Semana passada o site brasileiro HypeScience
repercutiu uma pesquisa feita no fim do ano passado, na Islândia. A sondagem,
encomendada pela Associação Ética e Humanista da Islândia (Siðmennt,
em islandês) e realizada pelo instituto Maskína, tratou de diversos assuntos
ligados à religião, mas um dos resultados mais destacados foi a porcentagem de
jovens islandeses que acreditam que Deus criou o universo: absolutamente zero.Mas
como poderia ser assim, se 61,1% dos entrevistados diziam crer em Deus e 46,4%
dos entrevistados abaixo de 25 anos se declararam religiosos? Seria uma crença
muito peculiar, que exclui a ação criadora de Deus?
A resposta parece estar no próprio questionário da
pesquisa. O HypeScience mostra que a pergunta feita aos islandeses era “Como
você acha que o universo surgiu?”, e o entrevistado precisava escolher entre “O
universo surgiu no Big Bang”, “Deus criou o universo”, “Outro” e “Não sei”.
Entre os jovens com menos de 25 anos, 93,9% citaram o Big Bang, 6,1% não sabiam
ou deram outras respostas, e nenhum respondeu que Deus tinha sido o criador.
E aí está o grande problema: a pesquisa forçou os
entrevistados a escolher entre afirmações que não são excludentes, pois é
perfeitamente possível defender que o universo surgiu com o Big Bang e
acreditar que Deus é o criador do universo. E isso não é coisa do papa
Francisco, como parece fazer entender a reportagem do HypeScience: a
compatibilidade entre o Big Bang e uma crença religiosa jamais foi colocada em
questão, até porque seu formulador era um padre católico, Georges Lemaître.
A União Ética e Humanista Internacional preferiu
tascar uma manchete diferente, dizendo que
o criacionismo estava morto na Islândia. Mas é uma
afirmação que também não pode ser feita só com os números da pesquisa. Não se
usarmos o conceito mais comum de criacionismo, que está relacionado diretamente
à questão da evolução das espécies e, no caso do criacionismo de Terra jovem, à
idade do planeta. A essa altura, chamar de “criacionismo” a mera crença de que
o universo surgiu por um ato criador de uma divindade é forçar muito a barra.
Então, o que temos é uma pesquisa feita de uma
maneira um tanto tosca e superficial (não consegui descobrir se o questionário
foi elaborado pelo Maskína ou pela Siðmennt), cujos resultados também estão sujeitos
a interpretações toscas e superficiais. No fim, só vai servir mesmo como peça
de propaganda ateísta.
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