OS PRIMEIROS HOMENS E A IDEIA DE DEUS
Deus! Haverá algo mais belo, edificante e sublime
do que meditarmos sobre a existência e os mistérios deste Ser que é mais
profundo do que o mais profundo de nós mesmos, cuja glória e poder enchem a
terra e os céus? Todos os grandes homens que influenciaram a história do
pensamento humano consagraram um estudo especial sobre "o Ser do qual não
é possível pensar nada maior", segundo a famosa definição do teólogo Anselmo de Cantuária (1033-1109). Não
existe, em todo o Universo, assunto de maior grandeza. Crer ou não crer na
existência de Deus — eis a grande questão que divide a humanidade, e define o
nosso destino eterno.
Acreditando ou não na existência divina, o homem
necessita de Deus para compreender-se a si mesmo e entender os mistérios da
vida e da Natureza. É por esse motivo que não se tem notícia de povos ateus
entre os primeiros grupos humanos que habitaram o mundo primitivo. O moralista
e historiador grego Plutarco (45-125
d.C.) costumava dizer que "é
possível encontrar cidades sem muralhas, sem ginásios, sem leis, sem moedas,
sem cultura literária; mas um povo sem Deus, sem orações, sem juramentos, sem
ritos religiosos, sem sacrifícios, jamais foi encontrado". E esta
afirmação continua plenamente válida até os dias de hoje.
JAMAIS FORAM
ENCONTRADOS POVOS ATEUS
Todos os grandes estudiosos das religiões, em todos
os tempos e entre todos os povos, confirmam que a crença na existência de Deus
é universal. Nunca existiram povos ateus. O teólogo holandês C. P. Tiele (1830-1902), no seu manual
de História Comparada das Antigas Religiões diz que "a afirmação de povos ou tribos sem religião repousa ou em
observações inexatas, ou numa confusão de ideias. Nunca se encontrou tribo ou
nação que não acreditasse em um Ser superior; os viajantes que afirmaram o
contrário foram depois desmentidos pelos fatos".
Tanto os antigos missionários que partiram para
evangelizar os mais longínquos recantos da terra, como também os exploradores
de regiões desconhecidas depararam-se com a ideia de um Ser Supremo espalhada
entre os povos. No livro "Uma Introdução para a História das
Religiões", Frank Byron Jevons
cita oito autores especializados no assunto para confirmar que nunca foi encontrada
qualquer tribo destituída da ideia de Deus. E por último, eis o que diz o
renomado antropólogo Armando de
Quatrefages (1810-1892) na 4 parte do seu livro "A Espécie
Humana": "Obrigado pelo meu
magistério a passar em revista todas as raças humanas, procurei o ateísmo entre
as mais degradadas e as mais elevadas. Não o encontrei em lugar nenhum, a não
ser no estado individual... O ateísmo só existe em estado errático. Tal o
resultado de uma investigação que posso chamar conscienciosa, e que comecei muito
antes de subir à cátedra de Antropologia."
Por esse e outros motivos, podemos afirmar que o
ateísmo — essa epidemia que vem contaminando ao longo dos séculos o espírito de
milhões de seres humanos — é uma espécie de câncer que nasce no coração de indivíduos
soberbos, uma posição vaidosa, uma decisão precipitada, superficial e, em
muitos casos, uma fuga. Porém, devemos também considerar que muitos se declaram
ateus por jamais terem sido eficientemente alcançados pela reveladora e
transformadora mensagem de Jesus Cristo.
OS PRIMEIROS
POVOS E A ADORAÇÃO A UM SER
O que se conclui dos depoimentos prestados pelos
estudiosos é que o reconhecimento da existência de Deus é natural ao espírito
humano: demonstra-o a história de todos os povos, em todos os tempos. A crença
na existência de um Ser Supremo, criador de todas as coisas, está documentada
tanto nas antigas marcas e restos de utensílios e pinturas encontrados nos
locais onde viveram as primeiras famílias descendentes de Adão e Eva, como
também nos papiros e monumentos egípcios, nos tabletes de barro da Assíria e da
Babilônia, nos primeiros escritos do povo hebreu, nos antigos livros da índia,
nas gravações em ossos na China, nos pergaminhos gregos e nos monumentos
romanos. Porém, como veremos mais adiante, em nenhuma dessas fontes essa crença
foi tão sublime e corretamente registrada como na Bíblia.
