dois
meses após o surgimento do livro. A manchete, de chamar a atenção, dizia:
"Um bioquímico insta aos darwinistas o reconhecimento do papel
desempenhado por um 'Designer/Planejador Inteligente'."
Agora os repórteres estão peregrinando a Bethlehem,
Pennsylvania, para entrevistarem o autor no epicentro destes tremores: o
bioquímico Michael J. Behe [pronuncia-se birri] da Universidade Lehigh.
Behe, que tipicamente traja uma camisa de lenhador,
jeans e tênis preto Adidas, labuta longas horas com seus alunos no laboratório
de bioquímica, fazendo pesquisas em DNA e na estrutura de proteínas. Ele é
baixo, ficando calvo e usa óculos de lentes garrafais escuras, aparentando ser
mais um empregado de loja de ferramentas do que um renegado científico.
Sentado numa mesa do laboratório, cercado de vidros
cheios de líquidos cristalinos odoríferos feitos para a reorganização de
seqüências do DNA, ele explica que o avanço em sua própria área -- onde os
cientistas têm furiosamente desemaranhando os mistérios de como a célula
funciona -- já chegou a uma surpreendente descoberta: a maquinaria molecular e
os sistemas complexos na célula são extremamente dependentes de muitas partes
interligadas do que terem sido construídas gradualmente, passo a passo, ao
longo do tempo.
Com o seu livro já na sua oitava edição [em
inglês], Behe tem a sua agenda cheia de compromissos de palestras. Numa recente
viagem à Universidade do Sul da Flórida, em Tampa, ele falou a biólogos,
estudantes e a catedráticos que enfrentaram fortes chuvas de um iminente
furacão, somente para ouvi-lo.
Na sua palestra, Behe passou em revista a teoria da
evolução moderna e então projetou na tela a sua citação favorita de Darwin em
Origem das Espécies [vide p. 161] reconhecendo o tipo de evidência que seria
necessária para refutar a teoria da evolução darwiniana.
Behe aceitou o desafio do teste de Darwin e
perguntou, "Que tipo de sistema biológico não poderia ser formado por
numerosas, sucessivas e pequenas modificações? Bem, para iniciantes, um sistema
que tem uma qualidade que eu chamo de complexidade irredutível."
Encorajando aos leigos na audiência a ficarem
ligados, Behe explicou brevemente o que ele queria dizer com a frase --
"Quando eu digo que algo é irredutivelmente complexo, eu simplesmente
quero dizer que é um sistema composto de diversas partes bem sincronizadas e
interativas que contribuem para a função básica, onde a remoção de qualquer uma
das partes faz com que o sistema efetivamente deixe de funcionar."
Com seu sorriso caracteristicamente largo
aparecendo em sua barba cheia, Behe projetou na tela um diagrama da ratoeira
humilde, sua marca registrada de "complexidade irredutível". Após
destacar as cinco partes necessárias para a funcionalidade de uma ratoeira, ele
acrescentou -- "Você precisa de todas as partes para pegar um rato. Você
não pode pegar alguns ratos com uma plataforma e, a seguir, adicionar a mola e
pegar alguns mais, e depois adicionar o martelo e incrementar a função. Todas
as partes devem estar lá para que haja qualquer [tipo de] funcionalidade. A
ratoeira é [um tipo de] complexidade irredutível."
Behe foi, subitamente, como um guia turístico,
guiando seus ouvintes num passeio de parque temático através da célula e
salientando sistemas que exibem este tipo de complexidade de ratoeira
misteriosa. Usando fotos e diagramas, ele passeou pela reação da corrente
química que dá origem à visão e detalhou a elegante mas complexa estrutura do
cílio e seus muitos tipos de célula com que são equipados. As tirinhas cômicas
[de jornais] Far Side e Calvin e Hobbes pontuaram a palestra, e até a
estrambólica maquineta de Rube Goldberg -- "O Coçador de Picada de
Mosquito" -- foi mostrada como analogia ao sistema complicado pelo qual a
coagulação sangüínea acontece.
"A célula não é mais uma misteriosa caixa
preta como foi para Darwin", continuou Behe, "nós agora sabemos
precisamente como ela funciona a nível molecular. E a célula está abarrotada de
sistemas como estes que são irredutivelmente complexos."
