domingo, 16 de fevereiro de 2014

Quando Jesus nasceu?

Contradição proposta por Sky Kunde na comunidade "Contradições da Bíblia":

A Contradição da Data de Nascimento de Jesus

A pergunta é: Quando Jesus nasceu?

Mateus diz que foi durante o reinado de Herodes:
"E, TENDO nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém" - Mateus 02:01

Lucas diz que foi durante um censo realizado por Quirino quando este era governador (ou presidente) da Síria:
"E ACONTECEU naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse
(Este primeiro alistamento foi feito sendo Quirino presidente da Síria).
(...)
E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi),
A fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida" - Lucas 02:01-05

Qual o problema com as informações acima?

O problema é que no mínimo 10 anos separam o reinado de Herodes, que morreu em 4 a.C. do governo de Quirino na Síria, o qual começou em 7 d.C.
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Descontradizendo:

Gleason Archer responde esta:
“Lc 2:1 fala-nos de um decreto de César Augusto, pelo qual o “mundo” todo (oikoumene, na verdade, significa as nações sob a autoridade de Roma) seria registrado em recenseamento para fins de cobrança de impostos. O versículo 2 especifica o tipo de censo a que se refere o texto em que José e Maria tiveram de ir até Belém e registrar-se, sendo descendentes do rei Davi. Foi esse o primeiro recenseamento realizado por Quirino (ou “Cirênio”), como governador (ou pelo menos agindo como se fora governador) da Síria. Josefo não menciona nenhum censo durante o reinado de Herodes, o Grande (morto em 4 a.C.), mas registra um realizado por “Cirênio” (Antiquities, 17.13.5) logo depois de Herodes Arquelau ter sido deposto em 6 d.C.: “Cirênio, o que havia sido cônsul, foi enviado por César para computar os efeitos populacionais na Síria e vender a casa de Arquelau”. (Parece que o palácio do rei deposto seria vendido e o valor da venda entregue ao governo romano).

Se Lucas data o recenseamento em 8 ou 7 d.C., existiria aparentemente uma discrepância de quatorze anos mais ou menos. Além disso, em vista de Saturnino (de acordo com Tertuliano, em Contra Marcião 4.19) ter sido embaixador da Síria de 9 a 6 a.C., e Quintílio Varo, o embaixador de 7 a.C. a 4 d.C. (observe uma sobreposição de um ano entre os dois períodos), há dúvida quanto a se Quirino chegou realmente a ser o governador da Síria.

Como solução desse problema, notemos de início que Lucas afirma ser esse o “primeiro” censo feito sob Quirino (haute apographe prote egeneto). A menção do “primeiro” pressupõe a existência do “segundo”, algum tempo depois. Portanto, Lucas estava ciente desse segundo censo feito por Quirino, em 7 d.C., a que Josefo faz alusão na passagem acima mencionada. Sabemos disso porque Lucas (que viveu muito mais perto dessa época do que Josefo também menciona Gamaliel, que faz alusão à insurreição de Judas, o Galileu, ”nos dias do recenseamento” (At 5:37). Os romanos tinham o hábito de realizar um censo de 14 em 14 anos, o que se enquadra no esquema do primeiro censo em 7 a.C. e do segundo, em 7 d.C.

Todavia, seria Quirino (chamado Kyrenius pelos gregos, por causa da ausência do “q” no alfabeto atiço, ou talvez porque esse procônsul foi realmente um governador bem-sucedido de Creta e Cyrene, no Egito, cerca de 15 a.C.) na verdade o governador da Síria? O texto lucano diz aqui hegemoneuontos tes Syrias Kyreniou (”enquanto Cirênio estava conduzindo – governava – a Síria”. Ele não é chamado de Legatus (o título oficial romano para governador de uma região), mas o particípio hegemoneuontos é usado aqui, termo apropriado para um hegemon como Pôncio Pilatos (chamado de procurador, mas não de Legatus).

Não se deve dar muito valor ao título oficial. Mas sabemos que entre 12 e 2 a.C., Quirino era o responsável pela captura sistemática de montanheses rebeldes, nos planaltos de Pisídia (Tenney, Zondervan Pictorial Encyclopedia, 5:6), pelo que era uma personagem militar de grande prestígio, no Oriente Próximo, nos últimos anos do reinado de Herodes, o Grande. A fim de assegurar eficiência e rapidez, é possível que Augusto tenha colocadoQuirino como responsável pela execução do recenseamento, na região da Síria, no período de transição entre o final da administração de Saturnino e o início do governo de Varo, em 7 a.C. Certamente, foi por causa do seu modo eficiente de executar o censo de 7 a.C. que o imperador o colocou como responsável pelo de 7 d.C.

Quanto à falta de referências seculares a um recenseamento geral do Império Romano nessa época, não há problema algum. Kingsley Davis (Encyclopaedia Britannica, 14th ed., 5:168) declara: "A cada cinco anos, os romanos contavam seus cidadãos e propriedades, a fim de determinar seu potencial. Esse costume estendeu-se por todo o império romano em 5 a.C.”.

Fonte: Gleason Archer, ”Enciclopédia de Temas Bíblicos”, ed. Vida, pg. 309-310.
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Norman Geisler e Thomas Howe também fornecem algumas informações essenciais:

“Lucas não cometeu erro algum. Há soluções bastante razoáveis para essa dificuldade.

Primeiro, Quintilius Varus foi o governador da Síria de cerca de 7 a.C. a cerca de 4 a.C. Varus não era um líder que inspirava confiança, o que foi desastrosamente demonstrado no ano 9 a.D., quando ele perdeu três legiões de soldados na floresta Teutoburger, na Alemanha. A contrário dele, Quirino era um notável líder militar, que tinha sido o responsável por arrasar a rebelião dos homonadensianos na Ásia Menor. Quando chegou o tempo de começar o recenseamento, em cerca de 8 ou 7 a.C., Augusto encarregou Quirino de resolver o delicado problema existente na área volátil da Palestina, de fato passando por cima da autoridade e do governo de Varus, ao destacar Quirino para uma posição com autoridade especial naquela questão.

Tem sido proposto também que Quirino foi governador da Síria em duas ocasiões diferentes, uma enquanto perpetrava a ação militar contra os homonadensianos, entre 12 e 2 a.C., e outra começando em cerca de 6 a.D. A interpretação de uma inscrição latina descoberta em 1764 referiu-se a Quirino como tendo servido como governador da Síria em duas ocasiões.

É possível ainda que Lucas 2:2 possa ser traduzido assim: ”Este alistamento foi feito antes de Quirino ser o governador da Síria”. Nesse caso, a palavra grega traduzida como ”primeiro” (protos) é traduzida como um comparativo, “antes” . Devido à estranha construção da frase, essa não é uma versão improvável.

Independentemente de qual das soluções tenha sido aceita, não é necessário concluir que Lucas tenha cometido um erro nos registros que fez dos eventos históricos ocorridos na época do nascimento de Jesus. Lucas demonstrou ser um historiador de confiança, mesmo nos detalhes. Sir William Ramsey mostrou que, ao fazer referência a 32 países, 54 cidades e 9 ilhas, Lucas não cometeu nenhum erro!”

Fonte: Norman Geisler e Thomas Howe, "Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e "Contradições" da Bíblia", ed. Mundo Cristão, pg. 392-393.
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Paul Gardner também coopera com a seguinte informação:

"A lista de governadores desta província revela algumas lacunas, uma das quais entre 11 a 8 a.C., provavelmente foi preenchida por Quirino. Jesus neste caso nasceu por volta de 6 e 5 a.C. e tinha mais ou menos 2 anos de idade quando Herodes ordenou o massacre das crianças".


Fonte: Paul Gardner, "Quem é quem na Bíblia Sagrada"; ed. Vida; pg.546-547.

6 comentários:

  1. Seria mais fácil reconhecer que Lucas cometeu um erro do que fazer todo esse "malabarismo" histórico e exegético para comprovar um ressenceamento que não ocorreu durante o governo de Quirino....

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    1. Não tem muita importância comprovar eventual acerto ou erro de Lucas, pois a fé não se baseia no apoio de ciência. Isso é insignificante para cristão genuíno. O conjunto de argumentos demonstra existência de exame histórico e não malabarismo circense.
      Se em algumas décadas num futuro alguém fizer a seguinte pergunta a um docente de história: "Para Rio vencer a crise de violência, quem governava o Rio de Janeiro no ano de 2018?" Talvez seja um malabarismo pra alguns a resposta da verdade!

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  4. Porque não citaste nas referências o nome de algum historiador? Na verdade em questões assim beemm... difíceis nunca é citado o nome de um historiador e sim de teólogos para fundamentar o texto. No mínimo estranho! Porque não se faz uma mescla? Seria mais interessante e daria muito mais credibilidade unir a fala de teólogos e historiadores.

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  5. Talvez não tenhas percebido, mas há textos com inúmeras citações de historiadores e filólogos na fundamentação de defesa do texto bíblico!

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