Uma apologia, por Dr. Norman Geisler.
Alguns críticos contemporâneos do cristianismo
argumentam que essa religião não é baseada na revelação divina, mas foi
emprestada das religiões de mistério, tais como o mitraísmo. O autor mulçumano
Yousuf Saleem Chishti atribui doutrinas como a divindade de Cristo e a expiação
a ensinamentos pagãos dos pais da igreja.
Teoria de fonte pagã. Chishti tenta demonstrar a
vasta influência das religiões de mistério sobre o cristianismo:
“A doutrina cristã da expiação de pecados foi
altamente influenciada pelas religiões de mistério, principalmente o mitraísmo,
que tinha seu filho de deus e mãe Virgem, crucificação e ressurreição após
expiação dos pecados da humanidade e, finalmente, sua ascensão ao sétimo céu.”
Ele acrescenta:
Quem estudar os ensinamentos do mitraísmo
juntamente com os do cristianismo, certamente se surpreenderá com a afinidade
que é visível entre eles, tanto que muitos críticos são obrigados a concluir
que o cristianismo é o fac-símile ou a segunda edição do mitraísmo (Chishti,
p.87).
Chishit descreve algumas semelhanças entre Cristo e
Mitra: Mitra foi considerado o filho de Deus, foi um salvador e nasceu de uma
virgem, teve doze discípulos, foi crucificado, ressuscitou dos mortos no
terceiro dia, expiou os pecados da humanidade e voltou para o seu pai no céu
(ibid.,87-8).
Avaliação: Uma leitura honesta do NT demonstra que
Paulo não ensinou uma nova religião nem baseou-se em mitologia existente. As
pedras fundamentais do cristianismo são tiradas claramente do judaísmo em geral
e da vida de uma personagem histórica chamada Jesus.
Jesus é a origem da religião de Paulo. Um estudo
cuidadoso das epístolas e dos evangelhos revela que a fonte dos ensinamentos de
Paulo sobre a salvação era o AT e os ensinamentos de Jesus. Uma comparação
simples dos ensinamentos de Jesus e Paulo demonstrará isso.
Ambos ensinaram que o cristianismo cumpria o
judaísmo. Paulo, como Jesus, ensinou que o cristianismo era um cumprimento do
judaísmo. Jesus declarou:
“Não pensem que vim abolir a Lei ou os profetas;
não vim abolir, mas cumprir” (Mt 5.17). Jesus acrescentou:“A lei e os Profetas
profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas
do Reino de Deus, e todos tentam forçar sua entrada nele.É mais fácil os céus e
a terra desaparecerem do que cair da lei o menor traço." (Lc.16.16,17).
O cristianismo de Paulo e de Jesus é bom conhecedor
do judaísmo e está completamente alheio às seitas de mistério. Paulo escreveu
aos romanos: “Porque o fim da lei é Cristo, para a justificação de todo o que
crê” (Rm 10.4). Ele acrescentou aos colossenses: “Ninguém os julgue pelo que
vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou a
celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do
que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo” (Cl 2.16,17).
O cristianismo ensinou que os seres humanos são
pecadores. tanto Paulo quanto Jesus ensinaram que os seres humanos são
pecadores. Jesus declarou: “Eu lhes asseguro que todos os pecados e blasfêmias
dos homens lhes serão perdoados” (Mc 3.28). Ele acrescentou em João: “ Eu lhes
disse que vocês morrerão em seus pecados.se vocês não crerem que eu Sou (aquele
que afirmo ser), de fato morrerão em seus pecados.” (Jo 8.24).
Paulo declarou que todos os seres humanos são
pecadores, insistindo em que “todos pecaram e estão destituídos da glória de
Deus” (Rm 3.23). Ele acrescentou em Efésios: “Vocês estavam mortos em suas
transgressões e pecados”(Ef.2.1). Na verdade, parte da própria definição do
evangelho era que “Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras” (1
Co 15.3).