Finalmente ele mostrou uma tirinha cômica do New
Yorker com um professor sendo confrontado no seu escritório pelo chefe do
departamento e por um pistoleiro que estava colocando um silenciador em seu
revólver. A legenda lia: "Certamente, professor, o Sr. sabia quando aceitou
esta posição, é publicar ou perecer!"
Seus ouvintes gostaram do humor, mas o clima na
platéia ficou sério quando Behe concluiu:
"Ao pesquisar a literatura profissional das
últimas décadas, procurando por artigos que foram publicados tentando até mesmo
explicar a origem darwiniana gradual, passo a passo de qualquer destes
sistemas, você só encontrará um estrondoso silêncio. Absolutamente nenhum --
nenhum cientista publicou qualquer proposição ou explicação detalhada da
possível evolução de qualquer sistema bioquímico complexo. Quando a ciência não
publica, deve perecer."
Em suma, Behe disse que a teoria da evolução
moderna, aplicando-se o próprio teste de Darwin, é reprovada espetacularmente a
nível molecular. Antes, em qualquer parte que olharmos dentro da célula, a
evidência está olhando fixamente nos olhos dos cientistas sugerindo que os
sistemas foram diretamente planejados por um agente inteligente.
Michael Behe é pai de seis filhos, três meninos e
três meninas com idades a partir de dois até onze, com um sétimo a caminho.
Nenhum muro de separação fica entre o ser pai e o escrever sobre bioquímica.
Ele põe imagens caseiras em muitos de seus capítulos tiradas do lar da família
Behe no endereço à 2258 Apple Street. Por exemplo, o trabalho alegre de montar
o triciclo de seu filho no dia de Natal ilustra a importância das instruções
detalhadas em sistemas vivos...
Montando as peças [de brinquedos] de conectar e os
Tinkertoys com seus filhos sobre o tapete da sala da casa da família dá um
quadro de como as moléculas são constituídas. O carrinho de boneca de sua filha
mais nova é convocado a ajudar explicar como os anticorpos se unem aos
invasores do corpo. Behe, o mestre, catedrático, dificilmente pode destacar
algo sem trazer algo familiar e concreto, tais como, latas de sardinhas, um
elefante, bolo de chocolate e até mesmo [o vídeogame] "roadkill".
Celeste, a esposa de Behe, também tem uma carreira
de ensino; ela ensina em casa a quatro dos filhos da família Behe. Quando
Michael Behe chega em casa vindo do laboratório de biologia, ele gosta de jogar
Frisbee com seus filhos e ler para eles. Na verdade, a casa dos Behe é como uma
biblioteca -- livros infantis estão esparramados pela casa e empilhados em 16
prateleiras num quarto separado especialmente para a leitura. Desde que os Behe
há sete anos decidiram que não teriam um aparelho de televisão em seu lar, os
filhos dos Behe têm encontrado tempo para a leitura de bons livros, aprendendo
karatê, piano e cantando no coral da igreja.
Os esforços de Michael Behe em criar seus filhos é
equilibrado pela sua nova tarefa de ser "pai" em seu próprio campo
científico. Alguém poderia descrever o livro A Caixa Preta de Darwin como um
"livro de nascimento"; é proposta de Behe dar à luz a uma nova
perspectiva em biologia que pare de ignorar a presença evidente de
"design/planejamento". Ele não está sozinho nesta empreitada. Behe
tem trabalhado rigorosamente com uma equipe interdisciplinar de colegas
cientistas espalhados por faculdades e universidades de Seattle [estado de
Washington] a Princeton, Nova Jersey.
O líder reconhecido do movimento
"design/planejamento inteligente" é Phillip Johnson, um professor de
Direito na Universidade da Califórnia em Berkeley, cujo livro Darwin on Trial
[revisto em 1993] tem provocado interação vigorosa com os mais prestigiados
evolucionistas do mundo, incluindo Stephen Jay Gould da Universidade de Harvard
e Niles Eldredge do Museu Americano de História Natural.
De acordo com Johnson, o livro de Behe inaugurou
uma nova fase da crítica ao darwinismo. Behe não somente devasta o caso a favor
do darwinismo a nível molecular, mas ele também está comandando o caminho na
elaboração de um novo referencial sobre as origens.
