quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
A NEGAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE DEUS
A PROPAGAÇÃO DA ATEÍSMO NO MUNDO
Disse o néscio no seu coração: Não há Deus"
(Salmo 14:1. ARC). O ateísmo é hoje uma realidade no mundo. Nenhum evangélico
deve ignorar ou ficar indiferente diante deste fato. Existe um movimento de
negação formal da existência de Deus, e é grande o número de pessoas que têm-se
deixado influenciar pela atitude dos que afirmam não acreditar na existência de
um Deus Criador do Universo, cujo Filho deu sua vida para salvar a humanidade.
Porém, desde já devemos reconhecer que o ateísmo, seja qual for a forma como
ele se apresente, é uma violência que o homem pratica contra sua própria
consciência, é uma tentativa de anulação e desconhecimento de todas as provas
da existência de Deus produzidas ao longo de toda a história humana.
Além do mais, sabe-se que até hoje nenhum ateu fez
uma demonstração racional que justificasse a "lógica" do seu ateísmo.
"O primeiro ateu deve ter sido um delinquente que procurava, negando a
Deus, livrar-se da única testemunha da qual ele não podia ocultar seu
crime", observou certa vez, com muita propriedade, o escritor italiano
Giovani Papine. O ateísmo tem-se constituído também em um princípio de dúvidas
para as pessoas que só acreditam que Deus existe baseadas nas clássicas
demonstrações de sua existência, mas ainda não foram introduzidas, pelo Sumo
Sacerdote e Salvador da humanidade, Jesus Cristo, no "Santo dos Santos,
onde Deus habita". Vejamos como e através de quem o movimento ateísta
popularizou-se no mundo moderno.
O ATEÍSMO,
DA ANTIGUIDADE AOS NOSSOS DIAS
No primeiro capítulo deste livro, vimos que jamais
foram encontrados povos ateus. Contudo, se examinarmos o pensamento dos grandes
homens da Antiguidade, descobriremos certas posições isoladas de filósofos que
afirmavam não acreditar na existência de Deus. Porém, devemos atentar para um
aspecto importante do ateísmo. Quando o ateu diz: "Deus não existe",
a que Deus ele estará negando? Ao verdadeiro Deus? Ele nega a existência de
Deus, seja qual for o modo como imagina-se que Deus seja, ou nega a existência
de um deus imaginado de uma certa maneira?
O escritor francês Jean Claude Barreau conta uma
experiência vivida por ele no período em que negar a existência de Deus era
moda na França, em decorrência da propagação da filosofia existencialista:
"Naquela época estavam representando no teatro a peça 'O Diabo e o Bom
Deus', de Jean Paul Sartre, peça que causava horror aos meus companheiros de
fé. Fui assisti-la e ela nem me atingiu. Era Baal, era Moloc que Sartre
denunciava. Não era meu Deus. Eu abominava o deus de Goetz (um dos personagens
da peça) tanto quanto Sartre."
E é Jean Claude que nos fornece a frase ideal para
ser usada como resposta a esses ateus equivocados: "Isto que você recusa
eu também não aceito, porque nada tem a ver com o Deus dos Evangelhos."
"Um dia o semblante do Deus dos Evangelhos me fascinou. E este semblante
que vi é bem distinto das ideias de Deus que muitas pessoas têm em mente. Este
retrato de Deus vai muito além das definições dogmáticas."
Alguns homens da Antiguidade, ao se posicionarem
como ateus, nem sempre estavam negando a existência do verdadeiro Deus, e sim
dos "deuses", por não concordarem com o politeísmo existente em seus
países. Foi o caso dos filósofos gregos Anaxágoras e Sócrates. Este último
chegou, inclusive, a ser julgado e condenado à morte sob a acusação de estar
corrompendo a juventude com ideias ímpias. Ou seja: Sócrates estava levando os
jovens a não acreditarem na existência dos deuses em que o povo grego
acreditava, os mesmos deuses a quem Paulo se referiu no seu discurso no
Areópago (Atos 17:22-25).
Ora, já naquela época, o célebre filósofo grego
Platão (427-348 a.C), discípulo de Sócrates, havia criticado a posição
ateística, dirigindo energicamente suas sábias palavras a um ateu:
Nem tu, nem teus companheiros sois os primeiros nem
os únicos que tendes semelhante opinião da Divindade, mas em todos os tempos,
ou mais, ou menos, sempre houve quem estivesse afetado dessa enfermidade.
Travei conhecimento com muitos deles, e por isso vos digo que nenhum dos que na
sua mocidade negou a existência de Deus manteve semelhante opinião até a
velhice. Aconselho-te, pois, agora, a não ousares cometer algum ato impiedoso
contra a Divindade. Antes de proferires uma palavra contra Deus, medita três e
dez vezes; porque chegará o dia (e chegará breve) em que o escárnio expirará em
teus lábios trêmulos; virá o dia em que precisarás de Deus e da sua eterna
verdade para a tua alma aflita, vazia e trespassada pela dor.2
Porém, o filósofo grego Epicuro e o poeta latino
Lucrécio (c. 99-55 a.C.) continuaram o trabalho de propagação das ideias
ateístas: afirmaram que tudo se origina da matéria existente no Universo. Para
eles o Universo sempre existiu, nunca foi criado. No seu famoso poema
materialista De Rerum Natura (Da Natureza), Lucrécio diz que nem Deus nem os
deuses existem. O mundo surgiu da união dos átomos. Mas se alguém lhe
perguntasse quem ou o que teria levado esses átomos a se unirem para formar o
mundo, Lucrécio responderia: "Foi o acaso". O interessante é que o
próprio escritor comunista francês Anatole France, após concluir ser absurdo
tentar explicar a existência do mundo como produto do acaso, comentou certa
vez: "Acaso é, talvez, o pseudônimo de Deus quando não desejava assinar o
nome".
OS JOVENS
SOB O PERIGO DO MATERIALISMO
As ideias dos filósofos ateus da Antiguidade
influenciaram a maioria dos pensadores franceses do século XVIII, e na segunda
metade do século XIX, uma perigosa onda de materialismo avançou pelas praias da
filosofia e da ciência, e afogou muitos no mar do ateísmo, alcançando seus maiores
efeitos no meio da mocidade estudiosa. Dois escritores alemães, Buchner e
Ernesto Haeckel, foram especialmente usados pelas forças invisíveis das trevas
que atuam no mundo, para semear a dúvida no coração dos estudantes europeus, e
levá-los a desacreditar da Bíblia. Buchner escreveu o livro Força e Matéria,
publicado em 1855. Traduzido em dezenas de idiomas, essa obra chegou a ser lida
por quase todos os jovens estudantes americanos e europeus daquela época.
Os Enigmas do Universo foi o título que Ernesto
Haeckel deu ao seu livro, lançado na Alemanha em 1863. Só em alemão essa obra
alcançou mais de 200 edições, sendo traduzida em todos os idiomas cultos da
época. Esses dois livros foram a grande preparação para o ateísmo que surgiria
como base do regime político adotado na Rússia no início do século seguinte.
Procurando dar para todos os fenômenos da Natureza uma explicação materialista,
apresentando soluções enganosas em nome da ciência (da falsa ciência, diga-se
de passagem), Haeckel conquistou a simpatia ingênua da mocidade,
proporcionando-lhe a ilusória satisfação de estar explicando os segredos do
universo sem necessitar de, em nenhum momento, recorrer a Deus.
Porém, décadas depois, as afirmações desse escritor
foram desmentidas pela própria ciência, e Haeckel ficou conhecido nos meios
científicos como um falsário. Mas ele foi muito lido e admirado também pelos
estudantes do Brasil.
Recapitulemos: para os materialistas, tudo é
matéria (não existe um mundo espiritual, não existe Deus), e tudo volta para a
matéria eterna. Viemos do nada e entraremos no nada pela morte. Não há outra
vida além desta, dizem eles. Soberbos, e achando que os conhecimentos
científicos que possuem os tornam donos da verdade, os materialistas afirmam
que os "homens cultos" já não acreditam hoje "nessas tolices de
Céu e de Inferno". A única coisa em que crêem é na religião da ciência.
Para eles o mundo surgiu sem a participação de Deus, desenvolveu-se sem Deus e
há de chegar à sua perfeição sem Deus.
Antigamente os intelectuais que negavam a
existência de Deus eram olhados como alguém à parte da sociedade. O ateísmo era
visto como uma atitude hiperintelectual, aristocrática, e por isso desprezada
pelo povo. Porém, no século XX essa situação mudou. Foi a grande estratégia de
Satanás! O ateísmo deixou de ser aristocrático para se tornar popular. Saiu do
domínio intelectual e passou a influenciar a existência de milhões de pessoas.
Diante de problemas como a fome, a guerra e as injustiças, muita gente tem
rejeitado Deus como alguém necessário para a solução desses problemas, e até
mesmo se negado a crer que ele exista.
O ATEÍSMO NA
UNIÃO SOVIÉTICA
Apoderando-se, em outubro de 1917, do governo da
antiga Rússia dos tzares, o Partido Comunista liderado porVladimir Ilitch
Ulianov (1870-1924), conhecido como Lênin, colocou em prática as ideias dos
filósofos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), e
passou a controlar o regime e a situação no país pelo uso da violência,
caracterizando-se também pela intolerância religiosa. Conta-se que o pai de
Lênin, Ilia Nikolaievitsch Oulianof, acreditava na existência de Deus e se
comprazia em recitar as seguintes palavras do escritor
Nekrassof:"Apareceu-me sobre a colina a casa de Deus, e senti, de repente,
uma pureza de fé destilar-se da alma como um perfume.'
