segunda-feira, 10 de março de 2014

Ecologia, biodiversidade e criação: Um enfoque estrutural

Henry Zuill

John Ashton crê em Deus. Esse notável homem de ciência acredita no relato bíblico da Criação. Ele ficou surpreso quando outro cientista lançou um desafio público ao criacionismo numa convenção havida na Universidade Macquarie, em Sydney, Austrália. Nesse ensejo, um discursante apresentou evidências em favor do relato bíblico da Criação. O desafiante ironizou, porém, dizendo que não poderia crer que houvesse alguém com Ph.D. que cresse na criação literal de seis dias. À essa altura, um convencional presente mencionou os nomes de alguns cientistas crentes na criação, incluindo o Dr. John Ashton. Quando John soube da conversa havida em plenário, pois não se achava presente na ocasião, aceitou o desafio de provar a certeza criacionista. O resultado foi a maravilhosa coleção de artigos, Em Seis Dias: Por que 50 Cientistas Escolheram Crer na Criação.1

Quando recebi o convite para contribuir com um artigo, compreendi de início que deveria escrever especificamente sobre a criação em seis dias, de uma perspectiva científica. Essa não era a intenção de John. Eu cria na criação em seis dias, mas não por razões científicas. O que alguém poderia dizer sobre isso a partir de uma perspectiva científica? Como poderia eu fornecer evidências científicas de que a Terra e a vida foram criadas em seis dias literais? Eu sabia que havia muitas áreas do criacionismo que podiam ser estudadas cientificamente, mas não pensava que a criação em seis dias fosse uma delas. Pensava eu que ela deveria ser aceita estritamente pela fé no relato bíblico.

Então surgiu como um relâmpago, uma convicção ao mesmo tempo luminosa e excitante. Como ecologista, eu havia estado à procura de evidências de desígnio inteligente no nível ecológico, mas, subitamente, esses fragmentos comprobatórios se juntaram para apoiar a criação em seis dias. Escrevi, pois, um capítulo para o livro.

A hierarquia estrutural e a evidência de desígnio
Desde cedo nas universidades, os estudantes de biologia geral aprendem sobre hierarquia estrutural da matéria (ver Figura 1). Partículas subatômicas se reúnem em átomos, que por sua vez formam moléculas e macromoléculas. Essas se juntam formando sucessivamente organelas, células, tecidos, órgãos e sistemas orgânicos. Em todo nível de vida, desde a célula aos sistemas orgânicos, há diferentes complexos independentes — organismos unicelulares, organismos tissulares e assim por diante, até organismos com sistemas orgânicos. Daí, diferentes organismos constituem-se em comunidades que, num ambiente não-biológico, formam ecossistemas.2 Ecossistemas em torno do globo constituem a biosfera. Abaixo do nível celular, não há entidades consideradas viventes. Acima do nível orgânico, temos a área ecológica na qual diferentes organismos relacionam-se uns com os outros e com seu ambiente não-biológico.
Em todos esses níveis, há evidências de desígnio inteligente, se quisermos vê-las com isenção de ânimo. A complexidade estrutural de cada nível desafia a idéia de que tal complexão possa ser resultado de acontecimentos fortuitos. Não obstante, muitos não vêem as coisas desse modo; aceitam que a complexidade estrutural é o resultado de eventos naturais, mesmo quando parece não haver maneiras disso ocorrer.

A idéia de desígnio inteligente na Natureza tem sido aceita desde há muito, embora durante os últimos 100 ou 150 anos venha sendo opinião minoritária entre os cientistas. Alguns filósofos antigos viram indicações de desígnio na Natureza. No final do século 18, William Paley, teólogo e filósofo inglês, sugeriu que ninguém pensaria num relógio sem relojoeiro. Pela mesma razão, ele argumentava que as complexidades da Natureza, entre elas o olho humano, por exemplo, não podiam ser explicadas sem um Criador.

Os escritos de Paley eram leitura obrigatória nas universidades britânicas. Charles Darwin leu suas obras e ficou fascinado inicialmente com as opiniões do filósofo, mas depois as rejeitou. Apesar disso, deve ter ficado um resquício de dúvida em sua mente, porque Darwin disse que o olho, com sua complexidade incrível, deixava-o doente. Mesmo hoje, a influência do pensamento de Paley perdura. Richard Daw-kins intitulou um de seus livros, The Blind Watchmaker. Na obra, o autor tenta mostrar que complexidade na Natureza é o resultado do acaso e não de desígnio inteligente. Assim, depois de quase 200 anos, o argumento de Paley ainda está sendo discutido.

Evidência específica de desígnio
O valor dado à evidência específica de desígnio inteligente depende de onde uma pessoa a procura. Se a evidência observada é de nível básico na hierarquia estrutural, a conclusão tirada pode ser bem diferente do que se ela ocupar um lugar superior no plano. O lugar onde alguém procura evidências pode ser determinado pela especialização do observador. A parte inferior da estrutura da Natureza é domínio da física; o domínio seguinte é objeto da química; e o superior pertence à biologia.

O recente ressurgimento do interesse voltado ao desígnio inteligente começou com a descoberta de que um grande número de constantes físicas fundamentais no Universo estavam delicadamente relacionadas com as necessidades dos sistemas vivos. Se fossem diferentes, mesmo por minúscula fração, a vida seria impossível. Isso é conhecido como o Princípio Antrópico. Muitos físicos acham nele razões para crer num Deus Criador. Outros, considerando imprópria essa interpretação, imaginaram múltiplos universos, de modo que por puro acaso um deles possuiria as condições necessárias à manifestação da vida. Que não há a mínima evidência em apoio à teoria dos universos múltiplos, parece ser-lhes irrelevante.

As constantes físicas fundamentais provêem os recursos físicos e químicos requeridos pelos seres vivos. Em geral, elas oferecem evidências de desígnio que se situam inferiormente na hierarquia estrutural da Natureza ou fora dela. Dessa perspectiva, somente as condições físicas e químicas básicas necessárias ao desenvolvimento da vida foram providas. Conseqüentemente, alguns físicos, impressionados com a evidência, também aceitam o argumento de que Deus usou a evolução, no sentido lato, como instrumento da criação. São evolucionistas teístas.

Outros cientistas encontram evidências de desígnio na bioquímica, as quais consideram como irredutivelmente complexas. Para eles, Deus era um pouco mais ativo. Eles podem admitir a hipótese de que Ele criou as primeiras células e a evolução fez o resto. Esses sábios podem também ser considerados evolucionistas teístas.

Se há, em nível mais baixo, evidências de desígnio que intrigam alguns físicos, e se há, também, evidências em nível bioquímico, não sugeriria isso a possibilidade de encontro de mais evidências nos níveis superiores da hierarquia estrutural? Ademais, quanto mais alta a evidência na escala estrutural, tanto menos opções de interpretação.

Comecei a inquirir se havia evidências no topo da hierarquia estrutural — o nível ecológico. Esse é o nível que trata de relações múltiplas entre organismos e seu ambiente não-biológico. Se houvesse evidência de desígnio inteligente em todos os níveis da hierarquia estrutural da Natureza, e especialmente no topo, então seria muito difícil esperar que apenas o acaso cego pudesse explicar a existência e a variedade de seres vivos. Creio que há tal evidência: a visão do alto.3

Biodiversidade e criação
O termo biodiversidade entrou em uso popular há pouco tempo. Refere-se ele às muitas e diferentes espécies que encontramos no mundo natural, bem como às diferentes populações de espécies com suas muitas variações genéticas e os inúmeros serviços ecológicos que prestam. Desde a primeira referência (1986) até hoje, centenas de artigos têm sido publicados sobre o tema da biodiversidade.

Estudos em biodiversidade têm comprovado uma rede intrincada de interdependências entre os seres vivos. Sabe-se que os sistemas ecológicos são mais dependentes entre si do que se imaginava. Com efeito, Peter Raven, do Jardim Botânico de Missouri, sugere que quando uma planta é exterminada, 10 a 30 outros organismos a seguirão no processo de extinção.4 Assim, as inter-relações são muito íntimas. Felizmente, os sistemas ecológicos também possuem complexos de apoio, de modo que os efeitos do abuso não sejam tão abrangentes como se esperaria. Isso é possível porque diversas espécies podem prestar serviços ecológicos similares. Essas espécies são chamadas de redundantes. Além disso, mesmo sistemas redundantes podem não funcionar em todas as circunstâncias, assim que alguns deles são considerados dispensáveis.
Nossa compreensão de biodiversidade tem sido deduzida, em grande medida, do dano e destruição do sistema ecológico. À medida que certas espécies se tornam raras ou extintas, o efeito ecológico de perda mais ampla torna-se evidente.

A maior parte da preocupação com os estudos de biodiversidade tem se concentrado na salvação das espécies em perigo. De início, os esforços procuravam apenas manter os números populacionais das espécies, mas logo tornou-se evidente que para salvar espécies em perigo, exigia-se a preservação de sistemas ecológicos inteiros. Toda espécie tem seu sistema de apoio ecológico e os componentes de cada sistema de apoio têm seu próprio conjunto de amparo. Podemos expressar o conceito do seguinte modo: A vida na Terra torna a vida possível, o que significa que seres viventes foram feitos para se apoiarem mutuamente. Isso deveria surpreender-nos? Foi a conservação de espécies, naturalmente, que recebeu a atenção primária, porém, as implicações mais amplas desses sistemas interdependentes tornaram-se agora claras.

Relações mútuas e benéficas são comuns na Natureza. Com efeito, é provável que a maioria das relações naturais sejam desse tipo. Numerosos exemplos de relações interdependentes poderiam ser dados, mas o espaço não permite. Contudo, a Figura 2, utilizando-se de uma árvore, ilustra os serviços que ela tanto provê como recebe. O leitor é convidado a relembrar outras espécies de relações como as de solo, que são de benefício mútuo.

Há também relações negativas e morte na Natureza, mas elas parecem ter resultado da perda de espécies, danos genéticos e outros impactos negativos. Sistemas ecológicos, enquanto organismos, estão agora degenerados. O cristão vê esses problemas como tendo sido previstos pelo Criador em Suas palavras a Adão e Eva, depois da Queda (ver Gênesis 3:14-19). Embora as relações negativas sejam mais dramáticas e possam mais facilmente capturar nossa atenção, parece mais provável que as relações benéficas, de longe, as superam em número. Em conseqüência, a interdependência observada nos seres vivos agora sugere que essas relações foram criadas intencionalmente. A ecologia original teria sido diferente da de hoje. Todavia, não se pode duvidar de que havia uma ecologia original. O próprio relato da Criação faz referência a relações reprodutivas e de alimentação. A ecologia parece tão necessária para a vida como as ações de comer e respirar. Com efeito, sem ecologia o ar não seria próprio para respirar e os nutrientes minerais não estariam acessíveis às plantas, nossa fonte de alimento.

Fazendo a conexão
Quando John Ashton pediu-me que contribuísse para o Seis Dias, eu já sabia da necessidade de relações ecológicas, embora ainda não tivesse feito a ligação de que a ecologia continha evidências para uma criação em seis dias. Mas, ao considerar o problema, imediatamente surgiu-me a intuição de que eu tinha em mãos a evidência que apoiaria a criação de seis dias. Se os ecossistemas requerem grupos inteiros de organismos para funcionar, não teriam sido necessários grupos inteiros de organismos também no começo?

Tanto o Princípio Atrófico como as seqüências bioquímicas sugerem um planejador, mas ainda permitiam que os que foram impressionados por essas evidências cressem em evolução teística. Isso é bem pouco diferente de simples evolução. Num desenvolvimento de vida gradual, a ecologia também se desenvolveria começando como ecologia limitada, e depois se expandindo gradualmente à medida que novos organismos evolvessem. Contudo, se a ecologia desenvolveu-se ao mesmo tempo que as espécies em evolução, os ecossistemas falhariam por falta de componentes essenciais. Por conseguinte, a vida não poderia ter continuidade, se é que pudesse mesmo começar. Por outro lado, se os seres foram criados num intervalo breve, juntamente com suas interdependências ecológicas, haveria desde o começo relações complexas em apoio à vida na Natureza.

A ecologia e a biodiversidade complexa que encontramos na Natureza hoje, no topo da hierarquia estrutural, sugerem que muitos organismos inter-relacionados teriam sido necessários desde o início. Somente uma criação imediata proveria as exigências de tal sistema ecológico. Assim, embora a ecologia, como hoje compreendida, não exija precisamente uma criação em seis dias, ela favorece essa possibilidade. Ademais, ela é definitivamente contrária à idéia de um desenvolvimento ecológico gradual.

Henry Zuill (Ph.D., Loma Linda University) lecionou e conduziu pesquisa em biologia e ecologia por muitos anos. Seu endereço: 64 Norwood Drive; Norman, Arkansas 71960; EUA. E-mail: haz@alltel.net

Notas e referências
1. John F. Ashton, ed., In Six Days: Why 50 Scientists Choose to Believe in Creation (Sydney, Austrália: New Holland Press, 1999).
2. Ecossistemas muito grandes são usualmente designados biomes.
3. Para uma discussão mais detalhada deste assunto, veja o livro do autor “Evidence for Design at the Ecological Level”, Geoscience Report 29 (Spring 2000), publicado pelo Geoscience Research Institute (Loma Linda, Califórnia 92350, EUA), e “Ecology, Biodiversity and Creation,”Creation Ex- Nihilo Technical Journal 14:2 (2000), págs. 82-90. (P.O. Box 6307; Acacia Ridge, D.C.; Qld. 4119, Austrália).

4. P. H. Raven, “Ethics and Attitudes”, em Simmons, et al. (eds.), Conservation of Threatened Plants(New York: Plenum Publishing, 1976), págs. 155-181. Citado por Y. Baskin, The Work of Nature: How the Diversity of Life Sustains Us (Washington, D. C.; Island Press, 1997), págs. 36, 37.

Nenhum comentário:

Postar um comentário