Introdução
Até meados do século passado, o mundo civilizado
vivia sob forte influência do cristianismo. A teologia era considerada a
"rainha" das ciências. Cristãos eram criacionistas que jamais ousavam
por em dúvida as Escrituras.
Num universo de idéias tão fechadas, não foi fácil
a escalada evolucionista. No que diz respeito às origens do universo e da vida,
por exemplo, não se admitia outra forma de pensar que não fosse compatível com
a narrativa bíblica da criação.
Gradualmente, porém, após a publicação do livro de
Darwin, a opinião pública começou a mudar. Primeiro foram os círculos
científicos, depois as rodas intelectuais e então, indistintamente, todas as
camadas sociais.
Desde então, a filosofia dominante tem sido a
evolucionista. Em escolas e universidades, em jornais e revistas, o
evolucionismo é apresentado , não como uma hipótese, mas como um fato
cientificamente comprovado, impenetrável a qualquer outra forma de pensamento.
Em conseqüência, o novo universo das idéias se mostrou
tão fechado quanto o anterior, quando cristãos defendiam sua forma de pensar
com argumentos estritamente religiosos. Hoje, não crer na evolução é, na
opinião dos evolucionistas, negar o óbvio, desconhecer os fatos científicos
mais elementares.
Apesar disso, nas últimas décadas, alguns
cientistas têm corajosamente feito oposição ao evolucionismo: são os
criacionistas, que afirmam poder sustentar cientificamente esta posição. Tais
homens de ciência afirmam não estar longe o dia em que a evolução será ensinada
nas escolas, não como um fato, mas como a grande falácia dos séculos XIX e XX.
Temos, portanto, dois modelos das origens, o
criacionista e o evolucionista, que se propõem a explicar o surgimento da vida,
a diversidade de formas em que esta se apresenta, o nascimento do sistema
solar, das galáxias, do universo como um todo.
Examinaremos, aqui, esses dois modelos de que o
homem tem se utilizado para tentar desvendar o enigma das origens. Iniciamos,
pois, uma jornada pelo mundo da ciência, da filosofia e da religião, em busca
de nossas próprias origens.
O modelo da
criação
Este modelo define, no princípio, um período de
criação especial, quando todos os sistemas básicos da natureza foram trazidos à
existência completos, prontos para pleno desempenho de suas funções.
Assim, ao invés de pensar na vida como tendo
surgido a partir de formas bem simples - aminoácidos, proteínas, bactérias,
algas etc., gradualmente evoluindo para formas mais complexas, a teoria da
criação afirma que os seres vivos vieram à existência através de atos distintos
de criação.
Isto não significa que criacionistas sejam
fixistas. O fixismo afirma que as espécies biológicas são, desde o princípio,
imutáveis e idênticas aos primeiros organismos criados. Criacionistas do tempo
de Darwin eram pouco afeitos à ciência e, pressionados pelas idéias
evolucionistas, muitos foram para esse outro extremo.
Criacionistas sabem da existência de vários
processos da natureza, que convencionamos denominar de mutações, capazes de
introduzir novidades genéticas em uma dada espécie.
Eles, entretanto, não crêem que tais processos
possam trazer à cena modificações tão extraordinárias, a ponto de gerar toda a
diversidade de vi da que encontramos no planeta a partir de um primeiro e único
organismo unicelular, ou mesmo uma espécie a partir de outra. Eles também não
crêem que a vida possa ter se originado a partir da matéria sem vida, de um
modo inteiramente ao sabor do acaso.
Assim, a origem da vida e das espécies de seres
vivos não pode ser explicada através de recursos naturais, demandando,
portanto, a existência e o concurso de um agente externo ao universo e que foi
o responsável por todos os pontos críticos da história desse mesmo universo.
Findo o período de criação, cessaram os processos criativos, substituídos por
processos de conservação, com o fim de preservar tudo que havia sido feito.
Nesse contexto, tudo teria sido criado perfeito. Do
infinitesimal protozoário aos grandes mamíferos; do minúsculo átomo as
gigantescas galáxias, o universo foi criado em perfeita ordem e todos os seres
vivos, inclusive o homem, estavam presentes desde o inicio. Entretanto, num
universo perfeito, onde alterações aleatórias são sempre possíveis, o sistema
tende a se desorganizar.
Na verdade, essa tendência é a própria essência da
segunda lei da termodinâmica, expressa em termos probabilísticos. Assim, o
modelo da criação admite um princípio básico de desintegração, em vigor na
natureza, desde o seu início. Naturalmente, se este modelo e mesmo factível,
deve haver, por todo o universo, muitas evidências dos seus pressupostos.
