terça-feira, 29 de janeiro de 2013

DEUS, SEGUNDO FILÓSOFOS E TEÓLOGOS


SÁBIOS RECONHECEM: DEUS EXISTE!
Ao contrário do que muitos ateus pensam, as maiores inteligências que o mundo já viu, os gênios que deixaram as marcas mais profundas de sua passagem sobre a face da terra, reconheceram a existência de Deus. Conforme comentou um apologista cristão, "estas frontes iluminadas pelos esplendores do gênio, aureoladas pelas glórias do saber, consagradas e abençoadas pela memória dos homens, curvaram-se humildes e reverentes ante o nome de Deus."

Apesar de a maioria desses homens jamais ter alcançado o pleno conhecimento da verdade (pois suas mentes não foram banhadas na fé e na graça daquele que lhes daria a completa revelação de Deus — Jesus Cristo), eles viveram como que na penumbra, interrogando e buscando sempre. O interessante é que todas as investigações feitas na vida desses grandes homens, desses cérebros privilegiados que estudaram pacientemente os segredos da natureza, descobriram suas leis e construíram o colossal edifício da ciência moderna, todas as investigações feitas em suas vidas, repito, revelam que quase todos eles creram na existência de Deus.

Com muita razão, o filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) observou que "pouca ciência afasta o homem de Deus, porém muita ciência a Deus o conduz". Consideremos o período da história humana em que a filosofia atingiu o seu esplendor. Entre os gregos, precisamente em Atenas, existiu um filósofo pagão, cuja agudeza de raciocínio e método de ensinar filosofia aos seus alunos o colocou entre os mais profundos pensadores de todos os tempos: Sócrates. Já comentamos, no capítulo seis deste livro, que por não ter concordado com a crença politeísta dos gregos, Sócrates foi julgado e condenado à morte. (Aliás, este foi um dos motivos de sua condenação). Mas eis o que esse pensador declarou sobre Deus:

Acredito na existência de um só Deus todo-poderoso, dotado de sabedoria e bondade absolutas, provadas com a sublime harmonia do universo e com a maravilhosa organização do corpo humano. Relativamente à fé na existência de Deus, há nos diversos povos um acordo unânime que faz a humanidade como que uma só família. A fé religiosa é anterior a toda civilização; os viajantes não descobrem povo algum sem lhe reconhecerem pelos menos um culto grosseiro; a história vê por toda parte Deus associado geralmente tanto às alegrias como às lágrimas da humanidade. Esta crença, quaisquer que sejam os erros que a tenham obscurecido, longe de favorecer em si mesma as paixões, combate-as; só pode ter, portanto, como origem, os princípios que o próprio Deus gravou no espírito humano.

Isto foi dito por um filósofo pagão! Foi diante de posicionamentos como este que o filósofo cristão Clemente de Alexandria chegou a declarar que a filosofia dos gregos não continha toda a verdade, "mas em todo caso era um fragmento da verdade eterna". Além de Sócrates, dois outros filósofos tornaram a filosofia grega digna das palavras elogiosas de Clemente. Seus nomes: Platão (429-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.)

PLATÃO TATEIA NAS TREVAS EM BUSCA DE DEUS
De todos os homens que falaram sobre Deus antes da Era Cristã, Platão foi o maior. O orador e teólogo francês Bossuet chamava-o de "divino", e outros teólogos chegaram a compará-lo a Moisés. "Era Moisés escrevendo em grego", diziam, cheios de admiração diante das obras desse célebre filósofo.

Nascido em Atenas, Platão, ainda bem moço, tornou-se aluno de Sócrates, e foi sob a influência e os ensinamentos desse conhecido pensador grego que ele se tornou filósofo, criando, entre outras coisas, o Idealismo — sistema das idéias, onde a mais importante de todas elas é a idéia de Deus. Para nós, apologistas (defensores) do Cristianismo, é muitissimamente importante sabermos o que a genialidade de Platão descobriu sobre o Criador do universo. Comparando a verdade à luz, e Deus ao próprio sol (séculos mais tarde, o escultor e pintor italiano Miguel Ângelo escreveria: "O sol é a sombra de Deus"), Platão declara:

Se tu abres os olhos, vês a luz, mas o teu olhar seguinte eleva-se para cima, para a origem de onde toda a luz é oriunda, para o sol; e quando os olhos do espírito se abrem, vê-se a verdade; mas o segundo olhar volta-se para onde dimana toda a verdade, para o sol dos espíritos, para Deus.

