William J. Tinkle - Ph.D. e professor emérito de
Biologia no Anderson College, Indiana, U.S.A
Pode ser útil que alguém que tenha vivido até o
presente neste século vinte, recorde suas próprias experiências e observações,
juntamente com algumas notáveis descobertas realizadas no decurso de sua vida.
No início do século vinte, o autor deste artigo era
um jovem estudante. Nos Estados Unidos a evolução era assunto para professores
universitários e teólogos, e poucas pessoas mais. Era ela de grande utilidade
para os "infiéis", como os ateus eram então designados, os quais
faziam grande estardalhaço. A doutrina, na época com cerca de quarenta anos,
contados a partir da publicação de "A Origem das Espécies" de Darwin,
não tinha ainda caído no domínio do homem comum.
Os livros escolares não discutiam a origem da
Terra, ou a origem dos seres viventes. Os autores não mencionavam a criação
divina nem as teorias materialistas das origens, mas ignoravam a ambas,
assumindo uma posição agnóstica. Os textos comuns nos tempos em que meu pai
havia estudado não mais eram adotados em Indiana, tendo sido substituídos por outros
bastante ecléticos que incluíam histórias bíblicas, juntamente com seleções
literárias e históricas. Os livros de Geografia e de História calavam-se acerca
das origens.
Olhando para trás agora, convenço-me de que as
"evidências" das origens ao acaso, bem como do desenvolvimento
mecanicista, eram então mais fortes do que hoje, porque não haviam ainda
aparecido às dificuldades que hoje existem para a sua explicação.
Ideias
mantidas
Volvendo agora às crenças dos cientistas por volta
da passagem do século, observam-se certas crenças do século dezenove ainda em
voga. Dentre elas destacam-se a herança dos caracteres adquiridos e a
recapitulação nos embriões.
Reconhecia-se então que os caracteres dos seres
vivos eram adquiridos sob ação do ambiente, ou pelo uso ou desuso; entretanto
já na próxima geração isso não era mais aceito (1). Isso se deu inclusive na
Rússia, onde, há poucas décadas, um grupo com apoio político sustentou a
teoria.
Quanto aos embriões passando pelos estágios dos
seus supostos ancestrais, a idéia foi afastada tanto pelos criacionistas como
pelos evolucionistas (2). O abandono da herança dos caracteres adquiridos, e da
recapitulação, tornou a evolução muito mais difícil de ser crida.
Culto dos
heróis
A evolução, doutrina de que a vida surgiu por
acaso, tornando-se mais complexa pela ação de forças materiais, não é ciência,
mas sim um tipo de filosofia natural. A ciência consiste de fatos, mas a
filosofia natural persiste apesar dos fatos, se satisfizer os desejos populares
acerca da natureza do mundo. O homem que se opôs aos sábios e teólogos, e
alterou o ponto de vista da maioria a respeito do universo, aliviando a sua
responsabilidade para com Deus, tornou-se, e ainda é, um herói. Esse herói do
século dezenove foi Charles Darwin. Ainda no presente os erros de Darwin são
esquecidos, e as suas escassas ideias sobre Genética são elogiadas.
As ideias de Charles Darwin eram dominantes na
última metade do século dezenove. O resultado foi que a influência do
verdadeiro cientista, Gregor Mendel, foi retardada até o século vinte, 35 anos
após ter completado suas pesquisas básicas.
Quando Mendel apresentou sua contribuição sobre a
herança das ervilhas perante a Sociedade de Ciências Naturais de Brunn, em
1865, registrou-se nos anais que não houve discussão. Registrou-se também que,
à tarde, Alexander Makowsky mencionou "com o máximo entusiasmo" um
livro escrito por um inglês chamado Darwin, seis anos antes, e intitulado
"A Origem das Espécies" (3). Os cientistas discutiram o livro aquela
tarde, e toda a Europa fez o mesmo no restante do século. Entretanto, desde
1900 a influência de Mendel tornou-se enorme.
É verdade que o artigo de Mendel foi publicado em
um obscuro periódico, e que pouco tempo lhe restava para pesquisa no mosteiro
do qual foi eleito administrador e onde vivia. Mas a real frustração foi terem
os sábios aceito a hipótese de que a vida surgiu e se desenvolveu por meios
naturais, e estarem procurando os possíveis métodos envolvidos.
