A imprensa mundial, incluindo jornais e revistas
científicos, se ocupou, nos últimos dias, do fóssil mei long, descoberto pelo
paleontólogo Xing Xu, da Academia Chinesa de Ciências, na província de
Liaoning, na China. No Brasil, a revista Istoé, edição 1828, de 20/10/2004
apresentou a notícia na seção “Século 21”, p. 86:
Dino voador
"Cientistas chineses acharam o fóssil de um
filhote de dinossauro que morreu dormindo, há mais de 130 milhões de anos. A
postura do bicho – pescoço curvado para trás e cabeça sob uma das asas –
reforça a idéia de que aves e dinossauros têm mais em comum do que se
imaginava. O dinossauro Mei long (dragão em sono profundo, em chinês)
provavelmente morreu devido a uma erupção vulcânica que arrasou parte da atual
província de Liaoning, Nordeste da China".
O jornal Folha de S. Paulo foi bem mais abrangente
na reportagem que publicou na seção “Folha Ciência” de 14/10/2004, assinada por
seu editor de ciência, o jornalista Cláudio Ângelo. Ele inicia seu texto
dizendo:
“Um filhote
de dinossauro que morreu dormindo há 130 milhões de anos na China é a mais nova
evidência de que os pássaros de hoje são os herdeiros daqueles répteis. Seu
esqueleto preserva um flagrante inédito da posição do animal durante sua última
soneca. E mostra que os dinos dormiam exatamente como as aves”.
Mais adiante ele diz:
“O mei long é
um exemplo único daquilo que os paleontólogos chamam de comportamento
fossilizado. Sendo apenas impressões numa rocha de um organismo que morreu há
muito tempo, os fósseis geralmente não dizem muita coisa sobre o cotidiano
desse organismo. E tais detalhes podem ser essenciais para definir relações de
parentesco”.
A reportagem de Cláudio Ângelo foi transcrita na
íntegra pelo Jornal da Ciência, da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência, em sua edição de 21/10/2004, seção de notícias.
A figura exposta por eles mostra, na parte de cima,
o fóssil encontrado, e logo abaixo, a reconstrução do dinossauro, como se
estivesse dormindo. Segundo Xing Xu, o fóssil sugere que o dinossauro dormia em
uma posição similar à que dormem as aves modernas. O fóssil mei long foi
encontrado em sedimentos de origem vulcânica que, submetidos a datação
radiométrica, teriam revelado a idade de 130 milhões de anos. Segundo os
pesquisadores, naquele tempo Liaoning era uma floresta vulcanicamente ativa,
com muita vegetação e alguns lagos. Cientistas não estão bem certos a respeito
de como o fóssil foi preservado. Uma das possibilidades é que a exposição a um
gás vulcânico tenha matado a criatura que, posteriormente foi coberta por
cinzas e sedimentos. Todo o trabalho relativo a essa descoberta foi, em parte,
financiado pelo Comitê de Pesquisa e Exploração da Sociedade National
Geographic.
É interessante observarmos que esta não é a
primeira vez que a China produz fósseis que supostamente comprovam a teoria da
evolução. Há pouco tempo atrás, nos deparamos com Archaeoraptor liaoningensis,
um espécimem encontrado na mesma província de Liaoning, descrito no número de
novembro de 1999 da revista National Geographic como um elo perdido na complexa
corrente que conecta os dinossauros às aves. Essa mesma revista, mais tarde,
teve que se retratar com seu público, reconhecendo que o fóssil era uma fraude,
obtido a partir de partes de vários dinossauros.
Como, então, entender que, num momento
imediatamente seguinte, um novo fóssil, com as mesmas promessas do anterior,
vindo do mesmo lugar e envolvendo praticamente as mesmas pessoas ganhe tamanha
projeção? Não seria o caso de se agir, agora, com extrema cautela, dando tempo
ao tempo e permitindo um número maior de análises antes do pronunciamento
definitivo? Ou será que evolucionistas estão se sentindo sufocados pelo tempo,
que passa célere sem revelar os fatos da natureza que poriam fim ao confronto
entre criacionistas e evolucionistas?
O problema é que mesmo que esse fóssil se mostre
verdadeiro são discutíveis os ganhos que daí se possa auferir em favor do
modelo da evolução. Durante mais de 100 anos, evolucionistas têm levado em
consideração o que Darwin disse a esse respeito: que fósseis de transição são
uma necessidade para o seu modelo, afiançando que seriam encontrados no futuro,
quando o registro fóssil fosse extensivamente pesquisado.
Hoje, porém, decorrido todo esse tempo, são
inúmeros os paleontólogos sérios, mesmo de comprometimento com o modelo da
evolução, que atestam a completa ausência de formas de transição entre as
espécies. Pode-se ver esta realidade até mesmo nas palavras daquele que foi,
muito provavelmente, o mais expressivo anti-criacionista que o meio científico
já produziu, o Dr. Stephen Jay Gould, em seu artigo “A short way to big ends”,
publicado na revista Natural History, vol. 95 (janeiro de 1986), pp.18-28:
“Estudos que
tiveram início no começo dos anos 50 e continuaram a um passo acelerado, hoje
revelam um registro fóssil pré-cambriano significativo, mas o problema da
explosão do pré-cambriano não cedeu, uma vez que nosso maior esforço falhou em
identificar qualquer criatura que possa servir como um ancestral imediato
plausível para as faunas cambrianas”.