O objetivo do movimento do design/planejamento é
liberar a ciência de seus grilhões da filosofia naturalista a fim de que os
cientistas que pesquisam a origem das maravilhas da natureza tenham a liberdade
de considerar todas as [outras] explicações possíveis - incluindo o
design/planejamento por um agente inteligente.
Uma conferência internacional foi realizada em
novembro de 1996 na Universidade Biola em Los Angeles [CT, Jan. 6, 1997, p.
64], que reuniu 180 professores de faculdades e outros pesquisadores a
considerarem a proposta revolucionária para novos princípios científicos e
matemáticos que possam ajudar a determinar como algo surgiu na natureza.
A idéia básica é perguntar, "Quais das três
possíveis explicações condiz melhor em explicar um dado fenômeno X? Pode X ser
explicado por ações do tipo das leis naturais, ou poderia X ser o resultado de
eventos randômicos, ou, falhando estas possibilidades, seria X o resultado da
ação de um agente inteligente?" Este tríplice teste [denominado de
"Filtro Explanador"] tornou-se o enfoque central da conferência
quando Behe e seus colegas revisaram nova evidência indicando
design/planejamento. Alguns observadores dizem que o movimento do
design/planejamento pode estar embarcando na primeira etapa de um processo
transicional em ciência que os filósofos chamam de "mudança paradigmática".
No seu livro Behe argumenta que já chegou o tempo
de a ciência biológica enfrentar as implicações lógicas do que vem sendo
encontrado em bioquímica e se curvar para uma importante tarefa: identificar
quais máquinas na célula trazem claramente as marcas de design/planejamento
inteligente e quais as que poderiam ter se desenvolvido de sistemas anteriores.
O senso de oportunidade para tal reviravolta
revolucionária parece estar certa, conforme sugerido pelo furor provocado pela
edição de junho de 1996 da revista Commentary. O artigo principal daquela
edição foi "The Deniable Darwin - O Darwin que pode ser negado", uma
sofisticada estocada no darwinismo pelo filósofo e lógico treinado em
Princeton, David Berlinski. Sob o título aparecia um subtítulo provocante,
"O registro fóssil está incompleto, o raciocínio está defeituoso, a teoria
da evolução está apta a sobreviver?"
Commentary publicou na sua edição de setembro uma
surpreendente seção de 33 páginas dedicada à onda de reações ao artigo de
Berlinski. Cartas furiosas chegaram às torrentes de exponenciais darwinistas do
mundo, mas outros especialistas louvaram ao autor pela sua rigorosa análise e
aos editores pela coragem intelectual de publicarem o artigo. O autor utilizou
13 páginas para responder, ponto a ponto, a cada carta.
Berlinski, autor do livro recentemente premiado, A
Tour of the Calculus, afirma que o ceticismo em relação à ortodoxia darwiniana
já explodiu além do gueto evangélico protestante e que há revolução no ar. Ele
destaca a obra de Behe como um momento decisivo neste processo: "A Caixa
Preta de Darwin é simplesmente uma obra que será considerada como um dos mais
importantes livros já escrito sobre a teoria darwiniana. Ninguém no campo
evolucionista pode se propor a defender Darwin sem lidar com os desafios que
Behe fez em seu livro - é realmente bem convincente."
Em vez de ignorarem Behe, como muitos tentaram
fazer com Phillip Johnson, tanto a mídia como o establishment científico estão
prestando bem atenção ao bravo bioquímico em Lehigh.
O tratamento dispensado a Behe no New York Times,
"o jornal de registro", é um sinal desta mudança cultural. O primeiro
interesse significante veio em 4 de agosto de 1996, quando o A Caixa Preta foi
honrado com uma resenha no New York Times Book Review. O evolucionista James
Shreeve apreciou o jeito de Behe em explicar as maravilhas naturais. No fim,
Shreeve não concordou com a proposta de design/planejamento inteligente de
Behe, dizendo que não deveríamos nos antecipar e dizer "Deus fez
isto", mas que deveríamos deixar alguns mistérios para nossos netos
trabalharem. Contudo, a resenha exprimiu claramente a tese de Behe:
"Ele argumenta que a origem dos processos
intracelulares subjacentes à base da vida não podem ser explicados pela seleção
natural ou por qualquer outro mecanismo baseado somente pelo acaso. Quando
examinado com as modernas ferramentas da biologia moderna, mas sem seus
preconceitos modernos, a vida a nível bioquímico pode ser um produto...somente
de design/planejamento inteligente. Vindo de um cientista praticante...esta
proposição está perto de heresia."
