sábado, 27 de dezembro de 2014

Jesus: A Sabedoria de Deus

Por: James Patrick Holding

AVISO IMPORTANTE:
De acordo com o autor do artigo: Apesar de os apócrifos não serem inspirados, eles fazem parte do contexto informacional do Novo Testamento, e podem, algumas vezes, ser úteis no entendimento dele, assim como outros trabalhos, como os de Josefo, historiador Judeu.

Note que, quando se faz alusão a algo que também está presente em um apócrifo, isso não significa que Jesus ou os outros autores do Novo Testamento estão citando os apócrifos como sendo escrituras inspiradas.

A fim de apoiar a visão Cristã tradicional da relação de Jesus com o Pai, devemos entender o contexto para certas afirmações sobre a natureza e identidade de Jesus no Novo Testamento. Nosso argumento geral pode ser delineado da seguinte forma:

Jesus, como a Palavra e Sabedoria de Deus, foi e é um atributo eterno do Deus Pai.

Da mesma forma que as nossas palavras e pensamentos vêm até nós e não podem ser separadas de nós, Jesus não pode ser completamente separado do Pai.

Mas há mais a explicar, em relação à distinção entre subordinação funcional e igualdade ontológica.

Falamos de Cristo como a “Palavra” de Deus, A “fala” de Deus em forma viva. No pensamento dos antigos Hebreus e do Antigo Oriente Médio – AOM, as palavras não eram meros sons ou letras em uma página; as palavras eram entidades que “tinham uma existência independente e que, na verdade, faziam coisas”.

Por todo o Velho Testamento e na literatura intertestamental Judaica da Sabedoria, enfatiza-se o poder da palavra falada por Deus (Salmos 33:6 e 107:20; Isaías 55:11; Jeremias 23:29; 2 Esdras 6:38; Sabedoria 9:1.

“O Judaísmo entendia a Palavra de Deus, depois de pronunciada, como quase tendo poderes e substância autônomos; Como sendo, na verdade, ‘uma realidade concreta, uma causa real”. [Richard N. Longenecker, The Christology of Early Jewish Christianity. p. 145.].

Porém uma palavra não precisava ser pronunciada ou escrita para ser viva. Uma palavra era definida como “uma unidade articulada de pensamento, capaz de expressão inteligível” [C.H. Dodd, Interpretation of the Fourth Gospel. p. 263]

(Portanto, não se pode argumentar que Cristo passou a existir como a Palavra somente “após” ser “pronunciado” por Deus.

Alguns dos apologistas da Igreja do Século II seguiram uma linha de pensamento semelhante, supondo que Cristo, a Palavra, seria um potencial não realizado dentro da mente do Pai antes da Criação). Isto está de acordo com a identidade de Cristo como a Palavra viva de Deus, e aponta para sua subordinação funcional (assim como as nossas palavras e discursos são subordinados a nós) e sua igualdade ontológica com o Pai (assim como as nossas palavras representam nossa autoridade e nossa natureza essencial).

Uma subordinação em papéis é aceitável dentro dos parâmetros Bíblicos e dos credos, mas uma subordinação em posição ou essência (o aspecto “ontológico”) é uma visão herética chamada subordinacionismo.

Contexto: O contexto da Cristologia da Sabedoria é encontrado no conceito de hipóstase. E o que é hipóstase? De um modo geral, é uma quase-personificação dos atributos apropriados de uma divindade, ocupando uma posição intermediária entre as personalidades e os seres abstratos. Aqui estão alguns exemplos do AOM:

• Hu e Sia, na Tradição Egípcia, a palavra criativa e o entendimento de Re-Atum.
• Ma’at, também egípcio, uma personificação da ordem correta na natureza e na sociedade, uma criação de Re.
• Mesaru e Kettu, ou Retidão e Justiça, hipóstases Acadianas concebidas como qualidades do deus-sol, ou como presentes concedidos por ele, ou algumas vezes como seres pessoais ou divindades independentes.
• A palavra divina, que procede através da natureza do fôlego e do vento, na literatura suméria e acadiana.

Sabedoria em Provérbios 8, em Siraque [Eclesiástico] e Sabedoria de Salomão, e no Logos de Philo: Todos se encaixam como uma luva nesses exemplos. Vejamos algumas citações, começando com Provérbios 8:

Provérbios 8:22-31 – O Senhor Deus me criou antes de tudo, antes das suas obras mais antigas. Eu fui formada há muito tempo, no começo, antes do princípio do mundo. Nasci antes dos oceanos quando ainda não havia fontes de água. Nasci antes das montanhas, antes de os morros serem colocados nos seus lugares, antes de Deus ter feito a terra e os seus campos ou mesmo o primeiro punhado de terra. Eu estava lá quando ele colocou o céu no seu lugar e estendeu o horizonte sobre o oceano. Estava lá quando ele pôs as nuvens no céu e abriu as fontes do mar, e quando ordenou às águas que não subissem além do que ele havia permitido. Eu estava lá quando ele colocou os alicerces da Terra. Estava ao seu lado como arquiteto e era a sua fonte diária de alegria, sempre feliz na sua presença – feliz com o mundo e contente com a raça humana.

Esta é uma das várias passagens do Velho Testamento (ver Salmos 58:10, 107:42 e Jó 11:14) nas quais as qualidades abstratas são personificadas seguindo uma tradição de personificação do AOM [Dered Kidner, The Wisdom of Proverbs, Job and Ecclesiastes. p. 44.]. Aqui e em outras partes do livro de Provérbios, a Sabedoria “faz reivindicações para si, que em outros locais são feitas apenas por Deus, ou para Deus”. O verbo usado pela Sabedoria para chamar atenção para as suas mensagens é o mesmo usado pelos profetas para chamar as pessoas a se arrependerem e retornarem para Deus [R.N. Whybray, Proverbs. p. 44.].

O discurso feito pela Sabedoria neste capítulo é “uma auto-recomendação prolongada na qual (a Sabedoria) ostenta seu poder, autoridade e os dons que ela é capaz de conceder”, seguindo um gênero literário do AOM no qual uma divindade se vangloria.

“Pretende-se que a Sabedoria seja entendida como um atributo ou servo celestial de Jeová, o Deus único, para quem ele delegou certos poderes em relação às suas relações com a humanidade”.

Finalmente, para completar o quadro, Provérbios 2:6 nos diz: É o Senhor quem dá sabedoria; a sabedoria e o entendimento vêm dele. Deus é a fonte da Sabedoria; A Sabedoria é uma das características e atributos de Deus.

Bruce Vawter argumenta que Provérbios 8 descreve a sabedoria como uma divindade separada que Jeová “adquiriu” [Proverbs 8:22: Wisdom and Creation, Journal of Biblical Literature 99/2 (1980): 205-216.].

Eu respondo como Hurtado “que essa linguagem de personificação [utilizada no Judaísmo de forma geral] não necessariamente reflete uma visão destes atributos divinos como entidades independentes juntas de Deus”.

Estas personificações “devem ser entendidas dentro do contexto da preocupação Judaica sobre a unicidade de Deus, a idéia religiosa mais dominante do Judaísmo antigo”.

Sendo assim, ele considera alegações como as de Vawter, de que a Sabedoria aqui é descrita como uma “divindade independente”, como algo “simplesmente sem comprovação e que traz para essas passagens, significados nunca pretendidos pelos escritores” [Larry W. Hurtado, One God, One Lord: Early Christian Devotion and Ancient Jewish Monotheism. pp. 46-47].

Agora examinaremos algumas especulações Judaicas que estão de acordo com o status quase pessoal da “Sabedoria de Deus”. Então seremos capazes de ver uma continuidade entre a literatura intertestamental e o Novo Testamento que define a natureza da relação entre Deus Pai e Jesus Cristo. Dunn propõe de forma sucinta: “Aquilo que o Judaísmo pré-Cristianismo dizia da Sabedoria e Philo dizia sobre o Logos, Paulo e os outros diziam de Jesus. O papel que Provérbios, Siraque, etc. atribuem à Sabedoria, esses primeiros Cristãos atribuíam a Jesus” [James D. G. Dunn, Christology in the Making. p. 167.].