Opositores
da evolução
Criacionistas encontram-se entre os mais duros
opositores da teoria da evolução, apontando sempre o que eles consideram pontos
fracos dessa teoria. Eis, abaixo, alguns desses pontos:
1. O registro fóssil não apresenta os fósseis de
transição entre as espécies. Esta é uma necessidade básica do evolucionismo,
obviamente não resolvida;
2. Não há qualquer evidência de que uma espécie
tenha, com o tempo, se transformado em outra, nem há, na natureza, qualquer
mecanismo capaz de tal proeza. Este fato não deve nos causar surpresa, uma vez
que a evolução não se caracteriza como fenômeno passível de observação e
conseqüente investigação científica;
3. Erros básicos encontrados nos métodos radiométricos
de datação comprometem as idades atribuídas a todos os sistemas datados. Sem a
vastidão do tempo a sua disposição, o evolucionismo não pode subsistir;
4. Similaridades entre os seres vivos foram, no
passado, consideradas evidências da evolução acima de qualquer suspeita.
Comparações recentes entre o DNA e o RNA de varias espécies têm mostrado que
esse tipo de comparação é, na verdade, inconclusivo.
Os meios de comunicação têm, via de regra,
caracterizado o movimento criacionista como anticientifico, cujos integrantes
são fanáticos religiosos, dispostos a tudo para fazer prevalecer seus pontos de
vista acerca das origens. Recentemente, em um artigo a respeito de Darwin, o
articulista afirmou: "só protestantes fundamentalistas, que interpretam a
Bíblia ao pé da letra e, por isso, não crêem nas mutações, se recusam a crer
nas idéias de Darwin acerca da evolução das espécies".
Isto, porem, não é verdade! Todos sabemos que as
mutações são uma realidade - dizem os criacionistas - mas também sabemos que
elas não dispõem de potencial para promover a evolução. Em outras palavras, os
criacionistas afirmam possuir respostas claras e convincentes, sempre
consistentes com os fatos da natureza e com as descobertas da ciência, a todos
os argumentos apresentados por evolucionistas.
Síntese da
posição criacionista
Criacionistas crêem na existência de um Ser
superior, que preexistiu a todo universo e, pelo seu poder, deu origem a tudo
quanto existe. Crêem também os criacionistas que o Criador trouxe a existência
não só as galáxias de que se compõe o universo, como também os tipos básicos de
seres vivos, dos quais descende a presente multiplicidade de formas em que a
vida hoje se apresenta. Esta é uma idéia bastante plausível, e que conta com o
suporte da observação e da experimentação. A espécie dos cães, por exemplo, em
1960 possuía 200 raças a mais do que em 1700, obtidas através de sucessivos
cruzamentos e seleção de certas características.
Tanto quanto tem sido observado, experimentalmente
ou na natureza, nem as mutações, nem os processos de seleção, têm potencial
para produzir uma transformação de uma espécie em outra. Os mutantes são sempre
da mesma espécie que os originou, quase sempre menos aptos a sobrevivência, e
os processos de seleção natural não fazem mais do que recombinar os genes
presentes em uma dada espécie.
Assim, sabemos que o homem tem sido capaz de
selecionar combinações de genes para produzir novas variedades de cães, pombos,
ervilhas, feijão etc., e que através de mutações se pode ter novas
características introduzidas em uma dada espécie. Nenhum dos dois casos,
entretanto favorece a transmutação de uma espécie em outra.
Veja algumas das principais características da
criação:
1. Sobrenaturalista - Origens explicadas através da
existência de um agente externo ao universo: o Criador;
2. Externamente dirigida - Todo o universo é
dirigido pelo Criador, que mantém sua obra através de processos de conservação
por Ele estabelecidos;
3. Dotada de propósito - O Criador trouxe o
universo à existência com um propósito bem definido;
4. Completa, concluída - Houve um período de
criação, ao fim do qual o Criador deu sua obra por completada.
Criacionistas mantêm, ainda, que a livre
investigação da natureza confirma todos os pontos do seu modelo; que as
evidências da natureza apontam, de modo insofismável, na direção do Criador.
Afirmam, também, que a Terra é um planeta jovem, apresentando não só erros
básicos nos métodos de datação utilizados pelos evolucionistas, como também
evidencias da natureza que favorecem o seu ponto de vista.
O modelo da
evolução
Darwin não pretendia, ao publicar o seu livro A
Origem das Espécies, em 1859, explicar a origem da vida na Terra. Sobre isto,
ele escreveu um único parágrafo, em que afirmava crer que os primeiros germes
de vida haviam sido colocados por Deus em nosso planeta. Tal parágrafo, porém,
Darwin ordenou que fosse suprimido a partir da segunda edição de seu livro.
É muito difícil julgar intenções, mas a atitude de
Darwin, ao suprimir esse parágrafo, parece significar que ele já começava a se
render ao naturalismo, que afirma que tudo no universo pode ser explicado
através de causas naturais. Nesse caso, a origem da vida não seria uma exceção.
Mas o objetivo do livro era explicar a origem das
espécies, a partir de vida preexistente. Como, afinal, explicar a origem de
todas as espécies que encontramos na Terra? Qual a origem da grande diversidade
que hoje observamos entre os seres vivos?
