quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Quem iria crer em um crucificado?

1 Coríntios 1:18 - De fato, a mensagem da morte de Cristo na cruz é loucura para os que estão se perdendo; mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus.

1 Coríntios 15:12-19 - Se a nossa mensagem é que Cristo foi ressuscitado, como é que alguns de vocês dizem que os mortos não vão ressuscitar? Se não existe a ressurreição de mortos, então quer dizer que Cristo não foi ressuscitado. E, se Cristo não foi ressuscitado, nós não temos nada para anunciar, e vocês não têm nada para crer. E mais ainda: nesse caso estaríamos mentindo contra Deus, porque afirmamos que ele ressuscitou Cristo. Mas, se é verdade que os mortos não são ressuscitados, então Deus não ressuscitou Cristo. Porque, se os mortos não são ressuscitados, Cristo também não foi ressuscitado. E, se Cristo não foi ressuscitado, a fé que vocês têm é uma ilusão, e vocês continuam perdidos nos seus pecados. Se Cristo não ressuscitou, os que morreram crendo nele estão perdidos. Se a nossa esperança em Cristo só vale para esta vida, nós somos as pessoas mais infelizes deste mundo.

Com a exceção dos que crêem que Jesus nunca existiu (JNE) e os que crêem em teorias conspiratórias (e no que diz respeito a este assunto, eu incluo os muçulmanos neste grupo!), poucos negariam a realidade histórica da crucificação. Contudo, uma vez que a porta é aberta, ela traz o primeiro dos nossos problemas:

Quem acreditaria em uma religião centrada em um homem que foi crucificado?
Como mostrado amplamente por Martin Hengel em sua monografia, Crucifixion [Crucificação], a vergonha da cruz era o resultado de uma norma fundamental do Império Greco-Romano. Hengel observa que “a crucificação era um caso absolutamente ofensivo, ‘obsceno’ no sentido original da palavra”.

Como Malina e Rohrbaugh notam em seu Social-Science Commentary on John [Comentário Sociológico de João] [263-4], a crucificação era um “ritual de degradação do status desenvolvido para humilhar de todas as formas possíveis, incluindo o simbolismo da encravação das mãos e pernas, significando a perda de poder, e perda da habilidade de controlar o corpo de várias formas, inclusive podendo se sujar com seus próprios excrementos. O processo era tão ofensivo que os Evangelhos oferecem as descrições mais detalhadas de uma crucificação nos tempos antigos – o assunto deixava os autores pagãos muito revoltados para oferecerem descrições igualmente compreensíveis – apesar do fato de que foram realizadas milhares de crucificações ao mesmo tempo, em algumas ocasiões. (O) mundo literário culto não queria relacionar-se com [a crucificação], e como regra, manteve-se em silêncio a respeito disso”.

Era sabido desde o tempo de Paulo (1 Coríntios 1:18; veja também Hebreus 12:2) que pregar sobre um salvador que sofreu as desgraças deste tratamento era tolice. E era assim tanto para os Judeus (Gálatas 3:13; Deuteronômio 21:23) quanto para os Gentios.

Justino Mártir escreveu posteriormente em sua primeira Apologia 13:4 – "Eles dizem que nossa loucura consiste no fato de que nós colocamos um homem crucificado em segundo lugar, depois do Deus eterno e imutável…"Celso descreve Jesus como alguém “amarrado da forma mais ignominiosa” e “executado de forma vergonhosa”.

Josefo descreve a crucificação como “a mais desprezível das mortes”.

Um oráculo de Apolo preservado por Agostinho descrevia Jesus como “um deus que morreu em desilusões … executado no verdor dos anos pela pior das mortes, uma morte atada ao ferro”.

Assim são as opiniões: Sêneca, Luciano, Pseudo-Manetho, Plautus. Mesmo as classes baixas se juntaram à maldade, como demonstrado por um grafite apresentando um homem suplicando diante de uma figura crucificada com a cabeça de um jumento, com o subtítulo: “Alexamenos adora a deus”. (A cabeça de jumento sendo um reconhecimento das raízes Judaicas do Cristianismo: Uma convenção da polêmica anti-Judaísmo era que os Judeus adoravam um jumento no templo deles.) Embora confuso em outros assuntos, Walter Bauer afirmou corretamente: Os inimigos do Cristianismo sempre se referiam à desgraça da morte de Jesus com grande ênfase e prazer malicioso. Um deus ou o filho de deus em uma cruz! Aquilo era o bastante para liqüidar a nova religião.

E DeSilva adiciona: Nenhum membro da comunidade Judia ou a sociedade Greco-Romana adotaria a fé ou se juntaria ao movimento Cristão sem antes aceitar que a perspectiva de Deus sobre o tipo de comportamento que merece honra difere excessivamente da perspectiva dos seres humanos, visto que a mensagem sobre Jesus é a de que os líderes Judeus e Gentios de Jerusalém avaliaram Jesus, suas convicções e seus feitos como merecedores de uma morte vergonhosa, mas Deus subverteu a avaliação que eles tinham de Jesus ao ressuscitá-lo dos mortos e sentá-lo à sua direita [de Deus] como Senhor.

N.T. Wright também aponta isso em Resurrection of the Son of God [A Ressurreição do Filho de Deus – 543, 559,563]: O argumento, neste ponto, procede em três estágios.

