Muita gente pensa que sim (e muitos ateus
militantes gostam de trombetear essa idéia), mas a pesquisadora Elaine Ecklund
concluiu que não é bem assim que a banda toca.
Elaine escreveu Science vs. Religion: What
scientists really think, o resultado de uma pesquisa de quatro anos envolvendo
cerca de 1,7 mil cientistas de 21 universidades norte-americanas de renome. Segundo
Elaine, os cientistas são mais religiosos do que se imagina, embora de uma
maneira diferente da convencional. A maioria deles se descreveu como
"espirituais" ou "com interesse em espiritualidade", embora
não necessariamente tenham qualquer filiação religiosa. Por outro lado, ela
chegou a encontrar cientistas declaradamente agnósticos que não viam nenhum
problema em freqüentar uma igreja.
A pesquisadora participou de um podcast com o
escritor Chris Mooney, autor de Unscientific America (vocês ainda lerão sobre
esse livro aqui no Tubo). Eles conversaram sobre vários assuntos relativos ao
livro de Elaine, incluindo a pergunta que dá título a esse post.
Os números da pesquisadora mostram que normalmente
os cientistas ateus já vêm de famílias ateístas, ou nas quais a religião não é
importante (por exemplo, gente que só lembra que é católica quando o
funcionário do IBGE vem fazer perguntas para o censo). Por outro lado,
cientistas que têm convicções religiosas fortes costumam vir de famílias que
valorizam esse aspecto da vida, e mesmo os que passaram por alguma crise de fé
a viveram quando ainda não eram cientistas (ou seja, possíveis crises não
seriam culpa da ciência). Ou seja, crer ou não é uma escolha que na maioria das
vezes é feita antes que a pessoa consiga sua formação científica. No entanto,
Elaine cita um possível efeito do conhecimento científico sobre pessoas
religiosas: aquelas que vêm de ambientes fundamentalistas acabam se tornando
mais moderadas.
Mas, como (pelo menos nos Estados Unidos) parte das
famílias religiosas têm um pé atrás com a ciência, por causa da noção (errada)
de que ciência leva ao ateísmo, a tendência seria a de termos menos jovens
vindos dessas famílias buscando a carreira científica. O que seria muito ruim,
embora os chamados "ateus de segunda geração", segundo Elaine, sejam
bem menos hostis à religião do que os "ateus de primeira geração".
Obviamente não descarto a possibilidade de gente
que tenha abraçado o ateísmo por causa de sua atividade como cientista. Se o
Juca Kfouri virou ateu por causa de futebol (pelo menos é o que ele mesmo
conta)... mas eu me pergunto até que ponto não se trata de pessoas já
predispostas a deixar Deus de lado e que estavam apenas procurando um pretexto
para tal, seja uma derrota do Corinthians ou a teoria da evolução.
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