Muito mais digno de menção foi a publicação do
artigo de Behe "Darwin ao microscópio" nas páginas de
opinião/editorial do New York Times [29 de outubro de 1996]. Os passos que
levaram a isto começou no meio de setembro quando o editor do Times surpreendeu
a Behe perguntando-lhe se ele consideraria submeter um artigo explicando as
teses principais de seu livro.
Em resposta, Behe imediatamente escreveu um artigo
opinião/editorial, que ficou um mês sobre a mesa do editor. Então, em 25 de
outubro, manchetes de primeira página ao redor do mundo noticiaram a enigmática
declaração do Papa João Paulo II [extremamente incompreendida] sobre a evolução
ser "mais do que uma hipótese" baseada em "recente conhecimento"
que os cientistas deveriam ser livres para investigar, tendo em mente que a
alma é uma criação direta de Deus.
Vez que Behe é um cientista católico lecionando no
departamento de biologia de uma importante universidade, tanto o Times e Behe
se sentiram atados. Dentro de um dia seu artigo teve que ser escrito de novo
para lidar com a declaração do papa.
Neste artigo, Behe explicou que a declaração papal
não era nenhuma novidade para ele. Como católico, Behe fora ensinado que a
evolução poderia ser considerada como um método de criação de Deus.
O que forçou Behe a mudar sua opinião sobre a
verdade do darwinismo e a propor o design/planejamento inteligente não fora a
religião, mas descobertas científicas em sua própria área. O papa falara de
"diversas teorias da evolução", Behe salientou, explicando que a
única teoria da evolução válida que ele enxergava emergindo da evidência
biológica se apercebia dos inconfundíveis sinais de "design/planejamento
inteligente" [encontrados].
Inevitavelmente, muitos cientistas acusaram Behe de
"criacionismo levemente disfarçado". Esta estratégia é empregada pelo
biólogo da Universidade de Chicago, Jerry Coyne, cuja resenha sobre [o livro
de] Behe fora publicada em setembro no jornal especializado inglês Nature.
Embora Coyne admita, "não há dúvida que os caminhos descritos por Behe são
extremamente complexos e sua evolução será difícil de desemaranhar" ele
afirma que Behe não ofereceu nenhuma solução: "A alternativa 'científica'
de Behe à evolução [é] um confuso e não testável punhado de idéias
contraditórias."
Duas vezes na resenha a retórica de Coyne associa
Behe aos "criacionistas científicos" de San Diego a quem os
profissionais evolucionistas tendem a desconsiderar. Coyne descreve a obra de
Behe como uma "nova e mais sofisticada" versão do criacionismo
literal de Gênesis.
Na verdade, Behe explicou claramente suas
diferenças com os criacionistas da [idade da] terra jovem. Por exemplo, ele
está disposto a aceitar "como uma hipótese de trabalho" o conceito de
Darwin de ancestral comum. Ele até declarou: "Eu não sou um
criacionista", definindo a palavra de modo mui restrito incluindo a crença
numa criação recente em seis dias [de 24 horas] derivada de uma leitura literal
de Gênesis.
Behe crê ser Deus o Designer/Planejador Inteligente
que suas descobertas bioquímicas estão apontando, mas realça que a ciência
talvez não tenha habilidade em descobrir a identidade do designer assim como os
astrônomos não podem determinar, a partir de seus cálculos, quem/o que causou,
do nada, a origem do universo em expansão. Behe considera a ciência e a
religião como duas linhas de investigação que se conectam ou se sobrepõem na
área das origens, mas nenhuma dessas realizações humanas pode querer usurpar a
função da outra.
Assim, a religião pode criar o espaço conceitual
necessário para a mudança do pensamento de Behe, mas ele relaciona suas dúvidas
sobre [a teoria de] Darwin a uma série de choques intelectuais ou a "rudes
sobressaltos científicos" que recebeu enquanto trabalhava na arena das origens
biológicas na última década. Seu pensamento passou por inesperadas mudanças
através de contatos com colegas bioquímicos, cujo ceticismo contagiante sobre
[a teoria de] Darwin o incentivou a desenvolver suas próprias investigações e,
por sua vez, levou à sua emergência de figura exponente no movimento do
design/planejamento.