Genética
versus evolução
A primeira década do século vinte foi um tempo de
grande progresso em genética e citologia. Grande número de cientistas pode
perceber claramente que a sua ciência apontava para o oposto da evolução embora
a maioria deles hesitasse em romper abertamente com os demais. Alfred Russel
Wallace, íntimo amigo e colaborador de Darwin, disse "A respeito da
relação geral entre o Mendelismo e a evolução, cheguei a uma conclusão bastante
definida. É que ele é realmente antagônico à evolução" (4).
William Bateson (1861 - 1926) declarou numa reunião
da Associação Americana para o Progresso da Ciência em Toronto:
"É
impossível para os cientistas concordar por mais tempo com a teoria de Darwin
da origem das espécies. Após quarenta anos nenhuma explicação nem evidência
alguma foram descobertas para comprovar a sua origem das espécies. ... Não mais
sentimos, como anteriormente, que o processo de variação, ocorrendo agora
contemporaneamente, é o início de um trabalho que necessita meramente do
elemento tempo para a sua efetivação; pois mesmo o tempo não pode completar
aquilo que ainda não se iniciou" (5).
Não obstante, ao lado dessa declaração franca,
Bateson dava razão para se acreditar que ele ainda tinha fé na evolução e que
esperava que fosse achada alguma comprovação de sua ocorrência.
Uma grande
década
Realmente, a declaração anterior daquele grande e
honesto geneticista em 21 de dezembro de 1921, juntamente com outras
declarações semelhantes, deu um grande impulso ao movimento criacionista na
América. A década de 1920 - 1930 foi uma época de protesto ruidoso e marcante
dos cidadãos comuns contra a evolução.
Foi algo semelhante ao atual movimento, embora com
diferentes porta-vozes. Os líderes eram na maior parte ministros evangélicos
não muito aprofundados em Teologia. Faziam bem em dar crédito completamente à
Bíblia, mas ao criticar a evolução desfaziam também da Ciência. Um slogan comum
era "É melhor conhecer a Rocha dos Séculos do que os séculos das
rochas". Atualmente os porta-vozes do criacionismo, muitos dos quais são
cientistas, dão o devido crédito aos cuidadosos estudos dos cientistas, mas
enfatizam a real dissociação entre a Ciência e a evolução, chamando esta última
de filosofia natural.
Embora minha memória possa falhar, lembro-me de
dois líderes proeminentes daquela década: William Jennings Bryan e George
McCready Price. O primeiro era muito culto, embora não no campo da ciência,
tendo sido designado por três vezes para a Presidência dos Estados Unidos pelo
Partido Democrático, e servido como Secretário de Estado do Presidente Woodrow
Wilson. Como orador raramente foi igualado.
G. M. Price nasceu no Canadá, era muito instruído
em línguas e filosofia, e ensinou em várias faculdades. No decorrer de sua
longa vida estudou história da ciência e relatórios de explorações geológicas,
escreveu um bom número de livros e contribuiu bastante para o movimento
criacionista. Embora acusado de não pertencer a nenhuma sociedade científica,
era membro da Associação Americana para o Progresso da Ciência e da Academia de
Ciências da Califórnia. Price foi duramente criticado, do mesmo modo que
qualquer pessoa que descobrisse defeitos numa "vaca sagrada".
Protesto da década de 1920 foi dirigido contra os
que ensinavam a evolução, sendo que no Tennessee os legisladores promulgaram
uma lei contra tais professores nas escolas públicas. Ação semelhante foi
movida no Arkansas e no Mississippi.
A ação movida em Dayton, Tennessee, em 1925 para
fazer cumprir a lei naquele estado, recebeu grande publicidade e não necessita
ser mencionada a não ser para trazer à luz alguns fatos que de outra maneira
não seriam conhecidos. Quando W. J. Bryan decidiu ir auxiliar a causa,
solicitou a Price que fosse junto, mas este declinou do convite devido a uma
viagem à Europa (6). Bryan não tinha defendido nenhuma causa há cerca de 20
anos, e estava com a saúde abalada, como evidenciado pelo fato de ter morrido
poucos dias após o julgamento.
Estive na loja em que o professor John T. Scopes
foi forçado pelo membro da União das Liberdades Civis, George Rappleyea, a
dizer que havia ensinado a teoria da evolução, muito embora não se lembrasse de
tê-lo feito(7). Nas minhas três visitas a Dayton verifiquei que os moradores
daquela pequena cidade típica ainda crêem que Deus criou o homem à sua própria
imagem.