Platão costumava afirmar que existe na alma um ponto central, uma região onde Deus se manifesta ao ser humano "tocando-o neste ponto e suspendendo-o a ele". A isto Platão chamava 'Voz da consciência" ou "lei natural gravada no coração". Ele também dizia que todos os homens deveriam esforçar-se para corrigir em si, mediante a contemplação da harmonia do Todo, "esses movimentos pessoais e desordenados que a natureza humana semeou no foco de nossa alma ao sermos gerados, a fim de que o contemplador recobre sua primeira natureza e, através dessa semelhança divina, torne-se apto a possuir finalmente a vida perfeita que Deus oferece aos homens para o tempo presente e para a eternidade".

Ora, não são perfeitamente visíveis, nas palavras desse filósofo pagão, a doutrina do pecado original e a necessidade de o homem experimentar a regeneração e voltar ao seu antigo bom relacionamento com Deus? Se o mundo no tempo de Platão estava mergulhado no pecado, e a humanidade (com exceção da Nação escolhida) procurava conviver pacificamente com a idolatria e a corrupção moral, o que teria levado o aluno de Sócrates a detectar entre os seus contemporâneos, quase 500 anos antes do nascimento do nosso Salvador Jesus Cristo, a necessidade de regeneração, a não ser o Deus da justiça, da pureza e da verdade? "Filosofar é amar a Deus", reconhece o grande filósofo.

ARISTÓTELES: DEUS É O MOTOR QUE MOVE O MUNDO
Nascido em Estagira, Grécia, em 384 a.C, Aristóteles é o terceiro grande nome da filosofia paga. Mudando-se para Atenas aos 18 anos de idade, começou a frequentar a escola de Platão, com quem aprendeu filosofia durante 20 anos. Mais tarde tornou-se professor de Alexandre o Grande, e fundou sua própria escola. Suas ideias sobre Deus marcaram profundamente o pensamento dos teólogos cristãos, surgidos cinco séculos após sua morte. O gigantesco edifício de ciência e cultura criado por Aristóteles permanece nos séculos e milênios como um monumento imperecível do seu potente gênio.

Para provar a existência de Deus, Aristóteles criou o argumento do motor. Diz ele que tudo o que está em movimento é movido por outra coisa. Tomemos o Sol como exemplo. Ele está em movimento; portanto, outra coisa o movimenta. Essa coisa que move o Sol, ou está também em movimento ou está imóvel. Se está imóvel, o argumento de Aristóteles fica demonstrado, ou seja: que é necessário afirmar a existência de algo que tudo move e que não é movido por nada: Deus! Porém, se o que move o Sol está também em movimento, isto significa que ele está sendo movido também por outra força. Aristóteles mostra que é impossível continuarmos recuando até o infinito. Faz-se, portanto, necessário afirmar a existência do causador de todos esses movimentos, que não é outra pessoa senão Deus. Ele é o motor que movimenta tudo!

Alguém já comentou que se há alguma verdade no ensino dos filósofos e dos cientistas, deve ela vir do próprio Deus da verdade. Esse comentário está de acordo com o que Aristóteles pensava sobre Deus. No seu livro Metafísica, Aristóteles admite a existência de um Deus distinto do mundo, um Deus vivo, onipotente, Causa Primeira, motor imóvel (que move tudo e não é movido por nada fora de si mesmo), vivente eterno e perfeito; um Deus que é soberano, infinitamente inteligente, invisível em si mesmo, mas visível em suas obras, que a tudo governa por sua ação e por sua Providência, como um general governa um exército. Um Deus justo que castiga o homem livre e violador de sua lei imutável, e recompensa com a felicidade, agora e no porvir, aos que se unem à justiça.

