Por Roy Abraham Varguese
As coisas não estão tão ruins no estudo da
consciência, felizmente. Hoje, há uma crescente percepção da percepção.
Somos conscientes, e conscientes de que somos
conscientes. Ninguém pode negar isso sem se contradizer, embora haja quem
negue. O problema se torna insolúvel quando entendemos a natureza dos
neurônios.
Primeiro, os neurônios não tem nenhuma semelhança
com nossa vida consciente.
Segundo, e isso é mais importante, suas
propriedades físicas não dão nenhuma razão para acreditarmos que eles podem ou
que irão produzir consciência.
A consciência está relacionada a certas regiões do
cérebro, mas quando os mesmos sistemas de neurônios estão presentes no tronco
do cérebro, não há "produção" de consciência. Na verdade, como o
físico Gerald Schroeder observa, "não há diferença essencial nos
constituintes físicos fundamentais de um monte de areia e o cérebro de um
Einstein. Só uma fé cega e infundada na matéria está por trás da alegação de
que certas porções de matéria podem, de repente, "criar" uma nova
realidade que não tem semelhança com a matéria".
Embora os estudos sobre corpo e mente hoje
reconheçam a realidade e o resultante mistério da consciência, Daniel Dennett é
um dos poucos filósofos que continuam a negar o óbvio. Ele diz que a questão de
se alguma coisa é "realmente consciente" não é interessante, nem
exige resposta, e afirma que máquinas podem ser conscientes porque são máquinas
que são conscientes!
O funcionalismo, a "explicação" de
Dennett para consciência, diz que não devemos nos preocupar com o que cria os
assim chamados fenômenos mentais, mas que devemos investigar as funções
desempenhadas por esses fenômenos. Uma dor cria uma reação de rejeição, um
pensamento é um exercício de solução de problema. Nada é para ser considerado
um acontecimento particular em algum lugar particular.
O mesmo vale para todos os outros supostos
fenômenos mentais. Ser consciente significa desempenhar essas funções. Como
essas funções podem ser executadas por sistemas não vivos — por exemplo, um
computador resolve problemas —, não há nada de misterioso na consciência. E
certamente não há razão para irmos além do físico.
Mas o que essa explicação deixa de fora é o fato de
que todas as ações mentais são acompanhadas por estados conscientes, nos quais
temos percepção do que estamos fazendo. De modo algum o funcionalismo explica o
estado de estar consciente, de perceber, o estado em que sabemos o que estamos
pensando — computadores não sabem o que estão fazendo. E muito menos nos diz
quem é que está consciente, percebendo e pensando. Dennett, de modo engraçado,
diz que a base de sua filosofia é "o absolutismo da terceira pessoa",
que o deixa na posição de afirmar "eu não acredito em 'eu' ".
Alguns dos mais fortes críticos de Dennett e do
funcionalismo são, de modo interessante, fisicalistas: David Papineau, John
Searle e outros. John Searle é especialmente ríspido: "Se você está
tentado a aderir ao funcionalismo, acredito que não precisa de refutação, mas
de ajuda".
Ao contrário de Dennett, Sam Harris tem defendido
fortemente a suprafísica realidade da consciência. "O problema, porém, é
que nada relacionado ao cérebro, quando pesquisado como sistema físico, indica
que ele é portador daquela dimensão particular, interior, que cada um de nós
percebe como consciência." A conclusão é impressionante: "A
consciência pode ser um fenômeno muito mais rudimentar do que as criaturas
vivas e seus cérebros, e parece não haver uma maneira de rejeitar essa tese
experimentalmente".
Para seu crédito, Dawkins reconhece a realidade,
tanto da consciência e da linguagem, como do problema que isso representa.
"Nem Steve Pinker nem eu podemos explicar a consciência subjetiva humana,
que os filósofos chamam de qualia", ele disse uma vez. "Em seu livro
Como a mente funciona, Steve elegantemente aborda o problema da consciência
subjetiva, pergunta de onde ela vem e qual sua explicação. Então, é bastante honesto
para dizer que não sabe. Eu digo o mesmo. Não sabemos. Não compreendemos."
Wolpert deliberadamente evita a questão da
consciência: "Tenho fugido propositalmente de qualquer discussão sobre a
consciência".
Fonte: "Um Ateu Garante: Deus Existe";
ed. Ediouro; pg.160-162.
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