Revisão Bibliográfica
REVISÃO CRÍTICA DO LIVRO "ORIGENS -
RELACIONANDO A CIÊNCIA COM A BÍBLIA"
por Ariel A. Roth, editado pela Casa Publicadora
Brasileira, 2001
Este livro, de autoria de Ariel A. Roth, foi
publicado originalmente em 1998 pela "Review and Herald Publishing
Association", nos Estados Unidos da América do Norte, com o título
"Origins - linking Science and Scripture". Neste ano de 2001 foi
publicada a sua tradução para o Português, pela Casa Publicadora Brasileira.
Apresenta-se a seguir, a revisão crítica do livro, de autoria de Ariel A. Roth,
que foi publicado originalmente no "CEN Technical Journal"
13(1)1999:26-29.
"Origens - Relacionando a Ciência com a
Bíblia" é uma excelente contribuição feita à desabrochante literatura
criacionista, que deverá fortalecer a fé cristã em uma criação literal, no
dilúvio universal, e na fidedignidade da Bíblia. O livro cobre tópicos bastante
variados, em cinco grandes partes e mais uma parte com conclusões. Cada um dos
vinte-e-dois capítulos encerra-se com um item resumindo as conclusões, e mais uma
apreciável lista de referências, bastante útil, quase todas de fontes
exclusivamente não-criacionistas, o que garante a total atualidade do livro e
sua abrangência.
O livro é bem escrito, fácil de ler e, de maneira
notável, isento de erros tipográficos (na edição americana). Como visão geral
do assunto, mas com abundância de detalhes - alguns novos - o livro
constituiria uma boa primeira aquisição para quem soubesse apenas um pouco
sobre as controvérsias entre a criação e a evolução, e entre o dilúvio e o
uniformismo. Seria também um livro com desafios aos cépticos que se opõem ao
criacionismo, ao cristianismo ou à Bíblia. É mesmo um livro adequado para o
cientista ateísta ou agnóstico que deseje investigar seriamente as
controvérsias, pois o tom do livro não deprecia a sua posição, e grande número
de itens não são abordados de forma dogmática, deixando espaço para pesquisas
posteriores - uma admirável posição científica.
A primeira das cinco partes do livro mostra que a
questão da controvérsia entre criação e evolução ainda não está resolvida, e
prepara o palco científico descrevendo as linhas gerais envolvidas na questão.
No segundo capítulo, Roth ilustra como o modismo filosófico e sociológico
influencia o empreendimento científico, e como os paradigmas geralmente aceitos
ameaçam a busca da verdade. Com base em uma perspectiva histórica, Ariel Roth
conclui que a verdade pode ser difícil de ser achada, e a nossa busca por ela
freqüentemente deve situar-se além das opiniões prevalecentes. Concluindo a primeira
parte, o terceiro capítulo discute como a ciência teve origem a partir de uma
visão bíblica do mundo, e que não há razão para qualquer antagonismo
fundamental entre ciência e cristianismo. Boa parte do aparente conflito entre
ciência e cristianismo deve-se mais à definição de termos, atitudes e
interpretações, do que a princípios básicos.
Deixando de lado os questionamentos filosóficos, na
segunda parte o autor relaciona a ciência com a Bíblia (subtítulo do seu livro)
no campo da biologia. Assim, é analisada em primeiro lugar a mais importante
pergunta: A vida evoluiu ou foi criada? A explicação da criação para a origem
da vida é muito forte, enquanto que a explicação evolucionista é bastante
fraca. A nossa compreensão da impressionante complexidade da célula cresce a
cada dia, apontando para o fato de que é impossível que uma célula viva pudesse
evoluir ao acaso. É difícil conceber por que algum biólogo permaneça ateísta ou
agnóstico (à parte de Romanos 1:18 e versículos seguintes) em face da complicação
e enorme complexidade - resultantes de um projeto inteligente - que existem
abundantemente no mundo biológico. Parece que Deus está empenhado em chamar a
atenção dos biologistas clamando: "Estou aqui"! Ariel Roth não só se
aprofunda no exame da dificuldade que apresenta qualquer origem abiogenética da
vida, como mostra também como algumas idéias mais novas, como o modelo do RNA,
assemelham-se ao primeiro mícron da escalada do Monte Evereste, na busca da
origem da vida.