Michael Behe, um dos oito filhos de uma família de
classe média, foi criado em Harrisburg, Pennsylvania. Seu pai, aproveitando o
benefício da Lei do Serviço Militar [GI Bill], foi o primeiro de sua família a
chegar à faculdade e se tornou gerente de uma filial da Household Finance
Corporation.
Mesmo desde criança, disse Michael Behe, ele era um
"entusiasta pela ciência". Destacou-se como aluno do ensino médio,
formando-se em quinto lugar numa turma de 200 [alunos] e eleito presidente da
turma do último ano. Relembrando suas aulas de ciência na escola católica de
ensino médio, ele disse, "Fui ensinado que Deus fez as leis do universo e
que algumas dessas leis levaram a processos evolutivos. Assim, Deus não é menos
criador só porque usa as leis que Ele [mesmo] pôs em movimento."
Para Behe, a evolução nunca fora um ponto de
contenda até que chegou à Universidade Drexel na Filadélfia no começo dos anos
70. Ele vividamente se relembra de uma estranha conversa que teve com um colega
estudante que usava a evolução como "ferramenta para lutar [contra] a
religião". Behe discutiu vigorosamente com este cético do campus
[universitário] a favor da posição teísta da evolução; mas quando a poeira da
batalha se assentou nenhum havia convertido o outro. Em 1974, Behe se formou em
Drexel, bacharel em química e uma educação dos usos do darwinismo como
propaganda nas mãos de ateus.
Para seus estudos de doutorado, Behe se mudou para
a Universidade da Pennsylvania no outro lado da cidade. Lá ficou por quatro
anos e após concluir seu doutorado [Ph. D.] em Bioquímica, conseguiu ser
indicado para o Instituto Nacional de Saúde em Bethesda, Maryland.
Uma de suas colegas no laboratório de Genética no
Instituto Nacional de Saúde era uma bioquímica católica, Jo Ann Nichols.
Raramente o trabalho deles lidava com a evolução, mas Behe se lembra um dia em
que o assunto surgiu, como assunto de especulação mútua entre eles durante um
intervalo.
A pergunta foi esta: "Se a primeira vida
surgiu por processos naturais randômicos de uma sopa química, como todos os
livros-textos estão dizendo, o que exatamente, são os sistemas mínimos exigidos
para [que haja] vida?" Juntos marcaram uma lista das exigências mínimas:
uma membrana funcional, um sistema para construir as unidades de DNA, um
sistema para controlar a cópia do DNA, um sistema de processamento de energia.
Subitamente, eles encerraram a especulação deles, se entreolharam, sorriram e
juntamente murmuraram: "De jeito nenhum -- são sistemas demais; não
poderia ter acontecido por acaso."
Em 1982 Behe foi contratado pela Faculdade Queens
na cidade de Nova York para lecionar bioquímica. Ele relembra os três anos em
Queens como um tempo bem agradável em sua vida, primeiramente pelo que
aconteceu fora do laboratório e da sala de aula. Enquanto morava em Queens
conheceu Celeste, sua esposa, uma brilhante e atraente jovem de cabelos negros
lisos que fora criada numa família católica italiana. Após três meses de
namoro, Michael propôs o noivado e eles se casaram no verão seguinte.
Três anos depois, não querendo criar sua família
num ambiente urbano, ele passou a procurar por outro lugar. Quando uma vaga
surgiu na [universidade] Lehigh, uma hora a norte da Filadélfia em Bethlehem,
ele se candidatou e foi instalado na faculdade em 1985, recebendo estabilidade
acadêmica dois anos depois.
Foi logo após a estabilidade acadêmica ter sido
concedida que experimentou o primeiro importante choque intelectual quando
encomendou o livro controverso do geneticista agnóstico Michael Denton:
Evolution: A Theory in Crisis [Nota do tradutor: publicado em 1986, continua
inédito em português.]
Quando Behe abriu o livro, ele foi atraído pela
critica científica radical de Denton que, embora concordando ser a "micro-evolução"
fato estabelecido inegável, desafia a reivindicação realmente significante do
darwinismo - que já explicou a "macro-evolução".
Denton, que pesquisa agora genética humana na
Universidade Otago na Nova Zelândia e não é criacionista, define a
macro-evolução como sendo a emergência total de novos órgãos ou organismos
através de processos unicamente naturais que operam em pequenos aumentos.
