sábado, 25 de agosto de 2018

Jesus e as armas


Jesus e as armas
Por Pr. Pipe

Muito se tem dito sobre a incompatibilidade entre um cristão possuir uma arma para sua autodefesa. Fazem inclusive uso do texto de Mt 26:52 – “Então Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão”.

Em relação a este texto, quero fazer uso de dois comentaristas bíblicos quanto a ele:

“A injunção dada por Jesus a seu pretenso defensor, identificado com Pedro pelo quarto evangelista, para embainhar a sua espada, porque qualquer tentativa de oferecer resistência pela força nas presentes circunstâncias seria suicídio, também está registrada somente neste evangelho. Deve-se interpretar este preceito com referência ao contexto em que se encontra, e não ser considerado, como os cristãos pacifistas muitas vezes o consideram, como uma regra geral que obriga os cristãos em todas as circunstâncias. De fato, não é verdade que os que lançam mão da espada sempre morrem a espada!”
R.V.G.Tasker; Mateus – Introdução e comentário, editora Vida Nova; pg.199.

“Mt 26:51-52 ... por que razão teriam com ele essa faca naquela noite, no jardim, se é que não havia pensamento de nenhum perigo e necessidade de autodefesa... Jesus não tentou levantar aqui um argumento em defesa do pacifismo, porquanto a situação e as circunstâncias desse incidente não são bastante amplas para assegurar-nos de que ele teria ou não permitido a guerra em determinados casos, ou a autodefesa ou outras ações violentas quaisquer”.
R.N.Champlin, ph.D.; “O NT Interpretado vs. Por vs. – Volume 1”; ed. Hagnos, pg.695.

Portanto, tal texto é inconclusivo e indeferido por si mesmo, uma vez que fora do seu contexto não é verdadeiro que todos que fazem uso da espada morrem pela espada. Isso tem mais a ver com o contexto, em que tanto Jesus, quanto os apóstolos, estavam inseridos naquele momento: Eles estavam diante de homens armados com espadas e varas com o intuito de prender Jesus. E, nesse contexto diz que eles não deveriam fazer uso da espada. Isso tem mais a ver com o cristão não fazer uso de espada contra os soldados, do que o que se está tentando inserir no texto: O de que cristãos em situação alguma podem fazer uso de armas, até mesmo em situações de autodefesa.

Voltando um pouco mais a esse momento, Lucas relata algo contraditório, caso essa proposta fosse válida. Pois Jesus fala para os apóstolos comprarem espadas:

Lc 22:36 e 38: "Disse-lhes pois: ... o que não tem espada, venda a sua capa e compre-a; E eles disseram: Senhor, eis aqui duas espadas. E ele lhes disse: Basta."

O texto sugere a seguinte pergunta: Por que Jesus pediu para eles comprarem espadas?

Esse texto afirma duas coisas:
1.       Que Jesus lhes ordena a comprarem espadas;
2.       Que pelo que indica eles já possuíam duas espadas.

Então surge outra pergunta: Pra que eles já possuíam duas espadas?

Note que o próprio Jesus observa a razão do uso de espadas naquele contexto:

“E disse Jesus aos principais dos sacerdotes, e capitães do templo, e anciãos, que tinham ido contra ele: Saístes, como a um salteador, com espadas e varapaus?”
Lucas 22:52

O uso era para prender um salteador. Portanto, a espada servia para prender e se defender. Alguém pode argumentar que isso dizia respeito aos soldados então. Porém, isso é refutado pelo fato de que, além dos soldados, os apóstolos possuíam duas espadas. E os apóstolos não eram soldados. Portanto, é óbvio que elas eram usadas para autodefesa, uma vez que eles não eram salteadores. Champlin também diz o seguinte desde texto:

“Lc 22:36 ... Por conseguinte, os obreiros do evangelho devem prover a satisfação das próprias necessidades, bem como a própria proteção. Daí a menção das espadas”.
R.N.Champlin, ph.D.; “O NT Interpretado vs. Por vs. – Volume 2”; ed. Hagnos, pg.278.

Outros argumentam que Jesus pediu para comprarem espadas para cumprir uma profecia:
“Porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá cumprimento”.
Lucas 22:37

Porém, Marcos fala que essa profecia se cumpriu, não neste fato deles terem duas espadas. E sim, no fato dele ter sido crucificado no meio de dois ladrões:

“E crucificaram com ele dois salteadores, um à sua direita, e outro à esquerda. E cumprindo-se a escritura que diz: E com os malfeitores foi contado”.
Marcos 15:27,28

Portanto, é para isso que Jesus está apontando ao dizer: “Porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá cumprimento”.

