Introdução
NO PRINCÍPIO
O teste que eu planejara era bastante simples. Se
fossem genuínos os nomes dos indivíduos, famílias, povos e tribos constantes da
Tabela das Nações, então aqueles mesmos nomes deveriam aparecer também nos
registros de outras nações do Oriente Médio.
A arqueologia deveria também revelar que aquelas
mesmas famílias e povos estão na Tabela de Gênesis (ou então, conforme o caso,
não estão), em seu relacionamento correto etnológico, geográfico e lingüístico.
Eu admitia inicialmente que uma boa parte daqueles
nomes não apareceria. Ou os registros que os tivessem contido teriam perecido
de há muito, ou a diversificação de línguas e dialetos os teria tornado
irreconhecíveis.
Alguns estariam perdidos na obscuridade.
Simplesmente não era realista esperar que todos os nomes tivessem sido
registrados nos anais do antigo Oriente Médio e que tivessem sobrevivido até
nossos dias.
Assim, eu ficaria contente se conseguisse recuperar
cerca de 40% da lista. De fato, isso teria sido uma meta bem elevada, dada a
evidente antigüidade da própria Tabela das Nações, e a notória escassez de
registros extrabíblicos remanescentes daqueles tempos antigos.
Porém, quando após meus 25 anos de pesquisa as
evidências superaram os 40%, atingindo os 50%, e posteriormente 60% e mais,
tornou-se claro que o conhecimento moderno sobre o assunto superava os limites.
Realmente ultrapassava em muito.
Hoje posso dizer que os nomes da Tabela das Nações
até agora corroborados atingem mais de 99% da lista, e não farei nenhum outro
comentário além de dizer que não se poderia esperar que qualquer outro
documento histórico antigo, de autoria puramente humana, atingisse tal nível de
corroboração!
E acrescentarei, ainda, que os modernos
comentaristas bíblicos devem utilizar esses dados da melhor forma possível.
O
CONHECIMENTO DE DEUS NO PAGANISMO DA ANTIGÜIDADE
Tão profundos eram a concepção e o conhecimento de
Deus entre certos povos pagãos do mundo antigo, e em particular no mundo
greco-romano, que até mesmo iniciou-se então a controvérsia (que deveria
manter-se acesa durante muitos séculos) entre os que propagavam e preservavam
aquele conhecimento de Deus como Criador, e os que procuravam destruí-lo
atribuindo a criação do universo a forças puramente naturais. A notável
semelhança entre essa controvérsia no mundo pagão e a que hoje se alastra entre
criacionistas e evolucionistas é deveras surpreendente, e iremos examiná-la
neste capítulo.
É algo irônico que, ao mesmo tempo em que o
conceito do Criador alimentado filosoficamente estivesse na Grécia sofrendo um
profundo desvio na direção de uma maior apreciação de Sua natureza e atributos,
estivesse ocorrendo também no mesmo local o nascimento de outro conceito até
então nunca ouvido entre os gregos – o ateísmo.
Simplesmente não sabemos como o ateísmo veio nascer
na antiga Grécia, pois, como vimos, este era um conceito virtualmente nunca
expresso mesmo nas culturas mais profundamente pagãs do mundo antigo.
Entretanto, dado o tempo de seu surgimento
juntamente com o conceito mais elevado do Criador – que também provém de uma
fonte igualmente misteriosa, historicamente falando – pareceria que o ateísmo
na Grécia antiga foi concebido para se opor ao desabrochante conceito entre os
filósofos, de uma única e onipotente divindade.
Sem dúvida é significativo que nenhum conceito tal
como o ateísmo tivesse surgido antes para se contrapor aos deuses pagãos de
menor importância na filosofia de Hesíodo. Com o seu advento, vemos, porém, o
próprio início do grande conflito que se deveria desencadear no decorrer dos
séculos entre os que defendiam a crença então racionalmente apresentada a favor
de um Criador e os que vigorosamente a ela se opunham.
Tales de Mileto (circa 625 – 545 A. C.) usualmente
é tido como o primeiro filósofo materialista entre os gregos. Entretanto, é
muito duvidoso que ele realmente fosse materialista. Tudo que sabemos a seu
respeito nos vem através de escritos posteriores, dentre os quais os mais
importantes provêm de Aristóteles, que simplesmente descreveu Tales como o
“fundador da filosofia natural”.
Epicuro sabia que o ateísmo aberto seria facilmente
refutado por qualquer filósofo disposto a enfrentar controvérsia a esse
respeito, e o fato de que poucas pessoas em qualquer época são abertamente
ateístas, de qualquer forma traria pouco apoio para os seus pontos de vista.
Entretanto, se a existência dos deuses fosse reconhecida ao mesmo tempo em que
fosse negada a criação divina do universo, então a argumentação contra a
posição de Epicuro tornar-se-ia infinitamente mais complexa, proporcionando aos
materialistas a possibilidade de mudar o campo da discussão à vontade. Tal
sofisma, de fato, estava inteiramente coerente com o caráter de Epicuro, e por
isso foi ele amplamente criticado em mais do que uma ocasião.
O estoicismo foi fundado por Zenão em torno de 308
A.C., e como os acontecimentos vieram a comprovar, tornou-se de fato um desafio
bastante efetivo ao materialismo sob qualquer forma ou aspecto no mundo pagão,
sendo que esse desafio manifestou-se mediante um desenvolvimento de maior
significado, que começou com uma concepção do Criador muito mais profunda do
que até então havia prevalecido no pensamento grego, seja o de
Hesíodo,Xenófanes ou mesmo Platão. De fato, o ateísmo incipiente e levemente
velado da filosofia de Epicuro era agora respondido pelos estóicos em termos
muito mais fortes, com Crísipo talvez sendo o seu mais persuasivo defensor.
Entretanto, ao lado da nova e sublime concepção do
Criador do universo proclamada por Xenófanes, Platão e Crísipo, outro conceito
estava surgindo, e que nas mãos de Crísipo e seus seguidores, emprestaria à
escola estóica uma autoridade quase irresistível. Era o conceito da “evidência
de projeto”, argumento a favor da intenção e propósito inspirados divinamente,
observados em todo o universo, e que convenceu os estóicos – como hoje convence
os criacionistas – da correção científica e filosófica do seu modelo.
Aprimorado e brilhantemente expresso por Paley no início do século XIX, a
importância da evidência de propósito ou projeto não foi deixada de lado pelos
primeiros teorizadores clássicos, que se apressaram a lhe dar um lugar
permanente na idéia do Criacionismo. Um estóico posterior, Cïcero, foi quem deu
a esse conceito talvez sua mais elevada expressão nos tempos pré-cristãos.
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ResponderExcluirTende por este site: http://www.scb.org.br/scb/index.php/revisoes-bibliograficas/93-editados-pela-scb/2088-depois-do-diluvio
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