Havendo avaliado a evidência da macro-evolução e encontrando-a em falta, Denton
conclui: "A teoria da evolução não é mais nem menos do que o grande mito
cosmogênico do século XX."
Lendo o livro de Denton foi uma "chamada para
o despertar científico" para Behe. O efeito intelectual, disse ele, foi
aproximadamente análogo a um tratamento de eletrochoque convencendo-o que o
poder criativo da seleção natural era, na maior parte, blefe -- uma inferência
em grande parte indevida que não era bem apoiada pela evidência disponível.
Logo ele estava repensando tudo que havia sido ensinado sobre a evolução,
especialmente em sua própria especialidade de sistemas bioquímicos.
Em 1989, o deão da Faculdade das Artes e Ciências
de Lehigh enviou um memorando solicitando aos professores que desenvolvessem
propostas de seminários para novos alunos explorando tópicos interessantes nas
fronteiras do conhecimento que ajudassem aos estudantes o desenvolver de
habilidades de pensamento crítico. Behe viu nisto uma oportunidade de ouro e
submeteu um esboço de curso chamado de "Argumentos Populares sobre a
Evolução". Seu curso utilizou três principais textos: além da crítica de
Denton, ele exigiu que os alunos lessem o [livro] clássico de Thomas Kuhn, A
Estrutura das Revoluções Científicas [São Paulo: Editora Perspectiva, 1994], e
o [então] recente bestseller The Blindwatchmaker, uma defesa do darwinismo pelo
biólogo de Oxford Richard Dawkins. [Nota do tradutor: Há uma edição em
português de Portugal: O relojoeiro cego, Edições 70, Rua Luciano Cordeiro,
123-2 Esq., 1050 Lisboa - Portugal, 1988].
A proposta de Behe foi aceita e ele vem ministrando
o curso quase todos os anos desde 1989.
Durante o curso, ele coloca, lado a lado, as
evidências e os argumentos a favor e contra a teoria da evolução convencional.
Seu objetivo é ensinar de modo que os alunos não fiquem necessariamente sabendo
sua posição pessoal sobre a macro-evolução.
Todavia, ele se acha gratificado pelas respostas de
seus alunos na sua pesquisa sobre a evidência. "Acho gratificante",
disse Behe, "quantos alunos vêm a mim no final do curso a cada ano e
dizem, 'Professor, obrigado pelo curso; antes, eu não fazia idéia que houvesse
qualquer caso científico contra o darwinismo."
Naquele mesmo tempo, na Universidade da Califórnia
em Berkeley, Phillip Johnson estava 'polindo' a sua crítica do darwinismo.
Originalmente apresentado numa palestra coloquial aos seus colegas docentes,
Darwin on Trial finalmente foi lançado como livro em 1991 [Nota do tradutor:
Inédito em português. Editoras contatadas no Brasil não mostraram interesse
neste livro importante. Filtro ideológico???]. Os quatro anos de estudo de
Johnson sobre a base científica da evolução também foi desencadeado pela
leitura de Denton. Agora seu livro fora além de Denton, não somente revendo o
estado frágil da evidência científica da macro-evolução mas também localizando
com precisão os papéis importantes que as suposições filosóficas atuam na
apresentação e defesa do darwinismo.
Em julho de 1991, Mike Behe abriu uma cópia do
jornal Science da Associação Americana para o Avanço da Ciência. Na sua coluna
de notícias "Briefings" [Pequenas Notas], a edição noticiou o [livro]
Darwin on Trial do jeito que os meteorologistas advertem sobre furacões. Na
verdade, a seção de notícias considerou Johnson um advogado que não sabe de
nada e que não entendeu "como a ciência funciona" e avisou aos seus
leitores que o livro dele colocava em perigo o bom pensamento científico.
Eugenie Scott, diretora do Centro Nacional para
Educação em Ciência [National Center for Science Education] entidade
anti-criacionista, ficou aflita quanto a influência potencial de Johnson:
"Eu espero que os cientistas saibam disto. Eles realmente precisam saber
[que o livro] está lá e está confundindo o público."
Behe havia começado a ler Darwin on Trial e ficou
furioso com o que ele chama de atitude "profundamente
anti-intelectual" em relação à obra de Johnson. Behe enviou uma resposta
crítica inteligente para a revista Science que a publicou na edição subseqüente.