Outro detalhe é o que Lucas relata:

“E, vendo os que estavam com ele o que ia suceder, disseram-lhe: Senhor, feriremos à espada?”
Lucas 22:49

Alguns sugeres que as espadas que eles usavam não eram espadas para defesa. Oras, se não eram para defesa então elas não deveriam ter o potencial de ferir, teriam? É na própria pergunta deles que se estabelece que todos ali sabiam para que servia uma espada: Autodefesa. E sim, eles já possuíam duas espadas para isso.

Outro detalhe quanto ao texto de Mateus 26, é que Jesus explica o porque eles não deveriam fazer uso da espada naquele contexto para proteção:

“Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?”
Mateus 26:54

Era necessário que ele fosse preso. Portanto, não deveriam intervir. Até mesmo porque corriam o risco de serem mortos. Algo que certamente não fazia parte dos planos de Jesus para eles.

Outra questão é o vs. 53 que diz: “Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?”

O que deixa claro que Jesus poderia fazer uso dos anjos para a sua defesa. E somente não o fez porque ele estava voluntariamente cumprindo a profecia.

Conclusão: O fato de os apóstolos possuírem espadas, deixa claro que seu uso visava a autodefesa. E, portanto, em momento algum Jesus lhes privou desse direito. Salvo no momento em que se fez necessário o cumprimento de uma profecia.

Pr. Pipe

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Livro: "The Metaphysics of Creation" de Norman Kretzmann

Norman Kretzmann expõe e critica a teologia natural da criação de São Tomás de Aquino, que é "natural" (ou filosófica) em virtude de Aquino tê-la desenvolvido sem depender dos dados das Escrituras. A Metafísica da Criação é uma continuação do projeto que Kretzmann iniciou em A Metafísica do Teísmo , movendo o foco do primeiro para o segundo livro da Summa contra os Gentios de Aquino .

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Livro: "Eternal God: A Study of God Without Time" de Paul Helm


Paul Helm apresenta uma nova edição ampliada de seu muito elogiado livro de 1988, Eternal God., que defende a visão de que Deus existe na eternidade eterna. Essa é a visão cristã clássica de Deus, mas é reivindicada por muitos teólogos e filósofos da religião como incoerentes. Paul Helm refuta a acusação de incoerência, argumentando que a atemporalidade divina é fundamentada na idéia de Deus como criador, e que isso por si só torna possível um relato adequado da onisciência divina. Ele desenvolve algumas das consequências da atemporalidade divina, particularmente porque afeta tanto a liberdade divina quanto a humana, e considera alguns dos problemas alegados sobre se referir a Deus. O livro constitui, assim, um tratamento unificado dos principais conceitos da teologia filosófica. A edição revisada de Helm inclui quatro novos capítulos que desenvolvem e ampliam seu relato de Deus e do tempo, tendo em conta o trabalho significativo na área que apareceu desde a publicação da primeira edição, por figuras proeminentes como William Lane Craig, Brian Leftow e Richard Swinburne. Esta nova discussão leva o leitor a outras áreas, principalmente atemporalidade e criação e a natureza

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Livro: "The Science of God" de Gerald L. Schroeder


Em The Science of God, o conceituado físico e estudioso bíblico Gerald L. Schroeder demonstra os surpreendentes paralelos entre uma variedade de ensinamentos bíblicos e as descobertas de bioquímicos, paleontólogos, astrofísicos e físicos quânticos. Em uma brilhante e abrangente discussão de tópicos-chave que dividiram a ciência e a religião - o livre arbítrio, o desenvolvimento do universo, a origem da vida e a origem do homem - Schroeder argumenta que a ciência mais recente e uma leitura atenta da Bíblia não é apenas compatível, mas interdependente.

Esta reedição oportuna de The Science of God apresenta um novo prefácio de Schroeder e um atraente apêndice que aborda o experimento altamente divulgado em 2008, em que os cientistas tentaram recriar a composição química do cosmos imediatamente após o Big Bang. Ele também detalha as explicações lúcidas de Schroeder sobre conceitos científicos e religiosos complexos, como a teoria da relatividade, a passagem do tempo e as definições de palavras hebraicas cruciais na Bíblia. Os céticos religiosos, literalistas bíblicos, cientistas, estudantes e físicos serão fascinados pela notável contribuição de Schroeder para o furioso debate entre ciência e religião.