Essa concepção da Sabedoria se compara à uma explicação menos comum e geral do Judaísmo sobre como um Deus transcendente poderia fazer parte de uma Criação temporal. O Targum Aramaico resolveu este problema ao equacionar Deus com sua Palavra: Assim, no Targum, em Êxodo 19:17, ao invés de dizer que as pessoas saíram para se encontrar com Deus, o texto diz que as pessoas saíram para se encontrar com a Palavra de Deus, ou Memra. Esse termo tornou-se uma perífrase para Deus; mas se poderia ter sido como uma pessoa separada, como no Trinitarianismo Cristão, é questão de debate. O risco envolvido em se fazer da Sabedoria/Palavra uma divindade independente era grande demais para os rabinos especularem mais, mas os Cristãos encontraram na tradição da Sabedoria uma concepção categórica ideal para posicionar a pessoa de Jesus.

N. T. Wright observa [em Who was Jesus? (pp 48-49)] que o monoteísmo Judeu “nunca foi, na literatura do período Judaico crucial, uma análise da essência interna de Deus, um tipo de relato numérico sobre como Deus seria por dentro, por assim dizer”. Ao invés disso, foi “sempre afirmações polêmicas direcionadas para as nações pagãs”.

Os rabinos do tempo de Jesus não tinham dificuldades em separar os aspectos da personalidade de Deus – Sua Sabedoria, sua Lei (Torá), sua presença (Shekinah) e sua palavra (Memra), por exemplo. Essa divisão tinha o propósito filosófico de “contornar o problema de como falar apropriadamente sobre o único Deus verdadeiro, que está acima do mundo criado mas também ativo dentro dele”.

De forma similar, Brad Young escreve:
Dentro do Judaísmo, a “hipostatização” da Sabedoria ou da Tora não parecia minar o monoteísmo, visto que, no fim das contas ela era apenas um tipo de perífrase utilizada para driblar a implicação de um contato direto entre o Deus transcendente e a criação.
Esse conceito, Young continua, não desafiava a “máxima originalidade e soberania” de Deus de forma alguma. Daí a idéia do Cristianismo identificar uma pessoa real de tal forma que não criasse um problema para o monoteísmo. E o conceito de trindade não era inteiramente estranho para o Judaísmo. O’Neill [J. C. O'Neill, Who Did Jesus Think He Was? p. 94] relata as palavras de Philo, historiador Judeu contemporâneo de Jesus, expondo sobre os três homens que vieram visitar Abraão em Gênesis 18:2, os quais presumia-se que eram figuras divinas:

...o do meio é o Pai do Universo, que nas Escrituras Sagradas é chamado pelo seu nome apropriado, Eu sou quem sou; e os seres ao lado são os poderes mais antigos que estão sempre próximos ao Deus vivo, um é chamado poder criativo, e o outro, seu poder de rei.

Ninguém questionaria que Philo era um monoteísta Judeu; contudo, aqui temos uma exposição perfeitamente compatível com a Trindade: O Pai, o Poder Criador (o Filho, ou a Palavra), e o Poder de Rei (o Espírito Santo). De forma similar, lemos no apócrifo Baruque 4:22:

Do Eterno espero a vossa libertação, espero que do Santo me venha a alegria, pela misericórdia que breve vos será concedida pelo Eterno, vosso Salvador.

Agora veremos passagens lidando diretamente com a Sabedoria.
Siraque 1:1-4 – Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos. Quem pode contar os grãos de areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? Quem pode medir a altura do céu, a extensão da terra, a profundidade do abismo? Quem pode penetrar a sabedoria divina, anterior a tudo? A sabedoria foi criada antes de todas as coisas, a inteligência prudente existe antes dos séculos! [Nota do tradutor: Caso você também discorde da opinião do autor, não se preocupe, os apócrifos, como já ressaltado, não são inspirados, inerrantes e canônicos.]

O livro de Siraque foi escrito por Jesus filho de Siraque cerca de 100 a.C. Ele descreve a Sabedoria como tendo sido “criada antes de todas as coisas”, como sendo “proveniente do eterno” e como comparável aos “dias da eternidade”. Nisto estamos em harmonia com a visão Trinitária de Jesus, como criado ou gerado pelo Pai de forma eterna, quer dizer, que encontra sua fonte no Pai e não possui existência separado dele, e também tendo existido eternamente assim como Deus. Siraque escreve também:

Siraque 24:1-5 – A sabedoria faz o seu próprio elogio, honra-se em Deus, gloria-se no meio do seu povo. Ela abre a boca na assembléia do Altíssimo, gloria-se diante dos exércitos do Senhor, é exaltada no meio do seu povo, e admirada na assembléia santa. Entre a multidão dos eleitos, recebe louvores, e bênçãos entre os abençoados de Deus. Ela diz: Saí da boca do Altíssimo; nasci antes de toda criatura.

Este é outro discurso de auto-glorificação, do tipo encontrado em Provérbios, só que desta vez, o discurso acontece em uma corte celestial – um local onde somente Deus ofereceria auto-glorificação. Sabedoria diz de si: “Eu vim da boca do altíssimo” (a “Palavra” de Deus) e “meu trono era no pilar da nuvem” – uma alusão ao sinal da presença divina no Velho Testamento. Sabedoria também diz que “rodeava o arco do Céu e andava nas profundezas do abismo ... governava as ondas do mar e sobre toda a terra, e sobre todas as pessoas e nações”. No livro de Jó (12, 28), essas coisas são o que Deus pergunta se Jó pode fazer, com a implicação de que somente Deus pode fazê-las.

Finalmente, Siraque diz (42:18-21): Ele [Deus] sonda o abismo e o coração humano, e penetra os seus pensamentos mais sutis, pois o Senhor conhece tudo o que se pode saber. Ele vê os sinais dos tempos futuros, anuncia o passado e o porvir, descobre os vestígios das coisas ocultas. Nenhum pensamento lhe escapa, nenhum fato se esconde a seus olhos. Ele enalteceu as maravilhas de sua sabedoria, ele é antes de todos os séculos e será eternamente.

A Sabedoria é um atributo de Deus e é co-eterna com Ele – de outra forma, a Sabedoria é uma coisa “adicionada” a Ele, ou alguém o “instruiu”. Bauckham faz uma observação sobre uma passagem mais recente: “2 Enoque 33:4, ecoando Deutero-Isaías (40:13) diz que Deus não tinha um conselheiro em seu trabalho criativo, mas que sua Sabedoria era a sua conselheira. O significado claro é que Deus não tinha ninguém para aconselhá-lo. Sua Sabedoria, que é intrínseca à sua identidade, e não alguma outra pessoa, o aconselhou” [Richard Bauckham, God Crucified: Monotheism and Christology in the New Testament , p. 21].

Sabedoria de Salomão: Neste trabalho intertestamental escrito como sendo a personalidade de Salomão, a Sabedoria é descrita como o artífice de todas as coisas (7:21-23), como um sopro do poder de Deus, uma irradiação límpida da glória do Todo-poderoso (7:25), e como a “imagem” (eikon – sobre o siginificado deste termo, veja o Capítulo 1 do meu livro The Mormon Defenders) da bondade de Deus (7:26), capaz de fazer e renovar todas as coisas. “Sabedoria” também foi antevista como compartilhando o trono de Deus, tendo estado presente com Deus desde a eternidade, e imaginada como procedendo de Deus. A Sabedoria e a Palavra de Deus são igualadas em Sabedoria 9:1-4 – Deus de nossos pais, e Senhor de misericórdia, que todas as coisas criastes pela vossa palavra, e que, por vossa sabedoria, formastes o homem para ser o senhor de todas as vossas criaturas, governar o mundo na santidade e na justiça, e proferir seu julgamento na retidão de sua alma, dai-me a Sabedoria que partilha do vosso trono, e não me rejeiteis como indigno de ser um de vossos filhos. A Sabedoria também é vista como sendo capaz de realizar milagres, como a abertura do Mar Vermelho (10:18-19).