As três leis estaduais mencionadas acima foram
revogadas. Um esforço mais moderno é a legislação do Conselho de Educação da
Califórnia, que exige que, onde se ensine a evolução, também se apresente a
criação como uma teoria alternativa. Cidadãos de outros estados, principalmente
do Texas, estão lutando por uma legislação análoga.
Grandes
homens ajudam os criacionistas
No decorrer de todo o século XX, os evolucionistas
têm declarado que nenhum cientista acredita na criação divina, mas essa
acusação não é verdade. Henri Fabre (1825-1915), entomologista francês, falou
muito claramente contra a evolução. Era ele muito instruído, mas preferia viver
de maneira simples, dedicando-se às suas pesquisas e publicações. Esse
interessante escritor destacou a importância do planejamento inteligente nos
seres vivos, observando que uma adaptação deveria realizar-se completamente e
ser capaz de funcionar bem desde o início, ao invés de realizar-se gradualmente
(8).
Outro biologista, bastante notável foi Wilhelm
Johannsen, da Dinamarca. (1857-1927). Embora seja difícil de saber quais as
suas crenças, as suas descobertas permitiram vislumbrar os limites da seleção.
Johannsen descobriu que, como era de esperar, feijões grandes produziam feijões
grandes. Porém, aprofundando sua pesquisa, plantando separadamente feijões
grandes e pequenos descendentes da mesma planta, não havia diferença significativa
no tamanho do produto (9). A seleção, método proposto por Darwin para
explicação da suposta alteração evolutiva, não se mostrava eficaz. Essas
experiências, feitas em torno de 1909, foram repetidas por outros pesquisadores
com outras espécies, levando aos mesmos resultados.
Como eu havia sido levado a crer, pelos meus
estudos, que quanto mais intensa a seleção, maior o melhoramento, tais
resultados me deixaram bastante surpreso. Johannsen mostrou que a seleção
simplesmente classifica os genes, tornando-se ineficaz quando os genes são
todos iguais, mesmo que existam diferenças devidas ao ambiente.
James D. Watson e F. H. C. Crick, com o seu
trabalho que mostrou a grande complexidade do gene, bem como que a herança a
ser transmitida depende de um código, tornaram difícil acreditar na evolução ao
acaso (10). Esse código assemelha-se a uma palavra, e a sua formação se dá pela
ação de unidades de átomos, da mesma maneira que uma palavra é formada por uma sequência
apropriada de letras. É digno de nota que códigos nunca se formaram sem o
auxílio de uma inteligência.
Reconhece-se que a prova ou a rejeição da evolução
está a cargo dos geneticistas e geologistas. Os desenvolvimentos na Geologia
foram desapontadores para os evolucionistas, no sentido de não terem sido
preenchidos os vazios existentes entre as categorias de fósseis. Da mesma
maneira que nos seres vivos, não se descobriram formas fósseis vegetais ou
animais para preencher os vazios existentes entre as ordens, classes e fila.
Igualmente, após muita paciente pesquisa, não foram descobertos fósseis
inquestionáveis abaixo das rochas do Cambriano. Esses resultados negativos
tornam mais fácil volver ao relato bíblico de uma criação geral no início.
Os
criacionistas organizam-se
Observando as discrepâncias entre as pretensões dos
evolucionistas e os fatos científicos estabelecidos, os modernos cientistas,
bem como não cientistas, criacionistas, juntaram-se para tornar público seus
pontos de vista. Atualmente muitas organizações existem, das quais algumas poucas
serão mencionadas.
O Movimento de Protesto contra a Evolução
(Evolution Protest Movement) fundado na Inglaterra em 1932 foi a primeira
organização, e contou com diversos bons cientistas como dirigentes e membros.
Um deles foi Douglas Dewar, notável ornitologista que viveu muito tempo na
Índia. Essa organização tem permanecido fiel ao seu propósito original.
A Comunhão Científica Americana (American
Scientific Affiliation) formou-se em 1941 mediante o convite feito por um
cidadão a cinco cientistas para reunirem-se a suas expensas. Esses cinco
cientistas constituíram o primeiro Conselho de Diretores, e muitos
criacionistas com bagagem científica tornaram-se membros. Após alguns anos a
declaração de fé foi tornada mais liberal para atrair mais membros, e a carga
contra a evolução foi diminuída. Os assuntos escolhidos para discussão a partir
de então constituíram os atuais objetivos da sociedade.