Quem quer que se disponha a pesquisar o registro
fóssil verá que essa mesma realidade que Stephen Jay Gould apresenta em bloco,
para todo o conjunto de seres vivos, pode bem ser estendida para cada espécie
em particular. Se evolucionistas estão corretos em sua pressuposição acerca da
evolução, também é verdade que a “mãe-terra” resolveu ser cruel, removendo
todas as evidências que dela poderiam ser extraídas em favor do modelo da
evolução.
Em função desses fatos, é simplesmente ridícula a
transição de conceitos que evolucionistas querem promover com o fóssil mei
long. Impossibilitados de encontrar verdadeiros fósseis de transição, eles
resolvem entender que uma relação de ancestralidade pode ser caracterizada se
pudermos mostrar que o ancestral dormia na mesma posição em que dormem hoje
seus supostos descendentes. Será que isso é algum tipo de brincadeira?
Diante de tão esdrúxulo raciocínio, só mesmo um
pouco de ironia. Meu gato, que aqui, costuma dormir como gente, com o corpo
esticado e cabeça no travesseiro. Não sei de outros gatos que procedam da mesma
forma, mas nesse ponto estamos equiparados já que, para todos os fins práticos,
o mei long também é único. A vantagem começa quando consideramos que mei long é
um fóssil de dinossauro que supostamente estava dormindo, enquanto que o gato
não é uma suposição, com muitas testemunhas oculares. Assim, considerando-se o
paralelismo entre esses dois casos, podemos concluir que as conclusões também serão
similares, isto é, que os gatos são ancestrais do seres humanos. Será por isso
que as garotas chamam os rapazes bem apessoados de “gatinhos”?
Ironia à parte, o fato é que evolucionistas
poderiam dar uma contribuição à ciência realmente positiva se levassem em
conta, para os seus argumentos e conclusões, leis matemáticas há muito
estabelecidas nos campos da estatística e da teoria das probabilidades. Seria
bom que eles mesmos nos esclarecessem se agem dessa forma por falta de
conhecimento ou de honestidade intelectual. Pessoalmente, creio mais nessa
última possibilidade, porque em suas especialidades, quando fazem experimentos
laboratoriais, via de regra fazem uso de todos os procedimentos estatísticos,
como instrumentos para obter conclusões cientificamente válidas de seus
trabalhos.
Entretanto, quando o tema é a validade das idéias
evolucionistas, aí vale tudo que for a favor dessas idéias. Foi assim que Carl
Sagan, um cientista norte-americano, considerando que a Terra é o único planeta
do sistema solar em que encontramos seres vivos, procedeu a um cálculo,
supostamente fazendo concessões contra sua própria tese, que o levou a concluir
que há vida em cerca de quinhentos mil pontos do universo. Parece que ninguém
lhe explicou que extrapolações dessa natureza são absolutamente proibidas no
mundo da ciência, que não se aplica teoria das probabilidades quando o espaço
amostral é um conjunto unitário.
O caso do mei long não é diferente. O fóssil é
único, e mesmo que fossem cinco ou dez, ainda assim não se constituiriam em um
espaço amostral significativo para a comprovação de que era daquele jeito que
os dinossauros dormiam. Como se isso não bastasse, ainda temos o raciocínio
tortuoso, que obviamente não seria endossado por Darwin, de que a postura de um
animal já extinto, ao dormir, implica em uma relação de ancestralidade com os
animais que hoje vivem e que dormem na mesma posição.
Para os que julgam que criacionismo é coisa de
religião, lanço aqui um desafio, para que mostrem qualquer afirmação neste
artigo que não esteja em plena consonância com os padrões da mais pura
metodologia científica e que não obedeça a uma lógica rigorosa de raciocínio,
instrumento imprescindível para uma conclusão verdadeiramente científica.
Sistematicamente no mundo da ciência: criacionistas
podem trazer à cena dezenas de argumentos em favor de seu modelo, e isso não
terá valor algum: em contrapartida, evolucionista podem dizer qualquer coisa em
favor da evolução, mesmo sem lógica alguma, como fruto de um raciocínio
completamente destituído de sentido, e mesmo assim seu valor será total.
Só assim se pode entender tantos pronunciamentos em
favor do mei long, considerando-o a prova irrefutável e inequívoca de que os
dinossauros são ancestrais das aves modernas.
Fonte:
O Prof. Christiano P. da Silva Neto é professor
universitário, pós-graduado em ciências pela University of London, estando hoje
em tempo integral a serviço da ABPC - Associação Brasileira de Pesquisa da
Criação, da qual é presidente e fundador. Autor de cinco livros sobre as
origens, entre os quais destacam-se Datando a Terra e Origens - A verdade
Objetiva dos Fatos, o Prof. Christiano tem estado proferindo palestras por todo
o país, a convite de igrejas, escolas e universidades.
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