Falando dessa maneira sobre Deus, Aristóteles confirma aqui perfeitamente a frase de Platão: "Todos os sábios não têm mais que uma voz." Há uma filosofia universal, uma sabedoria natural e comum; ela é a mesma em todos os homens dóceis à luz da razão; é ela que os conduz ao reconhecimento da existência de Deus. Todos os pensadores de primeira ordem chegam à esta conclusão: Deus existe. Porém, hoje vivemos no século do ateísmo. Milhões de seres humanos vivem separados da fé universal na existência de Deus: são como "estrelas errantes, para as quais tem sido eternamente reservada a escuridão das trevas" (Judas v.13).

Vimos, até aqui, que os três maiores pensadores da filosofia grega (e, podemos dizer, de toda a filosofia paga antes do advento do cristianismo), reconheceram a existência de Deus, apesar de não terem obtido o conhecimento de sua essência, conforme o próprio Deus revelou a Moisés no monte Horebe (Êxodo 3:14). Porém, todos os grandes gênios da humanidade sofreram a influência de uma espécie de iluminação natural acerca da existência de Deus. Através da imensa capacidade de raciocínio de que foram dotados (a chamada razão humana), eles conseguiram obter sólidas provas da existência do criador.

Fica evidenciado deste modo que, através do trabalho da mente humana (fazendo-se uso da razão, portanto), o homem pode descobrir pelo menos uma parte da verdade sobre Deus. É o que se chama "conhecimento natural". Porém, esse conhecimento é incompleto. Foi necessário que Deus se revelasse à humanidade através de sua Palavra para que todos pudessem conhecê-lo. Essa revelação alcançou a sua plenitude no seu Filho Jesus Cristo. Devemos considerar também o fato de que o "conhecimento natural" que o ser humano pode obter de Deus é insuficiente para levá-lo ao reconhecimento da necessidade de ele ser alcançado pela salvação proporcionada por Jesus Cristo. Admitir a existência de Deus não é a mesma coisa que reconhecer a necessidade de salvação. Foi o que faltou a todos os homens que alcançaram um conhecimento natural da existência do Criador, sem terem passado a caminhar, a partir de então, através da fé. É nesse aspecto que podemos constatar a grande diferença entre os filósofos pagãos e os teólogos.

TEÓLOGOS FALAM SOBRE DEUS
Se quiséssemos enumerar todos os teólogos que dedicaram seu tempo e sua vida na busca de um conhecimento maior acerca de Deus, seria necessário escrevermos vários livros. Na verdade, cada teólogo tem sido um filósofo a serviço do pensamento cristão. Imaginemos uma reunião desses homens, onde cada um deles expusesse suas descobertas acerca de Deus. O que ouviríamos? Para reproduzirmos a voz de alguns desses mais antigos teólogos, cujas palavras acerca do Criador foram proferidas dezenas e centenas de anos após a morte do apóstolo Paulo, tomaremos como base alguns dos livros escritos por eles, mas sobretudo a excelente História da Filosofia Cristã, escrita por Philotheus Boehner e Etienne Gilson.

CLEMENTE DE ALEXANDRIA
O mais antigo desses teólogos é Clemente de Alexandria (150-217 d.C), nascido em Atenas, filho de pais gentios, e convertido ao cristianismo ainda jovem. Ele ensinava que "é impossível qualquer conhecimento sem a fé. Esta é o fundamento da verdade". Clemente insistia muito com os cristãos de sua época para que eles procurassem, através da busca constante do conhecimento, fortalecer cada vez mais a fé. "A medida em que vamos crescendo na graça, devemos empenhar-nos por obter um conhecimento sempre mais perfeito de Deus". Sua contribuição a esse conhecimento está resumida nestas palavras:

Não sabemos o que Deus é; podemos saber, contudo, o que ele não é. E impossível conhecê-lo por meio de argumentos baseados em princípios inferiores a ele; pois Deus não tem causa, senão que, ao contrário, ele próprio é a razão e a causa de todas as outras coisas. Não foi sem razão que Paulo pregou, em Atenas, o 'Deus desconhecido', pois a sua essência permanece incognoscível (não pode ser conhecida) à razão natural.4

ORÍGENES
Filho de Leônidas, que morreu como um dos mártires do Cristianismo, Orígenes nasceu no Egito no ano 185. Foi um dos maiores teólogos da Igreja Primitiva, tão apaixonado pelo estudo e divulgação da teologia, que chegou a castrar-se, num excesso de zelo pela utilização de todo o seu tempo nesses estudos.

