1 Coríntios 1:18 - De fato, a mensagem da morte de
Cristo na cruz é loucura para os que estão se perdendo; mas para nós, que
estamos sendo salvos, é o poder de Deus.
1 Coríntios 15:12-19 - Se a nossa mensagem é que
Cristo foi ressuscitado, como é que alguns de vocês dizem que os mortos não vão
ressuscitar? Se não existe a ressurreição de mortos, então quer dizer que
Cristo não foi ressuscitado. E, se Cristo não foi ressuscitado, nós não temos
nada para anunciar, e vocês não têm nada para crer. E mais ainda: nesse caso
estaríamos mentindo contra Deus, porque afirmamos que ele ressuscitou Cristo.
Mas, se é verdade que os mortos não são ressuscitados, então Deus não
ressuscitou Cristo. Porque, se os mortos não são ressuscitados, Cristo também
não foi ressuscitado. E, se Cristo não foi ressuscitado, a fé que vocês têm é
uma ilusão, e vocês continuam perdidos nos seus pecados. Se Cristo não
ressuscitou, os que morreram crendo nele estão perdidos. Se a nossa esperança
em Cristo só vale para esta vida, nós somos as pessoas mais infelizes deste
mundo.
Com a exceção dos que crêem que Jesus nunca existiu
(JNE) e os que crêem em teorias conspiratórias (e no que diz respeito a este
assunto, eu incluo os muçulmanos neste grupo!), poucos negariam a realidade
histórica da crucificação. Contudo, uma vez que a porta é aberta, ela traz o
primeiro dos nossos problemas:
Quem
acreditaria em uma religião centrada em um homem que foi crucificado?
Como mostrado amplamente por Martin Hengel em sua
monografia, Crucifixion [Crucificação], a vergonha da cruz era o resultado de
uma norma fundamental do Império Greco-Romano. Hengel observa que “a
crucificação era um caso absolutamente ofensivo, ‘obsceno’ no sentido original
da palavra”.
Como Malina e Rohrbaugh notam em seu Social-Science
Commentary on John [Comentário Sociológico de João] [263-4], a crucificação era
um “ritual de degradação do status desenvolvido para humilhar de todas as
formas possíveis, incluindo o simbolismo da encravação das mãos e pernas,
significando a perda de poder, e perda da habilidade de controlar o corpo de
várias formas, inclusive podendo se sujar com seus próprios excrementos. O
processo era tão ofensivo que os Evangelhos oferecem as descrições mais
detalhadas de uma crucificação nos tempos antigos – o assunto deixava os
autores pagãos muito revoltados para oferecerem descrições igualmente
compreensíveis – apesar do fato de que foram realizadas milhares de
crucificações ao mesmo tempo, em algumas ocasiões. (O) mundo literário culto
não queria relacionar-se com [a crucificação], e como regra, manteve-se em
silêncio a respeito disso”.
Era sabido desde o tempo de Paulo (1 Coríntios
1:18; veja também Hebreus 12:2) que pregar sobre um salvador que sofreu as
desgraças deste tratamento era tolice. E era assim tanto para os Judeus
(Gálatas 3:13; Deuteronômio 21:23) quanto para os Gentios.
Justino Mártir escreveu posteriormente em sua
primeira Apologia 13:4 – "Eles dizem que nossa loucura consiste no fato de
que nós colocamos um homem crucificado em segundo lugar, depois do Deus eterno
e imutável…"Celso descreve Jesus como alguém “amarrado da forma mais
ignominiosa” e “executado de forma vergonhosa”.
Josefo descreve a crucificação como “a mais
desprezível das mortes”.
Um oráculo de Apolo preservado por Agostinho
descrevia Jesus como “um deus que morreu em desilusões … executado no verdor
dos anos pela pior das mortes, uma morte atada ao ferro”.
Assim são as opiniões: Sêneca, Luciano,
Pseudo-Manetho, Plautus. Mesmo as classes baixas se juntaram à maldade, como
demonstrado por um grafite apresentando um homem suplicando diante de uma
figura crucificada com a cabeça de um jumento, com o subtítulo: “Alexamenos
adora a deus”. (A cabeça de jumento sendo um reconhecimento das raízes Judaicas
do Cristianismo: Uma convenção da polêmica anti-Judaísmo era que os Judeus
adoravam um jumento no templo deles.) Embora confuso em outros assuntos, Walter
Bauer afirmou corretamente: Os inimigos do Cristianismo sempre se referiam à
desgraça da morte de Jesus com grande ênfase e prazer malicioso. Um deus ou o
filho de deus em uma cruz! Aquilo era o bastante para liqüidar a nova religião.
E DeSilva adiciona: Nenhum membro da comunidade
Judia ou a sociedade Greco-Romana adotaria a fé ou se juntaria ao movimento
Cristão sem antes aceitar que a perspectiva de Deus sobre o tipo de
comportamento que merece honra difere excessivamente da perspectiva dos seres
humanos, visto que a mensagem sobre Jesus é a de que os líderes Judeus e
Gentios de Jerusalém avaliaram Jesus, suas convicções e seus feitos como merecedores
de uma morte vergonhosa, mas Deus subverteu a avaliação que eles tinham de
Jesus ao ressuscitá-lo dos mortos e sentá-lo à sua direita [de Deus] como
Senhor.
N.T. Wright também aponta isso em Resurrection of
the Son of God [A Ressurreição do Filho de Deus – 543, 559,563]: O argumento,
neste ponto, procede em três estágios.