Os primeiros homens que povoaram a terra adoravam a
Deus e o viam como o controlador da vida e da morte, o protetor dos seres
humanos desde os altos céus, de onde lhes enviava a luz do sol e a chuva. A
maneira como esses antigos homens enterravam os seus mortos demonstrava que
eles acreditavam na imortalidade da alma e, consequentemente, na existência de
um Ser Superior, que possuía total domínio sobre aquele mundo desconhecido — o
mundo dos mortos. A posição do cadáver, deitado de lado com a cabeça repousando
em uma das mãos, e os joelhos dobrados e unidos à altura do peito, além de
vários objetos pessoais enterrados com ele, indicavam que os que o haviam
sepultado ali alimentavam a esperança de o morto um dia acordar para uma nova
existência.
Veremos, porém, que por influência de Satanás e
seus anjos, ao longo dos séculos a crença na existência de um único Deus
soberano foi-se corrompendo no coração dos homens. O politeísmo (a crença na
existência de vários deuses) mergulhou-os na idolatria, levando-os a ver deuses
em todas as coisas, e a cultuá-los.
Importante é saber também que os mais belos e
antigos documentos religiosos deixados pelos povos como testemunho para os
séculos e gerações futuras, possuem trechos que são verdadeiros "cantos de
anseio pela pátria distante e formosa"... São cantos grandiosos, que se
fizeram ouvir através de inúmeras gerações. Neles, a alma suspira por deixar
este exílio terrenal, romper os umbrais da morte e, como uma águia que se eleva
até perder de vista a mesquinhez da Terra, entrar no Éden da pátria celeste. O
salmo didático dos filhos de Core (Salmo 42:1,2), expressa a profundidade desse
sentimento na alma humana: "Como o cervo anseia pelas correntes das águas,
assim suspira a minha alma por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do
Deus vivo. Quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?"
A ALMA
ANSEIA PELO SEU CRIADOR
Portanto, antes de o politeísmo perverter o coração
humano e arrastar grande parte da humanidade para a idolatria, para o abismo da
indiferença, da descrença e da dúvida sobre a existência após a morte, a fé em
um só Deus dominava os corações, e os levava a suspirar por ele.
Esses hinos sublimes, escritos em épocas muito
antigas, falam da alma imortal.
Esse anseio da alma pelo seu Criador é uma das
primeiras provas da existência de Deus dadas por ele mesmo às suas criaturas.
Pois quem teria colocado dentro do ser humano, do homem mortal e limitado, esse
desejo imenso de horizontes mais altos, mais vastos e eternos, essa dolorosa
saudade do Infinito, essa fome de eternidade e de Céu, senão o próprio Deus?
Sim, pois só nele a alma encontrará a plena satisfação dos seus anseios, pois
toda felicidade exige forçosamente "eternidade, profunda, profundíssima
eternidade!", segundo a expressiva frase do teólogo dinamarquês Soren
Kierkegaard (1813-1855), e o homem só será eternamente feliz após encontrar-se
com o seu Criador, após recebê-lo como Salvador e Deus, após sua alma adentrar
as sublimes regiões do Céu.
Ainda que o homem consiga reunir para si a maior
quantidade possível de bens materiais, essas riquezas não garantirão a sua
felicidade, pois ele é um ser espiritual, e seus mais profundos anseios estão
voltados para o espiritual, para o Infinito. Com muita sabedoria comentou certo
teólogo que o grão de trigo, prisioneiro na pequena abertura cavada na terra,
nutrido de água e de sol, produz a espiga para alimento da humanidade. Da mesma
forma o desejo de felicidade existente no coração dos seres humanos é uma força
impulsionadora; ela os leva a procurar o Sol que ilumina o Universo — Deus.
