terça-feira, 12 de maio de 2015

Livro: "Depois do Dilúvio" de Bill Cooper

Introdução

NO PRINCÍPIO
O teste que eu planejara era bastante simples. Se fossem genuínos os nomes dos indivíduos, famílias, povos e tribos constantes da Tabela das Nações, então aqueles mesmos nomes deveriam aparecer também nos registros de outras nações do Oriente Médio.

A arqueologia deveria também revelar que aquelas mesmas famílias e povos estão na Tabela de Gênesis (ou então, conforme o caso, não estão), em seu relacionamento correto etnológico, geográfico e lingüístico.

Eu admitia inicialmente que uma boa parte daqueles nomes não apareceria. Ou os registros que os tivessem contido teriam perecido de há muito, ou a diversificação de línguas e dialetos os teria tornado irreconhecíveis.

Alguns estariam perdidos na obscuridade. Simplesmente não era realista esperar que todos os nomes tivessem sido registrados nos anais do antigo Oriente Médio e que tivessem sobrevivido até nossos dias.

Assim, eu ficaria contente se conseguisse recuperar cerca de 40% da lista. De fato, isso teria sido uma meta bem elevada, dada a evidente antigüidade da própria Tabela das Nações, e a notória escassez de registros extrabíblicos remanescentes daqueles tempos antigos.

Porém, quando após meus 25 anos de pesquisa as evidências superaram os 40%, atingindo os 50%, e posteriormente 60% e mais, tornou-se claro que o conhecimento moderno sobre o assunto superava os limites. Realmente ultrapassava em muito.

Hoje posso dizer que os nomes da Tabela das Nações até agora corroborados atingem mais de 99% da lista, e não farei nenhum outro comentário além de dizer que não se poderia esperar que qualquer outro documento histórico antigo, de autoria puramente humana, atingisse tal nível de corroboração!

E acrescentarei, ainda, que os modernos comentaristas bíblicos devem utilizar esses dados da melhor forma possível.

O CONHECIMENTO DE DEUS NO PAGANISMO DA ANTIGÜIDADE
Tão profundos eram a concepção e o conhecimento de Deus entre certos povos pagãos do mundo antigo, e em particular no mundo greco-romano, que até mesmo iniciou-se então a controvérsia (que deveria manter-se acesa durante muitos séculos) entre os que propagavam e preservavam aquele conhecimento de Deus como Criador, e os que procuravam destruí-lo atribuindo a criação do universo a forças puramente naturais. A notável semelhança entre essa controvérsia no mundo pagão e a que hoje se alastra entre criacionistas e evolucionistas é deveras surpreendente, e iremos examiná-la neste capítulo.

É algo irônico que, ao mesmo tempo em que o conceito do Criador alimentado filosoficamente estivesse na Grécia sofrendo um profundo desvio na direção de uma maior apreciação de Sua natureza e atributos, estivesse ocorrendo também no mesmo local o nascimento de outro conceito até então nunca ouvido entre os gregos – o ateísmo.

Simplesmente não sabemos como o ateísmo veio nascer na antiga Grécia, pois, como vimos, este era um conceito virtualmente nunca expresso mesmo nas culturas mais profundamente pagãs do mundo antigo.
Entretanto, dado o tempo de seu surgimento juntamente com o conceito mais elevado do Criador – que também provém de uma fonte igualmente misteriosa, historicamente falando – pareceria que o ateísmo na Grécia antiga foi concebido para se opor ao desabrochante conceito entre os filósofos, de uma única e onipotente divindade.

Sem dúvida é significativo que nenhum conceito tal como o ateísmo tivesse surgido antes para se contrapor aos deuses pagãos de menor importância na filosofia de Hesíodo. Com o seu advento, vemos, porém, o próprio início do grande conflito que se deveria desencadear no decorrer dos séculos entre os que defendiam a crença então racionalmente apresentada a favor de um Criador e os que vigorosamente a ela se opunham.

Tales de Mileto (circa 625 – 545 A. C.) usualmente é tido como o primeiro filósofo materialista entre os gregos. Entretanto, é muito duvidoso que ele realmente fosse materialista. Tudo que sabemos a seu respeito nos vem através de escritos posteriores, dentre os quais os mais importantes provêm de Aristóteles, que simplesmente descreveu Tales como o “fundador da filosofia natural”.

Epicuro sabia que o ateísmo aberto seria facilmente refutado por qualquer filósofo disposto a enfrentar controvérsia a esse respeito, e o fato de que poucas pessoas em qualquer época são abertamente ateístas, de qualquer forma traria pouco apoio para os seus pontos de vista. Entretanto, se a existência dos deuses fosse reconhecida ao mesmo tempo em que fosse negada a criação divina do universo, então a argumentação contra a posição de Epicuro tornar-se-ia infinitamente mais complexa, proporcionando aos materialistas a possibilidade de mudar o campo da discussão à vontade. Tal sofisma, de fato, estava inteiramente coerente com o caráter de Epicuro, e por isso foi ele amplamente criticado em mais do que uma ocasião.

O estoicismo foi fundado por Zenão em torno de 308 A.C., e como os acontecimentos vieram a comprovar, tornou-se de fato um desafio bastante efetivo ao materialismo sob qualquer forma ou aspecto no mundo pagão, sendo que esse desafio manifestou-se mediante um desenvolvimento de maior significado, que começou com uma concepção do Criador muito mais profunda do que até então havia prevalecido no pensamento grego, seja o de Hesíodo,Xenófanes ou mesmo Platão. De fato, o ateísmo incipiente e levemente velado da filosofia de Epicuro era agora respondido pelos estóicos em termos muito mais fortes, com Crísipo talvez sendo o seu mais persuasivo defensor.


Entretanto, ao lado da nova e sublime concepção do Criador do universo proclamada por Xenófanes, Platão e Crísipo, outro conceito estava surgindo, e que nas mãos de Crísipo e seus seguidores, emprestaria à escola estóica uma autoridade quase irresistível. Era o conceito da “evidência de projeto”, argumento a favor da intenção e propósito inspirados divinamente, observados em todo o universo, e que convenceu os estóicos – como hoje convence os criacionistas – da correção científica e filosófica do seu modelo. Aprimorado e brilhantemente expresso por Paley no início do século XIX, a importância da evidência de propósito ou projeto não foi deixada de lado pelos primeiros teorizadores clássicos, que se apressaram a lhe dar um lugar permanente na idéia do Criacionismo. Um estóico posterior, Cïcero, foi quem deu a esse conceito talvez sua mais elevada expressão nos tempos pré-cristãos.

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