Os paleontólogos não somente debatem sobre o
Archaeopteryx ser ave ou dinossauro, mas também se era capaz de voar, e se era
terrestre ou arbóreo.
Alguns têm proposto que ele era uma espécie
estritamente terrestre que absolutamente não podia voar, e que suas asas teriam
sido utilizadas para apanhar insetos (Ostrom, 1976).
Entre os argumentos utilizados inclui-se a ausência
de ossos peitorais em que pudessem se fixar os fortes músculos necessários para
o vôo.
No entanto, a maioria dos cientistas sustenta que
possuir asas é um argumento convincente que aponta para a capacidade de voar.
O estudo da simetria das penas em aves modernas tem
lançado luz nesse sentido. As aves voadoras possuem penas assimétricas cuja
haste está deslocada para um dos lados da pena, ao contrário das aves não
voadoras, que possuem penas simétricas, cuja haste está justamente no meio das
duas seções de barbas da pena. A assimetria é tanto mais pronunciada quanto
mais poderoso é o vôo da ave, como é o caso dos falcões, águias, gaivotas e
colibrís, enquanto é menos pronunciada ou nula nas aves galiformes, cuja capacidade
voadora é reduzida ou nula. Segundo Feduccia e Tordoff (1979), as penas do
espécime de Archaeopteryx de Berlim (somente três espécimes têm penas
suficientemente conservadas para se medir a assimetria) são claramente
assimétricas, isto é, o Archaeopteryx estava plenamente capacitado, no que se
refere a penas, para desenvolver um vôo ativo e forte.
Esses
autores indicam que:
O fato de que o padrão básico e as proporções das
asas das aves modernas estavam presentes no Archaeopteryx e não tenham mudado
essencialmente durante aproximadamente 150 milhões de anos (desde o Jurássico),
e que as penas individuais do vôo mostraram a assimetria característica de um
projeto aerodinâmico, parece indicar que o Archaeopteryx tinha uma asa
projetada aerodinamicamente e que, ao menos, era capaz de planar (Feduccia
& Tordoff, 1979).
Entretanto, Speakman e Thomson (1994), utilizando
um método ligeiramente diferente para medir a simetria das penas, chegaram à
conclusão de que as penas do Archaeopteryx eram mais semelhantes às de uma ave
planadora, ou não voadora, do que as de uma ave com vôo potente.
Então, era o Archaeopteryx uma ave capaz de vôo
ativo, ou somente era capaz de planar nas alturas, ou ainda carecia de qualquer
capacidade de voar?
Até o momento, não parece que o estudo das penas do
Archaeopteryx tenha oferecido uma evidência definitiva.
Era de se esperar que a anatomia da asa nos permitisse
elucidar esse problema. Os estudos acerca da osteologia da articulação da asa
do Archaeopteryx indicam que esse animal não podia manter o bater de asas ativo
(Speakman e Thomson, 1993). Parece que a articulação da asa do Archaeopteryx
não tinha a flexibilidade requerida para os complexos e variados movimentos do
vôo potente. O mesmo se pode dizer da articulação do ombro, a qual não tem a
configuração necessária para permitir uma grande gama de movimentos (Nedin,
1999).
As avaliações da força muscular peitoral são, por
sua vez, contraditórias entre diversos autores. Ruben (1991) calculou que o
Archaeopteryx deve ter tido uma massa muscular peitoral correspondente a 9% de
seu peso corporal, muito abaixo dos 30% das aves voadoras modernas.
Além disso, nenhum exemplar de Archaeopteryx achado
até agora apresenta esterno nem quilha, ambos imprescindíveis para a inserção
dos poderosos músculos do vôo.
No entanto, outros fósseis semelhantes ao
Archaeopteryx achados na China sugerem que essa espécie pode ter possuído
esterno, mesmo que por alguma razão ele não tenha sido fossilizado.
A recente descoberta de pneumatização nos ossos
ocos do Archaeopteryx (Britt, 1998) não resolve o debate a favor do vôo ativo,
pois algumas aves da família Bucerotidae têm os maiores espaços ocos, dentre
todas as aves e, no entanto, são voadoras limitadas (Brown, 1987).