Para Orígenes era impossível existir vários deuses, pois a harmonia do universo é a grande prova de que só um Arquiteto todo-poderoso poderia criá-la e mantê-la. "E impossível que a unidade e a ordem cósmicas se originem de uma multidão de espíritos, ou dos supostos deuses das esferas". Ele insistia também em mostrar que "Deus é inacessível a todo entendimento humano", havendo, porém, um meio de o homem natural obter provas de sua existência: através da observação do universo e das criaturas. Eis como, resumidamente, Orígenes conceitua Deus:

Deus é Espírito, mas está ainda mais além do espírito; é o Pai da Verdade, mas é mais que a verdade, e maior do que ela; é o Pai da sabedoria, mas é melhor que a sabedoria. Deus é Vida, mas é maior que a vida. Deus é ser, mas está além do ser.5

GREGÓRIO NAZIANZENO
Nasceu no ano 330, próximo à cidade de Nazianzo. Assim como Orígenes, Gregório também afirmou que a Criação é a maior testemunha da existência de um Criador. Seu pensamento pode ser resumido nos seguintes termos:

"Um simples olhar para a Criação nos convencerá de que não é nela mesma, e sim em algo transcendente que devemos buscar-lhe a razão de ser. Quem é o autor desta ordem determinada e concreta que reina nos corpos celestes e terrestre, bem como em todos os seres que povoam os ares e as águas? O acaso? Não. E Deus!"6

AGOSTINHO E SUA GRANDIOSA BUSCA DE DEUS
Enfoquemos agora o pensamento do grande teólogo da Igreja Primitiva. Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, na Numídia, país da África, em 354. Foi um dos maiores gênios da teologia e filosofia cristãs de todos os tempos. Sua herança literária compõe-se de 1.030 obras, entre tratados, sermões e cartas. O conceito fundamental da existência de Deus pareceu a Agostinho tão fácil e evidente que o ateísmo deveria ser considerado loucura de poucas pessoas, devido mais à corrupção do coração do que a uma verdadeira convicção do espírito.

Logo após sua conversão ao cristianismo, Agostinho declarou que estava decidido a pesquisar com todo o empenho os mistérios de Deus: "Estou decidido a possuir a Verdade não só pela fé, senão também pela inteligência." Lendo e meditando profundamente as Escrituras Sagradas, Agostinho teceu riquíssimos comentários sobre as dificuldades que o espírito humano encontra em sua marcha até Deus.

Comentou o grande teólogo que em nosso estado presente, nossos olhos físicos não estão organizados para contemplar o sol visível, porém só para olhar o mundo sob a luz desse sol. Os olhos não suportarão olhar a fonte da luz e sim os objetos iluminados pelos raios dessa fonte. Este fato está cheio de uma profunda significação. Ocorre o mesmo com a nossa alma. No estado natural do homem, nesse estado em que nascemos, nossa alma não é capaz de ver a Deus tal qual ele é pessoalmente, mas é capaz de contemplar a luz que ele lança sobre a alma e sobre o Universo. Para ver a Deus é necessário, portanto, uma mudança de natureza. Baseando seus argumentos no capítulo três do Evangelho de João, Agostinho mostra que esse nascer de novo — condição indispensável para se ver a Deus — o homem não pode dar-se a si mesmo; só Deus que o criou.