Philo. O filósofo Judeu foi um contemporâneo de Jesus e autor de vários trabalhos históricos e filosóficos. Philo chama a Sabedoria (a qual ele também se refere como Logos) de “imagem (eikon) de Deus”, ele se refere à Sabedoria de Deus como aquilo através do qual o Universo veio a existir; e descreve a Sabedoria como “o filho primogênito” de Deus; nunca gerado a partir de outra coisa, como Deus, ou gerado como os homens; como a Luz e como “a sombra de Deus”. Ele considerava o Logos como um dos vários atributos de Deus, aos quais ele se referia de forma coletiva como “poderes”, sendo o Logos o poder principal na hierarquia.

Tendo concluído nossa breve pesquisa sobre a literatura intertestamental Judaica, é necessário fazer algumas observações antes de procedermos para as evidências do Novo Testamento. Como mostraremos, o que os escritores acima falavam da Sabedoria, os autores do Novo Testamento também diziam sobre Cristo. Mas nós não estamos argumentando acerca de uma dependência direta de Philo ou qualquer outro escritor por parte de Paulo ou João. Ao invés disso, estamos estabelecendo que havia no Judaísmo certas idéias sobre a Sabedoria, com as quais os escritores do Novo Testamento trabalharam, e que, como Hurtado indica, “o Judaísmo antigo fornecia aos primeiros Cristãos uma categoria conceitual crucial” (44, 46) que era aplicada ao Jesus exaltado e ressurreto. Agora iremos mostrar que Jesus se identificava com a Sabedoria, e, portanto, com suas qualidades, incluindo a co-eternidade, subordinação funcional e igualdade ontológica com Deus.

Mateus 8:20, Lucas 9:58 – As raposas têm suas covas, e os pássaros, os seus ninhos. Mas o Filho do Homem não tem onde descansar.

Witherington nota que a imagem deste ditado “havia sido utilizada antes, com a Sabedoria não tendo lugar para habitar até que Deus lhe determinasse um (cf. Siraque 24:6-7 e 1 Enoque 42:2), com Enoque falando da rejeição da Sabedoria (‘mas ela não encontrou lugar para habitar’)”.
Witherington também nota o paralelo em Siraque 36:28 – Quem confia naquele que não tem morada, e naquele que passa a noite onde quer que a noite o surpreenda? Ou que vagueia de cidade em cidade como um ladrão sempre prestes a fugir? O uso dessas alusões “sugere que Jesus antevê e articula sua experiência levando em consideração as tradições sobre a Sabedoria...” (Jesus Quest. p. 188).

Mateus 11:16-19, Lucas 7:31-32 – Mas com quem posso comparar as pessoas de hoje? São como crianças sentadas na praça. Um grupo grita para o outro: "Nós tocamos músicas de casamento, mas vocês não dançaram! Cantamos músicas de enterro, mas vocês não choraram!" João Batista jejua e não bebe vinho, e todos dizem: "Ele está dominado por um demônio." O Filho do Homem come e bebe, e todos dizem: "Vejam! Este homem é comilão e beberrão! É amigo dos cobradores de impostos e de outras pessoas de má fama." Porém é pelos seus resultados que a sabedoria de Deus mostra que é verdadeira.

Provérbios 1:24-28 – Eu chamei e convidei, mas vocês não me ouviram e não me deram atenção. Vocês rejeitaram todos os meus conselhos e não quiseram que eu os corrigisse. Assim, quando estiverem em dificuldades, eu rirei; e, quando o terror chegar, eu caçoarei de vocês. Zombarei de vocês quando o terror vier como uma tempestade, trazendo fortes ventos de dificuldades. Eu rirei quando estiverem passando por sofrimentos e aflições. Então vocês me chamarão, mas eu, a Sabedoria, não responderei. Vão procurar por toda parte, porém não me encontrarão.
Estes trechos fornecem algumas pistas importantes quando se tem os dados sociais em mãos, e adicionam o fator das refeições comunais de Jesus com a “gentalha”. Witherington nota passagens como Provérbios 9:1-6, “que fala de um banquete organizado pela própria Sabedoria, onde ela convida hóspedes muito incomuns à mesa” a fim de ajudá-los a adquirir sabedoria. Witherington, portanto, argumenta que Jesus ceou com pecadores e cobradores de impostos porque estava “representando o papel de Sabedoria” (187-188).

Mateus 11:29-30 – Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso. Os deveres que eu exijo de vocês são fáceis, e a carga que eu ponho sobre vocês é leve.

Siraque 6:19-31 – Vai ao encontro dela, como aquele que lavra e semeia, espera pacientemente seus excelentes frutos, terás alguma pena em cultivá-la, mas, em breve, comerás os seus frutos. Quanto a sabedoria é amarga para os ignorantes! O insensato não permanecerá junto a ela. Ela lhes será como uma pesada pedra de provação, eles não tardarão a desfazer-se dela. Pois a sabedoria que instrui justifica o seu nome, não se manifesta a muitos; mas, naqueles que a conhecem, persevera, até (tê-los levado) à presença de Deus. Escuta, meu filho, recebe um sábio conselho, não rejeites minha advertência. Mete os teus pés nos seus grilhões, e teu pescoço em suas correntes. Abaixa teu ombro para carregá-la, não sejas impaciente em suportar seus liames. Vem a ela com todo o teu coração. Guarda seus caminhos com todas as tuas forças. Segue-lhe os passos e ela se dará a conhecer; quando a tiveres abraçado, não a deixes. Pois acharás finalmente nela o teu repouso. E ela transformar-se-á para ti em um motivo de alegria. Seus grilhões ser-te-ão uma proteção, um firme apoio; suas correntes te serão um adorno glorioso; pois nela há uma beleza que dá vida, e seus liames são ligaduras que curam.

Siraque 51:34 – Dobrai a cabeça sob o jugo, receba vossa alma a instrução, porque perto se pode encontrá-la.

Jesus está claramente fazendo alusões às passagens no popular livro de Siraque. Seus ouvintes teriam reconhecido que ele estava associando a si mesmo com a Sabedoria.
Mateus 12:42; Lucas 11:31 – No Dia do Juízo a Rainha de Sabá vai se levantar e acusar vocês, pois ela veio de muito longe para ouvir os sábios ensinamentos de Salomão. E eu afirmo que o que está aqui é mais importante do que Salomão.

Apontando a associação de Salomão com a literatura da Sabedoria, Witherington escreve (186, 192):

Se é verdade que Jesus reivindicou que algo maior que Salomão estava presente em seu ministério, devemos nos perguntar o que poderia ser ... Certamente a resposta mais direta seria que a Sabedoria veio em pessoa.

Mateus 23:34 – Pois eu lhes mandarei profetas, homens sábios e mestres. Vocês vão matar alguns, crucificar outros, chicotear ainda outros nas sinagogas e persegui-los de cidade em cidade.

Lucas 11:49 – Por isso a Sabedoria de Deus disse: "Mandarei para eles profetas e mensageiros, e eles matarão alguns e perseguirão outros."

Na versão de Mateus, Jesus diz “eu lhes mandarei profetas”, mas Lucas especificamente identifica Jesus com a Sabedoria.

O Evangelho de João identifica Jesus com a Sabedoria de várias formas. Jesus fala em longos discursos característicos da Sabedoria (Provérbios 8; Siraque 24; Sabedoria de Salomão 1-11). A ênfase de João nos “sinais” espelha a de Sabedoria de Salomão, e João utiliza a mesma palavra Grega para eles (semeion). Finalmente, o vasto uso do termo “Pai” (115 vezes) se compara com a ênfase nesse título na recente literatura da Sabedoria.

João 1:1-3 – Antes de ser criado o mundo, aquele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus e era Deus. Desde o princípio, a Palavra estava com Deus. Por meio da Palavra, Deus fez todas as coisas, e nada do que existe foi feito sem ela.

