SÁBIOS RECONHECEM: DEUS EXISTE!
Ao contrário do que muitos ateus pensam, as maiores
inteligências que o mundo já viu, os gênios que deixaram as marcas mais
profundas de sua passagem sobre a face da terra, reconheceram a existência de
Deus. Conforme comentou um apologista cristão, "estas frontes iluminadas
pelos esplendores do gênio, aureoladas pelas glórias do saber, consagradas e
abençoadas pela memória dos homens, curvaram-se humildes e reverentes ante o
nome de Deus."
Apesar de a maioria desses homens jamais ter
alcançado o pleno conhecimento da verdade (pois suas mentes não foram banhadas
na fé e na graça daquele que lhes daria a completa revelação de Deus — Jesus
Cristo), eles viveram como que na penumbra, interrogando e buscando sempre. O
interessante é que todas as investigações feitas na vida desses grandes homens,
desses cérebros privilegiados que estudaram pacientemente os segredos da
natureza, descobriram suas leis e construíram o colossal edifício da ciência
moderna, todas as investigações feitas em suas vidas, repito, revelam que quase
todos eles creram na existência de Deus.
Com muita razão, o filósofo inglês Francis Bacon
(1561-1626) observou que "pouca ciência afasta o homem de Deus, porém
muita ciência a Deus o conduz". Consideremos o período da história humana
em que a filosofia atingiu o seu esplendor. Entre os gregos, precisamente em
Atenas, existiu um filósofo pagão, cuja agudeza de raciocínio e método de
ensinar filosofia aos seus alunos o colocou entre os mais profundos pensadores
de todos os tempos: Sócrates. Já comentamos, no capítulo seis deste livro, que
por não ter concordado com a crença politeísta dos gregos, Sócrates foi julgado
e condenado à morte. (Aliás, este foi um dos motivos de sua condenação). Mas
eis o que esse pensador declarou sobre Deus:
Acredito na existência de um só Deus todo-poderoso,
dotado de sabedoria e bondade absolutas, provadas com a sublime harmonia do
universo e com a maravilhosa organização do corpo humano. Relativamente à fé na
existência de Deus, há nos diversos povos um acordo unânime que faz a
humanidade como que uma só família. A fé religiosa é anterior a toda
civilização; os viajantes não descobrem povo algum sem lhe reconhecerem pelos
menos um culto grosseiro; a história vê por toda parte Deus associado
geralmente tanto às alegrias como às lágrimas da humanidade. Esta crença,
quaisquer que sejam os erros que a tenham obscurecido, longe de favorecer em si
mesma as paixões, combate-as; só pode ter, portanto, como origem, os princípios
que o próprio Deus gravou no espírito humano.
Isto foi dito por um filósofo pagão! Foi diante de
posicionamentos como este que o filósofo cristão Clemente de Alexandria chegou
a declarar que a filosofia dos gregos não continha toda a verdade, "mas em
todo caso era um fragmento da verdade eterna". Além de Sócrates, dois
outros filósofos tornaram a filosofia grega digna das palavras elogiosas de
Clemente. Seus nomes: Platão (429-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.)
PLATÃO
TATEIA NAS TREVAS EM BUSCA DE DEUS
De todos os homens que falaram sobre Deus antes da
Era Cristã, Platão foi o maior. O orador e teólogo francês Bossuet chamava-o de
"divino", e outros teólogos chegaram a compará-lo a Moisés. "Era
Moisés escrevendo em grego", diziam, cheios de admiração diante das obras
desse célebre filósofo.
Nascido em Atenas, Platão, ainda bem moço,
tornou-se aluno de Sócrates, e foi sob a influência e os ensinamentos desse
conhecido pensador grego que ele se tornou filósofo, criando, entre outras
coisas, o Idealismo — sistema das idéias, onde a mais importante de todas elas
é a idéia de Deus. Para nós, apologistas (defensores) do Cristianismo, é
muitissimamente importante sabermos o que a genialidade de Platão descobriu
sobre o Criador do universo. Comparando a verdade à luz, e Deus ao próprio sol
(séculos mais tarde, o escultor e pintor italiano Miguel Ângelo escreveria:
"O sol é a sombra de Deus"), Platão declara:
Se tu abres os olhos, vês a luz, mas o teu olhar
seguinte eleva-se para cima, para a origem de onde toda a luz é oriunda, para o
sol; e quando os olhos do espírito se abrem, vê-se a verdade; mas o segundo
olhar volta-se para onde dimana toda a verdade, para o sol dos espíritos, para
Deus.
