Armand M. Nicholi Jr
Ultimato procurava um texto sério sobre a questão da
homossexualidade, escrito por uma autoridade no assunto, e encontrou o verbete
“Homossexualismo e Homossexualidade” noBaker’s Dictionary of Christian Ethics,
publicado em 1973 pelo conhecido editor Carl F. Henry, em Grands Rapids, nos
Estados Unidos. O autor do verbete é o psiquiatra Armand M. Nicholi, durante
muito tempo professor da Escola de Medicina de Harvard e do Hospital Geral de
Massachusetts, e consultor de Grupos do Governo e atletas profissionais.
Nicholi é autor da obra-prima Deus em Questão — C.S. Lewis e Freud debatem
Deus, amor, sexo e o sentido da vida, publicado no Brasil pela Editora
Ultimato.
O termo homossexualismo refere-se à atividade sexual praticada
entre pessoas do mesmo sexo. Especialistas concordam acerca do significado de
“comportamento homossexual”, mas têm dificuldades em chegar a uma definição
clara do que é ser homossexual. Alguns descrevem o homossexual com base na
prática do homossexualismo, enquanto outros o fazem considerando a atração
preferencial por pessoas do mesmo sexo. Uma pessoa pode sentir desejos
homossexuais intensos sem nunca praticar o homossexualismo, enquanto há quem
opte pela atividade mesmo quando a preferência é fortemente dirigida para o
sexo oposto. Neste último caso, circunstâncias como a influência do alcoolismo
ou confinamento em prisões podem precipitar a ocorrência de experiências
homossexuais. O termo bissexual refere-se a indivíduos que praticam atividades
tanto homo quanto heterossexuais, podendo haver predominância de uma dessas
práticas.
Independentemente do como se conceitue homossexualidade, não há
uma forma precisa de determinar sua prevalência. Alguns poucos estudos indicam
que cerca de 4 a 5 % da população branca masculina conservam-se exclusivamente
homossexual após a adolescência, enquanto entre 10 e 20 % mantêm relações
regularmente com indivíduos de ambos os sexos. Pesquisas desenvolvidas com
militares na Segunda Guerra Mundial revelaram que 1% dos homens em serviço eram
homossexuais, estimando-se que idêntico percentual constituía-se de casos não
detectados, isto é, 2% no total. Seja como for, as estatísticas revelam que o
homossexualismo é pouco comum.
A história registra a homossexualidade em muitas civilizações
antigas. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamentos mencionam essa prática e são
fortemente explícitos em proibi-las. Algumas civilizações — por exemplo, os
antigos gregos — aparentemente aceitavam a prática do homossexualismo com pouca
ou nenhuma desaprovação. Ainda que a maioria das culturas em nossos dias lide
com essa questão, em certos grupos sociais não se encontraram nem sequer
indícios de homossexualismo.
A causa da homossexualidade não está claramente identificada. As
diversas teorias podem ser agrupadas em razão de apontar para um dos dois
grupos gerais de causas: genéticas e psicogênicas.
O primeiro grupo, de causas “genéticas”, postula que um
indivíduo pode herdar a predisposição para a homossexualidade. As teorias
reunidas nesse grupo apontam para evidências obtidas em estudos com gêmeos, os
quais revelam que a incidência de homossexualismo entre gêmeos idênticos é
expressivamente maior do que em gêmeos não-idênticos.
Já o segundo grupo de teorias, chamado “psicogênico”, afirma que
a identidade sexual é determinada pelo ambiente familiar e outros fatores do
meio em que uma pessoa vive. Neste caso, as teorias apontam para a existência
de denominadores comuns entre famílias de diversos homossexuais.
Pesquisas recentes indicam que as famílias mais propensas a
gerar um rapaz homossexual são aquelas em que a mãe é muito íntima do filho,
possessiva e dominante, enquanto o pai é desligado e hostil. São mães com
tendência ao puritanismo, sexualmente frígidas e determinadas a desenvolver uma
espécie de aliança com o filho contra o pai, a quem ela humilha. O filho
torna-se excessivamente submisso à mãe, volta-se a ela em busca de proteção e
fica ao seu lado em disputas contra o pai. Pais de homossexuais são
freqüentemente distantes, não demonstrando entusiasmo ou afeição, e criticam os
filhos. Sua tendência é menosprezar e humilhar o filho, dedicando-lhe muito
pouco de seu tempo. O filho reage com medo, aversão e falta de respeito. Alguns
estudiosos consideram que a relação entre pai e filho parece ser mais decisiva
na formação da identidade sexual do jovem do que o relacionamento deste com sua
mãe. Tais pesquisadores chegam a afirmar não ser possível uma criança se tornar
homossexual se seu pai for carinhoso e amoroso.