Darwin estava convencido de que as espécies se
transformavam com o tempo, e que as pequenas diferenças que normalmente
observamos entre uma geração e a sua prole acumulavam-se e, com o tempo, davam
origem a uma nova espécie. Neste contexto, peixes haviam surgido de outros
seres menos complexos nos oceanos e dado origem aos anfíbios. Destes teriam
surgido os répteis, ancestrais das aves e dos mamíferos. O homem, como afirmara
T. Dobzhansky, era apenas um produto dessa evolução, tendo surgido entre os
mamíferos como o ser mais evoluído.
Outros pensadores vieram após Darwin e completaram
essa visão de modo a incluir o universo como um todo. Assim, se configurou um
modelo das origens bastante distinto do criacionista, ao qual se denominou de
modelo evolucionista das origens. Desde então, esse modelo passou por diversas
modificações na tentativa de vencer as dificuldades que se apresentaram a
partir de novas descobertas da ciência.
Em sua caminhada, muito provavelmente por falta de
oposição a altura, tornou-se o modelo hoje dominante. A maior parte dos
cientistas acredita na teoria da evolução como a única forma de explicarmos
nossas origens, e praticamente toda a mídia, revistas, livros, jornais, radio,
televisão etc., ao tratar algum assunto científico relacionado com as origens,
o faz em um contexto evolucionista.
Em sentido mais abrangente, este sistema afirma que
todo o universo se encontra em continua evolução. Este processo teria se
iniciado com o hidrogênio, subproduto básico de uma suposta explosão (Big-Bang)
supostamente ocorrida há cerca de 15 bilhões de anos, quando o presente
universo ainda não existia.
A partir de então, esse gás incolor, inodoro, insípido,
contendo apenas um próton em seu núcleo, e um elétron à sua volta, teria
sofrido transformações casuais, gerando outros elementos por meio da captura de
elétrons, prótons e nêutrons. Estes teriam se combinado de modo a gerar as
substâncias de que se compõe o universo, com a matéria resultante se
organizando ate o ponto de gerar a vida, com todas as suas particularidades.
Como todos os processos até hoje idealizados para
justificar a evolução são sempre muito lentos, o tempo se torna um dos fatores
imprescindíveis nesse modelo. Não se pode conceber o processo da evolução em um
período de tempo muito curto. A evolução requer bilhões de anos, e esta imensa
porção de tempo Darwin encontrou à sua disposição na filosofia uniformitarista
de James Hutton.
De acordo com G. A. Kerkut, agraciado com o título
de professor emérito de neurociência na Universidade de Southampton, em seu
intrigante livro Implications of Evolution, há sete hipóteses básicas
freqüentemente não mencionadas em nossas discussões sobre a evolução, e que
muitos evolucionistas ignoram as primeiras, considerando apenas a sétima. Eis
aqui essas hipóteses:
1.- Coisas não vivas deram origem ao material vivo,
em outras palavras, a geração espontânea ocorreu;
2.- A geração espontânea ocorreu apenas uma vez na
história da Terra;
3.- Vírus, bactérias, plantas e animais estão todos
inter-relacionados;
4.- Protozoários deram origem aos metazoários;
5.- Os invertebrados também estão todos
inter-relacionados;
6.- Os invertebrados deram origem aos vertebrados;
7.- Entre os vertebrados, peixes de ram origem aos
anfíbios; anfíbios aos répteis; e répteis a aves e mamíferos.
Continuando. o Dr. Kerkut diz que: "... essas
sete hipóteses não são passiveis de verificação experimental. Elas pressupõem
que uma série de eventos ocorreu no passado. Ainda que fosse possível produzir
tais eventos sob condições atuais, isto não significaria que tais mudanças
tenham ocorrido no passado. Assim, transformar um réptil moderno em um
mamífero, ainda que uma operação de grande interesse, não nos revelaria nada
sobre a origem dos mamíferos. Infelizmente, nem mesmo esse tipo de
transformação estamos aptos a realizar" (p. 7).
Apesar das críticas que o Dr. Kerkut desfere em seu
livro contra o modelo da evolução, ele é um evolucionista. Isto, porém, não
deve nos surpreender: todo aquele que sucumbir diante dos apelos do
naturalismo, que insistir em afirmar que tudo no universo pode ser explicado
através de causas naturais, não terá mesmo outra alternativa para explicar as
nossas origens que não a teoria da evolução.
Fonte:
O Prof. Christiano P. da Silva Neto é professor
universitário, pós-graduado em ciências pela University of London, estando hoje
em tempo integral a serviço da ABPC - Associação Brasileira de Pesquisa da
Criação, da qual é presidente e fundador. Autor de cinco livros sobre as
origens, entre os quais destacam-se Datando a Terra e Origens - A verdade
Objetiva dos Fatos, o Prof. Christiano tem estado proferindo palestras por todo
o país, a convite de igrejas, escolas e universidades.
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