Tradução: Michelle Barbosa Barrêto
Pergunta 1:
Caro Sr. Craig, como estou sempre debatendo e
defendendo o [argumento cosmológico de] Kalam, eu sempre refuto a possibilidade
de um universo cujo início no tempo é inexistente, simplesmente explicando a
diferença entre o infinito real e o potencial. Agora é um tanto simples
“contestar” um infinito real, mas a questão sempre ‘me ataca a mente’: “como
Deus é infinito se os infinitos reais não podem existir?” Eu faço de tudo para
responder, mas parece que nunca consigo fazê-lo da maneira que gostaria. Eu geralmente
digo que os infinitos reais não existem no universo físico; Deus é mesmo
infinito, mas transcende o universo físico e não é limitado aqui e ali.
Agradeço muito qualquer resposta que me vier.
Russ
Pergunta 2:
Se os infinitos reais não existem como você
defende, você não concorda que Deus conheça uma quantidade infinita de coisas?
Claramente há um número imensurável, mas finito de coisas no universo para Ele
conhecer, mas, e quanto a seus próprios pensamentos? Não há uma quantidade
infinita de pensamentos em sua própria mente inerentes à trindade?
Alan
Pergunta 3:
Eu não tenho uma pergunta; estou relatando um
detalhe tipográfico. Na entrada mais recente do trabalho da WLC sobre Carrier,
ele diz:
“É só para dizer que não é necessário estabelecer
uma credibilidade geral de documento antes de estabelecer que o que aquele
documento registra é um evento específico plausível”.
Note que há dois “que” na frase acima.
Que Deus abençoe.
Michael
Dr. William
Lane Craig responde:
Eu responderia sua pergunta de maneira diferente,
Russ. Se algo é físico ou não, isto me parece irrelevante com relação à questão
de sua quantidade, desde que tais coisas possam ser contadas ou numeradas.
Portanto, é, por exemplo, perfeitamente inteligível perguntar se realmente há
um número infinito de anjos ou realmente um número infinito de almas. As coisas
não têm de ser físicas para serem contáveis. (Matematicamente, também há
infinitos não enumeráveis (non-denumerable infinites), mas estes não vêm ao
caso aqui).
Em vez disso, a chave para sua pergunta é entender
que a noção matemática de um infinito real é um conceito quantitativo. Ele diz
respeito a uma série de elementos definidos e discretos que são membros de um
conjunto. Porém, quando os teólogos falam da infinidade de Deus, eles não estão
usando a palavra com razão matemática para se referir a um agregado de um
número infinito de elementos. A infinidade de Deus é, como já era, qualitativa,
não quantitativa. Isto significa que Deus é metafisicamente necessário,
moralmente perfeito, onipotente, onisciente, eterno e assim por diante.
Realmente, a “infinidade” é apenas um tipo de
“guarda-chuva” usado para encobrir todos os atributos superlativos de Deus. Se
você abstrair todos estes atributos, não sobrará realmente um atributo distinto
chamado “infinito”. Só que nenhum desses atributos precisam envolver um número
infinito de coisas. Para usar seu exemplo, Alan, a onisciência não precisa
implicar o conhecimento de um número infinito de, digamos, proposições, muito
menos ter um número infinito de pensamentos; nem precisamos pensar na
onipotência de maneira que implique a habilidade de fazer um número infinito de
ações[1]. Quando definimos onisciência como o conhecimento de única e
simplesmente proposições, estamos expressando a extensão do conhecimento de
Deus, não sua forma. A forma de conhecimento de Deus é considerada como
não-proposicional em natureza.
Deus tem uma única intuição indivisível de
realidade, que nós, conhecedores finitos, fracionamos em pedaços individuais de
informação chamados proposições. Logo, o número de proposições está em seu
melhor infinito potencial. Da mesma forma, a onipotência não é definida em
termos de quantia de poder possuído por Deus ou número de ações que Deus pode realizar,
mas em termos de Sua habilidade de atualizar o estado das coisas. Desta forma,
ela não envolve comprometimento com um infinito real de coisas. Portanto, não
há razão para pensar que Deus é suscetível à quantidade de análises
quantitativas imaginadas pela objeção.
Assim, negar que Deus seja realmente infinito na
razão quantitativa de forma alguma implica que Deus seja finito. Esta
inferência não procede, uma vez que o senso quantitativo de infinidade pode ser
simplesmente inaplicável a Deus.
Finalmente, eu não poderia resistir à sua pergunta,
Michael, porque ela me lembra de uma história que ouvi uma vez. Um professor
estagiário de ensino médio dava notas aos trabalhos de seus alunos e corrigiu o
uso do termo “que” repetido pelo aluno em sequência no tema de seu trabalho. O
aluno reclamou com o professor titular que, depois de olhar o trabalho,
reverteu a correção do professor estagiário, fazendo uma observação: “Embora as
chances sejam de uma em um milhão de que essa forma ocorra, nós temos que admitir
que aqueles “que” que o aluno usou estavam corretos!”
Da mesma forma, na minha frase o primeiro “que” é
um conectivo e o último é um pronome relativo - para bom entendedor de
gramática!
Notas finais
1. Veja William Alston, “Does God Have Beliefs?”
(Deus tem crenças?), Religious Studies 22 (1986): 287-306; Thomas P. Flint e
Alfred J. Freddoso, “Maximal Power” (Poder Máximo), em The Existence and Nature
of God (A Existência e Natureza de Deus), ed. Alfred J. Freddoso (Notre Dame:
University of Notre Dame Press, 1983), pp. 81-113.
Fonte do
artigo original:
http://www.reasonablefaith.org/is-god-actually-infinite
Nenhum comentário:
Postar um comentário