O cristianismo ensinou que a expiação de sangue era
necessária. Tanto Jesus como Paulo insistiram em que o sangue derramado de
Cristo era necessário como expiação pelos nossos pecados. Jesus proclamou:
“Pois nem mesmo o Filho do Homem veio para ser servido, mas para servir e dar a
sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.45).
Ele acrescentou na Última Ceia: “Isto é o meu
sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados”
(Mt 26.28).
Paulo também é enfático. Afirmou que em Cristo
“temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com
as riquezas da graça de Deus” (Ef.1:7).
Em Romanos, acrescentou: “Mas Deus demonstra seu
amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores” (5.8).Referindo-se
à páscoa do AT., ele disse: “Cristo nosso Cordeiro pascal foi sacrificado” (1
Co 5.7).
O cristianismo enfatizou a ressurreição de Cristo.
Jesus e Paulo também ensinaram que a morte e o sepultamento de Jesus foram
completados por sua ressurreição corporal . Jesus disse:
“está escrito que o Cristo haveria de sofrer e
ressuscitar ao terceiro dia” (Lc 24.46).
Jesus fez um desafio:
”Destruam este templo, e eu o levantarei em três
dias (...)Mas o templo do qual ele falava era o seu corpo”( Jô 2.19,21).
Depois de ressuscitado dos mortos, seus discípulos
lembraram-se do que ele disse. Então creram nas escrituras e nas palavras que
Jesus havia dito (Jo 2.22;cf. 20.25-29).
O apóstolo Paulo também enfatizou a necessidade da
ressurreição para a salvação.
Aos romanos ele escreveu:
“Ele (Jesus) foi entregue à morte por nossos
pecados e ressuscitado para nossa justificação”( Rm 4.25). Na verdade, Paulo
insistiu que a crença na ressurreição era essencial para a salvação, ao
escrever:
“Se você confessar com a sua boca que Jesus Cristo
é senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dos mortos, será salvo”
(Rm 10.9).
O cristianismo ensinou que a salvação é pela graça
mediante a fé. Jesus afirmou que todas as pessoas precisam da graça de Deus. Os
discípulos de Jesus lhe disseram: “Neste caso, quem pode ser salvo?”.
Jesus olhou para eles e respondeu: “para o homem é
impossível, mas para Deus, todas as coisas são possíveis (Mt 19.25,26).
Em todo o evangelho de João, Jesus apresentou
apenas uma maneira de obter a salvação graciosa de Deus: “Quem crê no Filho tem
a vida eterna” (3.36; v.3.16;5.24;Mc 1.15).
Paulo ensinou a salvação pela graça mediante a fé,
afirmando:
“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé,
e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras para que ninguém se
glorie” (Ef 2.8,9; v. Tt 3. 5-7). Ele acrescentou aos romanos: “Todavia, àquele
que não trabalha mas confia em Deus, que justifica o ímpio, sua fé lhe é
creditada como justiça” (4.5).
Uma comparação dos ensinamentos de Jesus e Paulo
sobre salvação revela claramente que não há base para especular sobre qualquer
fonte dos ensinamentos de Paulo além dos ensinamentos de Jesus.
O cristianismo baseou-se no judaísmo e não no
mitraísmo.
Na realidade, a mensagem de Paulo acerca do evangelho
foi examinada e aprovada pelos apóstolos originais (Gl 1 e 2 ), demonstrando o
reconhecimento oficial de que a sua mensagem não se opunha a de Jesus.
A acusação de que Paulo corrompeu a mensagem
original de Jesus foi respondida a muito tempo por J. Gresham Machen na sua
obra clássica A origem da religião de Paulo e por F. F. Bruce em Paulo e Jesus.
Origem da Trindade: A doutrina cristã da Trindade
não tem origem pagã. As religiões pagãs eram POLITEÍSTAS e PANTEÍSTAS, mas os
trinitários são monoteístas. Os trinitários não são TRITEÍSTAS que acreditam em
três deuses separados; eles são monoteístas que acreditam num deus manifesto em
três pessoas distintas.