Platão costumava afirmar que existe na alma um
ponto central, uma região onde Deus se manifesta ao ser humano "tocando-o
neste ponto e suspendendo-o a ele". A isto Platão chamava 'Voz da
consciência" ou "lei natural gravada no coração". Ele também
dizia que todos os homens deveriam esforçar-se para corrigir em si, mediante a
contemplação da harmonia do Todo, "esses movimentos pessoais e
desordenados que a natureza humana semeou no foco de nossa alma ao sermos
gerados, a fim de que o contemplador recobre sua primeira natureza e, através
dessa semelhança divina, torne-se apto a possuir finalmente a vida perfeita que
Deus oferece aos homens para o tempo presente e para a eternidade".
Ora, não são perfeitamente visíveis, nas palavras
desse filósofo pagão, a doutrina do pecado original e a necessidade de o homem
experimentar a regeneração e voltar ao seu antigo bom relacionamento com Deus?
Se o mundo no tempo de Platão estava mergulhado no pecado, e a humanidade (com
exceção da Nação escolhida) procurava conviver pacificamente com a idolatria e
a corrupção moral, o que teria levado o aluno de Sócrates a detectar entre os
seus contemporâneos, quase 500 anos antes do nascimento do nosso Salvador Jesus
Cristo, a necessidade de regeneração, a não ser o Deus da justiça, da pureza e
da verdade? "Filosofar é amar a Deus", reconhece o grande filósofo.
ARISTÓTELES:
DEUS É O MOTOR QUE MOVE O MUNDO
Nascido em Estagira, Grécia, em 384 a.C,
Aristóteles é o terceiro grande nome da filosofia paga. Mudando-se para Atenas
aos 18 anos de idade, começou a frequentar a escola de Platão, com quem
aprendeu filosofia durante 20 anos. Mais tarde tornou-se professor de Alexandre
o Grande, e fundou sua própria escola. Suas ideias sobre Deus marcaram
profundamente o pensamento dos teólogos cristãos, surgidos cinco séculos após
sua morte. O gigantesco edifício de ciência e cultura criado por Aristóteles
permanece nos séculos e milênios como um monumento imperecível do seu potente
gênio.
Para provar a existência de Deus, Aristóteles criou
o argumento do motor. Diz ele que tudo o que está em movimento é movido por
outra coisa. Tomemos o Sol como exemplo. Ele está em movimento; portanto, outra
coisa o movimenta. Essa coisa que move o Sol, ou está também em movimento ou
está imóvel. Se está imóvel, o argumento de Aristóteles fica demonstrado, ou
seja: que é necessário afirmar a existência de algo que tudo move e que não é movido
por nada: Deus! Porém, se o que move o Sol está também em movimento, isto
significa que ele está sendo movido também por outra força. Aristóteles mostra
que é impossível continuarmos recuando até o infinito. Faz-se, portanto,
necessário afirmar a existência do causador de todos esses movimentos, que não
é outra pessoa senão Deus. Ele é o motor que movimenta tudo!
Alguém já comentou que se há alguma verdade no
ensino dos filósofos e dos cientistas, deve ela vir do próprio Deus da verdade.
Esse comentário está de acordo com o que Aristóteles pensava sobre Deus. No seu
livro Metafísica, Aristóteles admite a existência de um Deus distinto do mundo,
um Deus vivo, onipotente, Causa Primeira, motor imóvel (que move tudo e não é
movido por nada fora de si mesmo), vivente eterno e perfeito; um Deus que é
soberano, infinitamente inteligente, invisível em si mesmo, mas visível em suas
obras, que a tudo governa por sua ação e por sua Providência, como um general
governa um exército. Um Deus justo que castiga o homem livre e violador de sua
lei imutável, e recompensa com a felicidade, agora e no porvir, aos que se unem
à justiça.
