por Raúl Esperante
"Quando visitamos as formações geológicas dos
estados de Utah, Arizona e Nevada, nos Estados Unidos, recebemos o impacto da
grande quantidade de erosão que se observa na paisagem que está marcada por
elevadas escarpas e profundos cânions escavados pela água. Talvez a paisagem
mais impressionante para visitar seja o Grand Canyon, do Rio Colorado, que se
estende ao longo de uns 450 km ao norte do Arizona. A erosão removeu centenas
de quilômetros cúbicos de sedimentos de camadas sedimentares até uma
profundidade de mais de 1.300 metros em algumas zonas, e dezenas de quilômetros
de ambos os lados do rio atual.
No entanto, a paisagem está constituída por camadas
sedimentares que ainda se observam e que não foram removidas, e se estendem
horizontalmente por uns 350.000 km2, no que os geólogos chamam de Bacia do
Colorado. Estas rochas sedimentares estão compostas de areia, conglomerado e
argila principalmente, assim como por algumas camadas de calcáreo.
A origem de toda esta areia e argila tem sido, até
agora, um mistério para os geólogos, e qualquer hipótese que se proponha é
aceita como plausível somente devido a não haver como comprová-la.
A maioria dos pesquisadores tem aceito até agora
que os sedimentos procederam da lenta erosão das Montanhas Rochosas, que se
encontram a leste da Bacia do Colorado. No entanto, esta idéia tem sido
desafiada por dois pesquisadores, Dickinson e Gehrels (1), da Universidade do Arizona,
que propuseram que a metade da quantidade das areias que formam a Bacia do
Colorado procedeu dos Montes Apalaches, que estão a leste dos Estados Unidos.
Estes pesquisadores sugerem que grandes rios levaram a areia desde os Montes
Apalaches depositando-a em bacias continentais no que hoje é o estado de
Wyoming, sendo arrastadas por fortes ventos que as depositaram em campos de
dunas. Os autores chegaram a esta conclusão depois de calcular a idade
radioativa dos minerais de Zircônio (ricos em Urânio) presentes na areia das
camadas sedimentares. Estes resultados enfrentam, no entanto, um grande
problema: não há nem rastro dos rios que pudessem ter levado os sedimentos de
um lado do continente americano (Montes Apalaches) a outro (Wyoming).
Os pesquisadores também sugerem que o resto da
areia procede das Montanhas Rochosas e do interior do Canadá.
A origem do cânion do Colorado é um grande mistério
que confunde aos geólogos, pois tanto o volume de sedimento depositado como o
que foi subseqüentemente erodido, é muito grande para ser entendido à luz dos
fenômenos geológicos atuais. Alguns geólogos sinalizam que o conjunto de
camadas sedimentares da Bacia do Colorado e do Grand Canyon indica que o
“presente não é a chave para interpretar o passado”.
A hipótese apresentada por Dickinson e Gehrels é
bastante plausível e tem recebido uma acolhida aceitável na comunidade
científica geológica. Provavelmente, os cientistas criacionistas encontrem
nesta hipótese apoio para um modelo diluvialista da deposição das extensas
camadas de sedimentos na Bacia do Colorado durante as primeiras etapas do
dilúvio do Gênesis, nas quais grandes massas de água puderam arrastar, de
maneira catastrófica, enormes volumes de argila e areia de um extremo
continental a outro. A regressão posterior das águas, possivelmente também
catastrófica, teria escavado as profundas gargantas que formam o Grand Canyon e
as paisagens semelhantes.
Referência:
1. Dickinson W.R., Gehrels G.E. 2003. U-Pb ages of
detrital zircons from Permian and Jurassic eolian sandstones of the Colorado
Plateau, USA: paleographic implications. Sedimentary Geology, publicado online,
doi:10.1019/S00370738(3)00158-1(2003).
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