Por Roy Abraham Varguese
De modo paradoxal, o mais importante engano dos
novos ateístas é o mais óbvio de todos os detalhes: eles mesmos. A maior
realidade suprafísica/física que co¬nhecemos por experiência é quem a
experimenta, isto é, nós mesmos. Assim que percebemos que há uma perspectiva de
primeira pessoa, "eu", "me", "mim",
"meu", e assim por diante, encontramos o maior e mais excitante
mistério. Eu existo. Parafraseando Descartes, "eu existo, logo penso,
percebo, intento, interajo". Quem é esse "eu"? Onde está? Como
surgiu? O ser não é apenas alguma coisa física, assim com também não é apenas
alguma coisa suprafísica. Você não está numa particular célula cerebral ou em
alguma outra parte de seu corpo. As células de seu corpo não param de mudar, no
entanto você é sempre o mesmo. Se estudar os neurônios, verá que nenhum deles
tem a propriedade de ser um "eu". Claro que seu corpo faz parte
integral do que você é, mas é um corpo porque é formado como tal pelo ser. Ser
humano é estar num corpo e numa alma.
Numa famosa passagem de seu livro Tratado da
natureza humana, Hume declara: "Quando entro mais intimamente naquilo que
chamo de mim mesmo, nunca posso me encontrar sem uma percepção e nunca posso
observar nada além dessa percepção". Aqui, Hume nega a existência de um
ser simplesmente argumentando que "eu" não consegue encontrar o
"mim". Mas o que unifica suas várias experiências, que permite que
ele esteja consciente do mundo externo, que permanece o mesmo o tempo todo?
Quem está fazendo essas perguntas? Ele presume que "mim" é um estado observável,
como seus pensamentos e sentimentos. Mas o ser não é alguma coisa que possa ser
assim observada. É um constante fato de experiência e, na verdade, o terreno de
toda experiência.
De todas as verdades disponíveis para nós, o ser é,
ao mesmo tempo, o mais óbvio e inexpugnável, e o mais letal para todas as
formas de fisicalismo. Para começar, a negação do ser não pode nem ser
declarada sem contradição. À pergunta "como eu sei que existo", um
professor replicou: E quem está perguntando? O ser é o que somos, e não o que
temos. É o "eu" do qual emerge nossa perspectiva de primeira pessoa.
Não podemos analisar o ser porque não é um estado mental que pode ser observado
ou descrito.
A realidade mais fundamental da qual todos nós
temos consciência, então, é o nosso ser, e uma compreensão do ser lança luz
sobre todas as questões de origem e revela o sentido de realidade como um todo.
Sabemos que o ser não pode ser descrito, muito
menos explicado, em termos de física ou química. A ciência não descobre o ser,
o ser descobre a ciência. Entendemos que nenhuma explicação da história do
universo é coerente se não pode explicar a existência do ser.
Fonte: "Um Ateu Garante: Deus Existe" ed.
Ediouro; pg.165-166.
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