(i) O Cristianismo primitivo foi sistematicamente messiânico, moldando-se sobre a crença de que Jesus era o Messias de Deus, o Messias de Israel.

(ii) Mas a concepção de Messias no Judaísmo, da forma como era, nunca contemplou alguém fazendo o tipo de coisas que Jesus havia feito, sem falar no destino que ele teve.

(iii) O historiador deve, portanto, perguntar por que os primeiros Cristãos reivindicavam essas coisas sobre Jesus, e por que reordenaram suas vidas de acordo com isso.

As crenças do Judaísmo sobre a vinda de um Messias, e sobre os feitos que se esperava que tal personalidade cumprisse, vieram em várias formas e tamanhos, mas não incluíam uma morte vergonhosa, que deixou o Império Romano celebrando a vitória de forma habitual.

Alguma coisa aconteceu com a crença sobre a vinda de um Messias … ela não foi nem abandonada, nem simplesmente reafirmada em grande extensão. Ela foi redefinida baseada em Jesus. Por quê? Os primeiros Cristãos respondiam a essa questão, é claro, com uma só voz: Nós cremos que Jesus era e é o Messias, pois ele ressuscitou dos mortos. Nada mais funcionaria aqui.
A mensagem da cruz era repulsiva, uma vulgaridade em seu contexto social. Discutir a crucificação era o pior tipo de faux pas [passo em falso – falta de etiqueta]; era relacionado, mas somente no sentido mais superficial, a discutir técnicas de recuperação de esgotos durante uma boa refeição – mas pior ainda quando em associação com um suposto deus ter vindo à terra. Hengel adiciona: “Um Messias crucificado … deve ter parecido com uma contradição de termos para qualquer um, Judeu, Grego, Romano ou bárbaro".

Eles certamente julgariam tolo e ofensivo se alguém lhes perguntasse se acreditariam nisso. “Que um deus desceria ao reino da matéria para sofrer dessa forma tão ignominiosa” era contrário não somente ao pensamento político Romano, mas a todo o etos da religião dos tempos antigos, e em particular, às idéias sobre Deus que as pessoas educadas tinham”. Anunciar um deus crucificado seria semelhante à Convenção Batista do Sul anunciar que passaria a sancionar a pedofilia! Se Jesus realmente era um deus, então de acordo com o pensamento Romano, a crucificação nunca deveria ter acontecido. Celso, um antigo crítico pagão do Cristianismo, escreve: Mas se (Jesus) era tão grande, ele deveria, a fim de demonstrar sua divindade, ter desaparecido repentinamente da cruz.

Este comentário representa não somente o desafio de um cético, mas é um reflexo de uma consciência impregnada sócio-teologicamente. Os Romanos não podiam antever um deus morrendo como Jesus e ponto final. Assim como discutir sobre se o céu é verde, ou se os porcos voam, mas estes argumentos pelo menos não ofendiam as sensibilidades ao máximo. Precisamos enfatizar isto (pela primeira, mas não última vez) de uma perspectiva social, pois a nossa própria sociedade não é tão sintonizada quanto ao processo de honra quanto a sociedade antiga. Achamos estranho assistir Shogun e imaginar homens se suicidando pelo bem da honra. Os Judeus, Gregos e Romanos não achariam nada de estranho nisso. Como David deSilva mostra em Honor, Patronage, Kinship and Purity [Honra, Clientelismo, Afinidade e Pureza], o honorável era, para os antigos, de importância primordial. A honra era posta acima da própria segurança pessoal e era o elemento chave ao se decidir modos de ação. Isócrates dá conselhos pessoais baseado não no que era “certo ou errado”, mas sim no que era “nobre ou desonroso”. “A promessa da honra e a ameaça da desgraça [eram] estimulantes proeminentes quando se procurava certo tipo de vida e para evitar muitas alternativas”.

O Cristianismo, é claro, respondia que a morte de Jesus foi um ato honorável de sacrifício pelo bem alheio – mas esse tipo de lógica só funciona se você já estivesse convencido por outros meios!

Sendo este o caso, podemos perguntar de forma razoável pela primeira vez neste ensaio, por que o Cristianismo teve sucesso. A infâmia de um salvador crucificado era um impedimento tão grande para a fé cristã como é hoje em dia – de fato, era muito, muito mais! Por que, então, havia Cristãos? Na melhor das hipóteses este deveria ter sido um movimento com somente alguns seguidores estranhos, e então morrido dentro de algumas décadas como uma nota de rodapé, se sequer fosse mencionado. A realidade histórica da crucificação não poderia, é claro, ser negada. Para sobreviver, o Cristianismo ou teria de ter se tornado gnóstico (como realmente aconteceu em alguns desdobramentos), ou então não ter se incomodado com Jesus, e meramente ter feito dele o primeiro mártir de um ideal moral mais eminente dentro do Judaísmo. Teria sido absurdo sugerir, para um Judeu ou Gentio, que um ser crucificado era digno de adoração ou que morreu pelos nossos pecados.


Só pode haver uma única boa explicação: O Cristianismo teve sucesso pois da cruz veio a vitória, e após a morte veio a ressurreição! A vergonha da cruz converteu-se em uma das provas mais incontestáveis do Cristianismo!

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