Embora os evolucionistas ainda creiam que os
frágeis mecanismos das mutações e da seleção natural possam realizar o
impossível, Roth mostra no capítulo 5 do livro quão fracos são esses mecanismos
na realidade. E conclui:
"A falha
geral deles (para encontrar um mecanismo viável), portanto, levanta uma séria
questão: O pensamento evolucionista é mais objeto de opinião do que de
rigorosos dados científicos?" (p. 91).
O título do capítulo 6 é apropriado: "Do
complexo ao mais complexo". Aqui Roth explica detalhadamente o que a
ciência tem demonstrado: que a vida é extremamente complicada, mesmo em seu
nível mais simples. Focalizando a questão do olho, ele conclui que os dados
favorecem sobremaneira a tese de um projetista inteligente.
O assunto da origem do homem, constante do capítulo
7, de fato é importante em qualquer compêndio de biologia. Roth mostra como as
evidências a favor da explicação evolucionista da origem do homem são esparsas,
controvertidas e contaminadas com os preconceitos pessoais dos cientistas - de
tal forma que ele considera que não se pode ainda ter conclusões firmes a
respeito. Roth termina os questionamentos biológicos da segunda parte com um
grande número de controvérsias atuais, tais como o relógio molecular. E
encaminha um desafio quanto à racionalidade por parte dos cientistas:
"A
alternativa da criação sugere que grande variedade de organismos com
adaptabilidade limitada foram projetados propositadamente. Os criacionistas não
têm todas as respostas, mas as diferentes opiniões e os numerosos problemas
científicos enfrentados pela evolução podem sugerir que o modelo criacionista
merece séria consideração". (p. 142)
As partes 3 e 4, respectivamente sobre fósseis e
rochas interessaram-me de forma especial. Sempre estive ávido para explorar
novas idéias na área de geociências que expliquem o modelo do dilúvio. As
explicações contrastantes para os fósseis e para as rochas destacam a diferença
entre os modelos da criação e da evolução, e concordo com a apreciação do
autor. Os uniformistas têm gasto muito tempo e dinheiro público proveniente da
arrecadação de impostos para desenvolver o seu modelo, enquanto nós, os
criacionistas, estamos ainda somente nos estágios iniciais do desenvolvimento
de nossos modelos diluvialistas. Já fizemos grandes progressos, mas ainda há
muito por fazer, tanto no campo quanto nos gabinetes. Nestas duas partes há
muita refutação dos modelos geológicos baseados na filosofia evolucionista
uniformista, e dados importantes que apontam para o dilúvio.
Os fósseis são discutidos em três capítulos da
terceira parte. Os tópicos abrangem a dificuldade para a formação de um fóssil,
o problema dos pseudo-fósseis, os hiatos no registro geológico, os alegados
elos perdidos, a explosão do Cambriano, e as questionáveis taxas de evolução
exigidas pela coluna geológica. Ariel Roth inclina-se a aceitar a coluna
geológica como conseqüência do dilúvio, e conseqüentemente usa parte do
capítulo 9 e todo o capítulo 10 para explicar como o dilúvio poderia produzir a
ordem dos fósseis na coluna geológica. Esses mecanismos, que considero todos
plausíveis, são: 1) a motilidade dos animais; 2) a flutuabilidade variável na
água, e 3) o zoneamento ecológico. Sem dúvida, outros fatores de ordenamento
existiram durante o dilúvio, como reconhecido por Roth (p. 168).