Mais um detalhe para complicar o debate acerca da
capacidade de vôo do Archaeopteryx é que a tal espécie não parece ter tido o
músculo supracoracoide, que é o que se encarrega da abdução (movimento de
elevação) da asa nas aves modernas (Ostrom, 1974).
Do Solo para
as Árvores ou das Árvores para o Solo?
A segunda questão é se o Archaeopteryx era capaz de
voar planando da copas das árvores até o solo (hipótese arbórea), ou o fazia
agitando suas asas até levantar vôo do solo (hipótese cursorial).
Os especialistas estão muito divididos a esse
respeito e diversos conjuntos de evidências são utilizados para apoiar uma ou
outra hipótese.
Por exemplo, de acordo com Alan Feduccia (1993) a
geometria das garras dos pés e das mãos (asas) indica que o Archaeopteryx tinha
hábitos arbóreos, que era capaz de escalar os troncos das árvores, e que se
agarrava fortemente aos ramos. E não só isso, o mesmo autor sustenta que as
garras das patas do Archaeopteryx teriam sido um enorme obstáculo para ele
caminhar ou correr sobre o solo. Yalden (1985) também está a favor da hipótese
arbórea, baseando-se em um estudo comparativo das garras do Archaeopteryx com
as das aves e mamíferos modernos. Segundo esse autor, as garras da ave fóssil
se parecem muito com as dos pica-paus (Dendrocopus) e as de certos morcegos
(Hipposideros), que são animais que vivem sobre as árvores e não sobre o solo.
Ao contrário do que Feduccia e Yalden concluem, Pat
Shipman (1998) e Paul Sereno (citado em Morell, 1993) consideram que os ossos e
a estrutura da articulação das asas do Archaeopteryx indicam que não eram
adequados para escalar árvores. Ostrom indica que o tubérculo flexor (uma
pequena depressão no osso da falange do pé, onde se inserem os músculos que
movem as garras) é pequeno, o que indica que só músculos fracos poderiam aderir
a ele, e como conseqüência, o Archaeopteryx não pode ter sido uma ave arbórea.
Vemos aqui como o mesmo conjunto de caracteres pode
ser interpretado de duas maneiras opostas, resultando em modelos muito
diferentes para o que deveria ter sido o Archaeopteryx e para a suposta
evolução do vôo das aves. A hipótese arbórea enfrenta outros problemas de
grande importância que não foram resolvidos.
Em primeiro lugar, temos de apontar para o fato de
que, mesmo que tenham sido encontrados fósseis de plantas arborescentes nas
rochas sedimentares de Solnhofen (inúmeras samambaias ou pteridospermas,
coníferas, cicadáceas e gingkos, plantas cuja altura não ultrapassava três
metros), não foram achados fósseis de árvores de grande porte nas rochas em que
foram encontrados os fósseis de exemplares do Archaeopteryx (Barthel et al.,
1990; Frickhinger, 1994,1999). Com muita probabilidade, essa ave teria vivido num
ambiente pouco favorável para a aprendizagem do vôo utilizando a técnica de
decolagem das árvores. Esses e outros argumentos são utilizados pelos
opositores à hipótese arbórea para propor que as aves desenvolveram a
capacidade de voar partindo do solo (hipótese cursorial) (Brooks, 1993; Qiang
et al., 1998; Unwin, 1998).
Qualquer das duas hipóteses apresenta grandes
problemas de interpretação devido à natureza dos próprios restos fósseis e à
ausência de exemplares com caracteres intermediários entre voadores e não
voadores.
Há que se reconhecer que, mesmo que o Archaeopteryx
possua um mosaico de características de répteis e aves, suas asas bem
desenvolvidas e suas penas de aparência moderna pressupõem um enorme salto
evolutivo que não tem, ainda, explicação, apesar de diversas conjecturas não
demonstráveis.
O que houve
entre o Archaeopteryx e seus predecessores sem asas nem penas?