O prólogo do Evangelho de João identifica Jesus de forma precisa com a Sabedoria, descrevendo o papel Cristológico do Logos (1:3), seu papel como a base do conhecimento humano (1:9) e como o mediador da Revelação Especial (1:14) – os três papéis do Logos/Sabedoria pré-existente. Ao chamar Jesus de Logos, João estava afirmando a eternalidade e a união ontológica de Jesus com o Pai, ao conectá-lo com a tradição da Sabedoria.

Agora considere estes paralelos com o prólogo de João e a literatura da Sabedoria:

João 1:1 – Antes de ser criado o mundo, aquele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus e era Deus.
Sabedoria de Salomão 9:9 – Mas, ao lado de vós está a Sabedoria que conhece vossas obras; ela estava presente quando fizestes o mundo, ela sabe o que vos é agradável, e o que se conforma às vossas ordens.
João 1:4 – A Palavra era a fonte da vida, e essa vida trouxe a luz para todas as pessoas.
Provérbios 8:35 – Pois quem me encontra encontra a vida, e o SENHOR Deus ficará contente com ele.
João 1:11 – Aquele que é a Palavra veio para o seu próprio país, mas o seu povo não o recebeu.
1 Enoque 42:2 – A Sabeoria procurou habitar dentre as crianças dos homens, e não encontrou lugar.
João 1:14 – A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós, cheia de amor e de verdade. E nós vimos a revelação da sua natureza divina, natureza que ele recebeu como Filho único do Pai.
Siraque 24:15 – Assim fui firmada em Sião; repousei na cidade santa, e em Jerusalém está a sede do meu poder.
João 6:27 – Não trabalhem a fim de conseguir a comida que se estraga, mas a fim de conseguir a comida que dura para a vida eterna. O Filho do Homem dará essa comida a vocês porque Deus, o Pai, deu provas de que ele tem autoridade.
Sabedoria de Salomão 16:26 – Para que os filhos que vós amais, Senhor, aprendessem que não são os frutos da terra que alimentam o homem, mas é vossa palavra que conserva em vida aqueles que crêem em vós.
João 14:15 – Jesus continuou: - Se vocês me amam, obedeçam aos meus mandamentos.
Sabedoria de Salomão 6:18 – Mas amá-la é obedecer às suas leis, e obedecer às suas leis é a garantia da imortalidade.
No princípio era a Palavra (João 1:1).
A Sabedoria estava no princípio (Provérbios 8:22-23, Siraque 1:4, Sabedoria de Salomão 9:9).
A Palavra estava com Deus (João 1:1).
A Sabedoria estava com Deus (Provérbios 8:30, Siraque 1:1, Sabedoria 9:4).
A Palavra foi a co-criadora (João 1:1-3).
A Sabedoria foi a co-criadora (Provérbios 3:19 e 8:25, Isaías 7:21 e 9:1-2).
A Palavra provê luz (João 1:4-9).
A Sabedoria provê luz (Provérbios 8:22, Sabedoria 7:26 e 8:13, Siraque 4:12).
A Palavra como luz em contraste com as trevas (João 1:5).
A Sabedoria como luz em contraste com as trevas (Sabedoria 7:29-30).
A Palavra estava no mundo (João 1:10).
A Sabedoria estava no mundo (Sabedoria 8:1, Siraque 24:6).
A Palavra foi rejeitada por seu povo (João 1:11)
A Sabedoria foi rejeitada por seu povo (Siraque (15:7)
A Palavra foi recebida pelos fiéis (João 1:12).
A Sabedoria foi recebida pelos fiéis (Sabedoria 7:27).
Cristo é o pão da vida (João 6:35).
A Sabedoria é o pão ou substância da vida (Provérbios 9:5, Siraque 15:3, 24:21 e 29:21,
Sabedoria 11:4).
Cristo é a luz do mundo (João 8:12).
A Sabedoria é luz (Sabedoria 7:26-30, 18:3-4).
Cristo é a porta por onde as ovelhas passam e o bom pastor (João 10:7-14).
A Sabedoria é a porta e o bom pastor (Provérbios 8:34-35, Sabedoria 7:25-27, 8:2-16,
Siraque 24:19-22).
Cristo é vida (João 11:25)
A Sabedoria traz vida (Provérbios 3:16, 8:35, 9:11, Sabedoria 8:13)
Cristo é o caminho para a verdade (João 14:6)
A Sabedoria é o caminho (Provérbios 3:17, 8:32-34; Siraque 6:26)

As cartas de Paulo continuam a identificação de Jesus com a Sabedoria de Deus. 1 Coríntios 1:24-30 é o exemplo mais claro: Cristo é explicitamente identificado como “o poder de Deus e a Sabedoria de Deus”. Outros trechos relevantes:

Sabedoria 1:4 – A Sabedoria já existia antes de todas as coisas...
1 Coríntios 2:7 – …a Sabedoria que Deus predestinou antes das gerações...
Sabedoria 1:6 – Para quem foi revelada a raiz da sabedoria?
1 Coríntios 2:10 – Deus revelou essas coisas a nós...
Sabedoria 1:10 – ...ele deu [sabedoria] àqueles que o amam.
1 Coríntios 2:9 – ...a qual Deus preparou para aqueles que o amam.
Sabedoria 1:15 – [A Sabedoria] edificou um fundamento eterno dentre os homens...
1 Coríntios 3:10 – ...como um arquiteto sábio, Eu estabeleci uma fundação...
Sabedoria 2:5 – O ouro é testado no fogo...
1 Coríntios 3:12-13 – E se alguém constrói sobre a fundação com ouro, prata, ou pedras preciosas..., isso será revelado pelo fogo.
Colossenses 1:15-18 – Ele, o primeiro Filho, é a revelação visível do Deus invisível; ele é superior a todas as coisas criadas. Pois, por meio dele, Deus criou tudo, no céu e na terra, tanto o que se vê como o que não se vê, inclusive todos os poderes espirituais, as forças, os governos e as autoridades. Por meio dele e para ele, Deus criou todo o Universo. Antes de tudo, ele já existia, e, por estarem unidas com ele, todas as coisas são conservadas em ordem e harmonia. Ele é a cabeça do corpo, que é a Igreja, e é ele quem dá vida ao corpo. Ele é o primeiro Filho, que foi ressuscitado para que somente ele tivesse o primeiro lugar em tudo.

Essa passagem é cheia de alusões à literatura da Sabedoria. Note os seguintes paralelos:
Colossenses 1:15 – ele é a revelação visível do Deus invisível...
Sabedoria de Salomão 7:26 – [A Sabedoria é] um espelho perfeito da obra de Deus, e uma imagem da sua bondade.
Colossenses 1:15 – o primeiro Filho.

Philo faz referência à Sabedoria como sendo “o primeiro Filho” e descendência de Deus.
Colossenses 1:16 – Pois, por meio dele, Deus criou tudo...
Sabedoria 1:14 – Ele criou tudo para a existência...

Siraque 1:4 e Philo referem-se à Sabedoria como “a artesã mestre” da criação.

Colossenses 1:17 – Antes de tudo, ele já existia, e, por estarem unidas com ele, todas as coisas são conservadas em ordem e harmonia.
Sabedoria 1:7 – ...aquilo que une todas as coisas.

O livro de Hebreus, embora nunca identifique Jesus diretamente como Sabedoria, indica uma equivalência. Em Hebreus 1:3, o termo Grego raro apaygasma é utilizado para descrever Jesus como “brilho da glória de Deus”, assim como a palavra é utilizada em Sabedoria 7:25-26 para descrever o resplendor da Sabedoria. Hebreus atribui a Jesus as mesmas funções que a literatura da Sabedoria Philônica/Alexandrina designavam à Sabedoria: Mediadora da revelação divina, agente e sustentador da criação, e reconciliador dos homens perante Deus (Sabedoria de Salomão 7:21-8:1).

