"OS CÉUS PROCLAMAM..."
O espetáculo do Universo sempre tem impressionado
profundamente o homem, na variedade de suas belezas e harmonia de sua
complexidade, na grandeza de suas distâncias e indecifrabilidade de seus
mistérios. Após contemplar, maravilhado, a grandiosidade da Criação, o salmista
Davi exclamou:
"Os céus proclamam a glória de Deus, e o
firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma
noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e
deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua
voz, e as suas palavras até aos confins do mundo" (Salmo 19:1-4. ARA).
Toda a natureza não é mais que o desdobramento da
glória de Deus, pois foi criada para ser seu reflexo, um testemunho do poder de
suas mãos — é o que está maravilhosamente declarado nos 30 primeiros versículos
do Salmo 104. Todos os caminhos que o espírito pensante segue, a partir de
qualquer ponto no extenso círculo do conhecimento humano, o conduzem para o
centro de todas as coisas, para Deus. Tudo — o Céu, a Terra, o dia, a noite, os
astros, os átomos, o oceano e a gota de orvalho sobre a relva — tudo anuncia
Deus.
As pegadas do Criador impressas na Criação são por
demais luminosas para que não sejam vistas. O escritor francês Montelet
Claudius dizia que não era filósofo, mas nunca atravessava um bosque sem pensar
naquele que fizera crescer aquelas imensas árvores; vinha-lhe sempre de longe o
pressentimento da existência de um Ser supremo e desconhecido.
Deus nunca deixou de dar testemunho de Sua
existência: toda a Criação é um livro aberto que em linguagem silenciosa, mas
bastante clara, torna visível a nós o Invisível. Este foi um dos argumentos
usados por Paulo e Barnabé na cidade de Listra, quando, para provar à população
politeísta e idolatra que eles não eram deuses, falaram sobre o verdadeiro
Deus: "... o Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles
há; o qual nos tempos passados deixou andar todas as nações em seus próprios
caminhos. Contudo, não deixou de dar testemunho de si mesmo. Ele mostrou
misericórdia, dando-vos chuvas do céu, e colheita em sua própria estação,
enchendo de mantimento e alegria os vossos corações" (Atos 14:15-17).
Milhões e milhões de globos celestes a rolar pelos
espaços do Universo, descrevendo com incrível rapidez suas gigantescas
trajetórias, sem nunca se desviarem dos eternos e invisíveis eixos onde foram
colocados, proclamam a glória de Deus. A moderna Astronomia já conseguiu
identificar algumas centenas de milhares de sóis, entre a 1ª e a 10ª grandeza.
Os grandes sistemas estelares são chamados de galáxias. Cada uma delas pode
agrupar de um bilhão a um trilhão de estrelas. Ora, os cientistas calculam que
o Universo seja composto de, no mínimo, 10 bilhões de galáxias. Tudo isto
proclama a glória de Deus!
A GRANDEZA DO UNIVERSO
Chama-se Universo "o conjunto de tudo quanto
existe (incluindo-se a Terra, os astros, as galáxias e toda a matéria
disseminada no espaço), tomado como um todo", segundo a definição de
Aurélio. A imensidão do espaço celeste está de tal forma acima da noção de
distância usada por nós, seres humanos, que metros, quilômetros e milhas
tornam-se medidas quase sem significação ou valor quando aplicadas às
gigantescas longitudes existentes entre os astros. Por esse motivo, o sistema
criado para se medir essas distâncias chama-se ano-luz. Para o leitor ter uma ideia
de como esse sistema funciona, basta saber que, em um segundo (exatamente o
tempo que nós levamos para fechar e abrir imediatamente os olhos, o chamado
"piscar de olhos"), a luz percorre 300.000 quilômetros.
E por esse motivo que, durante as chuvas com
trovões e relâmpagos, vemos primeiramente o raio luminoso riscar o céu, e algum
tempo depois é que ouvimos o barulho do trovão. Isto acontece porque o som
demora muito mais tempo para chegar até nós do que a luz. Enquanto o som
percorre 360 metros em um segundo, a luz percorre, no mesmo tempo, 300.000
quilômetros! Pois bem. Apliquemos agora estas informações à grandeza do
Universo.
A Terra está separada do Sol por uma distância de
aproximadamente 150.000.000 (Cento e cinquenta milhões) de quilômetros. O mais
veloz de nossos foguetes espaciais levaria mais de 10 anos para chegar lá.
Porém, a luz gasta só oito minutos para percorrer esse imenso espaço que nos
separa da estrela solar que nos aquece e ilumina! Denomina-se ano-luz a
distância cujo percurso a luz leva um ano inteiro para percorrer, viajando à
fantástica velocidade de 300.000 quilômetros por segundo! Isto significa
percorrer uma distância 63.000 vezes maior que a que nos separa do Sol. Um
ano-luz tem 9.450.800.000.000 (nove trilhões, quatrocentos e cinquenta bilhões
e oitocentos milhões) de quilômetros. Ora, para que se tenha uma ideia do
quanto as distâncias no Universo são imensas, basta saber que Alfa do Centauro,
a estrela mais próxima da estrela que nos ilumina, ou seja, o Sol mais próximo
do nosso Sol, está distante da Terra em cerca de quatro anos-luz. É o nosso
vizinho mais próximo!