Sua carta tornou-se um pequeno clássico na literatura de cépticos do darwinismo
e imediatamente trouxe Behe para a atenção do movimento de design/planejamento
[inteligente].
No final de 1991, a Fundação para o Pensamento e
Ética [Foundation for Thought and Ethics], organização de pensadores, organizou
em março de 1992 um simpósio sobre o livro de Johnson. A idéia foi convidar
cinco darwinistas e cinco proponentes do design/planejamento inteligente para
debaterem a tese central do Darwin on Trial -- isto é, que o darwinismo é
baseado, fundamentalmente, em preconceito filosófico e não em inferência
científica. Behe aceitou o convite da fundação para juntar-se ao lado do [grupo
do] design/planejamento inteligente, mesmo assim ele admite que entrou no salão
de conferência na Universidade Metodista Sulista [Southern Methodist
University] em Dallas com "alguma trepidação". Disse Behe, "Eu
simplesmente não sabia o que esperar, nem tão-pouco os darwinistas. Nada disso
havia sido tentado antes a nível acadêmico superior."
Logo em seguida os receios de Behe e dos demais se
desfizeram e três dias depois todos os 11 participantes deixaram Dallas dizendo
que o simpósio fora um dos melhores que já participaram em suas carreiras
acadêmicas. "Não houve conversões em nenhum dos lados" relembrou
Behe, "mas um espírito genuíno de camaradagem e aceitação mútua cresceu
entre nós. Foi um [dos eventos] importantes de minha vida."
Os anais, publicados sob o título Darwinism:
Science or Philosophy? foram elogiados no renomado jornal Quarterly Review of
Biology como importante marco científico. O volume contém um debate entre
Phillip Johnson e o filósofo de ciência, darwinista, Michael Ruse, além dos dez
trabalhos apresentados na conferência. Cada trabalho é seguido de uma réplica
publicada por um dos participantes do outro lado da questão.
Muitos observadores descreveram o trabalho de Behe,
sobre a natureza isolada das famílias de proteínas como uma "bomba
científica". Usando análise estatística e bioquímica, Behe propôs que a
estrutura de informação das proteínas apontam para um designer/planejador
inteligente, assim como as letras de um livro devem ser dispostas na ordem
correta por um autor a fim de produzir um texto coerente. Mas o que muitos se
lembram como o ponto de destaque de Behe fora a sua cintilante resposta a um
imponente trabalho darwinista lidando com o sistema imunológico. As
contribuições de Behe, educadas, mas de alta octanagem científica, foram pontos
importantes do simpósio.
Um ano mais tarde o grupo de especialistas de Johnson-Behe
se reuniu em Pajero Dunes na costa da Califórnia. Lá, Behe apresentou pela
primeira vez as idéias seminais que ele havia desenvolvido na sua mente por um
ano - a idéia da maquinaria molecular de "complexidade irredutível".
Assim que Behe havia assinado um contrato com a
Free Press, passou a escrever o texto do livro no seu computador. Behe se
deparou com uma grande surpresa durante as etapas finais de sua pesquisa assim
que começou a pesquisar os livros-textos de biologia de faculdade e as publicações
técnicas: previamente, ele não tinha idéia alguma de quantas explicações
darwinianas para os sistemas complexos surgiriam na literatura. Suspeitava que
tais explanações propostas seriam raras, mas o que ele encontrou foi mais do
que eloqüente: uma total e sistemática ausência de quaisquer tentativas.
Seu entusiasmo crescia mês a mês assim que sua
pesquisa confirmava o silêncio universal sobre o tópico.
No fim de julho de 1996, Mike Behe sentado em seu
escritório, ligou seu computador e passou uma vista em seus e-mails. Havia sido
um mês estimulante: seu livro finalmente estava sendo impresso. Estava
entusiasmado por sua coletiva com a imprensa em Washington, D.C., na frente de
diversos intelectuais e pessoas da mídia. Enquanto passava férias com a família
na costa de Maryland, ele recebera um pacote da Free Press contendo uma cópia
de seu primogênito literário. Então, alguns dias mais tarde, surgiu um
comentário que uma resenha [sobre seu livro] apareceria no New York Times Book
Review. Aquela notícia trouxe entusiasmo misturado a temor: queria comemorar,
mas perguntou a si mesmo se deveria se preparar para um ataque [dos críticos].