Embora o termo Trindade ou sua fórmula específica
não apareçam na Bíblia, ele expressa fielmente todos os dados bíblicos. Uma
compreensão precisa do desenvolvimento histórico e teológico dessa doutrina
ilustra de forma ampla que foi exatamente por causa dos perigos do paganismo
que o Concílio de Nicéia formulou a doutrina ortodoxa da Trindade. Pra um
tratamento breve da história dessa doutrina, v. E. Calvin Beisner, (Deus em
três pessoas).Dois clássicos nessa área são G.L. Prestige (Deus no pensamento
patrístico) e J.N.D. Kelly, Doutrinas centrais da fé cristã.
Mitraísmo e cristianismo. Com base nisso é evidente
que o cristianismo se originou do judaísmo e dos ensinamentos de Jesus.É
igualmente evidente que ele não se originou do mitraísmo. As descrições de
Chishti dessa religião são infundadas. Na verdade ele não dá referências para
as semelhanças que alega. Ao contrário do cristianismo, o mitraísmo é baseado
em mitos. Ronald Nash, autor de O cristianismo e o mundo Helenístico, escreve:
O que sabemos com certeza é que o mitraísmo, tal
como seus competidores entre as religiões de mistérios, tinha um mito básico.
Mitra supostamente nasceu quando emergiu de uma rocha; estava carregando uma
faca e uma tocha e usando um chapéu frígio. Lutou primeiro contra o Sol e
depois contra um touro primevo, considerado o primeiro ato da criação. Mitra
matou o touro, que então se tornou a base da vida para a raça humana (Nash,
p.144).
O cristianismo afirma a morte física e ressurreição
corporal de Cristo. O mitraísmo, como outras religiões pagãs, não tem
ressurreição corporal. O autor grego Ésquilo resume a visão grega: “Quando a
terra tiver bebido o sangue de um homem, depois de morto, não há ressurreição”.
Ele usa a mesma palavra grega para ressurreição , anastasis , que Paulo usa em
1 Coríntios 15 (Ésquilo, Eumenides, p.647).Nash observa:
“Alegações da dependência cristã primitiva do
mitraísmo foram rejeitadas por várias razões. O mitraísmo não tem conceito da
morte e ressurreição de seu deus nem lugar para qualquer conceito de
renascimento – pelo menos durante seus primeiros estágios(...) Durante os
primeiros estágios da seita, a idéia de renascimento seria estranha à sua visão
básica (...) Além disso, o mitraísmo era basicamente uma seita militar.
Portanto é preciso ser cético com relação à sugestões de que tenha atraído
civis como primeiros cristãos.
Mitraísmo -
encerrando o caso.
Conclusão Todas as alegações de dependência cristã
para com as religiões gnósticas e de mistério foram rejeitadas por
especialistas em estudos bíblicos e clássicos. O caráter histórico do
cristianismo e a data antiga dos documentos do NT não oferecem tempo suficiente
para desenvolvimentos mitológicos. E há uma falta absoluta de evidência antiga para
apoiar tais idéias.o teólogo britânico Norman Anderson explica:
” A diferença básica entre o cristianismo e as
religiões de mistério é a base histórica de um e o caráter mitológico das
outras. As divindades das religiões de mistério eram apenas “figuras nebulosas
de um passado imaginário”, enquanto o cristo que o kerigma apostólico proclamou
que viveu e morreu poucos anos antes dos primeiros documentos do NT serem
escritos. Mesmo quando o apóstolo Paulo escreveu sua primeira carta aos
Coríntios, a maioria das cerca de quinhentas testemunhas da ressurreição ainda
estava viva.(Anderson, p. 52-3).
Também há evidências que revelam que a informação
de que Mitra teria sido crucificado, morrido, ressuscitado e ascendido, surgiu
por volta de 400 d.C. Ou seja. A crença na crucificação e ressurreição de Mitra
pode ter sido baseada no cristianismo.
Fonte:
"Enciclopédia de Apologética", Norman
Geisler, Ed. Vida; pg.606-608;
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