Hebreus também fala de Jesus o que Philo diz do Logos. Philo se referiu à Sabedoria como o “charakter da Palavra eterna”, da mesma forma que Hebreus utiliza esse termo se referindo a Jesus. Hebreus também “afirma a superioridade de Jesus sobre um grupo de classes e indivíduos que serviram às funções de mediadores no pensamento Alexandrino”, incluindo os anjos, Moisés, Melquisedeque e o sumo sacerdote. Finalmente, em Siraque 24:15, a Sabedoria, embora universal em escopo, graças a um decreto de Deus, repousa em Jerusalém e é considerada como tendo o papel sacerdotal: Assim fui firmada em Sião; repousei na cidade santa, e em Jerusalém está a sede do meu poder. Compare esta proclamação com a que é encontrada em Hebreus capítulos 3 a 10, descrevendo Cristo como nosso sumo sacerdote ministrando em um tabernáculo divino.

Cooperação:

Caetano.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Alvin Plantinga: "Evolução versus Naturalismo"

Por que eles são como óleo e água

Tradução: Daniel Brisolara

Como todos sabem, tem havido uma recente enxurrada de livros atacando a fé cristã e a religião em geral. Alguns desses livros são um pouco mais do que ladainhas, cheios de insultos, mas curtos em razões, cheios de afrontas, mas curtos em competência, cheios de justas indignações, mas curtos em bom senso; na maior parte, eles são dirigidos mais por ódio do que pela lógica. É claro que existem outros que são intelectualmente mais respeitáveis – por exemplo, a contribuição de Walter Sinott-Armstrong em "God? A Debate Between a Christian and an Atheist" [1] [Deus? Um debate entre um cristão e um ateu] e a contribuição de Michael Tooley em "Knowledge of God" [2] [Conhecimento de Deus]. Quase todos esses livros foram escritos por filósofos naturalistas. Eu acredito que é extremamente importante ver que o naturalismo em si, a despeito do tom presunçoso e arrogante dos assim chamados Novos Ateus, está numa muito séria dificuldade filosófica: não se pode sensatamente acreditar nele.

Naturalismo é a idéia de que não há tal pessoa como Deus ou qualquer coisa como Deus; nós podemos pensar nessa posição como ateísmo turbinado ou talvez ateísmo plus. É possível ser ateu sem ascender a arrogantes altitudes (ou descender até as profundezas tenebrosas) do naturalismo. Aristóteles, os antigos Estóicos, e Hegel (ao menos em alguns estágios) poderiam apropriadamente ser considerados ateístas, mas eles não poderiam apropriadamente ser considerados naturalistas: cada um endossa alguma coisa (Primeiro Motor de Aristóteles, O Nous Estóico, O Absoluto de Hegel) que nenhum naturalista que se auto-respeite poderia tolerar.

Nos dias de hoje o naturalismo está excessivamente na moda na academia; alguns dizem que é a ortodoxia acadêmica contemporânea. Diante da moda de várias formas de anti-realismo e relativismo pós-moderno, isto pode ser um pouco forte. No entanto, o naturalismo é certamente mais difundido, e está exposto em alguns recentes livros populares como "O Relojoeiro Cego" de Richard Dawkins, A Perigosa Idéia de Darwin, de Daniel Dennett, e em muitos outros. Os naturalistas gostam de se agasalhar (ou de se envolver) nos mantos da ciência, como se a ciência de alguma maneira apoiasse, endossasse, subscrevesse, sugerisse, ou fosse de alguma maneira inabitual amigável ao naturalismo. Particularmente, eles freqüentemente recorrem à moderna teoria da evolução como uma razão para abraçar o naturalismo; de fato, o subtítulo do livro de Dawkins, O Relojoeiro Cego é Por que a Evidência da Evolução Revela um Universo sem Design. Muitos parecem pensar que a evolução é um dos pilares do templo do naturalismo (e “templo” é a palavra certa: o naturalismo contemporâneo tem, sem dúvida, assumido um invólucro religioso, com um sacerdócio secular fervoroso para reprimir visões opostas como qualquer mullah). Eu me proponho a argumentar que o naturalismo e a evolução estão em conflito um com o outro.

Eu disse que o naturalismo está numa dificuldade filosófica; isto é verdade em diversos aspectos, mas aqui eu quero me concentrar sobre apenas um – aquele conectado com a idéia de que a evolução apóia ou endossa ou é de algum modo evidência para o naturalismo. Do modo como eu vejo, isto é um erro colossal: evolução e naturalismo não são apenas companheiros constrangidos; eles são mais como combatentes beligerantes. Não se pode racionalmente aceitar ambos: evolução e naturalismo; não se pode ser um naturalista evolucionista. O problema, como muitos pensadores (C.S. Lewis, por exemplo) têm visto, é que o naturalismo, ou o naturalismo evolucionista, parece conduzir a um ceticismo fundo e penetrante.

Ele leva à conclusão de que nossa cognição ou faculdades produtoras de crenças – memória, percepção, insight lógico, etc. – são duvidosas e não se pode confiar nelas para produzir uma preponderância de crenças verdadeiras sobre crenças falsas. O próprio Darwin teve preocupações com esses assuntos: “Comigo”, diz Darwin, “a dúvida horrível sempre surge se as convicções da mente do homem, as quais têm sido desenvolvidas da mente de animais inferiores, são de qualquer valor ou dignas de confiança. Poderia qualquer um confiar nas convicções da mente de um macaco, se houvesse qualquer convicção em tal mente?” [3].

Claramente, esta dúvida surge para os naturalistas ou ateus, mas não para aqueles que acreditam em Deus. Isto porque se Deus nos criou à sua imagem, então mesmo que ele tenha nos moldado por meios evolucionários, ele presumivelmente queria que nós parecêssemos com ele na capacidade de conhecer; mas então a maior parte do que nós acreditamos pode ser verdade mesmo que nossas mentes tenham se desenvolvido a partir daquelas dos animais inferiores. Por outro lado, há um problema real aqui para o naturalista evolucionista. Richard Dawkins certa vez declarou que a evolução tornou possível ser um ateu intelectualmente realizado. Eu creio que ele está fatalmente enganado: eu não creio que é possível de alguma maneira ser um ateu intelectualmente realizado; mas de qualquer modo você não pode racionalmente aceitar ambos, evolução e naturalismo.

Por que não? Como segue o argumento? [4] A primeira coisa a se ver é que os naturalistas são também sempre ou quase sempre materialistas: eles pensam que os seres humanos são objetos materiais, com nenhuma alma imaterial ou espiritual, ou um eu (self). Nós somos apenas nossos corpos, ou talvez algumas partes dos nossos corpos, tais como o nosso sistema nervoso, ou cérebros, ou talvez parte de nossos cérebros (o hemisfério direito ou esquerdo, por exemplo) ou talvez alguma parte ainda menor.

Então vamos pensar no naturalismo como incluindo o materialismo [5]. E agora vamos pensar sobre crenças de uma perspectiva materialista. De acordo com os materialistas, crenças, juntamente com o resto da vida mental, são causadas ou determinadas pela neurofisiologia, pelo que acontece no cérebro e no sistema nervoso. A neurofisiologia, além disso, também causa o comportamento. De acordo com a história habitual, sinais elétricos seguem via nervos aferentes dos órgãos sensoriais até o cérebro; lá alguns processos continuam; então impulsos elétricos vão via nervos eferentes do cérebro para outros órgãos incluindo músculos; em resposta a estes sinais, certos músculos se contraem, assim causando movimento e comportamento.

Agora, o que a evolução nos diz (supondo que nos diz a verdade) é que nosso comportamento (talvez mais exatamente o comportamento de nossos ancestrais) é adaptativo; desde que os membros de nossa espécie têm sobrevivido e se reproduzido, o comportamento de nossos ancestrais foi conduzido, no seu meio, à sobrevivência e à reprodução. Portanto, a neurofisiologia que causou este comportamento era também adaptativa; nós podemos sensatamente inferir que permanece adaptativa. O que a evolução nos diz, portanto, é que nosso tipo de neurofisiologia promove ou causa comportamento adaptativo, o tipo de comportamento que resulta em sobrevivência e reprodução.