Não existem, em absoluto, exemplares que ilustrem
tal salto evolutivo.
Não devemos esquecer que não é simplesmente a
evolução das penas, mas também das estruturas, órgãos e fisiologia que
possibilitariam seu uso efetivo e real.
As penas teriam de ter evoluído coordenadamente com
as estruturas que as controlam e fazem funcionar, com a endotermia e as enormes
mudanças bioquímicas e fisiológicas que isso implica. Não é somente o
aparecimento de uma cobertura de plumagem no exterior, mas todo um conjunto de
características que contribui para o funcionamento de um complicadíssimo órgão
de movimento.
Alguém pode se perguntar para que o Archaeopteryx
(ou qualquer outro suposto ancestral das aves) teria que ter asas, ou
precursores de asas, durante milhões de anos se não eram cem por cento
funcionais.
Seguindo o raciocínio darwinista de que somente os
mais bem adaptados sobrevivem, e de que as estruturas que não levam alguma
vantagem para a espécie desaparecem, então por que a evolução haveria de manter
uma estrutura anatômica que não era operacional, durante milhões de anos, à
espera de que eventualmente o fosse no futuro? Se isso assim ocorreu poderíamos
pensar que a evolução tem capacidades preditivas que bem poderiam ser
catalogadas dentro do reino profético-religioso.
Segundo Michael Benton (1993), “A origem das penas
constitui um mistério que o Archaeopteryx não ajuda a resolver, pois as suas
são completamente modernas”.
A evolução do vôo é algo tão misterioso do ponto de
vista darwinista que, até agora, os paleontólogos evolucionistas não
encontraram respostas válidas às numerosas incógnitas que se apresentam.
O desenvolvimento da capacidade de vôo por parte
dos supostos répteis primitivos requereria a aquisição de uma série de
adaptações muito complexas e avançadas do ponto de vista fisiológico e
anatômico, como por exemplo:
1. A endotermia (os répteis são ectotérmicos);
2. Uma alta taxa de metabolismo (os répteis têm uma
baixa taxa metabólica);
3. E a perda de adaptações e órgãos que teriam sido
totalmente úteis e “aceitos” pela seleção natural nos predecessores.
Chegamos aqui a um aspecto que questiona a validade
da seleção natural como motor da evolução:
Por que a evolução haveria de “melhorar” ou mudar
estruturas que já se demonstrou que funcionam adequadamente?
Nesse caso, o Archaeopteryx não ajuda a resolver o
mistério do surgimento do vôo em termos evolutivos, de quem foram seus
precursores, se é que existiram, nem de quando deve ter ocorrido tal salto
evolutivo, se é que ocorreu.
Conclusão:
O Archaeopteryx tem sido um enigma desde que foi
descoberto, devido à combinação de características que possui, muitas das quais
típicas de dinossauros terópodes, com outras próprias de alguns répteis, e com
algumas outras que são exclusivas das aves.
Sem dúvida, o que mais chama a atenção é a presença
de penas no que, segundo a maior parte dos autores reconhece, é um esqueleto preponderantemente
terópode.
Não é sem razão que ornitólogos e paleontólogos não
entram em acordo quanto à natureza desse animal.
Alguns, como Gauthier (1989) simplesmente
classificam o Archaeopteryx e todas as aves modernas e fósseis como répteis,
indicando ainda sua preferência por uma linha evolutiva desde os terópodes.
A maioria dos autores criacionistas situam o
Archaeopteryx entre as aves verdadeiras (Oard, 1993), mesmo que, provavelmente,
nenhum deles tenha chegado a realizar um estudo detalhado das características
específicas do Archaeopteryx, em comparação com as aves e com os dinossauros.
O autor do presente artigo sustenta que o
Archaeopteryx foi uma criatura com características únicas que talvez não possa
ser catalogada dentro de nenhuma categoria atual de seres vivos. Sua origem e
sua natureza são obscuras, e é possível que tenha sido um exemplo a mais da
enorme capacidade imaginativa do Criador.
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