"Como conhecer a Deus?" — pergunta Agostinho. "Qual é o itinerário da razão desde a cegueira e a ignorância em que nascemos, até a visão de Deus? Embora caído, o ser humano não está definitivamente separado da fonte eterna. Deus abriu-lhe uma porta de regresso a ele mesmo: Jesus Cristo. Todos, consciente ou inconscientemente, buscam esse reencontro com Deus."7

No seu livro Confissões, Agostinho relata sua própria experiência, quando ele ardentemente buscava ter um encontro com o seu Criador: "Será possível, Senhor meu Deus, que se oculte em mim alguma coisa que vos possa conter?", — perguntava ele, tateando nas trevas. Para Agostinho, o mundo visível era um degrau, um ponto de apoio que o ajudava a elevar-se mais:
Subirei mais alto ainda que essa força existente em mim, e a tomarei como um degrau para subir Àquele que me criou. Vejamos até onde pode ir a razão elevando-se do visível ao invisível, do passageiro ao eterno. Não contemplarei em vão toda essa beleza do céu, o curso regular dos astros... Não os contemplarei para excitar uma inútil curiosidade, senão que me servirei deles como de degraus para elevar-me ao Imortal, ao Imutável.9

Para Agostinho, as maravilhas na terra e nos céus realmente testemunhavam a glória e a existência de Deus, e eram como uma escada que o fazia subir ao reconhecimento da existência do Criador.

As palavras com que esse grande pesquisador dos mistérios de Deus registrou o esforço de sua busca são dignas de ser reproduzidas aqui:

Quando eu busco a meu Deus, não busco forma de corpo, nem formosura transitória, nem brancura de luz, nem melodia de canto, nem perfume de flores, nem unguentos aromáticos, nem mel, nem maná deleitável ao paladar, nem outra coisa que possa ser tocada ou abraçada; nada disso busco, quando busco a meu Deus. Porém, acima de tudo isto, quando busco a meu Deus, busco uma luz sobre toda luz, que os olhos não veem, e uma voz sobre toda voz, que os ouvidos não ouvem, e um perfume sobre todo perfume, que o nariz não sente, e uma doçura sobre toda doçura, que o paladar não conhece, e um abraço sobre todos os abraços, que o tato não alcança, porque esta luz resplandece onde não há lugar, e esta voz soa onde o ar não a leva, e este perfume é sentido onde o vento não derrama, e este sabor deleita onde não há paladar, e este abraço é recebido onde nunca será desfeito. 10

ANSELMO: É IMPOSSIVEL PENSARMOS EM ALGUÉM MAIOR QUE DEUS
Anselmo de Cantuária (1033-1109) é, depois de Agostinho, o teólogo que mais conseguiu acrescentar algo de considerável ao conhecimento que os demais teólogos, através de suas meditações, tinham conseguido sobre Deus. Anselmo era italiano. Como teólogo e filósofo cristão, ele tornou-se famoso ao escrever dois livros: o Monológio e o Proslógio, onde tenta demonstrar a existência de Deus sem recorrer à autoridade das Sagradas Escrituras, com o intuito de provar que existem também evidências extra-bíblicas da existência do Criador.
E no Proslógio que Anselmo chega à seguinte conclusão:

Tenho dentro de mim a ideia de um Ser tal que não se pode imaginar nada maior, isto é, um Ser infinito; logo, esse Ser existe, pois eu o vejo em certo sentido, desde o momento em que penso nele. O que está na realidade, além de estar no pensamento, é mais perfeito que o que só está no pensamento: portanto, Deus é real, porque se não existisse, não seria tal que não se pode pensar em outro maior.11

Esta famosa prova da existência de Deus passou a ser conhecida como argumento ontológico.

TOMÁS DE AQUINO: A FÉ E A RAZÃO — DOIS CAMINHOS PARA DEUS
Neste admirável concerto de vozes ilustres que nos ensinam que é possível obterem-se provas da existência de Deus através da razão, destaca-se Tomás de Aquino. O que disse sobre a existência de Deus esse teólogo italiano, nascido em 1225, é digno de ser conhecido por todos nós, apologistas do cristianismo.