Agora, esta mesma neurofisiologia, de acordo com o materialista, também causa crenças. Mas enquanto a evolução, a seleção natural premia o comportamento adaptativo (premia-o com sobrevivência e reprodução) e penaliza comportamentos mal-adaptativos, ele não se importa nem um pouco a respeito da crença verdadeira.

Como Francis Crick, o co-descobridor do código genético, escreve no livro The Astonishing Hypothesis [A Hipótese Deslumbrante], “Nossos cérebros altamente desenvolvidos, conseqüentemente, não evoluíram sob a pressão da verdadeira descoberta científica, mas apenas nos possibilitam a ser sagazes o bastante para sobreviver e deixar descendentes”. Retomando este tema, a filósofa naturalista Patrícia Churchland declara que a coisa mais importante sobre o cérebro humano é que ele evoluiu; portanto, ela diz que a sua principal função é possibilitar ao organismo mover-se apropriadamente:

Resumindo o essencial, o sistema nervoso possibilita o organismo ter êxito nos quatro aspectos: alimentação, fuga, luta e reprodução. O cerne principal do sistema nervoso é colocar as partes do corpo onde elas deveriam estar a fim de que o organismo possa sobreviver… . Melhoramentos no controle sensório-motor conferem uma vantagem evolucionária: um estilo imaginativo de representação é vantajoso na medida em que está engrenado no modo de vida do organismo e aumenta as suas chances de sobrevivência [ênfase de Churchland]. A verdade, o que quer que seja, definitivamente fica para trás [6].

O que ela quer dizer é que a seleção natural não se preocupa acerca da verdade ou da falsidade de suas crenças; preocupa-se apenas com o comportamento adaptativo. Suas crenças podem todas ser falsas, ridiculamente falsas; se seu comportamento é adaptativo você sobreviverá e reproduzirá. Considere um sapo sentado sobre uma vitória régia. Uma mosca o ignora; o sapo estende sua língua e a captura. Talvez a neurofisiologia que causa isto dessa maneira, também cause crenças. Até onde a sobrevivência e a reprodução sejam levadas em conta, isto não importará em absoluto o que essas crenças são: se a neurofisiologia adaptativa causa uma crença verdadeira (por exemplo, aquelas coisas pequenas e pretas são boas de comer), ótimo.
Mas se causa uma crença falsa (por exemplo, se eu capturar a mosca correta, eu me transformarei em um príncipe), isto também está ótimo. De fato, a neurofisiologia em questão pode causar crenças que não tem nada a ver com as circunstancias presentes da criatura (como no caso de nossos sonhos); enquanto a neurofisiologia causar comportamento adaptativo, isto também está ótimo. Tudo que realmente importa, no que diz respeito à sobrevivência é à reprodução, é que a neurofisiologia cause o tipo certo de comportamento; se ela também causa crença verdadeira (em vez de crença falsa) é irrelevante.

Em seguida, para evitar chauvinismo entre espécies, não vamos pensar sobre nós mesmos, mas ao invés disso pensemos numa população hipotética de criaturas muito parecidas conosco, talvez vivendo num planeta distante. Como nós, essas criaturas desfrutam de percepção, memória, e razão; elas formam crenças sobre muitos assuntos, eles raciocinam e mudam de crenças, e assim por diante. Vamos supor, além disso, que a evolução naturalística vale para eles; isto é, suponha que eles vivam num universo naturalístico e tenham vindo à existência através dos processos postulados pela teoria evolucionista contemporânea. O que nós sabemos sobre essas criaturas, então, é que elas têm sobrevivido; a neurofisiologia delas tem produzido comportamento adaptativo. Mas e à respeito da verdade das crenças delas? E sobre a confiabilidade de suas produção de crenças ou faculdade cognitivas?

O que nós aprendemos de Crick e Churchland (e o que é em todo caso óbvio) é isto: o fato de que nossas criaturas hipotéticas terem sobrevivido não nos diz nada sobre a verdade de suas crenças ou sobre a confiabilidade de suas faculdades cognitivas. O que isto nos diz é que a neurofisiologia que produz essas crenças é adaptativa, assim como é o comportamento causado por aquela neurofisiologia. Mas simplesmente não importa se as crenças causadas também por aquela neurofisiologia são verdadeiras ou não.

Se elas são verdadeiras, excelente; mas se elas são falsas, isto está bem também, desde que a neurofisiologia produza comportamento adaptativo.

Então considere qualquer crença particular da uma parte de uma dessas criaturas: qual é a probabilidade que esta seja verdade? Bem, o que nós sabemos é que a crença em questão foi produzida pela neurofisiologia adaptativa, neurofisiologia que produz comportamento adaptativo. Mas como nós temos visto, isto não nos dá nenhuma razão para pensar que essa crença seja verdadeira (e nenhuma para pensar que seja falsa). Nós devemos supor, portanto, que a crença em questão tem tanta probabilidade de ser falsa quanto de ser verdadeira; a probabilidade de qualquer crença particular ser verdadeira está perto de 1/2. Mas então é solidamente improvável que as faculdades cognitivas dessas criaturas produzam preponderantemente crenças verdadeiras sobre falsas conforme exigido pela confiabilidade. Se eu tenho 1.000 crenças independentes, por exemplo, e a probabilidade de qualquer crença particular ser verdadeira é 1/2, então a probabilidade de que 3/4 ou mais dessas crenças são verdadeiras (certamente uma exigência modesta o bastante para confiabilidade) será pouco menos do que 10(-58). E mesmo se eu estivesse trabalhando com um modesto sistema epistêmico de apenas 100 crenças, a probabilidade de que 3/4 delas sejam verdadeiras, dado que a probabilidade de qualquer um seja verdadeira é de 1/2, é muito baixa, alguma coisa como 0,000001[7]. Então as chances de que as crenças verdadeiras dessas criaturas substancialmente sobrepujem suas falsas crenças (mesmo numa área particular) são pequenas. A conclusão retirada é que é extremamente improvável que suas faculdades cognitivas sejam confiáveis.

Mas é claro que este mesmo argumento poderá também ser destinado a nós. Se o naturalismo evolucionista é verdadeiro, então a probabilidade de que nossas faculdades cognitivas sejam confiáveis é também muito baixa.

E isto significa que alguém que aceite o naturalismo evolucionista tem um obstáculo para a crença de que as faculdades cognitivas dela são confiáveis: uma razão para desistir daquela crença, para rejeitá-la, para não mais sustentá-la. Se não existir um obstáculo para aquele obstáculo – um obstáculo-obstáculo, poderíamos dizer – ela não poderia racionalmente acreditar que as faculdades cognitivas dela são confiáveis. Sem dúvida que ela não poderia deixar de acreditar que elas são; sem dúvida ela de fato continuaria a acreditar nisso; mas a crença seria irracional. E se ela possui um obstáculo para a confiabilidade de suas faculdades cognitivas, ela também tem um obstáculo para qualquer crença que sejam produzidas por estas faculdades – as quais, é claro, são todas as suas crenças. Se ela não pode confiar nas suas faculdades cognitivas, ela tem uma razão, à respeito de cada uma de suas crenças, para desistir delas. Ela está, portanto, enredada num ceticismo profundo e abismal. Uma de suas crenças, contudo, é a sua crença no próprio naturalismo evolucionista; de modo que ela também tem um obstáculo para esta crença. O naturalismo evolucionista, portanto – a crença numa combinação de naturalismo e evolução – é auto-refutante, auto-destrutivo e atira no seu próprio pé. Portanto você não pode racionalmente aceita-lo. Por todos estes argumentos apresentados, ele pode ser verdadeiro; mas é irracional sustentá-lo. Assim o argumento não é um argumento para a falsidade do naturalismo evolucionista; ao invés disso, para a conclusão de que não se pode racionalmente acreditar naquela proposição. A evolução, portanto, longe de sustentar o naturalismo, é incompatível com ele, nesse sentido que você não pode racionalmente acreditar em ambos.

Que tipo de aceitação este argumento tem tido? Como você pode esperar, naturalistas tendem a ser menos do que inteiramente entusiastas acerca dele, e muitas objeções têm sido trazidas contra ele.

Em minha opinião (a qual é claro algumas pessoas podem considerar tendenciosa), nenhuma dessas objeções é bem-sucedida[8]. Talvez a objeção mais importante e intuitiva seja como se segue. Retornando à população hipotética de alguns parágrafos atrás. Considerando, poderia ser que o comportamento deles fosse adaptativo mesmo que suas crenças fossem falsas; mas não seria muito mais provável que seus comportamentos fossem adaptativos se suas crenças fossem verdadeiras? E isto não significa que, desde que seus comportamentos são de fato adaptativos, suas crenças provavelmente verdadeiras e suas faculdades cognitivas provavelmente confiáveis?

Isto é na verdade uma objeção natural, particularmente dado o modo como nós pensamos sobre nossa própria vida mental. É claro que vocês são melhores candidatos a atingir seus objetivos, e é claro que vocês são melhores candidatos a sobreviver e a reproduzir se suas crenças são na sua maioria verdadeiras. Vocês são hominídeos pré-históricos vivendo sobre as planícies de Serengeti; claramente vocês não durarão muito se vocês acreditarem que os leões são gatinhos crescidos que gostam nada menos do que serem acariciados; Assim, se nós supomos que estas criaturas hipotéticas estão no mesmo tipo de situação cognitiva que nós ordinariamente pensamos que estamos, então certamente eles teriam muito mais provavelmente sobrevivido se suas faculdades cognitivas fossem confiáveis do que se elas não fossem.

Mas é claro que nós não podemos supor que eles estão na mesma situação cognitiva que nós pensamos que estamos. Por exemplo, nós supomos que nossas faculdades cognitivas são confiáveis. Nós não podemos sensatamente supor isto acerca dessa população; afinal de contas, o ponto principal do argumento é mostrar que se o naturalismo evolucionista é verdadeiro, então muito provavelmente nós e nossas faculdades cognitivas não são confiáveis. Assim refletindo uma vez mais sobre o que nós sabemos acerca dessas criaturas.

Eles vivem num mundo no qual o naturalismo evolucionista é verdadeiro. Portanto, desde que eles tenham sobrevivido e reproduzido, os seus comportamentos têm sido adaptativos. Isto significa que a neurofisiologia que causa ou produz este comportamento tem também sido adaptativa: isto tem possibilitado a eles sobreviver e reproduzir. Mas e quanto às suas crenças? Estas crenças têm sido produzidas ou causadas pela neurofisiologia adaptativa; com certeza. Mas isto não nos dá nenhuma razão para supor estas crenças como verdadeiras. Até onde for a adaptatividade de seus comportamentos, não importa se tais crenças são verdadeiras ou falsas.
Suponha que a neurofisiologia adaptativa produza crenças verdadeiras: ótimo; ela também produz comportamento adaptativo, e que isto é o que importa para sobrevivência e reprodução. Suponha, por outro lado, que a neurofisiologia produza crenças falsas: novamente ótimo: ela produz falsas crenças, mas comportamento adaptativo. Realmente não importa que tipo de crenças a neurofisiologia produz; o que importa é o que causa o comportamento adaptativo; e isto ela claramente faz, não importa que tipo de crenças ela também produz. Portanto não há razão para pensar que se o comportamento deles é adaptativo, então é provável que suas faculdades cognitivas são confiáveis.

A conclusão óbvia, como assim me parece, é que o naturalismo evolucionista não pode sensatamente ser aceito. Os altos sacerdotes do naturalismo evolucionista proclamam em altas vozes que o cristianismo e mesmo a crença teísta está falida e que é ridícula. O fato, entretanto, é que a mesa virou. É o naturalismo evolucionista, e não a crença cristã, que não pode ser racionalmente aceito.

Bibliografia:
[1] Resenhado por Douglas Groothuis, em um texto onde quatro livros que lidam com o ateísmo de uma forma ou de outra são examinados [http://www.christianitytoday.com/bc/2008/004/12.39.html]. Nota do tradutor: O livro não possui tradução para o português.
[2] Escrito em co-autoria com Alvin Plantinga na série Blackwell’s Great Debates in Philosoph (Blackwell, 2008). Nota do tradutor: O livro não possui tradução para o português.
[3] Carta a William Graham (Down, 3 de Julho, 1881), em The Life and Letters of Charles Darwin, ed. Francis Darwin (London: John Murray, 1887), Volume 1, pp. 315-16.
[4] Aqui eu vou fornecer apenas a essência do argumento; para uma descrição mais completa veja o meu Warranted Christian Belief (Oxford Univ. Press, 2000), cap. 7; ou minha contribuição para Knowledge of God (Blackwell, 2008); ou Natural Selection and the Problem of Evil (The Great Debate), editado por Paul
Draper,www.infidels.org/library/modern/paul_draper/evil.html.
[5] Se você não pensa que o naturalismo inclui o materialismo, então pense no meu argumento como a conclusão de que não se pode sensatamente aceitar a conjunção tripartite do naturalismo, evolução e materialismo.
[6] “Epistemology in the Age of Neuroscience,” Journal of Philosophy, Vol. 84 (October 1987), pp. 548-49.
[7] Agradeço a Paul Zwier, que realizou os cálculos.
[8] Veja, por exemplo, Naturalism Defeated?, ed. James Beilby (Cornell Univ. Press, 2002), que contém dez artigos por críticos do argumento, junto com minhas respostas às suas objeções.

Fonte:

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Livro: "Um Cientista Lê a Bíblia" de John Polkinghorne

Edições Loyola

Esta é uma obra acessível e bem-fundamentada que pode despertar a consciência da importância crescente da fé num mundo científico.

Neste livro, John Polkinghorne ousa enfrentar questões que podem parecer perigosas e chega a respostas profundamente reconfortantes para o coração e a mente dos que creem que ciência e religião podem ser discutidas num mesmo contexto. Ao pensamento de que a ciência destruiu a religião, o autor contrapõe o testemunho de que ciência e religião são facetas diferentes de uma mesma verdade, cada uma complementando a outra na busca da sabedoria.


John Polkinghorne, físico de formação, pastor anglicano, membro da Royal Society, parte da constatação de que se o mundo físico é cheio de surpresas, seria estranho que Deus não excedesse nossas expectativas, e convida o leitor ao salto da fé: "Há uma diferença entre crença científica e crença religiosa. A crença religiosa é muito mais exigente e mais perigosa. Acredito ardentemente na teoria quântica, mas essa crença não pode mudar a minha vida. Não posso, porém, acreditar em Deus sem saber que devo ser obediente à sua vontade. Deus não existe apenas para satisfazer minha curiosidade intelectual existe para ser amado como meu Criador e Salvador. Atenção! Agora vou fazer uma advertência, ou melhor, promessa de saúde teológica: Leia a Bíblia. Ela pode mudar a sua vida".

domingo, 14 de dezembro de 2014

O Fardo de Jesus é leve?

Pergunta de Edian:

Existe um trecho biblico, onde Jesus diz q seu fardo é leve, seu julgo é suave.

Mas adiante, Ele diz: por causa de meu nome sereis odiados e perseguidos.

e ai???

Grato pela atenção.
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Mt 11:
5 Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho.
21 Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza.
23 E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje.
28 Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
29 Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.
30 Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.

O contexto está se referindo aos cegos, coxos, leprosos, surdos, pobres, etc. Estes podem encontrar em Cristo cura e alívio para sua dor.

O contexto também se refere ao arrependimento que os sinais deveriam trazer sobre o povo e muitas vezes não traz. Por isso, eles terão o devido castigo.

É dentro deste contexto que Jesus fala: Vinde a mim os cegos, coxos, leprosos, surdos, pobres, oprimidos, e cansados e eu os aliviarei.

Porém, em nenhum momento Jesus está dizendo: "Vinde a mim que vocês nunca mais verão a dor e o sofrimento. Ou, "vinde a mim que vocês nunca mais serão perseguidos".


