quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

"Razão vs Fé" ou "Razão, por isso, Fé" ?

Contribuição de Evans Roberts:
"Ao se dizer que algo tem significado, ainda é conferido a esse algo uma certa dose de independência e autonomia em relação à sua Origem [...]. Contudo, quando se afirma que as coisas criadas são significado, se está claramente apontando para o fato de que a diversidade criada pertence a uma estrutura abrangente de interdependência mútua formando uma totalidade de significado. Esta totalidade de significado ou unidade de significado, por sua vez, aponta para a sua Origem, aquele que lhe conferiu significado e a partir de quem esta totalidade criada deriva seu sentido. Embora todas as coisas sejam entes de significado e este significado seja irredutível, este significado particular não é suficiente em si mesmo; cada aspecto da criação aponta para outro, para além de si e, por último, para aquele que o criou."

CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro. Sociedade, Justiça e Política de Cosmovisão Cristã: Uma Introdução ao Pensamento Social de Herman Dooyeweerd. In: CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro. (Org.). Cosmovisão Cristã e Transformação. Viçosa: Ultimato, 2006, p 74.

HERMAN DOOYEWEERD - pai da "filosofia Reformacional" ou "Filosofia da Ideia Cosmonômica"

"Há alguns anos atrás, quando comecei a conversar sobre “filosofia reformada” com alguns colegas, fui surpreendido por um amigo livreiro, ele mesmo amigo de um filósofo algo instruído em teologia. Segundo o meu amigo, que consultara o tal filósofo, “essa coisa de filosofia cristã não existe não. Teve a filosofia cristã católica, que no final não deu certo. Mas filosofia cristã, e calvinista ainda por cima? Não, isso não existe não. Deve ser teologia travestida de filosofia”." Guilherme V. R. de Carvalho - Herman Dooyeweerd, Reformador da Razão.

A Relevância do Teísmo Cristão para a Ciência no Pensamento de Roy A. Clouser

"O filósofo americano Roy Clouser desenvolveu recentemente um modelo para explicar a relação entre a religião e a ciência, a partir de uma crítica interna do empreendimento científico. Segundo Clouser, todo pensamento teórico depende de pressuposições a respeito da ordem cósmica cuja natureza é indistinguível de certos tipos de crença religiosa – aquelas crenças a respeito do que constituiria o fundamento divino do mundo. A partir da observação da indistinguibilidade dessas crenças, Clouser sustenta que a ciência tem, necessariamente, um ponto de partida religioso que condiciona a construção teórica.

A partir dessa descoberta, Clouser apresenta a crença teísta cristã clássica como um ponto de partida viável para o empreendimento científico, e como uma imagem de mundo superior às imagens não-teístas de mundo, na medida em que estas não fornecem subsídios suficientes para lidar com o problema do reducionismo científico e com os impasses teóricos relacionados a ele."
Guilherme V. R. de Carvalho - A Relevância do Teísmo Cristão para a Ciência no Pensamento de Roy A. Clouser. RESUMO.

Herman Dooyeweerd, ao apresentar sua idéia de cosmovisão, remonta e aperfeiçoa o que já apresentara Abraham Kuyper.

Já que mencionei Kuyper, é propício lembrar uma de suas mais conhecidas citações:
"Oh, nem um único espaço de nosso mundo mental pode ser hermeticamente selado em relação ao restante, e não há um único centímetro quadrado em todos os domínios da existência humana sobre o qual Cristo, que é o Soberano sobre tudo, não clame: é Meu!"
Bratt, James D., Abraham Kuyper: A Centennial Reader, 1998, p. 488.
.
Herman Dooyeweerd é notório também por sua resistência incansável a toda e qualquer tentativa de criar uma esfera intelectual “neutra”, sem influência da fé.

A descoberta de Dooyeweerd, ao mesmo tempo em que o alinhou com as antropologias e epistemologias de Agostinho, de Calvino e de Pascal, estabeleceu um poderoso ponto de contato/ fricção com o pensamento moderno. Contra Kant e o neokantismo, Dooyeweerd localizou o coração humano como o verdadeiro ponto de partida do pensamento – e não a razão humana – e mostrou a necessidade de autoconhecimento, por meio do conhecimento de Deus, para que o homem possa desenvolver um pensamento autenticamente crítico. A idéia calvinista de norma heteronômica também teve papel importante na rejeição do autonomismo kantiano.

"Originalmente eu estive sobre forte influência, primeiramente da filosofia neokantiana, e depois da fenomenologia de Husserl. A grande virada em meu pensamento foi marcada pela descoberta da raiz religiosa do próprio pensamento, quando também uma nova luz foi lançada sobre a derrocada de todas as tentativas, incluindo a minha própria, de estabelecer uma síntese interna entre a fé Cristã e uma filosofia que é radicada na fé na auto-suficiência da razão humana. Eu vim a compreender o significado central do “coração”, proclamado raiz moral da existência humana. Na base deste ponto de vista Cristão central, eu vi a necessidade de uma revolução no pensamento filosófico, pensada em um caráter profundamente radical. Em confronto com a raiz religiosa da criação, nada menos está em questão do que como relacionar todo o cosmo temporal, tanto nos seus assimchamados aspectos “naturais” como nos “espirituais”, a este ponto de referência. Em contraste com essa concepção Bíblica fundamental, de que significância é uma assim-chamada “revolução Copernicana”, que meramente faz os “aspectos naturais” da realidade temporal relativos a uma abstração teórica, tal como o “sujeito transcendental” de Kant?"
Dooyeweerd, Herman. A New Critique of Theoretical Thought. Amsterdam/Philadelphia:Uitgeverij H. J. Paris, Presbyterian and Reformed, 1953, Vol I, Foreword.

Herman Dooyeweerd e a autonomia da razão
A maior crítica de Dooyeweerd, sem dúvida, relaciona-se ao dogma da autonomia da razão:

"A PRETENSA AUTONOMIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO

Toda filosofia que exige um ponto-de-partida cristão é confrontada com o dogma tradicional concernente à autonomia do pensamento filosófico, sugerindo independência de todas as pressuposições religiosas. Pode ser firmado que este dogma é apenas um que sobreviveu à decadência geral das recentes certezas da filosofia. Esta decadência foi causada pela retirada do fundamento espiritual do pensamento ocidental a partir das duas guerras mundiais.
(...)
A pretensa autonomia, que é considerada a base comum da Grécia antiga, escolasticismo tomístico e moderna filosofia secularizada, carece desta unidade de sentido necessário porque possui um fundamento comum.
Porém, a presente autonomia não pode garantir uma base comum a diferentes tipos de filosofia. Se todo corrente filosófica que pretende escolher seu ponto-de-partida no raciocínio teórico somente, não tiver profundas pressuposições, seria possível assentar cada argumento filosófico entre eles em um caminho puramente teórico.
(...)
Nem Kant, o fundador da assim chamada filosofia crítico-transcendental, nem Edmund Husserl, o fundador da fenomenologia moderna, que chamou sua filosofia fenomenológica de a mais radical crítica do conhecimento, tem tido uma atitude teórica de pensamento a partir de um problema crítico. Ambos partiram da autonomia do pensamento teórico como um axioma que necessita de uma maior justificação. Esta é a pressuposição dogmática de sua investigação teórica que faz a característica crítica da problemática posterior e mascara seu real ponto de partida, o qual, como matéria de fato, e seu pensamento, rege sua maneira de posicionar os problemas filosóficos."


fonte: http://dooybrasil.wordpress.com/tag/herman-dooyeweerd

Nenhum comentário:

Postar um comentário