Falando dessa maneira sobre Deus, Aristóteles
confirma aqui perfeitamente a frase de Platão: "Todos os sábios não têm
mais que uma voz." Há uma filosofia universal, uma sabedoria natural e
comum; ela é a mesma em todos os homens dóceis à luz da razão; é ela que os
conduz ao reconhecimento da existência de Deus. Todos os pensadores de primeira
ordem chegam à esta conclusão: Deus existe. Porém, hoje vivemos no século do
ateísmo. Milhões de seres humanos vivem separados da fé universal na existência
de Deus: são como "estrelas errantes, para as quais tem sido eternamente
reservada a escuridão das trevas" (Judas v.13).
Vimos, até aqui, que os três maiores pensadores da
filosofia grega (e, podemos dizer, de toda a filosofia paga antes do advento do
cristianismo), reconheceram a existência de Deus, apesar de não terem obtido o
conhecimento de sua essência, conforme o próprio Deus revelou a Moisés no monte
Horebe (Êxodo 3:14). Porém, todos os grandes gênios da humanidade sofreram a
influência de uma espécie de iluminação natural acerca da existência de Deus.
Através da imensa capacidade de raciocínio de que foram dotados (a chamada
razão humana), eles conseguiram obter sólidas provas da existência do criador.
Fica evidenciado deste modo que, através do
trabalho da mente humana (fazendo-se uso da razão, portanto), o homem pode
descobrir pelo menos uma parte da verdade sobre Deus. É o que se chama
"conhecimento natural". Porém, esse conhecimento é incompleto. Foi
necessário que Deus se revelasse à humanidade através de sua Palavra para que
todos pudessem conhecê-lo. Essa revelação alcançou a sua plenitude no seu Filho
Jesus Cristo. Devemos considerar também o fato de que o "conhecimento
natural" que o ser humano pode obter de Deus é insuficiente para levá-lo
ao reconhecimento da necessidade de ele ser alcançado pela salvação
proporcionada por Jesus Cristo. Admitir a existência de Deus não é a mesma
coisa que reconhecer a necessidade de salvação. Foi o que faltou a todos os
homens que alcançaram um conhecimento natural da existência do Criador, sem
terem passado a caminhar, a partir de então, através da fé. É nesse aspecto que
podemos constatar a grande diferença entre os filósofos pagãos e os teólogos.
TEÓLOGOS
FALAM SOBRE DEUS
Se quiséssemos enumerar todos os teólogos que
dedicaram seu tempo e sua vida na busca de um conhecimento maior acerca de
Deus, seria necessário escrevermos vários livros. Na verdade, cada teólogo tem
sido um filósofo a serviço do pensamento cristão. Imaginemos uma reunião desses
homens, onde cada um deles expusesse suas descobertas acerca de Deus. O que
ouviríamos? Para reproduzirmos a voz de alguns desses mais antigos teólogos,
cujas palavras acerca do Criador foram proferidas dezenas e centenas de anos
após a morte do apóstolo Paulo, tomaremos como base alguns dos livros escritos
por eles, mas sobretudo a excelente História da Filosofia Cristã, escrita por
Philotheus Boehner e Etienne Gilson.
CLEMENTE DE
ALEXANDRIA
O mais antigo desses teólogos é Clemente de
Alexandria (150-217 d.C), nascido em Atenas, filho de pais gentios, e
convertido ao cristianismo ainda jovem. Ele ensinava que "é impossível
qualquer conhecimento sem a fé. Esta é o fundamento da verdade". Clemente
insistia muito com os cristãos de sua época para que eles procurassem, através
da busca constante do conhecimento, fortalecer cada vez mais a fé. "A
medida em que vamos crescendo na graça, devemos empenhar-nos por obter um
conhecimento sempre mais perfeito de Deus". Sua contribuição a esse
conhecimento está resumida nestas palavras:
Não sabemos o que Deus é; podemos saber, contudo, o
que ele não é. E impossível conhecê-lo por meio de argumentos baseados em
princípios inferiores a ele; pois Deus não tem causa, senão que, ao contrário,
ele próprio é a razão e a causa de todas as outras coisas. Não foi sem razão
que Paulo pregou, em Atenas, o 'Deus desconhecido', pois a sua essência
permanece incognoscível (não pode ser conhecida) à razão natural.4
ORÍGENES
Filho de Leônidas, que morreu como um dos mártires
do Cristianismo, Orígenes nasceu no Egito no ano 185. Foi um dos maiores
teólogos da Igreja Primitiva, tão apaixonado pelo estudo e divulgação da
teologia, que chegou a castrar-se, num excesso de zelo pela utilização de todo
o seu tempo nesses estudos.
