Contribuição de Evans Roberts:
"Ao se
dizer que algo tem significado, ainda é conferido a esse algo uma certa dose de
independência e autonomia em relação à sua Origem [...]. Contudo, quando se
afirma que as coisas criadas são significado, se está claramente apontando para
o fato de que a diversidade criada pertence a uma estrutura abrangente de
interdependência mútua formando uma totalidade de significado. Esta totalidade
de significado ou unidade de significado, por sua vez, aponta para a sua
Origem, aquele que lhe conferiu significado e a partir de quem esta totalidade
criada deriva seu sentido. Embora todas as coisas sejam entes de significado e
este significado seja irredutível, este significado particular não é suficiente
em si mesmo; cada aspecto da criação aponta para outro, para além de si e, por
último, para aquele que o criou."
CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro. Sociedade,
Justiça e Política de Cosmovisão Cristã: Uma Introdução ao Pensamento Social de
Herman Dooyeweerd. In: CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro. (Org.). Cosmovisão
Cristã e Transformação. Viçosa: Ultimato, 2006, p 74.
HERMAN DOOYEWEERD - pai da "filosofia
Reformacional" ou "Filosofia da Ideia Cosmonômica"
"Há
alguns anos atrás, quando comecei a conversar sobre “filosofia reformada” com
alguns colegas, fui surpreendido por um amigo livreiro, ele mesmo amigo de um
filósofo algo instruído em teologia. Segundo o meu amigo, que consultara o tal
filósofo, “essa coisa de filosofia cristã não existe não. Teve a filosofia
cristã católica, que no final não deu certo. Mas filosofia cristã, e calvinista
ainda por cima? Não, isso não existe não. Deve ser teologia travestida de
filosofia”." Guilherme V. R. de Carvalho - Herman Dooyeweerd, Reformador
da Razão.
A Relevância do Teísmo Cristão para a Ciência no
Pensamento de Roy A. Clouser
"O
filósofo americano Roy Clouser desenvolveu recentemente um modelo para explicar
a relação entre a religião e a ciência, a partir de uma crítica interna do
empreendimento científico. Segundo Clouser, todo pensamento teórico depende de
pressuposições a respeito da ordem cósmica cuja natureza é indistinguível de
certos tipos de crença religiosa – aquelas crenças a respeito do que
constituiria o fundamento divino do mundo. A partir da observação da
indistinguibilidade dessas crenças, Clouser sustenta que a ciência tem,
necessariamente, um ponto de partida religioso que condiciona a construção
teórica.
A partir
dessa descoberta, Clouser apresenta a crença teísta cristã clássica como um
ponto de partida viável para o empreendimento científico, e como uma imagem de
mundo superior às imagens não-teístas de mundo, na medida em que estas não
fornecem subsídios suficientes para lidar com o problema do reducionismo
científico e com os impasses teóricos relacionados a ele."
Guilherme V. R. de Carvalho - A Relevância do
Teísmo Cristão para a Ciência no Pensamento de Roy A. Clouser. RESUMO.
Herman Dooyeweerd, ao apresentar sua idéia de
cosmovisão, remonta e aperfeiçoa o que já apresentara Abraham Kuyper.
Já que mencionei Kuyper, é propício lembrar uma de
suas mais conhecidas citações:
"Oh, nem
um único espaço de nosso mundo mental pode ser hermeticamente selado em relação
ao restante, e não há um único centímetro quadrado em todos os domínios da
existência humana sobre o qual Cristo, que é o Soberano sobre tudo, não clame:
é Meu!"
Bratt, James D., Abraham Kuyper: A Centennial
Reader, 1998, p. 488.
.
Herman Dooyeweerd é notório também por sua
resistência incansável a toda e qualquer tentativa de criar uma esfera
intelectual “neutra”, sem influência da fé.
A descoberta de Dooyeweerd, ao mesmo tempo em que o
alinhou com as antropologias e epistemologias de Agostinho, de Calvino e de
Pascal, estabeleceu um poderoso ponto de contato/ fricção com o pensamento
moderno. Contra Kant e o neokantismo, Dooyeweerd localizou o coração humano
como o verdadeiro ponto de partida do pensamento – e não a razão humana – e
mostrou a necessidade de autoconhecimento, por meio do conhecimento de Deus,
para que o homem possa desenvolver um pensamento autenticamente crítico. A
idéia calvinista de norma heteronômica também teve papel importante na rejeição
do autonomismo kantiano.
"Originalmente
eu estive sobre forte influência, primeiramente da filosofia neokantiana, e
depois da fenomenologia de Husserl. A grande virada em meu pensamento foi
marcada pela descoberta da raiz religiosa do próprio pensamento, quando também
uma nova luz foi lançada sobre a derrocada de todas as tentativas, incluindo a
minha própria, de estabelecer uma síntese interna entre a fé Cristã e uma
filosofia que é radicada na fé na auto-suficiência da razão humana. Eu vim a
compreender o significado central do “coração”, proclamado raiz moral da
existência humana. Na base deste ponto de vista Cristão central, eu vi a
necessidade de uma revolução no pensamento filosófico, pensada em um caráter
profundamente radical. Em confronto com a raiz religiosa da criação, nada menos
está em questão do que como relacionar todo o cosmo temporal, tanto nos seus
assimchamados aspectos “naturais” como nos “espirituais”, a este ponto de
referência. Em contraste com essa concepção Bíblica fundamental, de que significância
é uma assim-chamada “revolução Copernicana”, que meramente faz os “aspectos
naturais” da realidade temporal relativos a uma abstração teórica, tal como o
“sujeito transcendental” de Kant?"
Dooyeweerd, Herman. A New Critique of Theoretical
Thought. Amsterdam/Philadelphia:Uitgeverij H. J. Paris, Presbyterian and
Reformed, 1953, Vol I, Foreword.
Herman Dooyeweerd e a autonomia da razão
A maior crítica de Dooyeweerd, sem dúvida,
relaciona-se ao dogma da autonomia da razão:
"A PRETENSA AUTONOMIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Toda filosofia que exige um ponto-de-partida
cristão é confrontada com o dogma tradicional concernente à autonomia do
pensamento filosófico, sugerindo independência de todas as pressuposições
religiosas. Pode ser firmado que este dogma é apenas um que sobreviveu à
decadência geral das recentes certezas da filosofia. Esta decadência foi
causada pela retirada do fundamento espiritual do pensamento ocidental a partir
das duas guerras mundiais.
(...)
A pretensa autonomia, que é considerada a base
comum da Grécia antiga, escolasticismo tomístico e moderna filosofia
secularizada, carece desta unidade de sentido necessário porque possui um
fundamento comum.
Porém, a presente autonomia não pode garantir uma
base comum a diferentes tipos de filosofia. Se todo corrente filosófica que
pretende escolher seu ponto-de-partida no raciocínio teórico somente, não tiver
profundas pressuposições, seria possível assentar cada argumento filosófico
entre eles em um caminho puramente teórico.
(...)
Nem Kant, o fundador da assim chamada filosofia
crítico-transcendental, nem Edmund Husserl, o fundador da fenomenologia
moderna, que chamou sua filosofia fenomenológica de a mais radical crítica do
conhecimento, tem tido uma atitude teórica de pensamento a partir de um
problema crítico. Ambos partiram da autonomia do pensamento teórico como um
axioma que necessita de uma maior justificação. Esta é a pressuposição
dogmática de sua investigação teórica que faz a característica crítica da
problemática posterior e mascara seu real ponto de partida, o qual, como
matéria de fato, e seu pensamento, rege sua maneira de posicionar os problemas
filosóficos."
fonte:
http://dooybrasil.wordpress.com/tag/herman-dooyeweerd
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