Mas Lênin confessava-se ateu desde a sua juventude.
O escritor Dostoievski comentara tempos atrás sobre o quanto era fácil os seus
compatriotas russos tornarem-se ateus! "E mais fácil que a qualquer outro
habitante do globo! E os nossos não se tornam apenas ateus: crêem no ateísmo
como se fosse uma nova religião, sem notarem que é crer no nada." Vários
anos antes da implantação do regime socialista na Rússia, Ivan Fedorovitch (um
dos personagens do romance Os Irmãos Karamazov, escrito por Dostoievski)
comentara:
Segundo o meu parecer, não se deve destruir nada,
senão a ideia de Deus no espírito do homem: é por aí que se tem de começar.
Logo que toda a humanidade tiver chegado a negar a Deus (e creio que a época do
ateísmo universal chegará, como uma época geológica), desaparecerão os antigos
sistemas e sobretudo a antiga moral. Os homens reunir-se-ão para pedir à vida
tudo o que ela pode dar, mas somente e absolutamente a esta vida presente e
terrestre. O espírito humano crescerá, elevar-se-á a um orgulho satânico, e
serão os tempos do deus-humanidade.7
ATEUS
RECONHECEM A EXISTÊNCIA DE DEUS
Porém, apesar de todas as posições radicais,
conta-se que durante a revolução russa, quando a cidade de Petersburg foi
rodeada pelo general Kornilov e suas tropas anti-comunistas, Lenin repetiu
várias vezes, durante um discurso, a expressão: "Dai Boje", que
significa: "Permita Deus escaparmos.' Vários outros episódios envolvendo
autoridades comunistas da Rússia mostram que o povo russo é tão desejoso de
Deus quanto qualquer outro povo sobre a face da Terra. Antes da invasão russa
do Norte da África, o próprio Stalin disse várias vezes: "Que Deus nos dê
êxito na operação Torch." Costumava dizer também que "o passado
pertence a Deus".
O Ministro do Interior dos Negócios Soviéticos,
Iagoda, ao saber que fora condenado à morte por Stalin, disse: "Deve
existir um Deus, porque meus pecados me alcançaram." No seu leito de
morte, o presidente da Liga dos Ateus na Rússia, Iaroslavski, pediu insistentemente
a Stalin: "Queima todos os meus livros! Veja, ele está aqui! Ele
esperou-me. Queima todos os meus livros!"
Atacando inicialmente o catolicismo soviético, o
Partido Comunista concentrou depois sua campanha ateísta contra toda e qualquer
manifestação religiosa dentro do território russo. O objetivo principal era
esmagar de uma vez por todas a ideia da existência de Deus, arrancar a fé em
Deus do coração do povo como quem extirpa um tumor maligno, e bani-la para
sempre da Rússia e dos demais países comunistas. As seguintes palavras,
escritas em 1993 por um membro do partido dos ateus militantes, mostram bem a
que grau havia chegado a perseguição religiosa naquele país:
Devemos agir de maneira que cada golpe vibrado
contra o clero ataque a religião em geral... Ainda os mais cegos veem até que
ponto se torna indispensável a luta decisiva contra o eclesiástico, quer se
chame pastor, abade, rabino, patriarca, mula ou papa; essa luta deve
desenvolver-se também e inelutavelmente contra Deus, quer se chame Jeová, Jesus,
Buda ou Alá.13
Tendo sido definida pelo filósofo Karl Marx como o
ópio do povo, a religião teve entre os comunistas os seus dias contados. O
escritor evangélico russo Richard Wurmbrand, no seu livro A Resposta à Bíblia
de Moscou, fez sobre isso o seguinte comentário:
Em setembro de 1932, uma revista de Moscou,
Molodaia Guardiã (Vanguarda Jovem) anunciou que, de acordo com o plano
ateístico de cinco anos, até 1937 toda manifestação religiosa deveria ser
definitivamente destruída e a Palavra de Deus silenciada para sempre. Isto
porém não aconteceu. O cristianismo está prosperando em muitos países
comunistas, mesmo sob interdição e ameaça de perseguição. Por quê?14
Todavia, e para alegria da comunidade evangélica
mundial, o problema do ateísmo na Rússia sofreu impactantes mudanças após a
queda do muro de Berlim e a fragmentação da antiga União Soviética. Fortíssimos
ventos anunciadores da verdade bíblica e proclamadores da existência de Deus
têm penetrado pelos rasgões existentes na chamada Cortina de Ferro. Agora a
existência de Deus passou a ser assunto do dia-a-dia em milhares de lares
russos.
UMA VIDA SEM
ESPERÂNÇA EM OUTRA VIDA
Não há situação mais triste, mais digna de
compaixão do que a de uma pessoa que vive tão-somente o hoje, o agora, levando
dentro de si a convicção do aniquilamento total após a morte. Há — somos
forçados a reconhecer — uma grandeza tragicamente sinistra neste avançar do
ateu fria e conscientemente para o Nada. Enquanto a morte daquele que aceitou a
Cristo como seu Salvador e lhe foi fiel é iluminada pela esperança da vida
eterna e da ressurreição final, bem diferente é a morte do ateu, do "herói
vermelho" que morre sem nenhuma esperança no Amanhã. O filósofo inglês
Bertrand Russel, confessadamente ateu, no seu livro Porque não Sou Cristão,
traçou, com as seguintes palavras, o perfil psicológico de centenas de milhões
de pessoas que, como ele (Russel já faleceu), tentam parecer serenas,
conformadas e felizes ao marcharem para a morte, convictas de que ela as
aniquilará totalmente:
Acredito que, quando morrer, apodrecerei, e que
nada do meu eu sobreviverá. Não sou jovem e amo a vida. Mas desdenharei tremer
de terror ante a ideia do aniquilamento. A felicidade não é menos felicidade
nem menos verdadeira por ter de chegar a um fim; tampouco o pensamento e o amor
perdem o seu valor por não serem eternos.15
Mais amargo, trágico e dolorosamente nítido foi o
autoperfil ateísta-materialista traçado pelo poeta brasileiro Manuel Bandeira
no poema A Morte Absoluta:
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão — felizes! — num dia,
Banhadas de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da
morte.
Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu poderá satisfazer teu sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."
Morrer mais completamente ainda
— Sem deixar sequer esse nome.16
E AGORA,
DRUMMOND?
E por falar em poeta, Carlos Drummond de Andrade, o
maior poeta brasileiro de todos os tempos, partiu para a eternidade sem crer na
existência de Deus. E toda a sua poesia se ressentiu desse seu posicionamento.
(Acreditamos que um rápido estudo do perfil literário-filosófico de Drummond —
um dos maiores expoentes da cultura moderna na América Latina — fornecerá
elementos aos estudiosos do comportamento religioso da maioria dos intelectuais
latino-americanos).
Tendo nascido no início deste século (1902) em uma
das muitas cidades mineiras enraizadas no catolicismo, o menino Drummond
estudou em estabelecimentos de ensino dirigidos por padres, mas sua obra revela
que esse seu contato com pedagogos e sacerdotes católicos não lhe proporcionou
respostas para as futuras perguntas que o jovem poeta faria, e não o aproximou
de Deus.
Entre os temas que alicerçam o imenso edifício
poético deixado por ele — a vida, o amor, a morte, o homem perdido nas grandes
cidades, sua infância em Minas, a angústia, o eterno adeus de parentes e
amigos, sua luta com as palavras, o difícil ofício de existir —, nota-se a
ausência de temas ligados à alma, à vida eterna, a Deus. Certa vez, durante uma
entrevista, Drummond definiu sua posição diante desses assuntos:
Eu tenho um pensamento tranquilo a respeito das
coisas sobrenaturais. Eu sou — parece pretensioso — agnóstico, aquela pessoa
que não tem argumento nem para negar Deus nem para crer. Não é posição de
mineiro, é visão filosófica antiquíssima. Como não consegui achar uma solução
para este problema, para que me atazanar com isto?
VIVER POR
TEIMOSIA
Mas esse aparente desdém, esse dar de ombros, essa
suposta indiferença com relação a Deus tinha raízes que se lançavam no poço de
Mara (de águas amargosas — Êxodo 15:23) de onde fluiu o tom de resignação e
amargura que revestiu grande parte dos poemas produzidos por ele em sua
maturidade e velhice. Já no seu primeiro livro, publicado em 1930, Drummond,
jovem de 28 anos, mostrava o que tinha sido sua vida até ali: uma tentativa de
mostrar-se superior às vicissitudes existenciais. Mas o jovem poeta não pôde
esconder o sentimento de orfandade e vazio que ia dentro de sua alma, e acusou
Deus de o ter abandonado:
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, porque me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco?17
O gradativo distanciamento da grande questão que
divide a humanidade e define o nosso destino eterno — a crença ou descrença na
existência de Deus — foi delineando pouco a pouco o rumo que tomou a poesia do
autor de Sentimento do Mundo: Uma poesia de resignação e lucidez, de análise
terrivelmente amarga, existencialista (o mais genuíno existencialismo à Jean
Paul Sartre) da condição humana. Para Drummond, o homem é um ser órfão,
entregue à sua própria sorte, e terá que viver por imposição ou teimosia:
O amor não nos explica. E nada basta,
nada é de natureza assim tão casta
que não macule ou perca a sua essência
ao contato furioso da existência.