Passando rapidamente por sua lista de e-mails, Behe
detectou uma mensagem de Phillip Johnson. Ao abrir a mensagem e correr [os
olhos] nela, sorriu pelo linguajar encorajador [de Johnson]: "Não se
preocupe, Mike. Ainda que o Times 'bata' em você na resenha deles, vai
acontecer um terremoto cultural [nos Estados Unidos] no dia 4 de agosto quando
eles a publicarem."
Alguns dias mais tarde, Behe recebeu uma cópia da
resenha e digitou um comunicado via e-mail que surgiu nas telas de computadores
de diversos colegas no movimento do design/planejamento [inteligente]:
"Boas notícias -- acabei de receber a resenha do New York Times. Nada mal.
Nada mal mesmo. Numa escala de um a dez [dez sendo louvor extasiante, um sendo
uma 'surra'], é um oito." Behe podia sentir os tremores distantes.
Ao dar palestras, a primeira das perguntas feita a
Behe é -- "O que os darwinistas dizem de seu livro?" Ele destaca três
ou quatro reações que se repetem. Algumas simplesmente o rotulam de
'criacionista' e desconsideram seus argumentos sem a devida atenção; mas esta
não é a reação típica. Quase todos os críticos admitem que Behe tem os fatos
[científicos] corretos.
O bioquímico James Shapiro disse que A Caixa Preta
de Darwin havia, na verdade, atenuado a complexidade dos sistemas da célula,
enquanto que James Shreeve admitia que "Behe pode estar certo que, dado ao
nosso estado atual de conhecimento, a boa e velha evolução gradualista
darwiniana não pode explicar a origem do ...transporte celular."
Todavia, Shreeve e os demais dizem que o
catedrático de Lehigh desistiu muito cedo [em buscar respostas naturalistas].
Muitos acrescentam que a ciência simplesmente não pode acolher tais noções não
científicas como a do "design/planejamento inteligente". Behe
considera esta objeção como uma tentativa transparente, baseada em preconceitos
filosóficos, de estabelecer limites em ciência.
Alguns críticos têm buscado refúgio nas novas
idéias matematicamente fundamentadas de Stuart Kaufmann, um catedrático na
Universidade da Pennsylvania que utiliza modelos computacionais para simular o
que ele chama de "ordenação espontânea da vida". Behe critica as
idéias de Kaufmann no seu livro [A Caixa Preta de Darwin] destacando que um
artigo recente na [revista] Scientific American descrevia a obra de Kaufmann
"ciência sem fatos". Behe enfatiza que os modelos de Kaufmann nunca
se referiam a dados químicos ou biológicos reais e que não produziu nenhum
experimento em laboratório. Assim, ele conclui, as idéias de Kaufmann não
oferecem nenhuma esperança como uma rota de escape para os darwinianos.
Depois que as reações de biólogos profissionais ao
A Caixa Preta de Darwin começaram a surgir em grande quantidade, Phillip
Johnson destacou: "Até agora toda a crítica ao livro de Behe não desafia a
verdade do que ele diz. Apenas reflete quão infeliz os darwinistas se sentem ao
perceber a evidência científica e a filosofia materialista deles indo em
direções opostas."
Esta infelicidade foi evidente numa palestra
recente na Universidade do Sul da Flórida. O catedrático que leciona o curso de
evolução para bacharelandos [daquela] universidade objetou: "Você está
desistindo muito cedo. A bioquímica está na sua infância. Estes sistemas foram
descobertos há apenas 20 ou 30 anos atrás. Dentro dos próximos anos, nós
poderemos começar a entender como estes sistemas evoluíram.
"Behe respondeu: "Realmente, muitos
destes sistemas já haviam sido entendidos completamente há 40 anos atrás ou
mais e nenhuma explicação foi publicada oferecendo um cenário plausível pelo
qual eles possam ter evoluído. Qualquer ciência que afirma ter explicado algo,
quando na verdade eles não publicaram nenhum explicação a respeito, deve ser
chamada prestar contas."
Michael Behe realmente deseja ser nada mais do que
um contador biológico, iniciando uma longa e devida auditoria dos livros
darwinianos. O mundo está esperando pelos resultados.
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