domingo, 16 de junho de 2013

Como Pensar Sobre o Secularismo



Wolfhart Pannenberg é um dos maiores teólogos protestantes do mundo. Professor de Teologia Sistemática na Universidade de Munique. Nesse artigo ele fala sobre como se deve pensar a questão do secularismo. Ferrenho defensor da aliança entre fé cristã e razão e opositor dos teólogos que desprezam o valor da história para a fé cristã. Ele afirma, entre outras coisas, que o cristão não deve temer a investigação crítica mas sim incentivá-la, visto que se a fé cristã é verdadeira nenhuma investigação crítica poderá derrubá-la a não ser por visões de mundo que pressupõe príncipios necessariamente hostis à fé Cristã que muitos teólogos adotam. Excelente artigo não só para teólogos mas para qualquer cristão culturalmente engajado.

Tradução: Vitor Grando

O que quer que se queira dizer com secularização, poucos questionariam que nesse século a cultura pública se tornou menos religiosa. Isso não é apenas, como alguns sugerem, simplesmente o resultado da separação entre igreja e estado que aconteceu primeiramente há aproximadamente dois séculos antes. Tal separação não acarretou a alienação da cultura de suas raízes religiosas. Na América, por exemplo, o fim da religião estabelecida pelo estado não significou o fim do caráter predominantemente Cristão e Protestante da cultura Americana. Em outras sociedades Ocidentais, a relação entre o estado e uma outra Igreja Cristã continuou a ser efetiva até este século. Ainda assim nessas sociedades, também, nós vemos evidência de secularização, tipicamente bem mais avançada do que nos Estados Unidos. Secularização não é causada pela separação entre igreja e estado. As raízes do processo de secularização, que fez com que a cultura pública se alienasse da religião, e especialmente do Cristianismo, estão enraizadas no século dezessete.

O clima público de secularimo enfraquece a confiança dos Cristãos na verdade do que eles crêem. Em A Rumour of Angels (1969), Peter L. Berger descreve os crentes como uma “minoria cognitiva” cujos padrões de conhecimento se desviam do que é publicamente aceito. Berger escreveu sobre “estruturas de plausibilidade”. As pessoas precisam do apoio social para se assegurar que um certo relato da realidade é plausível. Quando tal apoio é enfraquecido, as pessoas precisam reunir uma forte determinação pessoal para que possa manter crenças que estão em desacordo com as crenças dos outros ao seu redor. “É possível, é claro, ir contra o consenso social que nos cerca,” Berger nota, “mas existem poderosas pressões sociais (que se manifestam como pressões psicológicas dentro de nossas consciências) que nos fazem nos conformar com as visões e crenças de nossos próximos.” Essa é precisamente a experiência de Cristãos vivendo numa cultura dominantemente secular.

Num ambiente secular, mesmo um conhecimento elementar do Cristianismo – sua história, ensinamentos, textos sagrados, e figuras formativas – se enfraquece. Não é mais uma questão de rejeitar os ensinamentos Cristãos; um enorme número de pessoas sequer tem o mais vago conhecimento de quais ensinos são esses. Isso é uma desenvolvimento notório quando considera-se quão fundamental o Cristianismo é para toda a história da cultura Ocidental. Quanto mais ampla for a ignorância em relação ao Cristianismo, maior será o preconceito contra o Cristianismo. Assim, pessoas que não sabem nem a diferença em Saulo de Tarso e João Calvino acham que tem toda certeza de que o Cristianismo foi provado como uma religião de opressão. Quando tais pessoas se interessam por religião ou “espiritualidade” – sendo esse interesse uma reação natural à superficialidade da cultura secular – elas frequentemente não se voltarão para o Cristianismo, mas sim para “religiões alternativas”.

Nessa circunstância cultural, não é fácil comunicar a mensagem Cristã. A dificuldade é exacerbada pela relativização cultural da própria idéia de verdade. Isso difere significativamente do secularismo Iluminista. Os pensadores secularistas do Iluminismo desafiaram os Cristãos a justificar suas afirmações de verdade por meio de argumentos racionais ao invés de simplesmente apelar para a autoridade religiosa. Mas ambos, Cristãos e seus oponentes criam que havia uma verdade sobre as questões em disputa. Isso não é mais crido hoje. Na visão de muitos, incluindo muitos Cristãos, as doutrinas Cristãs são mera questão de opinião que podem ou não ser afirmadas de acordo com as preferências do indivíduo, ou dependendo de se elas falam diretamente a desejos pessoais.

A dissolução da ideia de verdade – de verdade que não precisa da minha aprovação para ser verdade – debilita severamente o entendimento Cristão de evangelização ou missão. Proclamação missionária antigamente era entendida como levar a verdade aos outros, e era tanto legitima como extremamente importante. Para muitos hoje, a empreitada missionária é uma questão de impor nossas preferências pessoas e preconceitos culturalmente condicionados sobre os outros, e é, portanto não só ilegítima como moralmente ofensiva. Além das questões de missões, devemos nos perguntar por que as pessoas deveriam aceitar a fé Cristã a menos que elas acreditem que o ensinamento apostólico é verdadeiro. Mais precisamente, hoje a questão é se tem sentido afirmar que o ensinamento Cristão é verdadeiro. A ideia de verdade é absolutamente vital para a fé Cristã. A destruição dessa ideia é a chave para legitimação da cultura secular, visto que a ideia da verdade toca na maior vulnerabilidade do secularismo.

Fontes:
How To Think About Secularism - Wolfhart Pannenberg – LeaderU


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