Nem existir é mais que um exercício
de pesquisar da vida um vago indício,
a provar a nós mesmos que, vivendo,
estamos para doer, estamos doendo.
(O Relógio do Rosário, 1951)
JOSÉ É
QUALQUER HOMEM DO MUNDO
Um dos pontos mais altos na poesia de Drummond é o
poema José:
E agora, José?
A festa acabou
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
"E agora José" tornou-se a frase
conotativa da situação de perplexidade e desespero em que subitamente mergulham
os seres humanos que jamais tiveram um encontro pessoal de salvação com Aquele
que disse: "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e
eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou
manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Pois
o meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mateus 11:28-30).
Além de ter sido um dos quatro maiores poetas da
América Latina (só o nicaraguense Rubem Dario, o chileno Pablo Neruda e o
argentino Jorge Luis Borges tiveram envergadura literária tão grande como a
sua), Drummond tornou-se o grande analista do ser humano que dispõe de inúmeros
recursos modernos, mas de repente percebe que isto de nada lhe vale quando vem
a angústia, quando, mesmo vivendo em uma cidade superpopulosa, a solidão e a
tristeza são suas companheiras de sempre. José é o próprio Drummond, são todos
os homens sem Jesus e esperança de salvação, perdidos nas pequenas e grandes
cidades, distantes da graça de Deus:
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
(José, 1942)
O poeta cresceu na sua poesia, ampliou seu
horizonte temático, universalizou-se, mas sempre procurou manter-se afastado
daquele que seria o Caminho, a Solução, a Porta de salvação para o seu José e
para ele mesmo, Drummond: Jesus! Entre o poeta e Deus havia uma pedra no meio
do caminho. Mas não foi Deus quem colocou essa pedra. Foi o próprio Drummond. E
ele fazia questão de frisar que tudo estava muito bem assim:
Sinceramente, sou uma pessoa terrivelmente
corajosa, porque não espero nada de coisa nenhuma. Não tenho religião, não
tenho partido político. Vivo em paz com meu critério moral. Vivo em paz com a
minha consciência.
SERENAMENTE
FIEL A SUA INCREDULIDADE
Ao declarar isto à imprensa, já com 80 anos de
idade, Drummond mostrou que durante todos aqueles anos permanecera o mesmo
poeta que escrevera o poema Coisa Miserável, em 1934. Sua opinião sobre Deus
permanecera a mesma:
Coisa miserável,
suspiro de angústia
enchendo o espaço,
vontade de chorar,
coisa miserável,
miserável.
Senhor, piedade de mim,
olhos misericordiosos
pousando nos meus,
braços divinos cingindo meu peito,
coisa miserável no pó sem consolo,
consolai-me.
Mas de nada vale gemer ou chorar,
de nada vale
erguer mãos e olhos
para um céu tão longe,
para um deus tão longe
ou, quem sabe?, para um céu vazio.
E melhor sorrir
(sorrir gravemente)
e ficar calado
e ficar fechado
entre duas paredes,
sem a mais leve cólera
ou humilhação.
No Poema da Necessidade (1940), Drummond reconhece:
E preciso crer em Deus, mas resolveu manter-se fiel ao seu posicionamento
agnóstico, ao seu triste estado de orfandade e resignação. Órfão de Deus, em
toda a sua plenitude:
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Por que o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
Es todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos
edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
preferiram (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
(Os ombros suportam o mundo, 1940)
O POETA
DIANTE DA MORTE
Drummond jamais aceitou o fato de sua filha, Maria
Julieta, ter morrido antes dele. Achou que isso fora uma injustiça. Amava
profundamente a filha — esse amor, a simples existência desse amor foi, durante
todo o tempo, uma eloquente prova da existência de Deus; mas essa prova
resultou inútil ao coração do poeta —, e logo após o sepultamento de Maria
Julieta, Drummond pediu à cardiologista que o tratava que lhe receitasse
"um enfarte fulminante". Anos antes, eleja definira sua atitude
diante da morte:
Aceito a ideia da morte. Como não tenho religião,
não vou pedir a Deus para prolongar a minha vida, para me dar uma morte serena.
Aceito a minha sorte. Não adiantaria ficar choramingando quero viver, quero
viver. Só quero morrer tranquilo comigo mesmo. Eu me desejo uma boa morte.
E foi em um completo estado de rejeição a Deus que
o poeta partiu para a eternidade. Teve Drummond uma boa morte?
O ATEÍSMO NA
FILOSOFIA EXISTÊNCIALISTA
Desde os tempos do filósofo francês Blaise Pascal
(1623-1662): "O homem está condenado a fugir de si mesmo, porque assim
escapa da miséria e do pensamento da morte", dizia Pascal —, um fluxo de
pensamento carregado de pessimismo quanto à condição do ser humano no mundo e
diante da vida passou a influenciar a humanidade. Eram as primeiras
manifestações da filosofia existencialista, que teve como fundador o filósofo e
escritor dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855). Tanto Pascal como
Kierkegaard (este último, filho de pais luteranos) acreditavam na existência de
Deus, e até se confessavam cristãos. Daí o motivo de distinguir-se hoje duas
correntes na filosofia existencialista: o existencialismo cristão e o
existencialismo ateu, cujo principal representante é o filosofo francês Jean
Paul Sartre (1905-1980). Enquanto em suas profundas análises da angústia, da
solidão e do destino, Kierkegaard coloca o homem diante de Deus e da
eternidade, Sartre diz que o homem é "uma paixão inútil", está
entregue à sua própria sorte, e é o único responsável pelo seu destino. "O
homem será aquilo que ele houver resolvido ser", dizia Sartre.
Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, o
existencialismo encontrou terreno fértil e propagou-se entre as pessoas
desesperançadas e inimigas de Deus. Como campeão do ateísmo, Sartre foi o
grande responsável por essa propagação. Para constatar isso, basta ler sua obra
filosófica e literária, toda ela dirigida contra Deus. Os existencialistas
afirmam que o homem está no mundo para nada. E um ser estupidamente destinado à
morte, "uma paixão inútil", segundo a conhecida frase de Sartre. Eles
não admitem sequer falar no nome de Deus, e não se ocupam em negá-lo de forma
expressa; simplesmente o ignoram.
O existencialismo é, portanto, a mais radical
posição de ateísmo existente atualmente no mundo, pois afirma que o homem está
no mundo inutilmente, independente de tudo o que consiga realizar. Ele é
incapaz de saber qual foi sua verdadeira origem, mas assim mesmo insiste em
existir sem finalidade alguma, levando dentro de si o selo de uma maldição: o
nada para onde voltará.
BIBLIOGRAFIA
1. Jean Claude Barreau. Op. Cit. pp. 9-11.
2. Citado por José Agostinho de Macedo, no livro
homônimo do de Fénelon, Demonstração da Existência de Deus. Lisboa, Imprensa
Regia, 1816, p. 34.
3. Tito Lucrécio Caro. Da Natureza. Tradução e
notas de Agostinho da Silva. São Paulo, Abril Cultural, 1980, Livro II,
parágrafos 645-650, e 1090-1095.
4. Ludwig Büchner. Force et Matiére. Etudes
populaires d'histoire et de Philosophie naturelles... 5ê edição, Paris, C.
Reinwlad, 1876, 385 pp.
5. Ernest Henrich Haeckel. Les Enigmes deVUniverse.
Trad. do alemão por Camille Bos. Paris. Schleicher fréres, 1902, 460 pp.
6. As citações de número 6, 8 a 12 e 14 foram
extraídas do
livro de Richard Wurbrand, A Resposta à Bíblia de
Moscou, cuja leitura recomendamos em especial. Após lermos esse livro e
fazermos algumas anotações em fichas, nós o perdemos e não pudemos localizar
outro exemplar. Daí a razão de não citarmos as páginas onde se encontram as
respectivas frases utilizadas aqui.
7. Fiódor Dostoievski. Os Irmãos Karamazov.
Tradução de Natália Nunes e Oscar Mendes. São Paulo, Abril Cultural, 1970,
Livro V, capítulo V.
8 a 12: Apud Richard Wurbrand. A Resposta à Bíblia
de Moscou.
13. Jacques Bivort de Ia Saudée. Ensaio de Suma
Católica Contra os Sem-Deus. Tradução de P. Lacroix. Rio de Janei¬ro, José
Olympio Editora, 1939, p. 468.
14. Ibdem. Richard Wurbrand. Op. Cit.
15. Bertrand Russel. Porque Não Sou Cristão.
Tradução de Brenno Silveira. São Paulo. Livraria Exposição do Livro, 1960, p.
24.
16. Manuel Bandeira. Estrela da Vida Inteira
(Poesias Reunidas). 8S edição. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora,
1980, pp. 148, 149.
17. Este e os demais poemas de Drummond foram citados
tomando-se como base o livro Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro, Editora
Nova Aguillar S.A., 1977, 1315 páginas.
