por Raúl Esperante
Novos estudos indicam que as causas das extinções
no registro fóssil não estão nada claras
A coluna geológica de estratos sedimentares
registra o desaparecimento em massa de numerosas espécies de organismos,
incluindo animais terrestres, marinhos, plantas e micro-organismos.
Estas extinções em massa marcam o final do registro
fóssil de espécies, gêneros ou até famílias de organismos que não voltam a
aparecer em forma fóssil nas camadas sedimentares superiores.
O registro fóssil está marcado por várias destas
extinções em massa com extensão global, e salpicado por outras de menor
envergadura ou de caráter regional.
Durante décadas os cientistas têm discutido as
causas destas extinções em massa e sua importância na evolução biológica e
ecológica dentro de um quadro evolucionista. Numerosas causas têm sido
propostas, algumas das quais teriam tido consequências regionais, outras teriam
sido de extensão global (planetária) e outras seriam aplicáveis ao
desaparecimento de determinados grupos de organismos.
Considera-se que a extinção de maiores proporções
foi a que ficou registrada nas rochas do final do chamado período Permiano, no
qual 96% dos organismos marinhos existentes foram eliminados.
O primeiro fator a ser considerado é que esta
extinção não foi repentina, do ponto de vista evolucionista, mas teria durado
uns 8 milhões de anos na escala geológica evolutiva (Prothero, 1998). Por isso
os paleontólogos evolucionistas acham difícil encontrar uma causa que explique
o desaparecimento em massa de tantos organismos prolongando-se por tanto tempo.
Schopf (1974) atribuiu a extinção do final do
Permiano à redução das áreas de águas superficiais (plataformas continentais)
entre os continentes naquela época durante a formação do grande super
continente Pangea. A coalescência da Pangea juntamente com uma regressão
marinha generalizada teria originado a diminuição dos habitats disponíveis para
os habitantes das águas pouco profundas, conduzindo-os à extinção.
O problema desta hipótese é que, segundo os modelos
geológicos de tectônica de placas e deriva continental, o super continente
Pangea já teria sido estabelecido muito antes do começo desta extinção.
Stanley (1984, 1987) sugeriu que a extinção do
final do Permiano deveu-se a um resfriamento global dos oceanos causado pela
formação de enormes camadas de gelo em ambos os pólos terrestres. O grande
problema com esta hipótese é que as supostas evidências de glaciação não
aparecem nas rochas do Permiano, mas nas do período anterior, cujas camadas
sedimentares estão muito abaixo das permianas que contêm os organismos
extintos. Por outro, lado considera-se que o final do Permiano foi um período
de aquecimento global do planeta.
Várias outras hipóteses têm sido sugeridas para
explicar a grande extinção do final do Permiano, incluindo a redução do
conteúdo de oxigênio na atmosfera e na água, e a acidificação dos oceanos
devido ao CO2 emitido pelas enormes erupções basálticas na Sibéria.
Alguns cientistas encontraram evidências, nas
camadas que delimitam a transição Permiano-Triássico, de enormes explosões
vulcânicas silícicas, as quais teriam dado origem à formação de nuvens de
cinzas vulcânicas sobre todo o planeta durante semanas ou meses, e teriam
impedido a chegada da luz solar ao oceano, matando assim, a delicada fauna
aquática.
Finalmente, Edwin (1993) propõe que todas as
hipóteses anteriores em conjunto foram a causa da extinção em massa no
Permiano.
Todas estas hipóteses apresentam diversos
problemas, entre os quais os mais importantes são a dificuldade para explicar a
extinção de tantos organismos em um período tão prolongado de tempo (8 milhões
de anos) em vez de ser abruptamente, e que alguns grupos de organismos foram
muito afetados e outros pouco.
Alguns cientistas, movidos pela descoberta de
evidências de impacto nas rochas do limite do Cretáceo-Terciário (K-T),
sugeriram a possibilidade de que o evento de extinção do final do Permiano
poderia estar relacionado com o impacto de meteoros. No entanto, a evidência
apresentada até agora tem sido controvertida e discutível.
Foi sugerido que em alguns afloramentos de rochas
sedimentares do Permiano, na Austrália e Antártica, se acham grãos de quartzo
com evidência de choque, o que apontaria para um impacto meteórico, porém as
evidências mostradas têm sido postas em dúvida. Outras evidências procedentes
de localidades na China, Itália, Áustria e outros lugares têm sido questionadas
em sua relação com o possível impacto meteórico no final do período Permiano.
Recentemente, Koeberl et al. (2004) publicou um
artigo na revista Geology no qual revelam os resultados de seu trabalho sobre o
limite Permiano-Triássico em várias localidades europeias. Os autores estudaram
amostras de rochas procedentes de afloramentos do final do Permiano existentes
nos Alpes austríacos e nas Dolomitas do noroeste da Itália. Os estratos
sedimentares que agora constituem parte dessas altas cordilheiras teriam sido
depositados no antigo mar de Tethys, existente no Permiano. Em suas análises,
os autores buscavam nas amostras de rochas os indicadores geoquímicos sensíveis
à influência de material extraterrestre (meteoritos), como os elementos do
grupo da platina (incluindo elevadas concentrações de irídio), e os isótopos de
ósmio e hélio.
As análises indicam que a elevada concentração de
irídio é similar a do limite K-T (onde parece existir evidência de impacto),
porém, a extensão de tal anomalia é muito menor comparada com a do K-T.
Ainda que sejam elevadas as concentrações de irídio
nas rochas do limite Permiano-Triássico nos Alpes italianos e austríacos, do
ósmio e de outros elementos do grupo da platina, os valores obtidos indicam que
estas anomalias não apresentam as características dos grandes impactos
meteóricos. Sua origem parece ser puramente terrestre, isto é, a crosta
continental e/ou material vulcânico, e não material extraterrestre. Essa
conclusão é reforçada pela total ausência de evidências de hélio de origem
extraterrestre nas rochas analisadas.
As pesquisas feitas sobre as evidências de
extinções no registro fóssil e sua extensão, causas e consequências, são de
grande interesse para aqueles que trabalham em modelos que incluem o dilúvio
universal e uma cronologia curta para a existência da Terra. Um modelo de
catástrofe global ocasionada por um dilúvio que tenha coberto toda a Terra
poderia acomodar qualquer das hipóteses mencionadas no começo deste artigo,
incluindo o impacto de um ou mais meteoritos em diversos momentos e locais.
O dilúvio do Gênesis foi uma catástrofe global que
afetou o planeta em sua totalidade, e que causou a completa modificação da
crosta terrestre.
Os impactos de objetos planetários como os
meteoritos podem ter sido importantes como agentes geológicos, especialmente se
foram de grandes dimensões. O choque de grandes meteoritos teria originado
poderosos movimentos sísmicos e tsunamis que por sua vez teriam causado outros
fenômenos geológicos subsequentes como desprendimentos de rochas, deslizamento
de grandes massas instáveis de sedimentos (turbiditos, etc.), dobramento e
fratura de rochas e/ou estratos depositados previamente, etc.
O impacto de meteoritos poderia ter rompido
"as fontes do abismo" (Gn 7:11) e iniciado o conjunto de processos
hidrológicos iniciais do dilúvio.
Também poderia ter iniciado a atividade tectônica
de movimento de placas ao romper a crosta terrestre e introduzir energia
cinética do exterior.
Uma leitura literal das Escrituras não está em
contradição com a aceitação destas possibilidades. Porém, é necessário muito
mais estudo e pesquisa para determinar que papel desempenharam os impactos de
objetos planetários na atividade geológica durante o dilúvio de Gênesis, e sua
relação com as extinções registradas nas rochas sedimentares.
Referências:
1. Koebert, C., Farley, K. A., Peucker-Ehrenbrink,
B., Sephton, M. A. 2004. Geochemistry of the end-Permian extinction event in
Austria and Italy: No evidence for an extraterrestrial component. Geology
32(12):1053-1056.
2. Prothero, D.R. 1998. Bringing fossils to life:
an introduction to paleobiology. Boston: McGraw-Hill.
3. Schopf, T. J. M. 1974. Permo-Triassic
extinction: relation to sea-floor spreading. Journal of Geology 82:129-143.
4. Stanley, S. M. 1984. Mass extinctions in the
ocean. Scientific American 250(6):46-54.
5. Stanley, S. M. 1987. Extinction. Scientific
American Library, New York.
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