QUEM CRÍOU TANTAS MARAVILHAS?
Quem criou e povoou de sóis e planetas esse grandioso
Universo, cujo tamanho e distâncias estão infinitamente acima de nosso limitado
entendimento? Quem deu movimento a esses gigantescos corpos celestes? Quem lhes
dotou de ordem e harmonia tais que palavras humanas não conseguem exprimir?
Quem foi que lançou os alicerces invisíveis e inabaláveis dos astros, e quem
mantém a Terra suspensa sobre o Nada? Quem somos nós diante dessas imensidões,
ou onde estávamos quando tudo isto foi criado?
"Onde estavas tu, quando eu lançava os
fundamentos da terra?" perguntou o Senhor a Jó, ao longo dos capítulos 38
e 39 do livro que nos relata a história do velho patriarca de Uz. Quem lhe pôs
as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre o que
estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina, quando
as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus
rejubilavam?" Sugerimos que o leitor leia diretamente em sua Bíblia esses
dois capítulos, cuja beleza e profundidade têm, ao longo dos séculos, conquistado
a admiração e a reverência dos maiores estudiosos das grandezas e fenômenos do
Universo.
"GENERAL, DEUS EXÍSTE!"
Porém, conforme comentou um astrônomo, a maior
parte dos seres humanos passa toda a sua vida sem voltar um só instante o
pensamento para os grandes mistérios da Criação. Sabe-se que o imperador
Napoleão Bonaparte gostava muito de conversar sobre a existência de Deus. Certa
vez, durante uma dessas conversas com o general Bertrand, este, que
confessava-se ateu, perguntou a Napoleão:
— Quem é Deus? Será que já o viste alguma vez?
Fitando-o calmamente, Napoleão respondeu:
— General, nunca viste minha inteligência, porém,
todas as vezes que presenciaste ou tiveste notícia de alguma das minhas
vitórias, acreditaste em mim, e me exaltaste. E que são minhas vitórias diante
das obras do Onipotente? Que são meus mais brilhantes feitos de armas diante do
movimento das estrelas? Se, observando as ações de um homem, tu o consideras
alguém dotado de grande inteligência, porque te negas a reconhecer a existência
de um Deus Criador, cujas obras admiráveis estão espalhadas por toda a parte, e
dão testemunho de Sua grandeza? General, Deus existe!
O grande filósofo grego Aristóteles, esforçando-se
para deixar bem claro aos seus alunos ser impossível não reconhecer a
existência e o domínio de Deus sobre a Natureza, disse certa vez que aquele
que, em cima de um alto monte, vendo passar o exército dos gregos, tendo à
frente os cavaleiros em seus cavalos, seguidos pelos carros de guerra e os
combatentes a pé, será obrigado a pensar que alguém, necessariamente, deve
estar à frente, comandando aquela multidão de guerreiros. Do mesmo modo, quem
vê no mar um navio deslizando sobre as águas, sabe que existe um piloto a
bordo, que o conduzirá ao porto de forma segura. Assim também aqueles que
erguem os olhos para o céu e veem o Sol seguir seu curso do oriente para o
ocidente, e toda a frota das estrelas em perfeita harmonia, certamente
procurará saber quem é o Criador desses corpos celestes, pois jamais aceitará
que tantas e tão perfeitas maravilhas sejam obra do acaso.
Esse Criador é Deus. "Quão grande é Deus, quão
grande é Deus" — dizia Ampere (1775-1836), o cientista descobridor da
eletricidade — "e quão pouco é o que nós sabemos sobre ele!' Alguém já
disse sabiamente que o mais alto conhecimento que podemos ter de Deus nesta
vida, é saber que ele está sempre acima de tudo o que pensarmos a seu respeito.
OS HOMENS SERÃO INDESCULPÁVEIS
Deus existe desde a eternidade, é a origem da Vida;
tem a Vida em si mesmo. O Universo e tudo o que nele há foram chamados à
existência pela sua onipotência, segundo o supremo modelo de sua sabedoria e
bondade.
Que é todo esse mundo visível (perguntou o escritor
espanhol Luís de Granada) senão um grande e maravilhoso livro que vós, Senhor,
escrevestes e oferecestes aos olhos de todas as nações do mundo, tanto de
gregos como de bárbaros, tanto de sábios como de ignorantes, para que nele
todos estudassem e conhecessem quem vós sois? Que serão, portanto, todas as
criaturas do mundo, tão formosas e tão bem formadas, senão como letras
divididas e iluminadas, que declaram o primor e a sabedoria do seu Autor?... E
por vossas perfeições serem, Senhor, infinitas, e como não podia haver uma só
criatura que as pudesse representar todas, foi necessário criar-se muitas, para
que assim, a pedaços, cada uma por sua parte nos declarassem algo de tuas
perfeições.5
As Escrituras Sagradas mostram que aqueles que se
negam a reconhecer a existência de Deus, mesmo tendo os olhos do entendimento
voltados para as suas inumeráveis obras, serão indesculpáveis. É o que argumenta
o apóstolo Paulo no primeiro capítulo de sua Carta aos Romanos, cujos
versículos 19, 20 e 21 constituem-se as bases da chamada "Teologia
natural" defendida pelo apóstolo: "... visto que o que de Deus se
pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lhes manifestou. Pois os
atributos invisíveis de Deus, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno
poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que
foram criadas, de modo que eles são inescusáveis. Pois tendo conhecido a Deus,
não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes seus raciocínios se
tornaram fúteis, e seus corações insensatos se obscureceram."