Fonte:
"Provas da Existência de Deus"; Jefferson
Magno Costa; editora Vida; pg.55-69.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
DEUS, SEGUNDO FILÓSOFOS E TEÓLOGOS
SÁBIOS RECONHECEM: DEUS EXISTE!
Ao contrário do que muitos ateus pensam, as maiores
inteligências que o mundo já viu, os gênios que deixaram as marcas mais
profundas de sua passagem sobre a face da terra, reconheceram a existência de
Deus. Conforme comentou um apologista cristão, "estas frontes iluminadas
pelos esplendores do gênio, aureoladas pelas glórias do saber, consagradas e
abençoadas pela memória dos homens, curvaram-se humildes e reverentes ante o
nome de Deus."
Apesar de a maioria desses homens jamais ter
alcançado o pleno conhecimento da verdade (pois suas mentes não foram banhadas
na fé e na graça daquele que lhes daria a completa revelação de Deus — Jesus
Cristo), eles viveram como que na penumbra, interrogando e buscando sempre. O
interessante é que todas as investigações feitas na vida desses grandes homens,
desses cérebros privilegiados que estudaram pacientemente os segredos da
natureza, descobriram suas leis e construíram o colossal edifício da ciência
moderna, todas as investigações feitas em suas vidas, repito, revelam que quase
todos eles creram na existência de Deus.
Com muita razão, o filósofo inglês Francis Bacon
(1561-1626) observou que "pouca ciência afasta o homem de Deus, porém
muita ciência a Deus o conduz". Consideremos o período da história humana
em que a filosofia atingiu o seu esplendor. Entre os gregos, precisamente em
Atenas, existiu um filósofo pagão, cuja agudeza de raciocínio e método de
ensinar filosofia aos seus alunos o colocou entre os mais profundos pensadores
de todos os tempos: Sócrates. Já comentamos, no capítulo seis deste livro, que
por não ter concordado com a crença politeísta dos gregos, Sócrates foi julgado
e condenado à morte. (Aliás, este foi um dos motivos de sua condenação). Mas
eis o que esse pensador declarou sobre Deus:
Acredito na existência de um só Deus todo-poderoso,
dotado de sabedoria e bondade absolutas, provadas com a sublime harmonia do
universo e com a maravilhosa organização do corpo humano. Relativamente à fé na
existência de Deus, há nos diversos povos um acordo unânime que faz a
humanidade como que uma só família. A fé religiosa é anterior a toda
civilização; os viajantes não descobrem povo algum sem lhe reconhecerem pelos
menos um culto grosseiro; a história vê por toda parte Deus associado
geralmente tanto às alegrias como às lágrimas da humanidade. Esta crença,
quaisquer que sejam os erros que a tenham obscurecido, longe de favorecer em si
mesma as paixões, combate-as; só pode ter, portanto, como origem, os princípios
que o próprio Deus gravou no espírito humano.
Isto foi dito por um filósofo pagão! Foi diante de
posicionamentos como este que o filósofo cristão Clemente de Alexandria chegou
a declarar que a filosofia dos gregos não continha toda a verdade, "mas em
todo caso era um fragmento da verdade eterna". Além de Sócrates, dois
outros filósofos tornaram a filosofia grega digna das palavras elogiosas de
Clemente. Seus nomes: Platão (429-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.)
PLATÃO
TATEIA NAS TREVAS EM BUSCA DE DEUS
De todos os homens que falaram sobre Deus antes da
Era Cristã, Platão foi o maior. O orador e teólogo francês Bossuet chamava-o de
"divino", e outros teólogos chegaram a compará-lo a Moisés. "Era
Moisés escrevendo em grego", diziam, cheios de admiração diante das obras
desse célebre filósofo.
Nascido em Atenas, Platão, ainda bem moço,
tornou-se aluno de Sócrates, e foi sob a influência e os ensinamentos desse
conhecido pensador grego que ele se tornou filósofo, criando, entre outras
coisas, o Idealismo — sistema das idéias, onde a mais importante de todas elas
é a idéia de Deus. Para nós, apologistas (defensores) do Cristianismo, é
muitissimamente importante sabermos o que a genialidade de Platão descobriu
sobre o Criador do universo. Comparando a verdade à luz, e Deus ao próprio sol
(séculos mais tarde, o escultor e pintor italiano Miguel Ângelo escreveria:
"O sol é a sombra de Deus"), Platão declara:
Se tu abres os olhos, vês a luz, mas o teu olhar
seguinte eleva-se para cima, para a origem de onde toda a luz é oriunda, para o
sol; e quando os olhos do espírito se abrem, vê-se a verdade; mas o segundo
olhar volta-se para onde dimana toda a verdade, para o sol dos espíritos, para
Deus.
Platão costumava afirmar que existe na alma um
ponto central, uma região onde Deus se manifesta ao ser humano "tocando-o
neste ponto e suspendendo-o a ele". A isto Platão chamava 'Voz da
consciência" ou "lei natural gravada no coração". Ele também
dizia que todos os homens deveriam esforçar-se para corrigir em si, mediante a
contemplação da harmonia do Todo, "esses movimentos pessoais e
desordenados que a natureza humana semeou no foco de nossa alma ao sermos
gerados, a fim de que o contemplador recobre sua primeira natureza e, através
dessa semelhança divina, torne-se apto a possuir finalmente a vida perfeita que
Deus oferece aos homens para o tempo presente e para a eternidade".
Ora, não são perfeitamente visíveis, nas palavras
desse filósofo pagão, a doutrina do pecado original e a necessidade de o homem
experimentar a regeneração e voltar ao seu antigo bom relacionamento com Deus?
Se o mundo no tempo de Platão estava mergulhado no pecado, e a humanidade (com
exceção da Nação escolhida) procurava conviver pacificamente com a idolatria e
a corrupção moral, o que teria levado o aluno de Sócrates a detectar entre os
seus contemporâneos, quase 500 anos antes do nascimento do nosso Salvador Jesus
Cristo, a necessidade de regeneração, a não ser o Deus da justiça, da pureza e
da verdade? "Filosofar é amar a Deus", reconhece o grande filósofo.
ARISTÓTELES:
DEUS É O MOTOR QUE MOVE O MUNDO
Nascido em Estagira, Grécia, em 384 a.C,
Aristóteles é o terceiro grande nome da filosofia paga. Mudando-se para Atenas
aos 18 anos de idade, começou a frequentar a escola de Platão, com quem
aprendeu filosofia durante 20 anos. Mais tarde tornou-se professor de Alexandre
o Grande, e fundou sua própria escola. Suas ideias sobre Deus marcaram
profundamente o pensamento dos teólogos cristãos, surgidos cinco séculos após
sua morte. O gigantesco edifício de ciência e cultura criado por Aristóteles
permanece nos séculos e milênios como um monumento imperecível do seu potente
gênio.
Para provar a existência de Deus, Aristóteles criou
o argumento do motor. Diz ele que tudo o que está em movimento é movido por
outra coisa. Tomemos o Sol como exemplo. Ele está em movimento; portanto, outra
coisa o movimenta. Essa coisa que move o Sol, ou está também em movimento ou
está imóvel. Se está imóvel, o argumento de Aristóteles fica demonstrado, ou
seja: que é necessário afirmar a existência de algo que tudo move e que não é movido
por nada: Deus! Porém, se o que move o Sol está também em movimento, isto
significa que ele está sendo movido também por outra força. Aristóteles mostra
que é impossível continuarmos recuando até o infinito. Faz-se, portanto,
necessário afirmar a existência do causador de todos esses movimentos, que não
é outra pessoa senão Deus. Ele é o motor que movimenta tudo!
Alguém já comentou que se há alguma verdade no
ensino dos filósofos e dos cientistas, deve ela vir do próprio Deus da verdade.
Esse comentário está de acordo com o que Aristóteles pensava sobre Deus. No seu
livro Metafísica, Aristóteles admite a existência de um Deus distinto do mundo,
um Deus vivo, onipotente, Causa Primeira, motor imóvel (que move tudo e não é
movido por nada fora de si mesmo), vivente eterno e perfeito; um Deus que é
soberano, infinitamente inteligente, invisível em si mesmo, mas visível em suas
obras, que a tudo governa por sua ação e por sua Providência, como um general
governa um exército. Um Deus justo que castiga o homem livre e violador de sua
lei imutável, e recompensa com a felicidade, agora e no porvir, aos que se unem
à justiça.
Falando dessa maneira sobre Deus, Aristóteles
confirma aqui perfeitamente a frase de Platão: "Todos os sábios não têm
mais que uma voz." Há uma filosofia universal, uma sabedoria natural e
comum; ela é a mesma em todos os homens dóceis à luz da razão; é ela que os
conduz ao reconhecimento da existência de Deus. Todos os pensadores de primeira
ordem chegam à esta conclusão: Deus existe. Porém, hoje vivemos no século do
ateísmo. Milhões de seres humanos vivem separados da fé universal na existência
de Deus: são como "estrelas errantes, para as quais tem sido eternamente
reservada a escuridão das trevas" (Judas v.13).