Semelhantemente, o fenômeno que determina nos oceanos a maré alta indica a
existência, além das nuvens, de um astro vencedor que arrasta as águas,
elevando-as e baixando-as — a Lua. Da mesma forma a incansável maré das almas,
impulsionando-as para o Infinito, fazendo-as desejar o Eterno, é a maior prova
de que além desses espaços vastíssimos, um Ser Supremo as atrai para si — Deus!
A imortal frase de Agostinho em suas Confissões: "Criaste-nos para vós, e
a nossa alma vive inquieta enquanto não repousa em vós" está em
consonância de pensamento com Eclesiastes 3:11: "Tudo fez [Deus] formoso
em seu tempo. Também pôs a eternidade no coração dos homens; contudo, não podem
descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim".
"HÁ NO
HOMEM UM VAZIO DO TAMANHO DE DEUS"
Quando o romancista russo Fiódor Dostoievski (1821-1881) disse que havia dentro do homem um
vazio do tamanho de Deus, referiu-se tanto à necessidade que o ser humano tem
do seu Criador, como à ideia que o Criador colocou em sua criatura acerca de
Sua existência. O espírito humano leva consigo o pressentimento da existência
de um Ser supremo e divino.
"Para onde me irei do teu Espírito?"
pergunta o salmista. 'Para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu aí
estás; se fizer nas profundezas a minha cama, tu ali também estás. Se tomar as
asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, ainda ali a tua mão me guiará
e a tua destra me susterá. Se eu disser: decerto que as trevas me encobrirão, e
a noite será luz à roda de mim, nem ainda as trevas serão escuras para ti; a
noite resplandece como o dia, pois as trevas e a luz são para ti a mesma
coisa" (Salmo 139:7-12).
A ideia da existência de Deus é o princípio e o fim
da nossa carreira terrestre, é um arco-íris celeste que se alteia sobre a nossa
existência. Como o deslizar das águas de um imenso rio, o tempo passa, levando
consigo as gerações humanas que se sucedem umas às outras; porém, imutável
sobre o incontável número de seres humanos que desaparecem, ficam a ideia e a
certeza da existência de Deus, brilhando como um Sol no céu do Universo,
proclamando sempre ao homem: "Eu sou o Senhor teu Deus..."
(Deuteronômio 5:6).
Percorramos a terra em todas as direções, onde quer
que ela seja habitada; atravessemos as imensas planícies da Ásia; voltemos no
tempo e caminhemos até os lugares onde viviam os primitivos habitantes do
mundo; entremos nas humildes moradias dos primeiros descendentes de Adão;
subamos até as regiões polares, ou penetremos nos escaldantes desertos da
África: em qualquer lugar onde houver um ser humano respirando, por mais
selvagem que ele seja, os seus olhos não deixarão de se elevar para o Céu, em
reconhecimento daquele que tudo criou!
Em qualquer lugar onde se fale uma língua humana,
por mais inculta e pobre que seja, nela sempre aparecerá um nome: Deus. Ora,
essa ideia da existência do Criador espalhada na consciência de todos os povos
nos leva a concluir que um sentimento comum a todos os seres humanos não pode
ser falso. Aristóteles já dizia que "o que é inerente à essência, é
universal: tudo quanto o homem tem instintivamente por verdadeiro, é uma
verdade natural". E por esse motivo que o ateísmo, ou seja, a negação da
existência de Deus resultante de uma convicção clara e deliberada, é um
fenômeno isolado, uma degeneração da consciência do homem, mas nunca a
expressão geral da humanidade.