Comentando esta passagem de Romanos, o grande
pregador grego João Crisóstomo perguntava:
Deus então chamou os pagãos à viva voz? Decerto que
não. Contudo, ele criou algo capaz de chamar a atenção mais do que as palavras.
Ele colocou o mundo criado no centro, e deste modo podem o sábio e o ignorante,
o grego e o bárbaro remontar do simples aspecto das coisas visíveis até Deus.6
A verdade é que a capacidade natural que permite ao
homem reconhecer a existência de Deus a partir do testemunho da Criação,
atrofia-se pouco a pouco naqueles que se negam a usá-la. O coração endurecido
dessas pessoas, cujo maior objetivo na vida é gozar de tudo o que de perecível
o mundo lhes oferece, não tem interesse algum em adquirir qualquer conhecimento
acerca do Deus soberano que reina sobre todas as coisas.
Porém, o fato de essas pessoas deixarem que essa
capacidade natural de reconhecimento da existência do Criador se atrofie, por
falta de uso, não significa que elas, apesar de possuírem um coração
endurecido, não tenham sido dotadas dessa capacidade. Todos os seres humanos a
possuem, e é por isso que muitos terão de responder diante de Deus por esse
desconhecimento, conforme escreveu o apóstolo Paulo.
Não poderíamos concluir este capítulo sem citar
esta belíssima oração do grande teólogo protestante francês Fénelon:
Meu Deus! Se tantos homens não te descobrem nesse
belo espetáculo que lhes dás da Natureza inteira, não é que estejas tão longe
deles. A tua luz resplandece nas trevas, mas as trevas são tão densas que a não
compreendem. Manifesta-te em toda parte, mas em toda parte os homens, por
descuidosos, não te veem.
Toda a Natureza fala de ti, e tece louvores ao teu
santo nome, mas os homens, voluntariamente surdos, nada ouvem. Eles
achar-te-iam, ó doce luz, ó eterna beleza sempre antiga e sempre nova, ó fonte
de delícias, ó fonte de vida pura e bem-aventurada de todos os que vivem verdadeiramente...
eles achar-te-iam, se te procurassem. Vivem de ti, mas sem pensar em ti.
Adormecem no seio paternal e, cheios de sonhos mentirosos que os agitam no
dormir, não sentem a mão poderosa que os ampara. A ordem e a beleza que
derramas sobre a face das tuas criaturas é para eles como um véu que encobre os
seus olhos doentes de incredulidade. O miséria, ó noite espantosa que envolve
os filhos de Adão! O homem só tem olhos para ver sombras, e a verdade
parece-lhe uma miragem! O que nada é, é tudo para ele, e o que tudo é, nada lhe
parece! Ai da alma ímpia que longe está de ti, sem esperança, sem eterna
consolação. Porém, feliz é aquela que te procura, que suspira, que tem sede de
ti; e mais feliz ainda é aquela sobre a qual brilha a luz da tua face, cujas
lágrimas a tua mão enxugou, cujos desejos o teu amor já cumpriu. Quando será,
Senhor, o belo dia claro e eterno em que tu hás de ser o Sol, e em que banharás
os nossos corações na plenitude de tua presença e glória? Nós, os que te
servimos e adoramos, vivemos suspirando por este dia.7
BIBLIOGRAFIA
1. Citado por Igino Giordani, in Deus. Tradução de
Aldo Delia Nina. São Paulo. Rede Latina Editora, 1948, p. 129.
2. Citado por Alfredo Maria Mazzei, in Existe Deus?
Rio de Janeiro. Editora A Noite, 1948, p. 218.
3. In A Idéia de Deus, de José Pereira de Sampaio.
Porto. Livraria Chardron, 1902, p. 237.
4. In Deus: As Mais Belas Orações em Prosa e Verso,
de J. Pantaleão dos Santos. Petrópolis, Vozes, 1963, p. 112.
5. Citado por Marcelino Menendez y Pelayo, in História
de Ias Idéias Estéticas en Espana. Buenos Aires. Espasa-Calpe, 1943, Vol. II,
pp. 87, 88.
6. Citado por Frederic Bettex, in La Grandeza dei
Dios Trino y Uno. Versão livre de Teóíilo Dolmetsch. Buenos Aires, Tall. Graf.
A. Minski, 1955, p. 102.
7. François de Fénelon. Demonstração da Existência
de Deus. Porto, Tipografia de Manoel José Pereira, 1871, p. 136.
Fonte:
"Provas da Existência de Deus"; Jefferson
Magno Costa; editora Vida; pg.21-27.
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