Vimos, até aqui, que os três maiores pensadores da
filosofia grega (e, podemos dizer, de toda a filosofia paga antes do advento do
cristianismo), reconheceram a existência de Deus, apesar de não terem obtido o
conhecimento de sua essência, conforme o próprio Deus revelou a Moisés no monte
Horebe (Êxodo 3:14). Porém, todos os grandes gênios da humanidade sofreram a
influência de uma espécie de iluminação natural acerca da existência de Deus.
Através da imensa capacidade de raciocínio de que foram dotados (a chamada
razão humana), eles conseguiram obter sólidas provas da existência do criador.
Fica evidenciado deste modo que, através do
trabalho da mente humana (fazendo-se uso da razão, portanto), o homem pode
descobrir pelo menos uma parte da verdade sobre Deus. É o que se chama
"conhecimento natural". Porém, esse conhecimento é incompleto. Foi
necessário que Deus se revelasse à humanidade através de sua Palavra para que
todos pudessem conhecê-lo. Essa revelação alcançou a sua plenitude no seu Filho
Jesus Cristo. Devemos considerar também o fato de que o "conhecimento
natural" que o ser humano pode obter de Deus é insuficiente para levá-lo
ao reconhecimento da necessidade de ele ser alcançado pela salvação
proporcionada por Jesus Cristo. Admitir a existência de Deus não é a mesma
coisa que reconhecer a necessidade de salvação. Foi o que faltou a todos os
homens que alcançaram um conhecimento natural da existência do Criador, sem
terem passado a caminhar, a partir de então, através da fé. É nesse aspecto que
podemos constatar a grande diferença entre os filósofos pagãos e os teólogos.
TEÓLOGOS
FALAM SOBRE DEUS
Se quiséssemos enumerar todos os teólogos que
dedicaram seu tempo e sua vida na busca de um conhecimento maior acerca de
Deus, seria necessário escrevermos vários livros. Na verdade, cada teólogo tem
sido um filósofo a serviço do pensamento cristão. Imaginemos uma reunião desses
homens, onde cada um deles expusesse suas descobertas acerca de Deus. O que
ouviríamos? Para reproduzirmos a voz de alguns desses mais antigos teólogos,
cujas palavras acerca do Criador foram proferidas dezenas e centenas de anos
após a morte do apóstolo Paulo, tomaremos como base alguns dos livros escritos
por eles, mas sobretudo a excelente História da Filosofia Cristã, escrita por
Philotheus Boehner e Etienne Gilson.
CLEMENTE DE
ALEXANDRIA
O mais antigo desses teólogos é Clemente de
Alexandria (150-217 d.C), nascido em Atenas, filho de pais gentios, e
convertido ao cristianismo ainda jovem. Ele ensinava que "é impossível
qualquer conhecimento sem a fé. Esta é o fundamento da verdade". Clemente
insistia muito com os cristãos de sua época para que eles procurassem, através
da busca constante do conhecimento, fortalecer cada vez mais a fé. "A
medida em que vamos crescendo na graça, devemos empenhar-nos por obter um
conhecimento sempre mais perfeito de Deus". Sua contribuição a esse
conhecimento está resumida nestas palavras:
Não sabemos o que Deus é; podemos saber, contudo, o
que ele não é. E impossível conhecê-lo por meio de argumentos baseados em
princípios inferiores a ele; pois Deus não tem causa, senão que, ao contrário,
ele próprio é a razão e a causa de todas as outras coisas. Não foi sem razão
que Paulo pregou, em Atenas, o 'Deus desconhecido', pois a sua essência
permanece incognoscível (não pode ser conhecida) à razão natural.4
ORÍGENES
Filho de Leônidas, que morreu como um dos mártires
do Cristianismo, Orígenes nasceu no Egito no ano 185. Foi um dos maiores
teólogos da Igreja Primitiva, tão apaixonado pelo estudo e divulgação da
teologia, que chegou a castrar-se, num excesso de zelo pela utilização de todo
o seu tempo nesses estudos.
Para Orígenes era impossível existir vários deuses,
pois a harmonia do universo é a grande prova de que só um Arquiteto
todo-poderoso poderia criá-la e mantê-la. "E impossível que a unidade e a
ordem cósmicas se originem de uma multidão de espíritos, ou dos supostos deuses
das esferas". Ele insistia também em mostrar que "Deus é inacessível
a todo entendimento humano", havendo, porém, um meio de o homem natural
obter provas de sua existência: através da observação do universo e das
criaturas. Eis como, resumidamente, Orígenes conceitua Deus:
Deus é Espírito, mas está ainda mais além do
espírito; é o Pai da Verdade, mas é mais que a verdade, e maior do que ela; é o
Pai da sabedoria, mas é melhor que a sabedoria. Deus é Vida, mas é maior que a
vida. Deus é ser, mas está além do ser.5
GREGÓRIO
NAZIANZENO
Nasceu no ano 330, próximo à cidade de Nazianzo.
Assim como Orígenes, Gregório também afirmou que a Criação é a maior testemunha
da existência de um Criador. Seu pensamento pode ser resumido nos seguintes
termos:
"Um simples olhar para a Criação nos
convencerá de que não é nela mesma, e sim em algo transcendente que devemos
buscar-lhe a razão de ser. Quem é o autor desta ordem determinada e concreta
que reina nos corpos celestes e terrestre, bem como em todos os seres que
povoam os ares e as águas? O acaso? Não. E Deus!"6
AGOSTINHO E
SUA GRANDIOSA BUSCA DE DEUS
Enfoquemos agora o pensamento do grande teólogo da
Igreja Primitiva. Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, na Numídia, país da
África, em 354. Foi um dos maiores gênios da teologia e filosofia cristãs de
todos os tempos. Sua herança literária compõe-se de 1.030 obras, entre
tratados, sermões e cartas. O conceito fundamental da existência de Deus
pareceu a Agostinho tão fácil e evidente que o ateísmo deveria ser considerado
loucura de poucas pessoas, devido mais à corrupção do coração do que a uma
verdadeira convicção do espírito.
Logo após sua conversão ao cristianismo, Agostinho
declarou que estava decidido a pesquisar com todo o empenho os mistérios de
Deus: "Estou decidido a possuir a Verdade não só pela fé, senão também
pela inteligência." Lendo e meditando profundamente as Escrituras
Sagradas, Agostinho teceu riquíssimos comentários sobre as dificuldades que o
espírito humano encontra em sua marcha até Deus.
Comentou o grande teólogo que em nosso estado
presente, nossos olhos físicos não estão organizados para contemplar o sol
visível, porém só para olhar o mundo sob a luz desse sol. Os olhos não
suportarão olhar a fonte da luz e sim os objetos iluminados pelos raios dessa
fonte. Este fato está cheio de uma profunda significação. Ocorre o mesmo com a
nossa alma. No estado natural do homem, nesse estado em que nascemos, nossa
alma não é capaz de ver a Deus tal qual ele é pessoalmente, mas é capaz de
contemplar a luz que ele lança sobre a alma e sobre o Universo. Para ver a Deus
é necessário, portanto, uma mudança de natureza. Baseando seus argumentos no
capítulo três do Evangelho de João, Agostinho mostra que esse nascer de novo —
condição indispensável para se ver a Deus — o homem não pode dar-se a si mesmo;
só Deus que o criou.
"Como conhecer a Deus?" — pergunta
Agostinho. "Qual é o itinerário da razão desde a cegueira e a ignorância
em que nascemos, até a visão de Deus? Embora caído, o ser humano não está
definitivamente separado da fonte eterna. Deus abriu-lhe uma porta de regresso
a ele mesmo: Jesus Cristo. Todos, consciente ou inconscientemente, buscam esse
reencontro com Deus."7
No seu livro Confissões, Agostinho relata sua
própria experiência, quando ele ardentemente buscava ter um encontro com o seu
Criador: "Será possível, Senhor meu Deus, que se oculte em mim alguma
coisa que vos possa conter?", — perguntava ele, tateando nas trevas. Para
Agostinho, o mundo visível era um degrau, um ponto de apoio que o ajudava a
elevar-se mais:
Subirei mais alto ainda que essa força existente em
mim, e a tomarei como um degrau para subir Àquele que me criou. Vejamos até
onde pode ir a razão elevando-se do visível ao invisível, do passageiro ao
eterno. Não contemplarei em vão toda essa beleza do céu, o curso regular dos
astros... Não os contemplarei para excitar uma inútil curiosidade, senão que me
servirei deles como de degraus para elevar-me ao Imortal, ao Imutável.9
Para Agostinho, as maravilhas na terra e nos céus
realmente testemunhavam a glória e a existência de Deus, e eram como uma escada
que o fazia subir ao reconhecimento da existência do Criador.
As palavras com que esse grande pesquisador dos
mistérios de Deus registrou o esforço de sua busca são dignas de ser
reproduzidas aqui:
Quando eu busco a meu Deus, não busco forma de
corpo, nem formosura transitória, nem brancura de luz, nem melodia de canto,
nem perfume de flores, nem unguentos aromáticos, nem mel, nem maná deleitável
ao paladar, nem outra coisa que possa ser tocada ou abraçada; nada disso busco,
quando busco a meu Deus. Porém, acima de tudo isto, quando busco a meu Deus,
busco uma luz sobre toda luz, que os olhos não veem, e uma voz sobre toda voz,
que os ouvidos não ouvem, e um perfume sobre todo perfume, que o nariz não
sente, e uma doçura sobre toda doçura, que o paladar não conhece, e um abraço
sobre todos os abraços, que o tato não alcança, porque esta luz resplandece
onde não há lugar, e esta voz soa onde o ar não a leva, e este perfume é
sentido onde o vento não derrama, e este sabor deleita onde não há paladar, e
este abraço é recebido onde nunca será desfeito. 10
ANSELMO: É
IMPOSSIVEL PENSARMOS EM ALGUÉM MAIOR QUE DEUS
Anselmo de Cantuária (1033-1109) é, depois de
Agostinho, o teólogo que mais conseguiu acrescentar algo de considerável ao
conhecimento que os demais teólogos, através de suas meditações, tinham
conseguido sobre Deus. Anselmo era italiano. Como teólogo e filósofo cristão,
ele tornou-se famoso ao escrever dois livros: o Monológio e o Proslógio, onde
tenta demonstrar a existência de Deus sem recorrer à autoridade das Sagradas
Escrituras, com o intuito de provar que existem também evidências
extra-bíblicas da existência do Criador.
E no Proslógio que Anselmo chega à seguinte
conclusão:
Tenho dentro de mim a ideia de um Ser tal que não
se pode imaginar nada maior, isto é, um Ser infinito; logo, esse Ser existe,
pois eu o vejo em certo sentido, desde o momento em que penso nele. O que está
na realidade, além de estar no pensamento, é mais perfeito que o que só está no
pensamento: portanto, Deus é real, porque se não existisse, não seria tal que
não se pode pensar em outro maior.11
Esta famosa prova da existência de Deus passou a
ser conhecida como argumento ontológico.
TOMÁS DE
AQUINO: A FÉ E A RAZÃO — DOIS CAMINHOS PARA DEUS
Neste admirável concerto de vozes ilustres que nos
ensinam que é possível obterem-se provas da existência de Deus através da
razão, destaca-se Tomás de Aquino. O que disse sobre a existência de Deus esse
teólogo italiano, nascido em 1225, é digno de ser conhecido por todos nós,
apologistas do cristianismo.
Aquino afirmou que os meios de se conhecer a Deus
são dados aos seres humanos em todos os lugares e sempre, em nós e fora de nós.
Em nós, o próprio Deus nos ilumina através da fé; fora de nós, ele nos ilumina
também, dando-nos um livro que é sua obra, o mundo. Por que os homens não leem
esse livro? Seus pecados os impedem; este é o obstáculo real, diz Aquino. O
homem é um ser pensante; através de sua capacidade de raciocinar (que nos
distingue dos animais irracionais), através da simples observação da natureza,
ele se depara com provas da existência de Deus. Portanto, tanto a fé como a
razão conduzem o homem ao reconhecimento da existência do Criador. Porém,
"os olhos da alma, enfermos pelo pecado, não podem fixar essa Luz sublime
se não forem purificados pela justiça da fé".12
Usando a luz como ilustração para exemplificar como
a razão e a fé conduzem o ser humano ao conhecimento da existência de Deus,
Aquino diz que durante nossa viagem terrestre, a luz do sol brilha sobre nós de
duas maneiras: Algumas vezes, como uma débil claridade: é a luz da nossa
inteligência natural; é uma partícula da luz eterna, porém distanciada,
defeituosa, comparável a uma sombra com um pouco de luz. Outras vezes a luz
brilha em um grau mais alto, com uma claridade mais abundante, e nos põe como
que em presença do próprio sol. Nessa ocasião nosso olhar estará deslumbrado,
porque contempla o que está acima de nós, acima dos sentidos humanos — essa é a
luz da fé.
Comentando 1 Coríntios 13:12: "Porque agora
vemos em espelho, obscuramente, então veremos face a face; agora conheço em
parte, então conhecerei como sou conhecido" (ARA), Aquino diz que para o
homem natural, a criação inteira é um espelho. "A ordem, a beleza, a
grandeza que Deus espalhou sobre suas obras nos fazem conhecer sua sabedoria,
sua verdade e sua divina infinitude. Esse é o conhecimento que se tem chamado
visão em um espelho." O que é, portanto, a visão face a face? Aquino
responde:
Quando vemos em um espelho, não vemos a própria
coisa, senão sua imagem. Mas quando vemos face a face, vemos a própria coisa
tal como ela é. Quando o apóstolo diz que na Pátria veremos a Deus face a face,
quer dizer que veremos a essência de Deus. Do mesmo modo como Deus conhece a
minha essência, conhecerei também a Deus em sua essência.1
Poderíamos citar aqui a frase de Platão a respeito
da semelhança de conclusões a que chegaram os maiores filósofos sobre Deus:
"Todos eles têm a mesma linguagem". O mesmo ocorre com os teólogos
antigos e modernos: eles depositaram suas vidas e inteligências aos pés daquele
a quem deviam tudo — Deus. Veremos, a seguir, que não só filósofos e teólogos
fazem parte desse coral de vozes ilustres que proclamam a existência de Deus:
os cientistas também deixaram os seus testemunhos.
BIBLIOGRAFIA
1. Leonel Franca, in O Problema de Deus. 2- edição,
Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1955, p. 176.
2. Aristóteles. Metafísica. Edição trilingüe
(grego, latim e espanhol), por Valentim Garcia. Madri, Editorial Grados, 1970,
Vol. I, p. 73.
3. Philoteus Boehner e Etienne Gilson: História da
Filosofia Cristã. Tradução de Raimundo Vier. 3§ edição. Petrópolis, Vozes,
1985, p. 39.
4. Idem. Op. Cit. p. 44.
5. Idem. Op. Cit. p. 59.
6. Idem. Op. Cit. p. 82.
7. Idem. Op. Cit. p. 167.
8. Aurélio Agostinho. Confissões. Livro I. Capítulo
2, parágrafo 2. Tradução de J. Oliveira Santos. São Paulo, Abril Cultural,
1980.
9. August Gratry, Op. Cit. p. 217.
10. Marcelino Menendez y Pelayo. Op. Cit. Vol. 2,
p. 86.
11. Anselmo de Cantuária. Proslógio. Tradução e
notas de ' Ângelo Ricci. 2- edição, São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 102.
12. August Gratry. Op. Cit. pp. 332, 333.
Fonte:
"Provas da Existência de Deus"; Jefferson
Magno Costa; editora Vida; pg.81-91.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
COMO PODEMOS CONHECER A DEUS? BUSCANDO A FACE DO INVISÍVEL
Como é possível a nós, seres humanos, limitados
pela matéria, conhecermos a Deus, que é ilimitado e Espírito puro? Poderemos
sondá-lo, chegar ao mais profundo de sua onipotência? Ele é mais alto que os
céus, e mais profundo que o maior de todos os abismos. Sua grandeza é
humanamente insondável. Ele é superior ao mar e à terra. 'Porventura
desvendarás os arcanjos de Deus ou penetrarás até a perfeição do
Todo-poderoso?" perguntou o patriarca Jó.
"Como as alturas dos céus é a sua sabedoria:
que poderás fazer? Mais profunda é ela do que o abismo: que poderás saber? A
sua medida é mais longa do que a terra, e mais larga do que o mar" (Jó
11:7,9. ARA).
Nossa capacidade de conhecer as coisas reside nos
órgãos sensoriais do nosso corpo: os cinco sentidos — olfato, paladar, tato,
visão e audição — que nos foram dados por Deus e nos permitem entrar em contato
com a natureza. Porém, eles foram ajustados para nos fornecer informações sobre
o mundo visível, palpável — o mundo material —, mas são incapazes de nos
colocar em contato direto com o invisível, o impalpável — o mundo espiritual.
Todavia, apesar de não nos ser possível ter uma
visão imediata e direta de Deus, podemos chegar, através desses mesmos
sentidos, ao reconhecimento de sua existência através do seu reflexo no espelho
da natureza — as obras de suas mãos. Só desta forma nos é possível, humanamente
falando, obtermos o conhecimento de Deus. Isto, de acordo com os nossos
próprios esforços e capacidade natural. Não estamos levando em conta aqui o
conhecimento e experiências que podemos obter no aspecto espiritual. Isto será
estudado mais à frente.
CONHECIMENTO
NATURAL E CONHECIMENTO REVELADO
Porém, devemos distinguir aqui os dois tipos de
conhecimento que podemos obter de Deus: o natural e o revelado. O conhecimento
natural de Deus é aquele que obtemos através daquilo que nos diferencia dos
animais irracionais: nossa capacidade de pensar, ou seja, nossa razão.
Portanto, todo homem tem à sua disposição as provas da existência de Deus,
refletidas no espelho de tudo o que Deus criou no Universo. E por isso que o
ateu será indesculpável diante destes testemunhos; é o que diz Paulo em Romanos
1:20.
Todavia, sabendo Deus que os poderes da razão
humana só eram capazes de fornecer ao homem um conhecimento natural acerca de
sua existência, e que esse conhecimento era insuficiente para desvendar à
humanidade a necessidade de que todos se arrependessem e fossem salvos dos seus
pecados, Deus se revelou a nós através de sua Palavra e de seu Filho Jesus
Cristo. Este é o conhecimento revelado.
Como não nos era possível obter um conhecimento
sobrenatural de Deus do mesmo modo como podemos obter o conhecimento natural,
alguém teve que nos ajudar a chegar a esse conhecimento. Esse alguém é Cristo.