A parte 4, sobre as rochas, que apresenta poderosas
evidências a favor de uma inundação global, foi a minha favorita. A geologia
uniformista, em contraste, somente sugere explicações questionáveis para essas
evidências. Partindo da controvérsia sobre a inundação do Spokane, Roth mostra
como a maior parte dos geólogos depois de Hutton e Lyell relutou aceitar que as
catástrofes desempenham qualquer papel na história da Terra. A fotografia da
praia formada na ilha de Surtsey (p. 202) vale por mil palavras. Tirada somente
a cinco meses e dois dias depois da formação da ilha por uma erupção vulcânica
em 1963, a fotografia documenta um impressionante exemplo de formação geológica
rápida! Em seguida, no capítulo 12, Roth examina os modelos existentes para o
dilúvio, prefaciando essa seção com o sábio conselho: "Entretanto, é
necessário muito mais trabalho, e a cautela nos induz a dizer que consideramos
cada modelo como uma tentativa" (p. 205).
As predições evolucionistas sobre as configurações
da diversidade e da disparidade ao longo do tempo não concordam com o registro
fóssil. Acima estão as três configurações, sugeridas respectivamente: a) pelo
gradualismo darwinista; b) pela teoria do equilíbrio pontuado; e c) pelo
registro fóssil. (De Austin, S. A. 1994. Grand Canyon. Monument to catastrophe.
ICR, p. 148).
O capítulo 13 examina brevemente diversas poderosas
evidências geológicas a favor de um dilúvio global. Uma das melhores é a
ocorrência generalizada das camadas sedimentares. Um exemplo que se destaca é o
conglomerado de Shinarump, com menos de 30 metros de espessura e estendendo-se
por mais de 250.000 km2 do Platô do Colorado. Outro é a total falta de qualquer
sinal de erosão entre as camadas sedimentares, negando assim os supostos
intervalos de tempo que existiriam entre elas.
Os capítulos 14 e 15 tratam de questões
cronológicas. O primeiro deles responde aos aparentes problemas quanto à curta
duração da escala geológica do dilúvio, como o crescimento dos recifes, ninhos
de dinossauros em rochas do dilúvio, "varves" e florestas fósseis. A
interpretação criacionista da datação com o Carbono-14 (baseada principalmente
nos trabalhos do Dr. Robert Brown) é discutida também junto com o método de
datação do Potássio-Argônio. Embora os criacionistas enfrentem problemas
cronológicos, também os geólogos uniformistas enfrentam. Esses problemas são
objeto do capítulo 15. Os grandes desafios para os geólogos que aceitam as
longas eras de bilhões de anos são: 1) a erosão muito rápida dos continentes,
que assim poderiam ter sido erodidos dezenas de vezes durante o Fanerozóico; 2)
superfícies planas consideradas como tendo mais de 100 milhões de anos de
idade, que mostram pouco sinal de erosão ou mesmo nenhum; muito menor evidência
de atividade vulcânica nas camadas sedimentares do que seria de esperar; e 4)
sobrelevação das montanhas usualmente tão rápida que elas deveriam ter centenas
de quilômetros de altura, ou não conter nenhuma rocha do início da coluna
geológica.
A parte 5 é uma avaliação geral da ciência e da
Bíblia, e mostra que embora a ciência tenha feito maravilhosas, ela constitui
apenas uma visão de mundo parcial. A ciência e os cientistas estão longe da
perfeição, especialmente no âmbito histórico. As Escrituras, apesar de
constantemente assediadas, sobreviveram ao teste do tempo, e têm sido validadas
histórica, arqueológica e profeticamente. A existência de lendas do dilúvio,
algumas bastante paralelas ao relato bíblico, é impressionante. Roth ataca
também os difíceis desafios apresentados à Bíblia, tais como a existência do
mal, o sofrimento, os eventos da semana da criação, e a hipótese documental.