Aquino afirmou que os meios de se conhecer a Deus são dados aos seres humanos em todos os lugares e sempre, em nós e fora de nós. Em nós, o próprio Deus nos ilumina através da fé; fora de nós, ele nos ilumina também, dando-nos um livro que é sua obra, o mundo. Por que os homens não leem esse livro? Seus pecados os impedem; este é o obstáculo real, diz Aquino. O homem é um ser pensante; através de sua capacidade de raciocinar (que nos distingue dos animais irracionais), através da simples observação da natureza, ele se depara com provas da existência de Deus. Portanto, tanto a fé como a razão conduzem o homem ao reconhecimento da existência do Criador. Porém, "os olhos da alma, enfermos pelo pecado, não podem fixar essa Luz sublime se não forem purificados pela justiça da fé".12

Usando a luz como ilustração para exemplificar como a razão e a fé conduzem o ser humano ao conhecimento da existência de Deus, Aquino diz que durante nossa viagem terrestre, a luz do sol brilha sobre nós de duas maneiras: Algumas vezes, como uma débil claridade: é a luz da nossa inteligência natural; é uma partícula da luz eterna, porém distanciada, defeituosa, comparável a uma sombra com um pouco de luz. Outras vezes a luz brilha em um grau mais alto, com uma claridade mais abundante, e nos põe como que em presença do próprio sol. Nessa ocasião nosso olhar estará deslumbrado, porque contempla o que está acima de nós, acima dos sentidos humanos — essa é a luz da fé.

Comentando 1 Coríntios 13:12: "Porque agora vemos em espelho, obscuramente, então veremos face a face; agora conheço em parte, então conhecerei como sou conhecido" (ARA), Aquino diz que para o homem natural, a criação inteira é um espelho. "A ordem, a beleza, a grandeza que Deus espalhou sobre suas obras nos fazem conhecer sua sabedoria, sua verdade e sua divina infinitude. Esse é o conhecimento que se tem chamado visão em um espelho." O que é, portanto, a visão face a face? Aquino responde:

Quando vemos em um espelho, não vemos a própria coisa, senão sua imagem. Mas quando vemos face a face, vemos a própria coisa tal como ela é. Quando o apóstolo diz que na Pátria veremos a Deus face a face, quer dizer que veremos a essência de Deus. Do mesmo modo como Deus conhece a minha essência, conhecerei também a Deus em sua essência.1

Poderíamos citar aqui a frase de Platão a respeito da semelhança de conclusões a que chegaram os maiores filósofos sobre Deus: "Todos eles têm a mesma linguagem". O mesmo ocorre com os teólogos antigos e modernos: eles depositaram suas vidas e inteligências aos pés daquele a quem deviam tudo — Deus. Veremos, a seguir, que não só filósofos e teólogos fazem parte desse coral de vozes ilustres que proclamam a existência de Deus: os cientistas também deixaram os seus testemunhos.

BIBLIOGRAFIA
1. Leonel Franca, in O Problema de Deus. 2- edição, Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1955, p. 176.
2. Aristóteles. Metafísica. Edição trilingüe (grego, latim e espanhol), por Valentim Garcia. Madri, Editorial Grados, 1970, Vol. I, p. 73.
3. Philoteus Boehner e Etienne Gilson: História da Filosofia Cristã. Tradução de Raimundo Vier. 3§ edição. Petrópolis, Vozes, 1985, p. 39.
4. Idem. Op. Cit. p. 44.
5. Idem. Op. Cit. p. 59.
6. Idem. Op. Cit. p. 82.
7. Idem. Op. Cit. p. 167.
8. Aurélio Agostinho. Confissões. Livro I. Capítulo 2, parágrafo 2. Tradução de J. Oliveira Santos. São Paulo, Abril Cultural, 1980.
9. August Gratry, Op. Cit. p. 217.
10. Marcelino Menendez y Pelayo. Op. Cit. Vol. 2, p. 86.
11. Anselmo de Cantuária. Proslógio. Tradução e notas de ' Ângelo Ricci. 2- edição, São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 102.
12. August Gratry. Op. Cit. pp. 332, 333.

Fonte:

"Provas da Existência de Deus"; Jefferson Magno Costa; editora Vida; pg.81-91.

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