Só aqueles que forem alcançados pela graça através da fé em Jesus Cristo é que
poderão obter esse conhecimento sobrenatural (ou revelado) de Deus. Esta
verdade constitui-se em um dos pilares do Evangelho de João: "Ninguém
nunca viu a Deus, mas o Deus unigênito, que está ao lado do Pai, é quem o
revelou" (João 1:18).
CRISTO, A
PLENITUDE DA REVELAÇÃO DE DEUS
Deus revelou-se ao homem primeiramente no
"espelho" do universo e no tribunal de sua consciência, depois em sua
Palavra, inspirada aos patriarcas e profetas, e finalmente no seu Filho Jesus
Cristo: "Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras,
aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem
constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo"
(Hebreus 1:1, 2. ARA).
Assim, pois, à medida que passamos a tomar parte do
infinito conhecimento que Cristo tem de Deus, já não contemplamos a Deus com os
olhos puramente humanos, mas com os olhos humano-divinos de Cristo, e deste
modo poderemos compreender em profundidade e glória aquilo que nos seria
impossível conhecer através dos limitados poderes da nossa razão.
A fé torna possível à nossa mente a obtenção do
conhecimento sobrenatural (que está acima do natural) dos imensos mistérios de
Deus. "O conceito cristão de revelação é este: a verdade que os homens não
podem enxergar por si, sem o auxílio divino, é apresentada em Cristo através da
operação da divina graça" — escreve Allan Richardson. Pela fé em Jesus
Cristo é que descobrimos a face de Deus.
O fato de Deus nos ter falado em linguagem de homem
através de seu Verbo mudou completamente as perspectivas de toda a busca da
Divindade. Hoje, os que aceitamos Jesus Cristo como Salvador, caminhamos em
direção a Deus guiados pelo Filho, que nos revela o Pai através de sua
doutrina, de sua vida e do seu Espírito.
EXISTE
HARMONIA ENTRE A RAZÃO E A FÉ?
Porém, devemos atentar para o fato de haver pessoas
que afirmam ser impossível obter-se sequer uma prova da existência de Deus
através da razão. Crê-se na existência de Deus, na Bíblia como sua Palavra e em
Jesus Cristo como Salvador do mundo tão-somente fazendo-se uso da fé: mas
provas mesmo não existem, afirmam. Tais pessoas são conhecidas como fideístas.
A sua fé é cega. Acreditam que, quando se trata de fé, a razão (ou seja: a
capacidade da mente humana raciocinar) não deve tomar parte. Por isso elas
fecham os olhos e esforçam-se para continuar crendo, apesar de imaginarem que
qualquer avaliação dos porquês de sua crença abalaria os fundamentos de sua fé.
Tais pessoas estão perigosamente enganadas.
"Eu creio, mas desejo compreender", dizia o teólogo Anselmo. E este
deve ser o lema de todo crente que deseja estar em condições de cumprir o que
nos aconselhou Pedro: "... antes, santificai a Cristo como Senhor, em
vossos corações, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos
pedir razão da esperança que há em vós" (1 Pedro 3:15). Em nossa
trajetória em busca do conhecimento dos mistérios de Deus, não existe conflito
entre a fé e a razão. Há crentes que desconhecem o quanto o uso da razão é
importante em nossos esforços para penetrarmos os mistérios relacionados com a
nossa salvação. É certo que é Deus quem revela esses mistérios. Porém, Ele nos
fala tanto ao nosso coração como à nossa mente, para nos levar à certeza de que
nossa fé está fundamentada em bases seguras. Ela não é cega, nem irracional.
Diante disto, afirmamos convictamente que a Bíblia
sairá triunfante como um livro verdadeiro, como Palavra da verdade, em qualquer
análise a que for submetida. Nossa fé na Bíblia é uma fé possível de ser
provada. Assim como existem provas racionais da existência de Deus, existem
também inúmeras provas de que a Bíblia é realmente a Palavra da Verdade, e está
acima de todos os livros existentes no mundo. Porém, os crentes que desconhecem
esse fato preferem fechar os olhos e crer. Eles temem que, se os abrirem, ou
seja: se sua fé for submetida ao teste da razão, eles se tornarão incrédulos.
O teólogo inglês Ricardo Hooker fez o seguinte
comentário sobre esses crentes: "Há um bom número de gente que pensa não
poder admirar, como é preciso, o poder e a autoridade da Palavra de Deus, caso
nas coisas divinas se possa atribuir qualquer força à razão humana. Por esse
motivo nunca usam de boa vontade a razão, temendo levar a Bíblia a
descrédito." Avisamos aqui a essas pessoas que elas podem ficar
tranqüilas: a Bíblia não corre esse perigo.
A
IMPORTÂNCIA DA FÉ E DA RAZÃO PARA O CONHECIMENTO DE DEUS
Biblicamente, a fé "é a certeza de coisas que
se esperam, a convicção de fatos que se não veem" (Hebreus 11:1).
Teologicamente, ela significa a aceitação de algo como verdade, que tem por
fundamento o testemunho de Deus manifestado em um fato histórico. A fé gera a
confiança. Ela não é produto de um sentimento cego. Não é algo que nada tenha a
ver com provas, ou que a estas se oponha. A fé e a razão são os dois trilhos
que nos conduzem à Verdade, a Deus. Cristo deixou bem claro que a nossa fé não
pode ser cega: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará"
(João 8:32). Portanto, nós alcançamos o conhecimento de Deus pelo caminho da fé
e pelo caminho da razão ao mesmo tempo. Paulo fala em apresentarmos o nosso
culto "racional" a Deus (Romanos 12:1). E o que devemos fazer.
Anselmo costumava dizer que o modo correto de
agirmos no que tange ao relacionamento da nossa inteligência com a fé "é
crermos nas coisas profundas da religião cristã antes de nos pormos a
discuti-las com a nossa razão". O crente deve conscientizar-se de que a fé
não se opõe à razão. Crer é o primeiro passo que se deve dar no caminho em
busca do entendimento. Nós cremos para poder compreender. "A fé é o degrau
da compreensão, e a compreensão é o prêmio da fé", disse um grande teólogo.
"Se não crerdes, não entendereis", é o que está escrito em Isaías
7:9, na tradução Septuaginta da Bíblia (do hebraico para o grego). Portanto, a
fé é o caminho para o entendimento, é a condição indispensável para penetrarmos
na revelação de Deus. A ausência de fé torna impossível tanto agradarmos a Deus
(Hebreus 11:6), como entendermos os seus mistérios.
Além do mais, a Palavra de Deus não pode penetrar
em uma criatura irracional. Para que alguém creia, é necessário que seja capaz
de pensar. "Pereça a ideia de que devemos acreditar não termos necessidade
de buscar uma razão para aquilo que cremos, porque, de fato, já não poderíamos
crer se não tivéssemos almas racionais", observou Agostinho, esse grande
estudioso das Escrituras.
Quanto à fé, ela não é fruto da simplicidade
supersticiosa; não é também uma simples impressão do sentimento religioso. Ela
é o ato mais elevado da razão que, reconhecendo sua natureza finita e limitada
no caminho da verdade, aceita aquilo que se encontra no terreno da revelação de
Deus ao homem. A fé em Jesus Cristo é, portanto, o ponto mais alto a que pode
chegar a razão humana. Só nela o imenso desejo de conhecimento que há dentro do
ser humano encontra a suprema elevação e a plenitude de sua busca, o espírito
humano encontra o almejado descanso, e o coração, a paz.
Em uma de suas cartas, um cristão da Igreja
Primitiva declarou que os filósofos platônicos tinham pressentido a
invisibilidade, imutabilidade e incorporabilidade da natureza divina, mas
haviam desprezado o caminho que conduz a ela, porque lhes pareceu uma loucura o
Cristo crucificado; por isso, não puderam chegar a Deus, que "é o
santuário íntimo do repouso, tendo, porém, descoberto de longe a imensa
claridade que ele derrama".
DEUS: O QUE
OU QUEM ELE É?
Quando estivermos falando acerca de Deus, ou quando
ouvirmos alguém falando sobre ele, é bom sabermos que existem três diferentes
maneiras de se imaginar qual é a posição de Deus com relação ao mundo.
DEÍSMO
Certas pessoas afirmam que Deus está no mundo e é o
seu Criador, mas não exerce domínio completo sobre ele. São os chamados
deístas. Eles estão divididos entre os que acham que Deus não pode intervir no
mundo, pois quebraria as leis naturais (e produziria, assim, o milagre), e os
que afirmam que ele não quer intervir no mundo: Deus criou tudo e em seguida
abandonou a Criação à sua própria sorte, é o que dizem. Segundo essas pessoas,
Deus, ou não se importa com o mundo e os seres humanos, ou suas mãos estariam
amarradas pelas leis que ele próprio criou.