ORAÇÕES DOS
POVOS PRIMITIVOS
Fechamos este capítulo citando duas das orações
deixadas pelos povos ou grupos primitivos. Elas são numerosas, e provam que a
fé na existência de um Ser único e superior sempre existiu em todas as regiões
da Terra. Essas orações foram recolhidas por missionários e antropólogos, que
fizeram uso de métodos científicos de pesquisa sociológica moderna, e provaram
exatamente o contrário do que muitos ateus afirmavam, ou seja: provaram que a ideia
da existência de Deus sempre esteve presente na humanidade. Eis a oração dos
algonquinos, um grupo muito antigo que viveu em algumas regiões da atual
América do Norte:
"Pai,
homem de cima, nós te agradecemos por nos permitires viver nesta terra.
Que nossos
pensamentos e orações possam chegar até tua morada, no céu.
O Senhor, que
reinas acima das montanhas, das árvores e das águas, nós te agradecemos por
todas as coisas que nos deste: os frutos, a caça, o peixe, a gordura do urso.
Foste bom
para nós, estamos contentes contigo.
Nós te
agradecemos por sermos numerosos e podermos nos reunir para te invocar". (6)
Eis a oração deixada pelo antiquíssimo povo
kasti-mumito, os primeiros habitantes da Polinésia (grupo de ilhas do
Pacífico):
"O
Grande Espírito, que te achas no azul central, que moras acima das estrelas que
nunca morres, que tens tua casa no sol, nós te invocamos; dá-nos a vida, nós te
invocamos; dá-nos a água de que necessitamos". (7)
Diante destas orações, ainda haverá dúvida de que
os povos primitivos tinham dentro de si a ideia da existência do Criador e Pai,
superior a todos os deuses? Apesar de não terem recebido a revelação da
existência e natureza de Deus como os judeus grandiosamente receberam, os
antigos povos não ficaram totalmente privados dos testemunhos da existência
daquele que tudo criou, cujo poder e glória estão manifestos visivelmente nas
obras da criação, no coração e na consciência dos seres humanos. E o que
veremos nos dois capítulos seguintes: O testemunho de Deus na Natureza, e a voz
divina que fala na consciência dos seres humanos, acusando-os quando eles
praticam qualquer coisa contrária ao bem.
Fica, portanto, demonstrado neste capítulo, existir
desde os mais remotos tempos no coração dos povos uma certeza espontânea da
existência de Deus, uma fé natural, que, apesar de não ser capaz de
justificar-se cientificamente ou segundo a revelação que nos foi dada através
das Sagradas Escrituras, descansa com segurança em motivos sólidos e simples,
colocados pelo próprio Deus no coração de todos os seres humanos.
BIBLIOGRAFIA
1. Anselmo de Cantuária. Proslógio. Tradução e
notas de Ângelo Ricci. São Paulo. Abril Cultural, 2ã edição, 1979, p. 102.
2. Plutarco, no capítulo 31 de seu tratado moral
Contra a Cólera, citado por Hans Pfeil no livro O Humanismo Ateu na Atualidade.
Tradução de Otávio Schneider. Petrópolis, Vozes, 1962, p. 167.
3. C. P. Tiele. Histoire Compareé des Anciennes
Religions de VEgypte et des Peuples Semitiques. Tradução do holandês por G.
Collins. Paris, G. Fischbacher, éditeur, 1882, p. 7.
4. Citado por J. Pantaleão Santos, in Deus: As Mais
Belas Afirmações em Prosa e Verso. Petrópolis, Vozes, 1963, p. 123.
5. Armand de Quatrefages. UEspéce Humaine. 8éme ed.
Paris, F. Alcan, 1886, p. 355.
6. Raimundo Cintra e Rose Marie Muraro. As Mais
Belas Orações de Todos os Tempos. Rio de Janeiro. Livraria José Olímpio
Editora, 2S edição, 1970, p. 4.
7. Ibdem, Op. Cit., pp. 4, 5.
Fonte: Extraído
do livro ”Provas da Existência de Deus” de Jefferson Magno Costa; Editora Vida;
pg.11-18.
Nenhum comentário:
Postar um comentário