Uma Estrutura Complexa que Desafia o Conceito
Evolucionista da Evolução Gradual
Dr. Timothy G. Standish
Qualquer pessoa que tenha observado uma aranha
caminhar sobre o vidro de uma janela deve ter-se impressionado pela capacidade
dela aderir a essa superfície tão lisa. Porém, parece que, na capacidade de
caminhar sobre a superfície, pouca diferença faz ser ela lisa ou não. Devido ao
fato de que a superfície pode ser lisa ou rugosa, não faz muito sentido a idéia
de que as aranhas possam ter pequenas ventosas de aderência nas suas patas, que
lhes permitam agarrar-se a superfícies distintas. Investigações recentes
proporcionaram resposta à misteriosa capacidade de aderência das aranhas.
A cutícula ou exoesqueleto dos artrópodos é
composta de um polissacarídeo, a quitina, combinada com lipídios e proteínas.
Esse material é notável pela sua pouca aderência a superfícies, apesar de
muitos artrópodes serem capazes de andar sobre superfícies polidas verticais
como os vidros das janelas ou uma parede lisa pintada. Sabe-se que, pelo menos
em alguns insetos, a capacidade de fixar-se a superfícies polidas depende da
existência de um fluído oleoso. (1)
Em dois artigos quase idênticos publicados
recentemente, Kesel e seus colaboradores mostraram que a aranha saltadora (Evarcha
arcuata) recorre a um mecanismo distinto no qual intervêm as forças de Van der
Waals. Milhares de finas fibras, as sétulas, situadas nas patas dessas aranhas,
interagem com as superfícies com que estão em contato aproveitando a fraca
força intermolecular de Van der Waals. Estima-se que cada espécime possui
624.000 sétulas, as quais, atuando num determinado instante, podem sustentar
uma massa equivalente a 160 a 173 vezes a massa do corpo de uma E. Arcuata.
É impressionante que esse mecanismo de usar os
pelos minúsculos para aproveitar as forças de Van der Waals seja utilizado por
outra criatura muito maior e totalmente diferente. Os “lagartos dragões”, ou
gecos, utilizam este mesmo sistema para caminhar pelas paredes. (2) Nas
palavras de Kesel, “os sistemas de fixação das aranhas e dos gecos apresentam
impressionantes semelhanças.” (3)
Isso é notável, pois as coberturas externas dos
artropódes e dos répteis são profundamente diferentes (quitina e queratina respectivamente)
e os mecanismos genéticos, bioquímicos e embrionários requeridos para produzir
os pelos são provavelmente muito diferentes. Atendendo ao mecanismo mediante o
qual se dá esta fixação em ambos os taxa, explicar as semelhanças morfológicas
das patas dos geconídeos e das aranhas saltadoras como um espetacular exemplo
de evolução convergente não parece plausível. O problema é que as forças de Van
der Waals só atuam a distâncias muito pequenas. Além disso, elas são
relativamente fracas. Para aproveitá-las, requer-se tanto um grande número de
pelos como também que eles sejam muito pequenos. Não é evidente nenhum processo
gradual que conduza ao fenômeno observado nas aranhas saltadoras e nos
geconídeos. Uma redução gradual de tamanho dos pelos das patas não daria nenhum
resultado enquanto eles não atingissem um valor bastante reduzido. Além disso,
ainda quando os pequenos pelos já estivessem presos nas patas, eles deveriam
mostrar propriedades mecânicas, incluindo elasticidade e flexibilidade, que permitissem
uma superfície de contato eficiente. Se os pelos devem ser capazes de gerar uma
força suficiente para fixar as aranhas ou geconídeos sobre superfícies polidas,
eles deverão estar presentes com densidade muito elevada.
Talvez se pudesse argumentar que a força de tração
está diretamente relacionada com a quantidade de pelos, pelo que a seleção
natural favoreceria os indivíduos cujas patas tivessem mais pelos. Esta
hipótese baseia-se em um processo que, de forma aleatória, produz os primeiros
pelos, e subentende que um número menor de pelos de tamanho maior não seria a
melhor solução para o problema da tração. Além disso, a tração gerada por esse
mecanismo tem a desvantagem de requerer uma grande força na hora de levantar as
patas da superfície, o que presumivelmente se consegue através de uma
modificação no modo pelo qual as patas se separam da superfície. Portanto, o
custo de ter “patas pegajosas”, que não são suficientemente adesivas para poder
caminhar sobre superfícies polidas, superaria as vantagens.
O uso de pequenos pelos para aproveitar as forças
de Van der Waals na hora de fixar-se a superfícies polidas, parece que é uma
solução complexa embora elegante para um problema difícil. Esta solução pode
ser explicada lógica e razoavelmente no contexto de uma origem através de
projeto inteligente, mas apresenta dificuldades quando se invocam modificações
aleatórias seguidas da seleção natural. Os projetistas inteligentes fazem uso
da mesma solução em múltiplas situações; inclusive em aplicações simples, as
rodas devem reunir certas especificações para que funcionem, como por exemplo,
as rodas de um carrinho de bebê não funcionarão em um Boeing 747, e em um
carrinho de compras não funcionariam rodas quadradas. As rodas têm de ser
fabricadas de acordo com certas especificações se pretendemos que elas
funcionem, o que requer o uso de inteligência durante o projeto e a fabricação.
O mesmo se aplica às especificações dos pelos finos que aproveitam a vantagem
das forças de Van der Waals.
O fato de que esse mecanismo se conhece hoje em
dois taxa muito distintos leva a um problema, pois nenhum ancestral comum
poderia haver proporcionado uma solução engenhosa através da herança genética,
e portanto, deveria ter evoluído um número grande de vezes. Sem dúvida, um projetista
inteligente estaria livre para empregar a mesma solução em organismos
distintos.
Referências:
1. Walker, G. 1993. “Adhesion to smooth surfaces by
insects -a review”. International Journal of Adhesion and Adhesives, 13:3-7.
2. Autumn, K.; Liang, Y. A.; Hsieh, S. T.; Zesch,
W.; Chan, W. P.; Kenny, T. W.; Fearing, R.; Full, R. J., 2000. “Adhesive force
of a single gecko foot-hair”. Nature, 405:684-688.
3. (a) Kesel, A. B., Martin, A., Seidl, T. 2004.
“Getting a grip on spider attachment: an AFM approach to microstructure
adhesion in artropods”. Smart Materials and Structures, 13:512-518; (b) Kesel,
A. B., Esel A. B.; Martin A.; Seidl, T., 2003. Adhesion measurements on the
attachment devices of the jumping spider Evarcha arcuata. Journal of
Experimental Biology, 206:2.733-2.738.
Nenhum comentário:
Postar um comentário