Em alguns homossexuais é o medo do sexo oposto que parece ser o
fator dominante, não a atração profunda por alguém do mesmo sexo. Uma vez
resolvido esse medo com terapia, a heterossexualidade prevalece. Estudos
recentes têm demonstrado, ainda, que a sedução por outros homossexuais —
especialmente outros rapazes — não parece ser um fator relevante.
A chamada “homossexualidade latente” refere-se a conflitos
emocionais similares aos da forma “aparente”, mas sem consciência do fato ou
sem expressão pública dos conflitos.
Lesbianismo é o termo que se aplica à homossexualidade feminina.
Como no caso do homossexualismo masculino, sua prevalência é desconhecida.
Também neste caso a questão familiar desempenha um papel muito importante.
Pesquisas demonstram que muitas mães de mulheres lésbicas tendem a ser hostis e
competitivas com suas filhas, sendo muito ligadas aos filhos homens e ao pai.
Além disso, os pais de mulheres homossexuais raramente desempenham um papel
dominante na família e dificilmente mostram-se afeiçoados às filhas.
Tanto homens quanto mulheres homossexuais tendem ao isolamento e
mostram dificuldade em fazer amizades, mesmo quando crianças. Na adolescência e
na idade adulta eles raramente marcam encontros. A maioria dos homossexuais
torna-se consciente de sua homossexualidade antes dos dezesseis anos — alguns
até antes dos dez anos. Eles costumam optar pela vida em cidades grandes para
aí formar seus próprios grupos sociais com regras, modo de vestir e linguagem
próprios. Recentemente, tem-se observado o surgimento de organizações para
melhorar a imagem do homossexual, as quais costumam negar que o homossexualismo
seja um distúrbio ou anormalidade.
Leigos freqüentemente questionam se a homossexualidade deveria
ser considerada uma doença ou um pecado. Uma coisa não exclui a outra. Pessoas
cuja fé se baseia na Bíblia não podem duvidar que as claras proibições do
comportamento homossexual façam dessa prática uma transgressão da lei divina.
Por outro lado, há que se considerar a preponderância de opiniões de
especialistas a apontar o homossexualismo como uma forma de psicopatologia que
requer intervenção médica.
Muitos, em nossa sociedade moderna, negam a condição patológica
do homossexualismo, recusam-se a considerar a existência de implicações de
ordem moral e vêem a prática homossexual apenas como uma forma de expressão diferente
do padrão de comportamento sexual da maioria da população. Assim, tais pessoas
não apenas desencorajam a busca por ajuda como contribuem para que o
homossexual se conforme com uma vida cada vez mais isolada e frustrante,
independente de quão permissiva e condescendente nossa sociedade se torne.
Outra questão bastante levantada diz respeito à atitude da
igreja em relação a homossexuais. Tais indivíduos se deparam com ouvidos
insensíveis e portas fechadas na comunidade cristã. Essa reação intensifica os
sentimentos de angústia e de solidão profunda, o completo desânimo que os
assusta e, com freqüência, leva ao suicídio. Cristo, enquanto se opunha
vigorosamente à doença e ao pecado, buscava doentes e pecadores com compreensão
e misericórdia. A igreja erra quando se permite fazer menos.
A grande cobertura que a mídia faz do homossexualismo, resultado
da recente atividade de organizações de homossexuais, tem tornado a
homossexualidade mais aceitável como tópico de discussão. Dessa forma, a igreja
sem dúvida tomará consciência do problema acontecendo com alguns de seus
membros. Isto não deve surpreender, pelo menos por duas razões. Em primeiro
lugar, o sentimento de solidão, a necessidade de contato humano e a imagem de
si próprio como um desajustado levam o homossexual a ver a comunidade cristã
como um refúgio e uma possível fonte de conforto. A outra razão está na frieza
e rejeição, comuns no ambiente familiar, provocando ânsia por uma figura de pai
amoroso, cálido e compassivo. É fácil entender como o cristianismo pode ser
atraente, especialmente para suprir esta necessidade emocional.
Várias formas de psicoterapia têm sido usadas no tratamento de
homossexuais, com diferentes níveis de sucesso. Como em qualquer tratamento
psicoterápico, os resultados dependem de fatores múltiplos, com ênfase na
motivação do paciente. Pessoas homossexuais tendem a ser desmotivadas, o que
seja talvez um dos maiores desafios para o terapeuta. A experiência clínica tem
mostrado que a motivação para mudar e a consciência do erro são essenciais para
aumentar significativamente a expectativa de um tratamento bem-sucedido.
Nota * Traduzido, com permissão de Baker Academic, uma divisão
da Baker Publishing Group (www.BakerPublishingGroup.com), por Raquel
Monteiro Cordeiro de Azeredo.
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