A Liga de Evidência Cristã (Christian Evidence
League) de Malverne, Nova York, surgiu em 1946 após a dissolução da Associação
Religião e Ciência (Religion and Science Association) devido a desacordo
surgido entre os membros quanto à existência de um possível intervalo entre o
relato de Gênesis 1:1 e 1:2. A Liga publica "O Criacionista", que
cobre tópicos mais amplos do que meramente os referentes à criação e à
evolução.
Após vários anos, o apoio ao criacionismo parecia
diminuir. Mais ou menos em 1960 escrevi ao Dr. Walter Lammerts perguntando-lhe
se não poderíamos fazer algo para aumentar o volume de contribuições científicas
a favor da causa. Respondeu-me então: "Dê-me dez homens de ação e faremos
mais do que todos os outros estão fazendo no momento".
Minha resposta foi que poderíamos achar esses
homens; assim, escrevi para oito pessoas e estabelecemos o "grupo dos dez".
Começamos a publicar auxiliando-nos mutuamente, até que o Dr. Lammerts
vislumbrou a possibilidade de uma organização de maior porte. Em 1963, em uma
convenção conjunta da American Scientific Affiliation e da Evangelical
Theological Society (Sociedade Teológica Evangélica) realizada em Wilmore, no
Estado de Kentucky, um grupo de pessoas interessadas colaborou na redação
preliminar da Declaração de Princípios de uma nova organização, a Sociedade de
Pesquisas Criacionistas (Creation Research Society). O crescimento da Sociedade
tem sido muito maior do que esperávamos, e até agora não achamos necessário
alterar a Declaração de Princípios.
A Associação Bíblia-Ciência (Bible-Science
Association), com sede em Caldwell, Estado de Idaho, foi formada em 1963. Essa
organização publica um boletim informativo e financia a venda de uma grande
variedade de literatura criacionista. Financiou também uma reunião durante
quatro dias com a participação de todos os grupos criacionistas dos Estados
Unidos, em Milwaukee, Estado de Wisconsin, de 10 a 13 de outubro de 1972, com
boa participação, estabelecendo um marco de progresso.
Concluindo, consideremos as características
singulares da presente década - 1963 a 1973. A discussão mantida há cem anos
entre criação e evolução centralizava-se no desacordo existente entre
cientistas e religionistas. Porém, como certo jornalista bem destacou, a
discussão atual é entre dois grupos de cientistas. Embora na década de 1920
tivessem sido escassos nas instituições educacionais os porta-vozes do
criacionismo, existem hoje centenas deles.
Embora as atuais organizações criacionistas tenham
o endosso de muitos teólogos, os criacionistas eminentes de hoje são
cientistas. Muitos deles são moços a moças que descobriram por si sós os erros
do evolucionismo, e perceberam que a criação divina do Universo é um ponto de
vista mais defensável.
Referências
(1) Snyder, L. H., and P. R. David. 1957.
Principles of heredity. Health, New York, p. 348.
(2) Moment, G. 1958. General zoology. Houghton
Mifflin, Boston, p. 20.
(3) Iltis, Hugo. 1932. Life of Mendel. Norton, N.
Y., p 178.
(4) Nelson Byron. 1952. After its kind. Augsburg
Publishing House, Minneapolis, MN, p. 106.
(5) Price, G. M. 1971. Report on Evolution. C. Wm.
Anderson, Editor. Christian Evidence League, Malverne, N. Y., p. 124.
(6) Afirmação pessoal de Price ao autor.
(7) Scopes, J. T., and J. Presley. 1967. Center of
the storm. Holt, Rinehart & Winston, N. Y., pp. 33 e 67. Scopes lecionava
álgebra, física e química, e era treinador de futebol. Por um pequeno período
foi professor de biologia.
(8) Para um relato mais completo: Tinkle, W. J.
Proceedings of Indiana Academy of Science, 65:200 e seguintes.
(9) Sturtevant, A. H. 1965. History of genetics.
Harper & Row, N. Y., p. 59.
(10) Smith, A. E. W. 1970. The creation of life.
Harold Shaw Publisher, Wheaton, III., pp. 17 e 74 e seguintes.
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário