Surpreendeu-nos a edição de Jornal da Ciência de 04
de agosto de 2004 com a publicação da comunicação “Criacionismo é ciência?”,
escrito pelo Dr. Julio César Pieczarka, do Departamento de Genética da
Universidade Federal do Pará. A surpresa ficou por conta do fato de que o
referido artigo não contém uma única linha de ciência, sendo revestido apenas
da indignação do seu autor contra o criacionismo. O artigo do Dr. Pieczarka
encontra-se transcrito logo após este.
Há anos atrás, enviamos um artigo de nossa lavra
para publicação no periódico da SBPC e recebemos, posteriormente, uma carta
informando que o artigo não seria publicado por fazer uso de uma metodologia
científica muito rígida. Nisso, a editoria do jornal foi sabiamente conveniente
porque, a considerar o entendimento que temos da aplicação do método
científico, muito do que evolucionistas escrevem sobre a teoria da evolução
teria que ser rotulado de apenas fantasia da imaginação ou, no máximo, ficção
científica.
Antes de prosseguirmos com nossos comentários é
preciso reconhecer, pelo currículo que vimos na Internet, que o Dr. Pieczarka é
um especialista em Biologia Celular e Molecular com impressivas credenciais, a
julgar pelos seus mais de cem trabalhos já publicados. Isto, entretanto, não
significa que seu julgamento acerca do criacionismo tenha força de
pronunciamento científico. Na verdade, um pronunciamento tem muito mais força
quando, através dele, seu autor expressa um ponto de vista contrário às suas
próprias convicções. Veja, por exemplo, o pronunciamento do físico britânico H.
S. Lipson, também evolucionista, detentor da titulação F.R.S. (Fellow of Royal
Society) por suas inestimáveis contribuições à ciência.
"Penso que precisamos ir mais adiante do que
temos ido e admitir que a única explicação aceitável é a criação. Sei que isto
é um anátema para os físicos, e sem dúvida o é para mim, mas não devemos
rejeitar uma teoria que não apreciamos, se a evidência experimental a
apoia." H. S. Lipson, F.R.S., "A physicist looks at evolution",
Physics Bulletin, vol. 31, 1980.
Como físico brilhante, o Dr. Lipson certamente
também se refere, em seu pronunciamento, aos argumentos criacionistas que
incluem aplicações das leis da termodinâmica, o que o Dr. Pieczarka descarta,
obviamente sem o respaldo de sua trajetória acadêmica. Além disso, seu
conhecimento acerca do criacionismo parece ser limitado a diálogos através da
Internet, que são sempre muito superficiais e, via de regra, com leigos no
assunto. Por isso, ele afirma que os criacionistas “não fazem pesquisa e,
portanto, não têm o que publicar”. Bastaria, entretanto, uma simples consulta à
Internet para encontrar o currículo de muitos cientistas criacionistas, alguns
dos quais com credenciais acadêmicas ainda mais impressivas que as do Dr.
Pieczarka.
Afirmar que os cientistas criacionistas têm
qualificação científica duvidosa tem sido uma das estratégias dos
evolucionistas para não ir às vias de fato, quando então argumentos de ambas as
partes seriam acuradamente examinados. São os evolucionistas que têm recorrido
à força e ao autoritarismo para se manterem no poder, ditando as regras do
sistema educacional, controlando as publicações científicas e mantendo as
portas fechadas para os criacionistas que, desse modo, não têm mesmo onde
publicar os seus trabalhos que discutem a questão das origens.
Não é verdade que cientistas evolucionistas tratem
a questão das origens de modo desapaixonado e nem que sejam eles os que mais
duramente avaliem a teoria da evolução. Cientistas deveriam estar preparados
para discutir os temas que nos dizem respeito cientificamente, mas o que se vê
é uma corrida desenfreada em defesa de conceitos por eles considerados
indiscutíveis. Até mesmo uma decisão, em um de nossos estados, de estudar
criacionismo nas escolas públicas, do ponto de vista religioso e nas aulas de
religião, faz com que o presidente da SBPC venha a público e indignado faça
comentários irônicos, pouco apropriados para o cargo que ocupa.
A palavra "ciência" vem do latim scientia
e, primariamente, significa conhecimento, de modo amplo e irrestrito.
Academicamente, é o nome que damos ao conjunto organizado de conhecimentos
relativos a um determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a
observação, a experimentação e um método próprio de investigação. É consenso
unânime entre cientistas que uma hipótese é empírica ou científica somente se
pode ser testada por experiências.
Assim, por um lado, o conhecimento científico que
temos acerca da natureza estará sempre limitado às condições de cada época,
porque os resultados da investigação científica dependem do conhecimento já
adquirido e dos avanços da tecnologia que, através da produção de novos
instrumentos, nos proporciona condições de investigação cada vez mais
favoráveis. Por outro, vemos que a ciência condena o subjetivismo, porque este,
via de regra, diminui ou nega a racionalidade e a objetividade do conhecimento.
Enfim, o conhecimento científico exige formulações
exatas e claras, pois requer verificação segundo os padrões do método cientifico,
antes que possamos nos sentir livres para aceitá-lo como verdadeiro. É
exatamente este tipo de transparência que criacionistas desejam ver em suas
discussões acerca das origens do universo e da vida e que não têm visto nas
abordagens de cientistas evolucionistas acerca das nossas origens.
A questão da comprovação científica é especialmente
crítica em áreas como a matemática e a física mas, respeitadas as diferenças, é
óbvio que essa é uma questão da maior importância, que se estende por todas as áreas
da ciência. O curioso é que cientistas evolucionistas, especialistas em uma
variedade de áreas científicas, como biologia, bioquímica, geologia ou
paleontologia, têm a noção exata da medida em que devem comprovar
cientificamente suas teses, sejam elas teóricas ou práticas, mas quando se
trata da teoria da evolução, qualquer fragmento de osso, por minúsculo que
seja, parece carregar um manancial de informações com potencial para elucidar
de vez o enigma da origem dos seres vivos; informações levianas ou rasas de
significado ganham status de comprovação científica inequívoca dos fatos a que
se referem, não sendo desmentidas nem mesmo depois que eles mesmos as
descartam.
É claro que há exceções, caso contrário, a ciência
não seria mais confiável. Exemplo disso é o interessante episódio das cartas
trocadas entre o Dr. Luther Sunderland e o Dr. Colin Patterson, evolucionista,
Paleontólogo-chefe do Museu Britânico de História Natural. O Dr. Sunderland
escreveu ao Dr. Colin por ocasião da publicação de seu livro sobre fósseis,
perguntando porque ele não havia incluído exemplos de transições evolucionárias
em seu livro. Veja sua surpreendente resposta: "Concordo com seus
comentários sobre a ausência total de transições evolucionárias em meu livro.
Se soubesse de alguma, fossilizada ou viva, certamente a teria incluído. Deixo
esta questão de lado - tal fóssil não existe...".
A despeito de fatos como este, das declarações de
Darwin afirmando que, para a saúde de pensamento evolucionista, fósseis de
transição teriam que ser encontrados, dos pronunciamentos de paleontólogos e
geólogos modernos a respeito da importância dessa questão, ressaltando o fato
de que o registro fóssil não se constitui nem mesmo em uma evidência da
evolução, quanto mais em sua prova definitiva, alguns dos quais fazendo
referência à perfeita sintonia que há entre esse registro e o modelo
criacionista, ainda assim o Dr. Pieczarka pensa poder descartar essa questão
dizendo que são apenas “tolices ... argumentos repetidos ad nauseum, facilmente
derrubados por qualquer aluno iniciante de biologia, que se tenha dado ao
trabalho de ler um pouco sobre o assunto”.
A bem da verdade, a teoria da evolução não passa de
um conjunto de hipóteses altamente questionáveis, acoplada a um conjunto de
fatos da natureza, sinuosamente interpretados para estarem de acordo com essas
hipóteses. Isto já foi devidamente documentado pelo evolucionista Dr. G. A.
Kerkut, da Universidade de Southamptom, em seu intrigante livro Implications of
Evolution, e que raramente são mencionadas nas discussões sobre a evolução. Eis
aqui essas hipóteses:
1.- Coisas não vivas deram origem ao material vivo,
isto é, a geração espontânea ocorreu;
2.- A geração espontânea ocorreu apenas uma vez na
história da Terra;
3.- Vírus, bactérias, plantas e animais estão todos
inter-relacionados;
4.- Protozoários deram origem aos metazoários;
5.- Os invertebrados também estão todos
inter-relacionados;
6.- Os invertebrados deram origem aos vertebrados;
7.- Entre os vertebrados, peixes de ram origem aos
anfíbios; anfíbios aos répteis; e répteis a aves e mamíferos.
Kerkut destacou também o fato de que essas
hipóteses não são passiveis de verificação experimental porque, mesmo que o
homem consiga, através de sofisticada tecnologia, produzir um ser vivo no laboratório,
o que até hoje permanece uma impossibilidade; mesmo que ele venha a
testemunhar, em outras galáxias, num futuro distante, a transição entre o
inorgânico e orgânico, ainda assim restará provar que, em nosso planeta, a vida
surgiu sob estas mesmas condições. Em outras palavras, estas sete asserções
são, na verdade, dogmas, mas são também a essência da teoria da evolução! Por
isso, Ehrlich e Birch, dois cientistas evolucionistas de renome internacional
assim se pronunciaram a esse respeito:
“Nossa teoria da evolução ... encontra-se,
portanto, fora dos limites da ciência empírica ... não se pode pensar em um
modo de testá-la. Idéias sem base alguma, ou baseadas em uns pouco experimentos
de laboratório, postas em prática em sistemas extremamente simplificados, têm
logrado aceitação muito além de suas validades. Tornaram-se parte do DOGMA
evolucionistas, aceito pela maioria de nós, como parte de nossa formação”
Ehrlich e Birch, “Evolutionary History and Population Biology”, Nature, Vol.
214, Abril (22) 1967, p. 352.
Mas isso ainda não é tudo! Na verdade,
evolucionistas acreditam nessas asserções porque não tiveram o cuidado de
examiná-las do ponto de vista matemático, com o recurso da teoria de
probabilidades. Se tivessem tido esse cuidado, saberiam que as duas primeiras
asserções não são apenas improváveis, mas impossíveis, e que as demais não
estão em melhor posição. Este fato está bem documentado em várias publicações e
o livro Evolution: Possible or Impossible?, de James Coppedge, Ph.D., Diretor
de Pesquisa Probabilística em Biologia, na Universidade de Northridge, é
excelente leitura a esse respeito.
Essa mesma realidade pode ser vista do ponto de
vista da Bioquímica, através do livro escrito pelo do Dr. A. E. Wilder-Smith:
The Natural Sciences Know Nothing of Evolution. O Dr. Wilder-Smith, hoje já
falecido, foi um dos mais respeitados cientistas do nosso tempo. Com três
doutoramentos, em Bioquímica, Química Orgânica e Quimioterapia, ele exerceu sua
profissão tanto na indústria quanto no ambiente acadêmico, como professor em
várias universidades, tendo escrito mais de 20 livros nas áreas de sua
especialidade, os quais foram publicados em Inglês, Alemão, Francês, Russo,
Norueguês, Checo, Holandês e Romeno.
Não. Definitivamente, não! Criacionistas não são
fanáticos religiosos e tampouco pretendem fazer, do criacionismo, um pretexto
para ações políticas. Aliás, diga-se de passagem, política é o que o Dr.
Pieczarka sugere em seu artigo quando diz: “Acredito que seja importante também
a SBPC trabalhar no sentido de esclarecer as pessoas detentoras de poder
político e os órgãos formadores de opinião sobre o verdadeiro significado do
lobby criacionista”.
Temos, até aqui, experimentado o ensino unilateral
do evolucionismo nas escolas. O resultado tem sido uma geração de jovens que
não aprendeu a pensar. Nossos jovens estudantes têm sido expostos a um ABC
evolucionista que não deixa margens para discussão. As informações são sempre
taxativas e não se admite questionamentos.
Hoje, o consenso popular, obviamente imposto pelos
cientistas evolucionistas, é que a evolução é um fato cientificamente
comprovado; que o leigo em ciência deve conhecer os aspectos básicos do
evolucionismo sem, contudo, se preocupar com os detalhes técnicos da questão,
que são interessantes apenas do ponto de vista estritamente científico. E
assim, com esse tipo de argumento, ao mesmo tempo em que lança profundamente
suas raízes, a teoria da evolução reveste-se de uma capa impermeável que a
protege das discussões sobre suas bases. Desse modo, poucos percebem que este
modelo das origens foi construído a partir de subterfúgios, de meias verdades,
de raciocínios falaciosos e até mesmo com atos fraudulentos.
O que criacionistas pretendem é apenas tempo igual
e oportunidades iguais, nas salas de aula, nos fóruns científicos, para
oferecer uma opção razoável para a questão das origens, baseada em evidências
científicas e nos fatos da natureza. Não são aulas de religião que se pretende,
mas aulas honestas, baseadas em argumentos honestos.
Fonte:
O Prof. Christiano P. da Silva Neto é professor
universitário, pós-graduado em ciências pela University of London, estando hoje
em tempo integral a serviço da ABPC - Associação Brasileira de Pesquisa da
Criação, da qual é presidente e fundador. Autor de cinco livros sobre as
origens, entre os quais destacam-se Datando a Terra e Origens - A verdade
Objetiva dos Fatos, o Prof. Christiano tem estado proferindo palestras por todo
o país, a convite de igrejas, escolas e universidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário