quinta-feira, 11 de junho de 2015

Moho: Sim ou não?

A Descontinuidade de Mohorovicic Ilude os Pesquisadores

Dr. Raul Esperante

Grande parte da informação que possuímos sobre o interior da Terra deriva do estudo das ondas sísmicas que são produzidas durante os terremotos.

No começo do século XX, os dados colhidos pelos sismólogos indicaram que essas ondas se propagavam a partir do ponto de origem do terremoto (o hipocentro) em todas as direções, chegando até a crosta exterior (epicentro) e se deslocando também no interior do planeta, sendo possível serem detectadas em sismógrafos distantes e até mesmo em pontos opostos do planeta.

Essas ondas pareciam ser capazes de se propagar no material rochoso terrestre. Descobriu-se que as ondas sísmicas se refratam mudando de direção em diversas profundidades da Terra, o que se atribuiu à natureza heterogênea do interior do planeta. Foi sugerido que as ondas sísmicas se propagam mais rapidamente através das rochas em estado sólido com alta densidade, e com menor velocidade pelas camadas da Terra em que as rochas estão em estado de fusão. As mudanças bruscas de velocidade das ondas sísmicas fez que os geofísicos sugerissem que a Terra se assemelhasse a uma enorme cebola com várias camadas diferenciadas em seu interior: o núcleo interior de composição metálica (principalmente ferro e níquel) em estado de fusão; o manto terrestre circundando o núcleo, com composição rochosa em estado de fusão em determinadas profundidades; e a litosfera exterior composta de materiais mais leves e sólidos.

O limite entre uma camada e outra foi chamado de descontinuidade. A descontinuidade que separa a litosfera exterior do manto adjacente foi chamada de descontinuidade de Mohorovicic, ou simplesmente de continuidade Moho, em homenagem ao seu descobridor, o geofísico croata Andrija Mohorovicic (1857-1936).

Descobriu-se que o Moho se acha a maior profundidade sob os continentes do que sob a litosfera oceânica onde se encontra a menos de 10 km abaixo do assoalho oceânico e, alguns lugares como na chamada Zona de Fratura do Atlântico Norte, está a simplesmente 700 metros de profundidade rochosa, isso com base nos perfis sísmicos obtidos por sismógrafos colocados no fundo do oceano.

A possibilidade de perfurar até chegar à descontinuidade Moho sempre fascinou aos geofísicos que tratam de encontrar respostas ao comportamento das ondas sísmicas e às questões que derivam da estrutura da Terra. Com esse intuito, foram efetuadas numerosas perfurações tanto nos continente como nos oceanos, porém, até muito recentemente não existia a tecnologia apropriada para se chegar à profundidade indicada sob os oceanos.

Só recentemente os cientistas foram capazes de ultrapassar aquilo que supõem ser o limite da descontinuidade Moho sob o Atlântico Norte. (1)

Uma dúzia de perfurações conseguiu chegar até 1.415 metros de profundidade, bem dentro do que se supõe ser o manto terrestre, e os resultados foram surpreendentes: nada se encontrou que pudesse ser o manto.

Os geofísicos agora se perguntam se pesquisaram no lugar correto, apesar de se terem orienta o pelos perfis obtidos pelos sismólogos,e novas perfurações vão ser realizadas nos próximos meses para tratar de encontrar o manto terrestre.

Entretanto, os resultados preliminares dessas primeiras perfurações deveriam levar os geofísicos à reflexão, especialmente no que diz respeito aos postulados inerentes à ciência e à fidelidade dos modelos criados a partir dos dados.

Uma vez mais se demonstra que a obtenção de muitos dados de natureza diversa não assegura um modelo preciso ou a explicação exata dos processos.

As Ciências da Terra, que incluem a Geologia, a Geofísica, e a Paleontologia, baseiam-se em dados de processos que ocorreram há muito tempo, que não são reprodutíveis e cujos resultados estão, em muitos casos, fora do alcance do estudo físico direto.

Em especial, os cientistas deveriam ser muito cuidadosos ao propor modelos e explicações sobre eventos do passado, incluindo extinções, catástrofes, tectônica de placas, deriva continental, etc.

A existência da descontinuidade de Moho estava firmemente estabelecida mediante múltiplas observações indiretas e seu funcionamento havia sido testado em modelos com a atividade sísmica, entretanto isto não indicava que sua existência fosse real.

É previsível que as novas perfurações descubram a descontinuidade de Moho abaixo da crosta oceânica, porém a sua ausência nos vários lugares aonde ela foi procurada constitui uma luz vermelha que adverte que os modelos e teorias a respeito da Terra se assentam sobre terreno movediço.

Referências:

1. Kerr, R. 2005. Pursued for 40 years, the Moho evades ocean drillers once again. Science, 307:1707.

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