A parte 6 encerra o livro, mostrando como a
filosofia do naturalismo tem-se apossado da ciência, e como a evolução é uma
teoria em apuros. Tudo aponta para a predominância de um paradigma com muito
poucas evidências a seu favor:
"A
ciência sempre se orgulhou de ser aberta e objetiva, mas a evolução põe em
questão ambos esses atributos. Como a ciência envolveu-se nessa confusão de
defender uma idéia para a qual existe pouco apoio e que se depara com tão
grandes problemas científicos?" (p. 333).
Para os que são tentados a procurar um compromisso
entre a criação e a evolução, Roth demonstra no capítulo 21 como nem a ciência
nem a Bíblia apoiam essa posição. Tais compromissos são indefensáveis, e levam
a um afastamento gradual do cristianismo.
O capítulo final nos desafia a procurarmos a
verdade e a resistirmos a seguir o "clima da opinião".
O excelente livro de Ariel Roth é altamente
recomendado tanto para criacionistas, como para cristãos não-criacionistas e
descrentes. Como acontece com qualquer livro que abra novos caminhos para as
Geociências, todo revisor crítico pode discordar com relação a pelo menos um
ponto. Realmente discordo de muito pouco. Eu gostaria de evidências mais
concretas para as posições do autor com relação aos assuntos controvertidos
dentro do criacionismo, que foram diplomaticamente tratados por ele, como por
exemplo a coluna geológica, o carreamento das camadas sedimentares, a tectônica
de placas, e as configurações continentais antes e após o dilúvio. O
criacionista tradicional, se não for céptico com relação à coluna geológica, a
tem aceitado somente de forma parcial. Embora a coluna geológica, como também a
ordem fóssil no dilúvio, possam ser um princípio geral, isso precisa ser
demonstrado com algo mais além do "grande palco" configurado no
sudoeste dos Estados Unidos. Aqueles que desafiam os pontos de vista criacionistas
tradicionais deveriam publicar seus argumentos em revistas técnicas
criacionistas para a adequada discussão e revisão crítica.
Os carreamentos são outro assunto controvertido que
os criacionistas tradicionalmente não têm aceito. Dezenas de alegados "carreamentos"
(incluindo o famoso Carreamento Lewis) situam-se no oeste do local onde moro.
"Carreamentos" representam fósseis fora da ordem, são comuns em
regiões montanhosas, no mundo todo, e neles é fácil observar a seqüência
vertical dos fósseis. Embora eu não tenha examinado os "carreamentos"
do oeste de Montana como gostaria de ter feito [a maioria dos contatos entre as
camadas está coberta pelos taludes (ou "talus"], até agora tenho
visto poucas evidências a favor de deslizamentos horizontais ou verticais de
rochas sobre rochas ao longo de dezenas de quilômetros. Roth afirma ter visto
evidências pelo menos para algum carreamento no contato do Carreamento Lewis,
sulcos e arranhões (p. 163). Isso pressupõe que, de fato, a direção do
movimento pode ser verificada. Entretanto, é necessário mais do que sulcos e
arranhões para demonstrar o movimento horizontal de longa distância dos
supostos carreamentos. Sulcos e arranhões são comuns no cinturão de
"carreamentos" das Montanhas Rochosas, e praticamente todos ocorrem
nas juntas.
Fiquei contente porque Ariel Roth recomendou que os
criacionistas sejam cautelosos antes de aceitar a tectônica de placas (p. 210).
Em minha experiência, a tectônica de placas apresenta muitos problemas que, ou
são ignorados e minimizados, ou racionalizados mediante hipóteses secundárias.
Também um número substancial da comunidade geológica mais ampla ainda tem suas
reservas quanto à tectônica de placas ou aspectos decorrentes desse paradigma.
Os criacionistas precisam considerar criticamente a tectônica de placas antes
de incorporá-la ao dilúvio ou mesmo a um modelo pós-diluviano.