Porém, a vida sobre a face da Terra e no Universo
não é um jogo de forças que se sucedem sem ponto de partida ou de chegada. Não
é uma viagem na incerteza, sem finalidade. Não. A vida é produto da vontade
divina, projetada desde a eternidade, determinada e dirigida por Deus, mas
executada livremente. Não é o cego acaso que reina sobre o destino dos seres
humanos, e sim a mão de Deus. O nosso Deus não é um ídolo surdo e insensível,
que habita em regiões inacessíveis e entrega o universo ao acaso. Jesus Cristo,
no capítulo seis do Evangelho de Mateus, descreve com expressão lírica o
cuidado paternal dessa Providência divina que alimenta os pássaros e veste de
esplendor os lírios do campo, que se preocupa com as coisas mais pequeninas, e
muito mais com os homens, criados à sua imagem e semelhança.
Os deístas se esquecem da fidelidade do Senhor em
socorrer aqueles que nele confiam, conforme fala o salmista (Salmos 69:13;
121:2). "Eis que eu sou o Senhor, o Deus de todos os viventes; acaso
haveria coisa demasiadamente maravilhosa para mim?" (Jeremias 32:27).
PANTEÍSMO
Existe outra idéia errada acerca de Deus. É o
panteísmo. Os panteístas dizem que tudo é Deus, todas as coisas são como
pedaços dele: o sol, uma formiga, o homem, uma pedra, uma flor. "Deus é
como uma imensa folha de papel, rasgada em inúmeros pedacinhos' , seria o
conceito panteísta, em sua forma mais simples. Os panteístas se esquecem de que
Deus criou o Universo, mas é superior a toda a Criação. "Sê exaltado, ó
Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória" (Salmo
57:11). O evangelista João, vislumbrando na Ilha de Patmos essa superioridade
do Deus Criador, escreveu: "Tu és digno, Senhor Deus nosso, de receber a
glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da
tua vontade vieram a existir, e foram criadas" (Apocalipse 4:11).
TEÍSMO
A afirmação da existência de um Deus pessoal e
superior ao mundo chama-se teísmo. Os teístas afirmam não só que Deus existe,
mas também que nos é possível conhecê-lo e demonstrar sua existência. Deus está
em todo o universo como causa sustentadora dele, mas não é sujeito às suas
forças, e sim superior. "Eis que os céus e os céus dos céus são do Senhor
teu Deus, a terra e tudo o que nela há" (Deuteronômio 10:14).
Deus é Espírito, e todo aquele que o adora deve
adorá-lo em espírito e em verdade (João 4:24). Tudo quanto existe, só por ele
subsiste: 'Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos..." (Atos 17:28).
Ele a tudo conduz, e exerce domínio sobre tudo, e não está sujeito a mudanças
(Tiago 1:17). Deus é a verdadeira luz: vê tudo e conhece tudo. Sonda os arcanos
mais profundos dos corações, nada lhe pode escapar. O passado e o futuro, tudo
lhe é presente. Ele é a luz que "...ilumina a todo o homem" (João
1:9). "Deus é o Sol do mundo espiritual; se ele se esconder aos nossos
olhos, tudo para nós será trevas. Se faz brilhar a sua luz em nosso espírito, a
verdade se nos mostra em todo o seu esplendor, porque ele mesmo é a verdade por
excelência.'
Graças à sua luz é que alcançamos todos os
conhecimentos que podemos adquirir; nele é que os encontramos. Ele é o padrão
eterno dos nossos pensamentos, dos nossos julgamentos e das nossas ações.
ONDE DEUS
ESTÁ?
Vimos até aqui que a humanidade tem buscado a Deus
ao longo da história. Os que o têm procurado sedentamente estão divididos em
quatro grupos, de acordo com o que pensam acerca do lugar onde Deus está.
DEUS
"NO PRINCÍPIO"
As mais antigas religiões da terra sempre
consideraram Deus como o ser que deve ser procurado "para trás", ou
seja, na origem de tudo, no Princípio, no ponto onde ele começou a manifestar o
seu poder sobre o mundo. Nas origens da Criação e no mistério do aparecimento
do homem sobre a face da terra é onde Deus se revela, dizem essas antigas
religiões.
DEUS
"LÁ EM CIMA"
Outras pessoas, como o filósofo grego Plotino,
passaram a pensar em Deus como aquele que está "lá em cima", na mais
alta de todas as regiões do Universo. Plotino dizia que o mundo desliza sempre
para baixo, para o lado oposto onde Deus está, e o homem, só através da
purificação avançará de volta para Deus e unir-se-á a ele.
DEUS
"LÁ FORA"
Outro grupo de pensadores tem admitido que Deus
está sempre além dos nossos limites, está "lá fora". Ele é o Além sem
fronteiras, fora do alcance de nossa compreensão.
DEUS
"DENTRO DE NÓS"
Devido ao avanço da ciência moderna, muitos
pensadores passaram a afirmar que esse progresso científico tornou impossíveis
e superadas as ideias de Deus 'lá em cima" ou "lá fora". Ele
está é "dentro de nós", na profundeza do nosso ser, é o nosso próprio
fundamento. Não podendo ir "além", ou "para baixo", ou
"para cima", o homem certamente poderá ir "para dentro", ou
seja: para a profundidade do seu ser, onde Deus está à sua espera.
Para o estudioso das coisas de Deus, estas opiniões
históricas sobre sua posição com relação à humanidade são úteis. Porém, segundo
observou o teólogo suíço Karl Barth, talvez o maior valor dessas ideias seja
mostrar que tudo quanto o homem pode dizer a respeito de Deus é confessar sua
incapacidade de conhecê-lo através de seus próprios esforços. Deus é
insondável. "Ele é o abismo secreto, mas também a pátria escolhida que
está no início e no fim de todos os nossos caminhos."7
Jesus Cristo é o mediador não só da nossa salvação,
mas também de todo o nosso conhecimento de Deus. O pecado prejudicou
grandemente no homem sua antiga semelhança ao Criador. Portanto, para que essa
semelhança possa ser restaurada, é necessário um novo nascimento (João 3:3-6).
Só Jesus Cristo é capaz de recuperar para o homem sua antiga condição perante
Deus, perdida no Éden.
O HOMEM DEVE
UNIR-SE A DEUS
É necessário esclarecermos que até aqui, diante de
tudo o que lemos, temos apenas nos aproximado racionalmente do insondável
abismo de luz que é Deus; nós o temos contemplado tão-somente de fora, da
superfície. O mistério jaz à nossa frente, como um desafio.
Todavia, temos certeza de que tudo o que nos foi
revelado sobre ele tem servido para nos conscientizar de que a grande
finalidade da vida humana é buscar a Deus, é temer o seu nome e guardar seus
mandamentos (Eclesiastes 12:13). Essa busca deve transportar o homem para além
do conhecimento estéril, e conduzi-lo à fé. O crente sincero deve "buscar
a face de Deus", instruindo-se a respeito do Senhor e de suas perfeições
(Salmo 105:4), sabendo, porém, que nenhum mortal terá de Deus um conhecimento
direto, imediato e pessoal. Só a alma glorificada nos altos céus o verá face a
face. Unamos a nossa voz à de um antigo cristão, e façamos nossa esta sua
belíssima súplica:
Entra Senhor, em nossos corações, e com o
resplendor do teu santo fogo ilumina qualquer escuridão que haja em nós. Como
excelente guia que és, mostra-nos o teu caminho nesse escuro labirinto, corrige
as imperfeições de nossos sentidos... Mergulha-nos naquela fonte perenal de
contentamento que sempre deleita e nunca farta, e a quem bebe de suas vivas e
frescas águas proporciona o sabor da verdadeira bem-aventurança.
Tira de nossos olhos, com os raios de tua luz, a
névoa da nossa ignorância, a fim de que não apreciemos mais formosura mortal
alguma, e saibamos que as coisas que pensamos ser não são, e aquelas que não
vemos, verdadeiramente são. Recolhe e recebe nossas almas, que a ti se
oferecem; abrasa-as naquela viva chama que consome toda material baixeza, de
maneira que, em tudo separadas do corpo, com um perpétuo e doce enlace
juntem-se e se atem com a formosura divina; e nós, de nós mesmos separados, no
Amado possamos nos transformar, e, sendo levantados dessa baixa Terra, possamos
ser admitidos no convívio dos anjos, e sobretudo em tua presença..."8
BIBLIOGRAFIA
1. Allan Richardson. Apologética Cristã. 2§ edição.
Tradução de Waldemar W. Wey. Rio de Janeiro, JUERP, 1978, p. 89.
2. Idem, Op. Cit. citando a epístola CXX, 3, 4 de
Agostinho.
3. Anselmo de Cantuária. Op. Cit. p. 87.
4. Allan Richardson, citando Agostinho. Op. Cit. p.
37.
5. Rangel Veloso, autor espírita, no livro
Pseudos-Sábios ou Falsos Profetas. Edição do Autor. Rio de Janeiro, 1947, p.
34.
6. Hegel, Georg Willhem Friedrich. Las Pruebas de
Ia Exis¬tência de Dios. Tradução do alemão por A. Garzon dei Camino. 1- edição,
México, Editora Alameda, 1955, p. 117.
7. Quevedoy Villegas. Tratados Filosóficos.
Tradução de Juan David Garcia. Caracas, Imp. Nacional, 1955, p. 238.
8. Palavras do grande teólogo espanhol Luís de
Granada, citadas pelo erudito Marcelino Menendez y Pelayo, Op. Cit. Vol. 3, p.
326.
Fonte:
"Provas da Existência de Deus"; Jefferson
Magno Costa; editora Vida; pg.107-116.
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