Editora: Martins Fontes
Segundo Walter Hooper, A abolição do Homem deveria ser o segundo livro lido por todo mundo depois da Bíblia. Exageros à parte, nunca li nada mais claro e convincente, com uma argumentação sólida e consistente em defesa de uma Moralidade Absoluta, a qual sofre, nos dias atuais, uma intensa relativização.
Partindo de um pequeno trecho de um livro destinado a “meninos e meninas das últimas séries”, C.S Lewis destaca uma simples fala de um personagem a fim desvelar qual a intenção do autor e como será a recepção do seu público juvenil. Sua aguda percepção o permite deduzir que aquela afirmação poderia conter um incentivo a uma idéia, a um pressuposto “que, dez anos mais tarde, quando sua origem estiver esquecida e sua presença for inconsciente, vai condicioná-lo a tomar um determinado partido” em uma situação particular.
Nada mais óbvio para nós, geração do pós-pós, condicionados a receber – muitas vezes passivamente, embora defendamos fervorosamente a bandeira da interatividade, conectividade e outros “dades” da vida – influências e estímulos próprios da vida moderna.
A preocupação do autor, e que poderia ser a nossa, é detectar que tipo de conseqüência um simples trecho de um livro infantil – ou, em nosso caso, um comercial de TV, um artigo de jornal, um brinquedo, um game, um outdoor, etc – pode ter sobre nossa geração e sobre gerações futuras.
Tais artefatos tendenciosos porém não foram feitos ou articulados por ninguém a não ser o próprio homem. E isto vem do avanço do ensino das ciências aplicadas, a qual vulgarmente conhecida e bradada como “A Conquistada do Homem sobre a Natureza”, no sentido em que o gênero humano tem poder e força capazes de subjugar as forças tidas como naturais a seu bel prazer.
Desde a Idade da Razão, fala-se dessa concepção criativa da mente humana em relação à natureza. Dentro de uma visão progressista, tal processo tem se sido cada vez mais célere nos últimos anos com todo o desenvolvimento da Ciência e Tecnologia em seus diversos campos.
“A natureza está a serviço do homem”, conclamam alguns de seus defensores ao anunciar a descoberta do DNA, os modernos métodos anticoncepcionais, a clonagem de células, a nanotecnologia e os recentes estudos sobre física quântica. Assim, o Homem aprendeu a se sentir dono da Natureza, porém ultimamente se esforça para aprender a ser vítima dela, vide, por exemplo, todas as conseqüências irreversíveis do aquecimento global.
Assim como no livro de C.S. Lewis, não se trata aqui de rejeitarmos todo e qualquer avanço científico, negando qualquer aspecto positivo que deles advierem, ou ainda nos tornando tecnofóbicos, caindo num maniqueísmo sem quaisquer precedentes. Mas sim, de nos debruçarmos sobre a seguinte questão: Em que sentido o Homem possui um poder crescente sobre a Natureza?
Será que, uma vez tendo esse poder, ele o usa em favor de todos da raça humana ou só para alguns? Não seria cada novo poder conquistado pelo homem uma forma de poder sobre o homem? Dessa forma, o que nos parece ser a conquista final do homem pode significar a própria abolição do Homem?
Não pretendo estragar toda a brilhante argumentação do autor com minhas insípidas e breves palavras, mas apenas deixar um humilde convite para a leitura de mais um excelente livro de C.S. Lewis, A Abolição do Homem.
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