O fato é que só em Cristo alguém perseguido, sofrendo a dor, encontra alívio. Nem sempre o alívio implica em cura. Mas implica em tornar o fardo mais leve, em tornar o jugo mais suave. Porque sem Cristo, a dor, o sofrimento, e a perseguição, são ainda piores. Em Cristo vivenciamos as mesmas coisas, porém, nEle encontramos o alívio necessário para nossas almas. Nem sempre encontramos o fim do problema. Mas, certamente encontramos forças para enfrentar o problema. NEle o problema toma outra dimensão.

Pipe

sábado, 13 de dezembro de 2014

Uma vida solitária

"Ele nasceu numa vila obscura, filho de um camponês. Cresceu em outra vila, onde trabalhou como carpinteiro até os 30 anos. Então, por três anos, foi pregador itinerante. Ele nunca escreveu um livro. Nunca teve um escritório. Nunca constituiu família nem teve casa. Ele não foi para a faculdade. Nunca viveu numa cidade grande. Nunca viajou a mais de 300 quilômetros do lugar onde nasceu. Nunca realizou as coisas que normalmente acompanham a grandeza. Ele não tinha credenciais, a não ser ele mesmo. Tinha apenas 33 anos quando a onda da opinião pública voltou-se contra ele. Seus amigos fugiram. Um deles o negou. Foi entregue aos seus inimigos e sofreu zombarias durante seu julgamento. Foi pregado numa cruz entre dois ladrões. Enquanto estava morrendo, por meio de sortes seus executores disputavam suas roupas, a única coisa material que tivera. Quando morreu, foi colocado numa sepultura emprestada, por compaixão de um amigo. Vinte séculos se passaram, e hoje ele é a figura central da raça humana. Sinto-me plenamente confiante quando digo que todos os exércitos que já marcharam, todos os navios que já navegaram, todos os parlamentos que já discutiram, todos os reis que já reinaram, colocados juntos, não influenciaram a vida do homem nesta terra quanto aquela vida solitária."


JAMES ALLAN FRANCIS

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Provas brilhantes de uma ação inteligente

“Provas brilhantes de uma ação inteligente multiplicam-se em torno de nós e, por vezes, dúvidas metafísicas nos afastam temporariamente destas ideias, elas voltam com uma força irresistível. Elas nos ensinam que todas as coisas vivas dependem de um Criador e de um Senhor Eterno”.


WILLIAM THOMPSON, físico inglês

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Mt 1 está errado quanto ao número de gerações?

Proposta trazido pelo Bruno quanto a Mt 1:

- A Bíblia diz que tem 14 gerações em 3 etapas... sendo que se vc for contar, a primeira etapa tem 14 e a segunda também, mas a terceira só tem 13. Contar Jeconias novamente é dizer que ele nasceu novamente, pois são contagem das "GERAÇÕES".
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Respondendo:

14 Gerações - I Parte:
"1 Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
2 Abraão gerou a Isaque; e Isaque gerou a Jacó; e Jacó gerou a Judá e a seus irmãos;
3 E Judá gerou, de Tamar, a Perez e a Zerá; e Perez gerou a Esrom; e Esrom gerou a Arão;
4 E Arão gerou a Aminadabe; e Aminadabe gerou a Naassom; e Naassom gerou a Salmom;
5 E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé;
6 E Jessé gerou ao rei Davi;... "

14 Gerações - II Parte:
"... e o rei Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias.
7 E Salomão gerou a Roboão; e Roboão gerou a Abias; e Abias gerou a Asa;
8 E Asa gerou a Josafá; e Josafá gerou a Jorão; e Jorão gerou a Uzias;
9 E Uzias gerou a Jotão; e Jotão gerou a Acaz; e Acaz gerou a Ezequias;
10 E Ezequias gerou a Manassés; e Manassés gerou a Amom; e Amom gerou a Josias;
11 E Josias gerou a Jeconias e a seus irmãos na deportação para babilônia".

14 Gerações - III Parte
"12 E, depois da deportação para a babilônia, Jeconias gerou a Salatiel; e Salatiel gerou a Zorobabel;
13 E Zorobabel gerou a Abiúde; e Abiúde gerou a Eliaquim; e Eliaquim gerou a Azor;
14 E Azor gerou a Sadoque; e Sadoque gerou a Aquim; e Aquim gerou a Eliúde;
15 E Eliúde gerou a Eleázar; e Eleázar gerou a Matã; e Matã gerou a Jacó;
16 E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu JESUS, que se chama o Cristo.

Por tanto:
17 De sorte que todas as gerações,...
I Parte - "... desde Abraão até Davi, são catorze gerações;..."
II Parte - "... e desde Davi até a deportação para a babilônia, catorze gerações;..."
III Parte - "... e desde a deportação para a babilônia até Cristo, catorze gerações".
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Esmiuçando:

14 Gerações - I Parte:
01. Abraão
02. Isaque
03. Jacó
04. Judá
05. Perez
06. Esrom
07. Arão
08. Aminadabe
09. Naassom
10. Salmom
11. Boaz
12. Obede
13. Jessé
14. Davi

Obs: Mateus conta desde Abraão até Davi. O total é de 14 gerações. Por isso o texto diz ”... desde Abraão até Davi, são catorze gerações...”. Em seguida, ele conta mais 14 catorze gerações desde (a partir) de Davi: ”... e, desde Davi até a deportação para a Babilônia, catorze gerações...”.


14 Gerações - II Parte:
Vamos em frente:
01. Davi
02. Salomão
03. Roboão
04. Abias
05. Asa
06. Josafá
07. Jorão
08. Uzias
09. Jotão
10. Acaz
11. Ezequias
12. Manassés
13. Amom
14. Josias

Obs:
1. Josias morre em II Rs 23:29-30a. Ele morre antes de Israel ser deportado para a a Babilônia.
2. Joacaz, seu filho, substitui Josias em II Rs 23:30b. Porém Joacaz reina apenas 3 meses e é preso pelo Faraó (II Rs 23:33).
3. Faraó coloca Eliaquim, filho de Josias no lugar de Joacaz em II Rs 23:34. Mudou o nome de Eliaquim para Jeoaquim (II Rs 23:34). Porém, os babilônicos invadem Israel e este é morto.
4. Joaquim ou Jeconias, o filho de Jeoaquim (Eliaquim) reina em seu lugar (II Rs 24:6). Este reinou apenas 3 meses e foi levado cativo para a Babilônia (II Rs 24:12c).
5. O tio de Joaquim, Matanias ou Zedequias, reina em seu lugar (II Rs 24:17). Zedequias é levado preso para a babilônia (II Rs 25:7).
6. Agora o mais importante: Joaquim, o filho de Jeoaquim (ver ponto 4), neto de Josias, é solto (II Rs 25:27).
7. Mt diz no VS.11: ”e Josias gerou a Jeconias e a seus irmãos no tempo do exílio na Babilônia”. Acontece que Josias não gerou filhos na Babilônia. Ele morreu antes disso. Porém, o texto pela NVI diz: ”no tempo”. Portanto, não significa necessariamente que o texto esteja dizendo que Josias gerou estes na Babilônia. E sim que Mt estava ligando as gerações até aquele tempo do exílio.
8. Mt diz no VS.12: ”E, depois da deportação para a Babilônia, Jeconias (ou Joaquim) gerou...”.. Portanto, ele começa sua contagem a partir de Joaquim que havia sido solto em II Rs 25:27).

14 Gerações - III Parte:
Como Mt diz que a contagem é a partir de Joaquim (Jeconias), filho de Josias, temos mais 14 gerações:
01. Jeconias / Joaquim
02. Salatiel
03. Zorobabel
04. Abiúde
05. Eliaquim
06. Azor
07. Sadoque
08. Aquim
09. Eliúde
10. Eleazar
11. Matã
12. Jacó
13. José
14. Jesus Cristo.

Conclusão:
Desde Abraão até Davi, são catorze gerações.

Desde Davi até Josias (no tempo da deportação para a babilônia), são catorze gerações.

E, desde Joaquim ou Jeconias (desde o tempo da deportação para a babilônia) até Cristo, são catorze gerações.

Por tanto, não há nenhuma contradição.


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