(i) O Cristianismo primitivo foi sistematicamente
messiânico, moldando-se sobre a crença de que Jesus era o Messias de Deus, o
Messias de Israel.
(ii) Mas a concepção de Messias no Judaísmo, da
forma como era, nunca contemplou alguém fazendo o tipo de coisas que Jesus
havia feito, sem falar no destino que ele teve.
(iii) O historiador deve, portanto, perguntar por
que os primeiros Cristãos reivindicavam essas coisas sobre Jesus, e por que
reordenaram suas vidas de acordo com isso.
As crenças do Judaísmo sobre a vinda de um Messias,
e sobre os feitos que se esperava que tal personalidade cumprisse, vieram em
várias formas e tamanhos, mas não incluíam uma morte vergonhosa, que deixou o
Império Romano celebrando a vitória de forma habitual.
Alguma coisa aconteceu com a crença sobre a vinda
de um Messias … ela não foi nem abandonada, nem simplesmente reafirmada em
grande extensão. Ela foi redefinida baseada em Jesus. Por quê? Os primeiros
Cristãos respondiam a essa questão, é claro, com uma só voz: Nós cremos que
Jesus era e é o Messias, pois ele ressuscitou dos mortos. Nada mais funcionaria
aqui.
A mensagem da cruz era repulsiva, uma vulgaridade
em seu contexto social. Discutir a crucificação era o pior tipo de faux pas
[passo em falso – falta de etiqueta]; era relacionado, mas somente no sentido
mais superficial, a discutir técnicas de recuperação de esgotos durante uma boa
refeição – mas pior ainda quando em associação com um suposto deus ter vindo à
terra. Hengel adiciona: “Um Messias crucificado … deve ter parecido com uma
contradição de termos para qualquer um, Judeu, Grego, Romano ou bárbaro".
Eles certamente julgariam tolo e ofensivo se alguém
lhes perguntasse se acreditariam nisso. “Que um deus desceria ao reino da
matéria para sofrer dessa forma tão ignominiosa” era contrário não somente ao
pensamento político Romano, mas a todo o etos da religião dos tempos antigos, e
em particular, às idéias sobre Deus que as pessoas educadas tinham”. Anunciar
um deus crucificado seria semelhante à Convenção Batista do Sul anunciar que
passaria a sancionar a pedofilia! Se Jesus realmente era um deus, então de
acordo com o pensamento Romano, a crucificação nunca deveria ter acontecido.
Celso, um antigo crítico pagão do Cristianismo, escreve: Mas se (Jesus) era tão
grande, ele deveria, a fim de demonstrar sua divindade, ter desaparecido
repentinamente da cruz.
Este comentário representa não somente o desafio de
um cético, mas é um reflexo de uma consciência impregnada sócio-teologicamente.
Os Romanos não podiam antever um deus morrendo como Jesus e ponto final. Assim
como discutir sobre se o céu é verde, ou se os porcos voam, mas estes
argumentos pelo menos não ofendiam as sensibilidades ao máximo. Precisamos
enfatizar isto (pela primeira, mas não última vez) de uma perspectiva social,
pois a nossa própria sociedade não é tão sintonizada quanto ao processo de
honra quanto a sociedade antiga. Achamos estranho assistir Shogun e imaginar
homens se suicidando pelo bem da honra. Os Judeus, Gregos e Romanos não
achariam nada de estranho nisso. Como David deSilva mostra em Honor, Patronage,
Kinship and Purity [Honra, Clientelismo, Afinidade e Pureza], o honorável era,
para os antigos, de importância primordial. A honra era posta acima da própria
segurança pessoal e era o elemento chave ao se decidir modos de ação. Isócrates
dá conselhos pessoais baseado não no que era “certo ou errado”, mas sim no que
era “nobre ou desonroso”. “A promessa da honra e a ameaça da desgraça [eram]
estimulantes proeminentes quando se procurava certo tipo de vida e para evitar
muitas alternativas”.
O Cristianismo, é claro, respondia que a morte de
Jesus foi um ato honorável de sacrifício pelo bem alheio – mas esse tipo de
lógica só funciona se você já estivesse convencido por outros meios!
Sendo este o caso, podemos perguntar de forma
razoável pela primeira vez neste ensaio, por que o Cristianismo teve sucesso. A
infâmia de um salvador crucificado era um impedimento tão grande para a fé
cristã como é hoje em dia – de fato, era muito, muito mais! Por que, então,
havia Cristãos? Na melhor das hipóteses este deveria ter sido um movimento com
somente alguns seguidores estranhos, e então morrido dentro de algumas décadas
como uma nota de rodapé, se sequer fosse mencionado. A realidade histórica da
crucificação não poderia, é claro, ser negada. Para sobreviver, o Cristianismo
ou teria de ter se tornado gnóstico (como realmente aconteceu em alguns
desdobramentos), ou então não ter se incomodado com Jesus, e meramente ter
feito dele o primeiro mártir de um ideal moral mais eminente dentro do
Judaísmo. Teria sido absurdo sugerir, para um Judeu ou Gentio, que um ser
crucificado era digno de adoração ou que morreu pelos nossos pecados.
Só pode haver uma única boa explicação: O
Cristianismo teve sucesso pois da cruz veio a vitória, e após a morte veio a
ressurreição! A vergonha da cruz converteu-se em uma das provas mais
incontestáveis do Cristianismo!
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