Para Orígenes era impossível existir vários deuses,
pois a harmonia do universo é a grande prova de que só um Arquiteto
todo-poderoso poderia criá-la e mantê-la. "E impossível que a unidade e a
ordem cósmicas se originem de uma multidão de espíritos, ou dos supostos deuses
das esferas". Ele insistia também em mostrar que "Deus é inacessível
a todo entendimento humano", havendo, porém, um meio de o homem natural
obter provas de sua existência: através da observação do universo e das
criaturas. Eis como, resumidamente, Orígenes conceitua Deus:
Deus é Espírito, mas está ainda mais além do
espírito; é o Pai da Verdade, mas é mais que a verdade, e maior do que ela; é o
Pai da sabedoria, mas é melhor que a sabedoria. Deus é Vida, mas é maior que a
vida. Deus é ser, mas está além do ser.5
GREGÓRIO
NAZIANZENO
Nasceu no ano 330, próximo à cidade de Nazianzo.
Assim como Orígenes, Gregório também afirmou que a Criação é a maior testemunha
da existência de um Criador. Seu pensamento pode ser resumido nos seguintes
termos:
"Um simples olhar para a Criação nos
convencerá de que não é nela mesma, e sim em algo transcendente que devemos
buscar-lhe a razão de ser. Quem é o autor desta ordem determinada e concreta
que reina nos corpos celestes e terrestre, bem como em todos os seres que
povoam os ares e as águas? O acaso? Não. E Deus!"6
AGOSTINHO E
SUA GRANDIOSA BUSCA DE DEUS
Enfoquemos agora o pensamento do grande teólogo da
Igreja Primitiva. Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, na Numídia, país da
África, em 354. Foi um dos maiores gênios da teologia e filosofia cristãs de
todos os tempos. Sua herança literária compõe-se de 1.030 obras, entre
tratados, sermões e cartas. O conceito fundamental da existência de Deus
pareceu a Agostinho tão fácil e evidente que o ateísmo deveria ser considerado
loucura de poucas pessoas, devido mais à corrupção do coração do que a uma
verdadeira convicção do espírito.
Logo após sua conversão ao cristianismo, Agostinho
declarou que estava decidido a pesquisar com todo o empenho os mistérios de
Deus: "Estou decidido a possuir a Verdade não só pela fé, senão também
pela inteligência." Lendo e meditando profundamente as Escrituras
Sagradas, Agostinho teceu riquíssimos comentários sobre as dificuldades que o
espírito humano encontra em sua marcha até Deus.
Comentou o grande teólogo que em nosso estado
presente, nossos olhos físicos não estão organizados para contemplar o sol
visível, porém só para olhar o mundo sob a luz desse sol. Os olhos não
suportarão olhar a fonte da luz e sim os objetos iluminados pelos raios dessa
fonte. Este fato está cheio de uma profunda significação. Ocorre o mesmo com a
nossa alma. No estado natural do homem, nesse estado em que nascemos, nossa
alma não é capaz de ver a Deus tal qual ele é pessoalmente, mas é capaz de
contemplar a luz que ele lança sobre a alma e sobre o Universo. Para ver a Deus
é necessário, portanto, uma mudança de natureza. Baseando seus argumentos no
capítulo três do Evangelho de João, Agostinho mostra que esse nascer de novo —
condição indispensável para se ver a Deus — o homem não pode dar-se a si mesmo;
só Deus que o criou.
"Como conhecer a Deus?" — pergunta
Agostinho. "Qual é o itinerário da razão desde a cegueira e a ignorância
em que nascemos, até a visão de Deus? Embora caído, o ser humano não está
definitivamente separado da fonte eterna. Deus abriu-lhe uma porta de regresso
a ele mesmo: Jesus Cristo. Todos, consciente ou inconscientemente, buscam esse
reencontro com Deus."7
No seu livro Confissões, Agostinho relata sua
própria experiência, quando ele ardentemente buscava ter um encontro com o seu
Criador: "Será possível, Senhor meu Deus, que se oculte em mim alguma
coisa que vos possa conter?", — perguntava ele, tateando nas trevas. Para
Agostinho, o mundo visível era um degrau, um ponto de apoio que o ajudava a
elevar-se mais:
Subirei mais alto ainda que essa força existente em
mim, e a tomarei como um degrau para subir Àquele que me criou. Vejamos até
onde pode ir a razão elevando-se do visível ao invisível, do passageiro ao
eterno. Não contemplarei em vão toda essa beleza do céu, o curso regular dos
astros... Não os contemplarei para excitar uma inútil curiosidade, senão que me
servirei deles como de degraus para elevar-me ao Imortal, ao Imutável.9
Para Agostinho, as maravilhas na terra e nos céus
realmente testemunhavam a glória e a existência de Deus, e eram como uma escada
que o fazia subir ao reconhecimento da existência do Criador.
As palavras com que esse grande pesquisador dos
mistérios de Deus registrou o esforço de sua busca são dignas de ser
reproduzidas aqui:
Quando eu busco a meu Deus, não busco forma de
corpo, nem formosura transitória, nem brancura de luz, nem melodia de canto,
nem perfume de flores, nem unguentos aromáticos, nem mel, nem maná deleitável
ao paladar, nem outra coisa que possa ser tocada ou abraçada; nada disso busco,
quando busco a meu Deus. Porém, acima de tudo isto, quando busco a meu Deus,
busco uma luz sobre toda luz, que os olhos não veem, e uma voz sobre toda voz,
que os ouvidos não ouvem, e um perfume sobre todo perfume, que o nariz não
sente, e uma doçura sobre toda doçura, que o paladar não conhece, e um abraço
sobre todos os abraços, que o tato não alcança, porque esta luz resplandece
onde não há lugar, e esta voz soa onde o ar não a leva, e este perfume é
sentido onde o vento não derrama, e este sabor deleita onde não há paladar, e
este abraço é recebido onde nunca será desfeito. 10
ANSELMO: É
IMPOSSIVEL PENSARMOS EM ALGUÉM MAIOR QUE DEUS
Anselmo de Cantuária (1033-1109) é, depois de
Agostinho, o teólogo que mais conseguiu acrescentar algo de considerável ao
conhecimento que os demais teólogos, através de suas meditações, tinham
conseguido sobre Deus. Anselmo era italiano. Como teólogo e filósofo cristão,
ele tornou-se famoso ao escrever dois livros: o Monológio e o Proslógio, onde
tenta demonstrar a existência de Deus sem recorrer à autoridade das Sagradas
Escrituras, com o intuito de provar que existem também evidências
extra-bíblicas da existência do Criador.
E no Proslógio que Anselmo chega à seguinte
conclusão:
Tenho dentro de mim a ideia de um Ser tal que não
se pode imaginar nada maior, isto é, um Ser infinito; logo, esse Ser existe,
pois eu o vejo em certo sentido, desde o momento em que penso nele. O que está
na realidade, além de estar no pensamento, é mais perfeito que o que só está no
pensamento: portanto, Deus é real, porque se não existisse, não seria tal que
não se pode pensar em outro maior.11
Esta famosa prova da existência de Deus passou a
ser conhecida como argumento ontológico.
TOMÁS DE
AQUINO: A FÉ E A RAZÃO — DOIS CAMINHOS PARA DEUS
Neste admirável concerto de vozes ilustres que nos
ensinam que é possível obterem-se provas da existência de Deus através da
razão, destaca-se Tomás de Aquino. O que disse sobre a existência de Deus esse
teólogo italiano, nascido em 1225, é digno de ser conhecido por todos nós,
apologistas do cristianismo.
Aquino afirmou que os meios de se conhecer a Deus
são dados aos seres humanos em todos os lugares e sempre, em nós e fora de nós.
Em nós, o próprio Deus nos ilumina através da fé; fora de nós, ele nos ilumina
também, dando-nos um livro que é sua obra, o mundo. Por que os homens não leem
esse livro? Seus pecados os impedem; este é o obstáculo real, diz Aquino. O
homem é um ser pensante; através de sua capacidade de raciocinar (que nos
distingue dos animais irracionais), através da simples observação da natureza,
ele se depara com provas da existência de Deus. Portanto, tanto a fé como a
razão conduzem o homem ao reconhecimento da existência do Criador. Porém,
"os olhos da alma, enfermos pelo pecado, não podem fixar essa Luz sublime
se não forem purificados pela justiça da fé".12
Usando a luz como ilustração para exemplificar como
a razão e a fé conduzem o ser humano ao conhecimento da existência de Deus,
Aquino diz que durante nossa viagem terrestre, a luz do sol brilha sobre nós de
duas maneiras: Algumas vezes, como uma débil claridade: é a luz da nossa
inteligência natural; é uma partícula da luz eterna, porém distanciada,
defeituosa, comparável a uma sombra com um pouco de luz. Outras vezes a luz
brilha em um grau mais alto, com uma claridade mais abundante, e nos põe como
que em presença do próprio sol. Nessa ocasião nosso olhar estará deslumbrado,
porque contempla o que está acima de nós, acima dos sentidos humanos — essa é a
luz da fé.
Comentando 1 Coríntios 13:12: "Porque agora
vemos em espelho, obscuramente, então veremos face a face; agora conheço em
parte, então conhecerei como sou conhecido" (ARA), Aquino diz que para o
homem natural, a criação inteira é um espelho. "A ordem, a beleza, a
grandeza que Deus espalhou sobre suas obras nos fazem conhecer sua sabedoria,
sua verdade e sua divina infinitude. Esse é o conhecimento que se tem chamado
visão em um espelho." O que é, portanto, a visão face a face? Aquino
responde:
Quando vemos em um espelho, não vemos a própria
coisa, senão sua imagem. Mas quando vemos face a face, vemos a própria coisa
tal como ela é. Quando o apóstolo diz que na Pátria veremos a Deus face a face,
quer dizer que veremos a essência de Deus. Do mesmo modo como Deus conhece a
minha essência, conhecerei também a Deus em sua essência.1
Poderíamos citar aqui a frase de Platão a respeito
da semelhança de conclusões a que chegaram os maiores filósofos sobre Deus:
"Todos eles têm a mesma linguagem". O mesmo ocorre com os teólogos
antigos e modernos: eles depositaram suas vidas e inteligências aos pés daquele
a quem deviam tudo — Deus. Veremos, a seguir, que não só filósofos e teólogos
fazem parte desse coral de vozes ilustres que proclamam a existência de Deus:
os cientistas também deixaram os seus testemunhos.
BIBLIOGRAFIA
1. Leonel Franca, in O Problema de Deus. 2- edição,
Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1955, p. 176.
2. Aristóteles. Metafísica. Edição trilingüe
(grego, latim e espanhol), por Valentim Garcia. Madri, Editorial Grados, 1970,
Vol. I, p. 73.
3. Philoteus Boehner e Etienne Gilson: História da
Filosofia Cristã. Tradução de Raimundo Vier. 3§ edição. Petrópolis, Vozes,
1985, p. 39.
4. Idem. Op. Cit. p. 44.
5. Idem. Op. Cit. p. 59.
6. Idem. Op. Cit. p. 82.
7. Idem. Op. Cit. p. 167.
8. Aurélio Agostinho. Confissões. Livro I. Capítulo
2, parágrafo 2. Tradução de J. Oliveira Santos. São Paulo, Abril Cultural,
1980.
9. August Gratry, Op. Cit. p. 217.
10. Marcelino Menendez y Pelayo. Op. Cit. Vol. 2,
p. 86.
11. Anselmo de Cantuária. Proslógio. Tradução e
notas de ' Ângelo Ricci. 2- edição, São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 102.
12. August Gratry. Op. Cit. pp. 332, 333.
Fonte:
"Provas da Existência de Deus"; Jefferson
Magno Costa; editora Vida; pg.81-91.
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