A revista Veja desta semana trouxe um artigo sobre
o ensino do Criacionismo nas aulas de ciências em escolas confessionais. Quando
tiverem oportunidade, leiam o artigo, está na página 74 da revista Veja desta
semana (01/02/09), e o autor é André Petry. Eis a matéria:
"Lembra-te de Darwin"
É assustador que, às vésperas do bicentenário do
nascimento de Charles Darwin, pai da teoria da evolução, escolas brasileiras
estejam ensinando criacionismo nas aulas de ciências. Já se sabia que as
escolas adventistas fazem isso. A novidade é que o negócio está se propagando.
Em instituições tradicionais de São Paulo, como o Mackenzie, inventou-se até um
método próprio para o ensino. "Antes, usávamos o material que havia
disponível no mercado", explica um dos diretores da escola, Francisco
Solano Portela Neto. O criacionismo é ensinado como ciência da pré-escola à 4ª
série.
Não há problema em que o criacionismo seja dado nas
aulas de religião, mas ensiná-lo em aulas de ciências é deseducador.
Criacionismo é a explicação bíblica para a origem da vida. Diz que Deus criou
tudo: o homem, a mulher, os animais, as plantas, há 6 000 anos. Quem estuda
religião precisa saber disso. É uma fábula encantadora, mas não é ciência. É
inaceitável que o criacionismo seja ensinado em biologia para explicar a origem
das espécies. Em biologia, vale o evolucionismo de Darwin, segundo o qual todos
viemos de um ancestral comum, há bilhões de anos, e chegamos até aqui porque
passamos no teste da seleção natural. É a melhor (e por acaso a mais bela) explicação
que a ciência encontrou sobre a aventura humana na Terra.
Quem contrabandeia o criacionismo para as aulas de
biologia diz que, em respeito à "liberdade de pensamento", está
"mostrando os dois lados" aos alunos. Afinal, são escolas religiosas,
confessionais, e os pais podem ter escolhido matricular seus filhos ali
exatamente porque o criacionismo é visto como ciência. Pode ser, errar é livre,
mas que embrutece não há dúvida. Embrutece porque ensina o aluno, desde cedo, a
confundir crença e superstição com razão e ciência. É desnecessário. Que
cientistas saem de escolas que embrulham o racional com o místico? Também é
cascata, porque, fosse verdade, a turma estaria ensinando numerologia em
matemática. Ensinaria alquimia em química, dizendo, em nome da "liberdade
de pensamento", que é possível transformar zinco em ouro e encontrar o
elixir da longa vida...
Há pouco, na Inglaterra, um reverendo anglicano
defendeu o estudo do criacionismo na educação básica. Era diretor de educação
da Royal Society. Queria colocar Deus no laboratório da escola. Cortaram-lhe o
pescoço. A Suprema Corte americana já examinou o assunto. Mandou o criacionismo
de volta às aulas de religião. No Brasil, terra do paradoxo, o atraso avança.
Darwin foi um gênio. Em seu tempo, não se sabia
como as características hereditárias eram transmitidas de pai para filho. Nem
que a Terra tem 4,5 bilhões de anos e que os continentes flutuam sobre o magma.
No entanto, a teoria da evolução se encaixa à perfeição nas descobertas da
genética, da datação radioativa, da geologia moderna. Só um cérebro
poderosamente equipado, conjugado com muito estudo, pode ir tão longe.
Confundido com criacionismo, Darwin parece um macaco tolo. É assustador".
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Resposta à
revista Veja:
São Paulo, 02 de fevereiro de 2009
Senhores:
Fui citado na coluna do Sr. André Petry (“Lembra-te
de Darwin” – No. 2098) por ter a educação de atendê-lo em um telefonema na
sexta, 30.01.2008. O Sr. Petry é conhecido por sua aversão aos evangélicos
(vide VEJA No. 2083, de 22.10.2008) e não perde a oportunidade de atacar mais
uma vez a liberdade de expressão, distorcendo fatos nesse artigo. Mesmo sabendo
da possibilidade que nada de objetivo e veraz iria vir de seus escritos,
esclareci que o os Colégios Mackenzie ensinavam, sim, criacionismo, em paralelo
ao evolucionismo e não acreditam em sonegar quaisquer ângulos do conhecimento
aos seus alunos. Como instituições confessionais, estão abrigadas na Lei de
Diretrizes e Bases e reforçam a pluralidade educacional brasileira, objetivada
pela lei. Nada disso é novidade, o Mackenzie faz isso desde 1870, com um ensino
pautado pelos princípios e valores das Escrituras Sagradas, contabilizando uma
imensa contribuição à sociedade desde os tempos do império. Essa avidez pela
excelência de ensino está sendo ampliada, nos últimos anos, com a produção de
materiais didáticos próprios.
O Sr. Petry, que na ligação se dizia tão
interessado na apuração dos fatos, preferiu me citar seletivamente, omitindo a
cobertura global da questão das origens realizada pela Instituição. Além disso,
revela sua deficiente pesquisa, não apontando que no próximo mês de abril o
Mackenzie apresenta o 2º Simpósio Internacional sobre Darwinismo, ao qual
estarão presentes, além de expoentes internacionais da séria escola do Design
Inteligente, renomados evolucionistas. Com isso demonstra o acato à pluralidade
de idéias e o estímulo ao debate construtivo e saudável, e não a caricatura mal
feita que o articulista esboçou em sua coluna. O artigo está muito longe de ser
jornalismo saudável e esclarecedor.
Prefere, o Sr. Petry, ridicularizar, classificando
em irônica ilação como “macacos tolos” aos que procuram enxergar um pouco mais
além e dar continuidade ao ímpeto investigativo. Nunca chamaríamos Darwin de
tal, pois foi um ser humano com inteligência, criado à imagem e semelhança de
Deus. Petry prefere que a comunidade acadêmica e científica permaneça
acorrentada a postulados anacrônicos de 150 anos atrás. Quer o conforto da
ignorância de uma era na qual ainda não existiam quaisquer pesquisas possíveis
na área de microbiologia, as quais têm exposto um número nada desprezível de
fragilidades na teoria da evolução. Demonstra sua ignorância dos diferentes
pontos de vista que existem no campo criacionista, com sua definição simplista
e monolítica, gerada por ele próprio, e que não foi obtida através desta fonte.
Ridicularizar pessoas e instituições é o seu estilo. Pena que uma revista tão
séria, como VEJA, que tantas informações valiosas nos fornece a cada semana, o
acolha impunemente em suas páginas. Ele diz que o criacionismo assusta. Ter fé
em Darwin é o seu direito. Ter carta branca para difamar, isso sim, é
assustador.
Francisco Solano Portela Neto
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